domingo, 30 de dezembro de 2018

Um Presente Chamado Ano Novo - 2019



O ano novo é o futuro embrulhado como um presente.

Na forma, ele será igual ao que findará: terá 365 dias de alegrias ou nem tanto, distribuídos em 12 meses e 52 semanas iguais e consecutivas. É assim ano após ano, desde sempre. Um tédio? Não, absolutamente não!

O conteúdo do ano novo é misterioso, ninguém sabe, e nem deve querer saber, o que ele trará, mas, com certeza, cada instante vivido será um presente.

O presente “ano novo” deverá ser aberto aos poucos, lentamente... E as surpresas irão surgindo, uma trás da outra. Umas nos trarão alegrias, outras, tristezas; mas todas nos farão aprender mais um pouco sobre a vida. Para isso, no entanto, é preciso que estejamos sempre atentos, ligando passado e presente, para chegar a um futuro melhor para todos.

Está quase na hora de começarmos a desembrulharmos, juntos, nosso presente: o ANO NOVO. Façamos dele uma nova emoção a cada dia, uma nova lição, uma nova amizade, uma nova luz na vida de outras pessoas, uma nova história a cada momento, assim, ele será realmente um ANO TODO NOVO para nós.

Pedro Altino Farias, em 30/12/2018

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

E Viva a Democracia!


Reta final das eleições presidenciais, a coisa tá pegando fogo no Bar do Toim, com argumentos positivos, negativos e contraditórios de lado a lado. Chico Litro já se declarou totalmente a favor da liberdade de ingestão; Zé Siriguela anunciou que vai votar no candidato que prometer estender a safra de seriguela, cajá e caju; o Espinhela Caída é comunista de carteirinha, e defende subsídios na produção para ter birita barata pra todo mundo; Chico Matuto é direita e, igualmente ao amigo, quer cachaça com preços baixos pra todos, mas via redução de impostos. Polêmicas!

A grande preocupação, no entanto, é se o bar do Toim vai abrir ou não, pois a lei eleitoral não permite a venda de bebidas alcoólicas neste dia. Mas por que? Porque pode ser (pode ser) que uns “alguéns” bebam demais, e que, dentre estes, alguns botem boneco, e que, dentre estes, uns poucos causem problemas ao processo eleitoral a tal ponto que... É o Estado com sua mão forte tutelando o cidadão como muitos defendem.

Toim avisou que o bar vai fechar, sim, mas só para os outros, os amigos podem entrar pela porta lateral que a turma vai tá toda entocada lá dentro tomando umas. Alívio geral, problemas imediatos do Brasil resolvidos. E viva a democracia!


Pedro Altino Farias, em 04/10/2018

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Palavras? Cuidado!




Final dos anos 70, início da década de 80. Amigos do colégio, cada um seguiu sua vida universitária. Vez em quando ele dava uma passada na casa dela para conversarem, por os papos em dia. Certa vez ela comentou, muito feliz e entusiasmada, que estava namorando um rapaz de Brasília, que viera a Fortaleza para participar dos jogos universitários. Ora, em 1979 não havia internet e seu mundo sem fronteiras, e uma garota de uma cidade namorar um cara de outra distante era complicado. Pensou ele: “Deixa de ser besta, menina, num tá vendo que o cara tá lá em Brasília comendo todo mundo e você aqui, bancando a Amélia?”. Mas ela estava tão animada, que ele preferiu calar e deixar o alerta para outra oportunidade, que nunca aconteceu. 

Errantes numa tarde de sábado, dois amigos de faculdade foram a um bar para tomar umas. O estabelecimento se encontrava fechado, porém, o dono estava na varanda de sua casa, que ficava ao lado, bebendo com dois amigos dele, um dos quais armado com um combalido violão. Osmar, esse era o nome do dono do bar, chamou a dupla para beberem juntos. Violão truando, um dos universitários soltou a voz. Incontinenti, o violonista fez mudo o violão, olhou para o cantor amador e disparou: “Mas tu canta ruim, heim, bicho?”. 

Anos passaram. A garota do namorado distante casou com ele. O pai dela faleceu e a mãe casou com o pai dele, que já era viúvo. Todos vivem bem até hoje, e o amiguinho dela poderia ter estragado tudo isso com seu alerta simplista. Sorte dela! 

Enquanto isso, aquele universitário, cantor amador  de outrora, continua calado, cantando apenas para si mesmo, dentro de sua mente. 

Palavras: é bom ter cuidado com elas, pois podem causar grandes estragos! 


Pedro Altino Farias, em 30/08/18

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

SE FOR PRA MIM, DIGA QUE FUI PRU VIETNÃ!


Domingo é Dia dos Pais. Devo passar o dia em casa com minha filha e meu filho, desejando, também, a presença de genro e nora. Sem falar na Gorette, minha mulher, amiga, companheira e filha mais velha (acho que a recíproca é verdadeira e, da mesma forma, ela me considera seu filho mais velho... hehehe). Fafá, minha cunhada irmã, sempre presente. Mais tarde, à noitinha, vou estar com minha querida mãe. O dia promete loooongoooo...

A saudade de meu pai já conta quarenta e quatro anos. É muito tempo... E quase nada, considerando-se a eternidade. As lembranças são bem presentes, apesar do tempo e dos meus irrisórios treze anos quando ele se foi.

