Já havia tomado todas durante a tarde toda. A caminho de casa deu na veneta de passar num bar, um bar conhecido, frequentado por muitos amigos. Ao chegar, preferiu beber uns uísques no balcão. Passa um, passa outro, abraços, papos rápidos, mais uma dose e mais uma.
Pouco depois uma loura acomodou-se numa mesa próxima ao balcão e pediu uma bebida qualquer. Sozinha, parecia que também já havia tomado algumas e interessada apenas em curtir sua dose e seus pensamentos.
Num primeiro momento, mais pela oportunidade que pela boniteza, nosso amigo começou a puxar conversa com a loura, que correspondia desenvolta. Embora estivesse num bar onde todos se conheciam, junto ao balcão e no trajeto rumo aos banheiros, pensou: “Rapaz, aqui nesse cantinho ninguém me vê. Eu vou é aproveitar”, e continuou com o papo, seguido de carinhos, agarrados e beijinhos. O manto da invisibilidade caíra sobre ele naquele exato momento.
Quase meia noite, a moça chamou o rapaz para a responsabilidade: “Vamu, sair daqui? Vamu pra outro lugar onde a gente possa ficar à vontade? Tá a fim?”. Um “clic” repentino dentro do juízo do sujeito desativou o manto da invisibilidade e ele sentiu-se horrivelmente e desesperadamente vulnerável. “Uma péssima sensação”, resumira ele depois. Pediu a conta, despediu-se da moça com elegância, argumentando que chegara sua hora e foi-se.
No dia seguinte, antes das dez da manhã, três amigos já haviam ligado perguntando quem era a loura. “Mas como me viram se eu estava tão entocado e ainda mais com o manto da inviabilidade sobre mim?”, perguntava-se intrigado. Sabe-se lá, talvez não se façam mais mantos da inviabilidade como antigamente...
Pedro Altino Farias, em 17/10/2017