terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Apenas Mais Um Sábado


6:10 – Tocou o despertador. Fiquei por ali embromando mais uns 15 minutos para, enfim, sair da cama. Depois de um banho e café rápidos, estava no trânsito, que fluia com mais calma por ser um sábado. Logo estava no trabalho, uma loja auto center que fica a cerca de 10 minutos de casa. A loja, com 15000 m², recebe diariamente uma média de 120 automóveis e 35 veículos comerciais entre leves e pesados. Para automóveis esse número se repete aos sábados, mesmo com expediente encerrando às 13 horas ao invés das 18 horas durante os outros dias da semana. Um sufoco!

7:15 – Cheguei à loja onde alguns clientes já estavam em atendimento. É comum que antes das sete três ou quatro carros estejam aguardando os portões abrirem. Curiosamente os madrugadores são os mais apressados.

7:30 – Chegou o primeiro relatório de baixas. Um vendedor e uma vendedora faltaram por motivo alegado de saúde. Outra vendedora se encontra em licença maternidade, reduzindo ainda mais o quadro. Regina havia vindo trabalhar mesmo com febre devido a uma virose, e não sabia se ela agüentaria até o fim. Um borracheiro também faltou, coisa que complicou minha vida, pois o atendimento se torna mais lento por falta de braços.

8:00 – Com 22 veículos já atendidos, tudo levava a crer que caminharíamos para um sábado normal. O calor e o excesso de ruído concorrem para aumentar o cansaço físico, que por si só já é demais ao fim da jornada. Um cliente apressado pergunta no balcão se não tem quem o atenda. Mostrei que todos os vendedores, que trajavam coletes verdes por cima da camisa da farda, estavam ocupados, mas logo um o atenderia. Então, ele apontou para uma moça de camisa verde que estava do outro lado do balcão, que é circular: “E aquela moça, não pode me atender?”. “Não senhor, aquela senhora também é uma cliente”, respondi com cortesia, mas com um gostinho de boa resposta.

9:25 – Um operador de alinhamento chegou com atraso de 25 minutos e não permiti que trabalhasse. Sábado é um sufoco para todos, não há espaço para folgados. Quando um falta ou atrasa, os outros têm que se desdobrar em dois, e não seria justo com os pontuais que deixasse o atrasadinho trabalhar normalmente.

9:30 – Com 69 veículos atendidos e em atendimento, um problema nos servidores da matriz derrubou nosso sistema operacional. Tabelas, registros de entradas, orçamentos, emissão de notas fiscais, ficou tudo parado. Passamos a operar no modo de emergência crítica. E os carros não paravam de entrar na loja. Muita calma, liderança e experiência se fazem necessárias numa situação dessas, ainda mais com o quadro desfalcado...

10:30 – O tempo passa e nada do sistema retornar. Seguimos fazendo o possível para bem atender sem, no entanto, comprometer a empresa perante a clientela. Então, o que não havia condições satisfatórias para realizar, simplesmente não era feito. Normalmente aos sábados, devido ao expediente ser mais curto, executamos somente serviços rápidos. Os que exigem mais tempo, têm o diagnóstico e orçamento feitos, com a execução agendada para a semana seguinte. Essa sistemática evitou maiores perdas com a falha do sistema.

11:30 – 92 veículos já haviam acessado a loja. Um sufoco total! Mas o expediente estava mais perto do que longe de se encerrar e tudo estava relativamente sob controle.



12:15 – O sistema, enfim, voltou. Os cento e oito carros atendidos até então geraram um corre-corre no balcão com os vendedores e consultores procurando regularizar os orçamentos abertos à mão. Uma vendedora me veio dizer que está com a esposa de um cliente que acabara de sair da loja numa ligação, e que ele está muito nervoso porque roubaram uma chave do carro dele. “Mas que chave?”, perguntei. “Ela não sabe dizer, só sabe que ele está muito nervoso com esse roubo”. Orientei que a vendedora convidasse o cliente a retornar à loja para esclarecermos a situação. Verifiquei modelo do carro dele e placa, avisei à recepcionista que me avisasse logo que ele chegasse de volta, procurei o funcionário que trabalhou naquele carro para me inteirar da situação. Ser chamado de ladrão é sério, mas numa hora dessas temos que saber deixar a emoção de lado e ficar focado na solução. Quando o cliente retornou, quinze minutos depois, cheguei junto ao carro com o Carlos, borracheiro que executou o serviço, antes mesmo que ele descesse do carro. Porta malas aberto, Carlos mostrou ao cliente onde estava a tal chave de roda: no exato lugar que o fabricante projetou para esse fim. Com um sorriso “amarelo” o cliente acusador foi embora sem agradecer ou pedir desculpas. Nem uma palavra, nem um olhar. Dei uns tapinhas no ombro de meu colega injustamente chamado de ladrão, dizendo: “Vamos em frente. Tá quase terminando. Confio em você”.