Papai adorava trabalhar em casa, mas sozinho, em seu gabinete, e aborrecia-se quando o procuravam nesses momentos para tratar de assuntos profissionais. Telefonema na hora do almoço, então, ih... Ficava muito bravo mesmo. Começo dos anos 70, a guerra fria troando nos quatro cantos do mundo, quando o telefone tocava na hora do almoço papai esperava que um de nós fosse atender. Esperava que se tirasse o fone do gancho quando bradava em alto e bom som: “SE FOR PRA MIM, DIGA QUE FUI PRU VIETNÃ!”.

O que aprendi com ele nesse breve período ficou em mim sedimentado. Logo aos vinte e quatro anos foi minha vez de começar a viver essa fantástica experiência que é ser pai, e que vai perdurar por toda a minha vida e, quem sabe, além dela. Nesses onze anos, entre treze e vinte e quatro, conheci um pouco do mundo pelas minhas próprias pernas para, junto com os ensinamentos de meu pai e minha mãe, completar minha formação moral e ética.

Hoje, aos cinquenta e sete e meio, filhos criados e felizes (que venham os netos!), quero mais é sossego. E se domingo ligarem pra mim... DIGAM QUE EU FUI PRU VIETNÃ!

Pedro Altino Farias, em 07/08/2018

sexta-feira, 30 de março de 2018

A Última Coca Cola



Olhava em volta, via somente o próprio umbigo. No máximo seu reflexo. Acreditava não haver mais alguém além dela. Nem uma água para aplacar a sede, nem uma sombra para aliviar o calor.

E lá estava ela, a dita "última Coca Cola do deserto". Comparável apenas ao "general da banda" e ao "rei da cocada preta". Tampinha intacta, geladíssima, única, necessária.

E se aproxima um forasteiro sedento, vagando por aquele deserto de dimensões universais. Avista a Coca Cola, a qual se mostrou indiferente, afinal, ela se achava coisa rara.

O forasteiro chega perto dela e... Passa em frente, rumo a uma fonte de águas límpidas e cristalinas, bem ali, atrás dela, da "ultima Coca Cola do deserto", onde palmeiras e arbustos formavam um verdejante oásis. 

Pois é... A fonte estava bem ali, e só aquela Coca Cola não viu... Coitada! 

Pedro Altino Farias, 20/04/17

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Mascarada



Cerveja, cachaça, uísque, lança perfume, paqueras e muita brincadeira. Pela manhã, praia; à tarde, corso na cidade e à noite, baile no clube. Assim era o carnaval no Aracati, Ceará, no início dos anos 80. Uma turma de amigos, todos jovens e solteiros, instalou-se numa casa na praia de Majorlândia e começou a folia.

Noite de domingo de carnaval, depois de já terem curtido todo o sábado e cumprido com louvor as duas primeiras etapas daquele dia, circulavam pelo clube com desenvoltura, instalando-se numa mesa à beira do salão. Uísque e cerveja e lança à mão, prontos para a caça. 

Eis que o mais pintoso da turma é avistado de braços com uma das meninas mais feias de toda a festa (desculpem o politicamente incorreto, mas foi assim que aconteceu). Primeiro a turma ficou em choque vendo o amigo dar rodadas e rodadas no salão abraçado àquela moça. Depois começaram a mangar mesmo. 

Todos estavam observando o flerte do pintoso, quando ele levou a moça para um canto e falou algo no ouvido dela que, incontinenti, deu-lhe um belo tapa na cara. Mas como? Tá com a mulher mais feia da festa e ainda leva um tapa na cara? Ficaram curiosos.

E lá vem o amigo pintoso de volta à base massageando o rosto e rindo. Todos querendo saber o porquê da agressão, primeiro ele tomou uma dose de tudo o que havia na mesa e deu uma cheirada no lança. Então, respirou fundo e contou o que acontecera.

Ao chama-la para conversar foram feitas as apresentações de praxe, então ele disse-lhe: “Pronto, agora que já nos conhecemos você já pode tirar máscara!”. E deu no que deu! 

Pedro Altino Farias, em 09/02/2108


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Fraquinha...




A mulher entra no bar e decreta com voz firme, em alto e bom som:
- Juventino, vamos pra casa!
- Mas eu tô em casa, meu amor...
- Em casa? Haha... Nesse bar imundo, bebendo com todos esses homens?
- Aqui é onde me sinto em paz e esses homens que bebem comigo todos os dias são meus irmãos.
- Juventino, seus filhos estão em casa lhe esperando!
- O meus filhos são também seus filhos. Já são adolescentes e não estão nem ai pra mim...
- Juventino, e eu? Snif, snif... Sua esposa?
- Hummm... Fraquinha...! Por que é que você acha que venho pru bar todo dia?

Essa história poderia terminar aqui, mas não terminou.

Seis meses depois...

O bar ainda está em reparos. Depois da reabertura ser anunciada e adiada três vezes, parece que mês que vem reabre mesmo.

Juventino, com fraturas múltiplas, começa a fisioterapia de reabilitação na semana que vem. Se tudo correr bem, com mais uns três meses começa terapia para tratar a síndrome do pânico, adquirida na mesma ocasião das fraturas.

Os amigos de Juventino presentes no bar naquele dia, ou fizeram promessa para parar de beber, ou se converteram a uma religião que proíbe a bebida.

Novamente essa história poderia terminar aqui, mas...

A mulher de Juventino, sentido-se sozinha e com a vida vazia, sem o marido e com os filhos adolescentes cuidando de suas próprias vidas, começou a beber com as amigas. Hoje bebe diariamente e está se sentindo muito feliz. Só não está mais feliz porque começou a ver certa razão naquelas biritagens do marido e aí lhe bate um remorso...

Altino Farias, em 07/02/2018