segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

UM DIA EU MATO O TEMPO!

 


Segunda feira, nove da manhã. Começa minha corrida insana contra o Tempo, a qual se estenderá até a noite de sábado. Embora ele, inexorável que é, sempre vença, tento ludibriá-lo com dribles e blefes. O Tempo, por sua vez, finge que consegui fazê-lo de bobo, deixa-me pensar que desacelerou um pouco, e assim tenho a oportunidade de um sorriso aqui, uma descontraída acolá.

Essa é uma corrida solitária, onde não há disputa. De uma forma ou de outra o Tempo vai passar. Eu quero apenas chegar, não importa como. Chegar é o objetivo.

Quem sabe um dia eu tenha a chance de, enfim, vingar tanto sofrimento e angústia, e mate o Tempo impiedosamente. Como? Deixando-o simplesmente passar, enquanto observo banalidades como as nuvens no céu tomando as mais diversas formas, as ondas do mar quebrando incessantemente, o canto dos pássaros comemorando a vida. Entre um gole e outro de uma boa bebida, beijos e afagos da minha mulher amada, vou vendo a noite apagar o dia, e o dia acender o que era noite. Um dia, quem sabe um dia... Até que um dia o Tempo não importe mais.

Pedro Altino Farias, em 13/12/21, segundo ano da pandemia do coronavírus.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

VOAR, simplesmente, VOAR!

 


Nas asas de um avião, o menino queria voar;
Olhava para o céu, e se punha a sonhar;
Até que um dia, ele foi aonde não se podia enxergar;
Acima das nuvens, perto do Sol, numa liberdade sem par.

Estudou, e se esforçou para ser o melhor;
Não por vaidade, ou sentimento pior;
Mas por paixão de voar, seu objetivo maior,
E assim se passaram os anos, com nuvens e estrelas ao seu redor.

Homem feito, no ar continua criança;
E sempre que voa lhe acende uma esperança;
Pois, ao ver a Terra lá de cima, de guerras não tem nem lembrança;
E então imagina um mundo perfeito, onde todos vivam no amor e na bonança.

Pedro Altino Farias, em 23/10/2021, Dia do Aviador, segundo ano da pandemia do coronavírus

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Sobre Rezas e Cachaças - vídeo


 

Sobre Rezas e Cachaças


Há sessenta anos nasci são e brasileiro,
Depois que cresci, bebi cachaça de janeiro a janeiro,
Mas o Papa disse que não tinha salvação,
Pois vivia de muito pouca oração.

Assustado, larguei a birita e me pus a rezar,
Procurando minha alma do outro lado salvar.
E assim passei o resto da minha vida,
Entediado, calado e com a espinhela caída.

Na Terra achavam que eu era a própria perdição,
E que não resistiria às seriguelas da nova estação.
Parti dessa para outra em um momento inesperado,
Não fui poupado por mais que tivesse rezado.

Chegando ao céu, encontrei meus amigos papudins,
Todos felizes, bêbados, bem bunitins,
Exclamei: mas esse lugar é só pra quem tem muito rezado!
E eles responderam: 
"Ô, abestado, o Papa tava errado, beber cachaça não é pecado!".

Altino Farias, em 30/05/2021, segundo ano da pandemia do coronavírus.

domingo, 14 de março de 2021

EU E MEUS 60 ANOS

 

Eis que, num piscar de olhos, cá estou, com sessentanos! Um idoso! Quando completei quatro décadas, pensei numa festa de comemora-ção, mas resolvi deixar para depois, afinal, a vida começa aos qua-renta, não é mesmo?

                         

Quando completei cinquenta, estava tão ocupado, ou pelo menos achava que estava, que deixei para comemorar os cinquenta e um ou cinquenta e dois. E tempo passou, e nada!

               

Agora cheguei aos sessenta. Essa data eu fazia questão de comemorar. Fiz planos na minha cabeça. Nada de mais, tudo muito simples e informal, como eu sempre fui. Numa manhã de domingo, família, amigos do peito, Zabumbossa presentando a todos com boa música e amizade, comes & bebes, sorrisos & abraços. A pandemia, no entanto, abortou qualquer hipótese de comemoração, fazendo a gente aprender a lidar com esses tempos esquisitos.
  
 

A festa não aconteceu como eu gostaria, mas... A música da “festa” ficou por conta das muitas mensagens que recebi dos amigos próximos, distantes ou virtuais, os quais no momento não posso abraçar. Elas foram sorvidas em toda sua essência, melodia e poesia.