12:30 – Recebi uma ligação de um amigo querendo saber se eu iria à confraternização de Natal da turma de um bar que freqüentamos. “Tu vem? Eu já tô aqui!”, disse ele com muita algazarra ao fundo. “Tô já saindo. Em uma hora tô ai”, respondi.
Aos sábados alterno o encerramento da loja com um colega. Este sábado era o plantão dele, o que permitia que eu saísse um pouco mais cedo.

12:35 – Parece incrível, mais a loja já está num ritmo bem mais lento, apenas finalizando os serviços iniciados. Tudo sob controle, deixei meu colega no comando e fui tomar um banho. Mesmo exausto estava louco para participar da tal festa.

12:50 – Cerca de 15 quilômetros me separavam do local onde a turma estava. Saí da loja com um itinerário traçado na cabeça, mas a meio caminho me deparo com uma via interrompida. Mais alguns preciosos minutos foram perdidos.

13:30 – Enfim, chego ao destino, onde sou recebido pelos dois irmãos anfitriões com efusivos abraços e uma fotografia entre eles. E eu ainda nem tinha um copo na mão...
A tarde passou rápido demais. Muita alegria e brincadeira. Muita comida boa e bebida. Mais de quarenta amigos se confraternizando, uma festa bonita de se ver.


16:30 – Depois da foto oficial do evento a turma foi indo embora, afinal, alguns haviam iniciado os “trabalhos” bem cedo e já estavam esgotados. Eu estava também, mas pelo cansaço. No caminho de casa parei numa sorveteria. Desejava doce e gelado depois do sufoco do trabalho e do excesso no bar.

17:00 – Já em casa, tomei um banho e dormi... Dormi bem até por volta das 19 horas. Quando acordei minha esposa dormia. Esperei um pouco. Acordei com uma vontade imensa de tomar uma cerveja geladíssima. Ou duas. Em casa não havia nenhuma. Minha esposa acordou pouco depois e ficamos conversando. Os dois filhos estavam em casa e entraram na conversa. Já adultos, tanto ela quanto ele têm bom papo.

21:00 – Enfim, saímos para comer algo e tomar uma gelada. Para evitar surpresas desagradáveis fomos a uma churrascaria conhecida. Sentamos-nos à mesa de costume, sendo atendidos pelo garçom de sempre. “Traga uma cerveja gelada, daquelas que parecem mofadas.”, pedi em tom de súplica. Pedi também uma picanha para tira gosto. A cerveja veio conforme a encomenda, e tomei-a quase de um só gole. Sorver seria o verbo mais apropriado. Então chamei o garçom e fiz novo pedido: “Agora você traz a irmã daquela.”, e ele trouxe uma igualzinha. Depois tomei ainda uma terceira e parei, senão beberia a família inteira: pais, tios, primos, avós...


22:00 - Depois desse breve intervalo ficamos um pouco sozinhos. Conversas amenas, carinhos, meia luz, uma música suave, e... Os corpos relaxaram, as mentes também, dando lugar a pensamentos e sentimentos normalmente atropelados pela correria dos nossos dias. Mais uma cervejinha só para fechar e...



02:00 – Hora de ir para casa dormir depois dessa longa jornada que teve início às 6:10. Durante o dia os ruídos do trabalho se transformaram, primeiro em risos e gargalhadas, depois em música suave. Abordagens de clientes insatisfeitos tomaram a forma de abraços amigos e, mais tarde, carinhos secretos. O tempo, que primeiro torturava, na madrugada deslizava suavemente. Já era domingo, e lá se foi mais um sábado...





Pedro Altino Farias
altino.frs@gmail.com

3 comentários:

  1. Pedrinho,

    Sábados são dias essencialmente híbridos, trabalho e lazer. Foi "apenas mais um sábado", que não deixou de ser diferente, principalmente agora com o seu registro, ele se pertuará na rede e na sua memória.

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  2. Oi Pedrão,
    Adorei o texto... tive até uma ideia para aplicar nas aulas de redação na escola. Parabéns!
    Bj
    Jovita

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  3. Parabens, isto se chama colocar vida em seus dias.
    Julio Augusto

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