Ypiocamente falando, cervejando pelas praias do nosso querido Ceará, encontramos aqui e acolá aldeias de pescadores com ares ainda coloniais. De uma forma camparitiva, essas aldeias parecem um tanto caipirinhas, mas a verdade é que esse povo é dono de grande sabedoria.
No povoado de São João da Barra, por exemplo, encontramos Germana, professora primária muito querida pela criançada e filha do pescador Claudionor, um dos mais antigos do lugar, um verdadeiro “Gin dos Mares”. A teacher tem os olhos de uma cor enigmática, uma mistura de verde menta com anis. Confesso que absinto atraído por olhos assim, mas...
Uisquisito é notar que a nova geração parece não se importar com tradições e coisas assim. Aíce quis que os novos tivessem na pesca artesanal sua principal atividade, mas como? Com internet, celular e outras modernidades dentro de casa?
No bar, uma foto em black&white, como se dizia antigamente, mostra a visita de um empresário inglês tempos atrás. Ele prometeu mundos e fundos ao povo do lugar. Progresso! Mas até hoje Johnnie, como era conhecido, nunca mais voltou. Deve ter continuado caminhando por aí afora, espalhando suas lorotas.
E será que ano que vem vai ser bom para a pesca no local? Mais uma vez a tradição domina. Segundo os mais experientes, se em noite de garoa os sapos pararem de coaxar, é sinal de que o ano vai ser farto. Lá é assim: se o sapupara, tudo bem!
Rebati com nosso Claudionor essa crença. Disse a ele: você vem daí com sua crença, e eu vodicá com a ciência. Acabamos por tomar um trago de boa paciência, afinal, o mar estava tão espumante, e o sol tão brilhante, pra que encrencar? Mas findei com um frisante: “Você fica com sua crença e eu com minha ciência!”. Então ele respondeu apenas: "Hum rum". Enfim, a camaradagem foi a tônica da prosa.
Ao me despedir de todos, Claudionor quis saber:
- Para onde vai agora, meu amigo?
- Ah, vou a um lugarzinho maravilhoso conhecido por “Vale Verde”. Quando voltar vinho lhe contar como foi tudo, respondi, fechando minha visita à aldeia com chave de ouro... E uma mordiscada no bom tira-gosto posto no balcão.
Pedro Altino Farias
altino.frs@gmail.com
Ps.
- Claudionor, Germana e Vale Verde são marcas de cahcaça de Minas;
- Ypióca, Chave de Ouro, Colonial e Sapupara são marcas de cachaça do Ceará.
Pedrinho,
ResponderExcluirNo meio desse coquetel de palavras, há quem fique em sangria desatada para tomar uma dessas.
Parabéns pela contextualização das palavras originais dando-lhes novas conotações.
Pedro,você escreveu esse texto de forma simplesmente surpreendente,liricamente e porque não dizer poeticamente.
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