Ganhei muitos presentes: todos na família estão com saúde, principalmente minha mãezinha, Dona Concita, que continua firme e Forte às vésperas dos noventa e um, e minha cunhada-irmã, Fafá, que é de uma fortaleza imensurável. Melhores presentes não haveria de ganhar.


Alguns amigos sofreram com a doença, ou eles mesmos, ou por entes queridos. Oramos pela saúde de todos, sempre.

A homenagem especial veio com a alta hospitalar da Gorette, amor, amiga a companheira de quase quarenta anos, acometida de covid 19, que saiu triunfante do hospital como quem adentra um imenso salão. Sufoco grande, viu?

                         

O bolo? Nosso filho, Altino José, cabra bom todo, que encarou a situação, e acompanhou a mãe com serenidade e carinho nesses momentos difíceis, tomando as decisões certas, fazendo valer o ciclo natural da vida: a mãe cuida do filho, o filho cuida da mãe.

                                   

E a cereja do bolo? Minha neta, Diana, que chegou em janeiro, e agora espalha seus primeiros sorrisos para o mundo, sempre aos cuidados de Daniel a Aninha. Um graça!


Festa completa, e das melhores, lamento apenas a ausência de meu pai, que partiu daqui muito jovem, mas a certeza que de ele está bem me consola.

Meu agradecimento a todos que fizeram e fazem parte da minha vida, e que, de alguma forma, tornaram-me uma pessoa melhor.

  

Agora me deem licença, a “festa” foi boa demais, mas preciso de um momento só para mim. Vou beber uma cachacinha enquanto revejo planos e projetos para o futuro, e assisto a uma retrospectiva passando em minha mente, afinal, foram sessenta anos já vividos, né? E graças a Deus com muitas histórias para contar.


Altino Farias, 12 de março de 2021, segundo ano da pandemia dos coronavírus

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

SIMBOLISMOS

A noite de ano novo é sempre especial. Despedimo-nos do ano que finda e, com esperanças renovadas, damos as boas vindas ao ano que se inicia. Família e amigos são partes essenciais desse contexto. Nesse ano de pandemia à solta, privamo-nos de estarmos com quem amamos, de conversarmos longamente sobre tudo: lembranças, saudades, dores, alegrias vividas, projetos futuros. É uma noite de simbolismo, por isso segue uma descrição do que eu procurei ter comigo naquela ocasião:

                                                                               

- Cabelos brancos e rugas: marcas do que vivi nos meus sessenta ainda incompletos.

- Barba por fazer: sem compromissos, sem preocupação com aparência, sem satisfações a dar.

- Camisa branca: paz, luz, clareza, serenidade.

- Aliança: na mão esquerda, uma aliança, que lá está há 38 anos. A original, fininha e de ouro, foi-me subtraída num assalto a algum tempo, sendo substituída por outra de inox. O que importa o material diante de tanto tempo de cumplicidade, amizade e amor, que teve como frutos dois filhos maravilhosos?

- Anel de formatura: na mão direita, meu anel de formatura em engenharia civil. Ele pertenceu ao meu pai, arquiteto Armando Farias, falecido em 1974, e essa é uma maneira de tê-lo comigo em momentos intimistas e especiais.

- Copo de cachaça: além de considerar a cachaça um patrimônio da cultura nacional, para mim ela é, quando consumida corretamente, um catalizador de coisas boas, uma espécie de cachimbo da paz. Em volta da cachaça surgem boas amizades, ideias fantásticas, poemas, melodias, momentos únicos.

- Calça jeans desbotada pelo uso: aqui fica uma referência, e reverência, aos anos 60 e 70 e tudo que eles significaram em termos sociais e culturais para os jovens de então. Foram duas décadas que mudaram o mundo, e eles ainda são muito presentes para mim. Difícil suportar todas as limitações, restrições e medos que os dias atuais nos impõe tendo vivido aquela época de ouro.

- Pés descalços: simplicidade, ligação direta com a mãe Terra. Se eu estou descalço, e você também, estamos ligados de alguma forma através dela.

Finalizando, desejo felicidades, saúde e sucesso a todos em 2021, que já despontou com imensos desafios a serem vencidos.

Pedro Altino Farias, em 07/01/2021, segundo ano da pandemia do coronavírus