Gosto de carros. Gosto, não, sou apaixonado por eles, especialmente os nacionais dos anos 60/70. Dessa época todos me atraem. Dos atuais, uns poucos, pois a maioria segue “tendências” que os tornam sem personalidade.
A meio tempo entre o “antes” e o “agora”, tive o Opala Diplomata como sonho de consumo. Acabei adquirindo um usado, ano 1987, quatro portas, verde metálico. O carro era completo e sem defeitos aparentes, porém, vez por outra sua bateria descarregava totalmente, ao ponto de fazê-lo parar por falta de corrente elétrica. O problema se tornou verdadeiro mistério, visto que ninguém conseguiu descobrir sua origem.
Embora fosse um sábado de carnaval, eu havia agendado alguns compromissos profissionais com um colega. No roteiro duas cidades, ambas a cerca de 70 quilômetros da Capital. Na primeira fomos a um distrito, num percurso de 15 quilômetros para ida, e tanto igual para volta à sede do município.
Durante a volta, bem a meio caminho, numa estradinha carroçável, com o sol das 12:30 horas a maltratar nossos miolos, a luz alerta da bateria acendeu no painel. Gelei! Continuei em frente, agora pisando mais forte no acelerador, tentando, pelo menos, chegar à cidade, onde poderia obter ajuda. Tentativa frustrada, pois o “possante” morreu no meio do nada.
Ainda restava um pouco de carga na bateria, e pedi auxílio a uns caboclos que passavam. Eles ajudaram a empurrar o carro, que pegou no tranco, apagando-se de novo bem na entrada da cidade. “Agora estou tranqüilo”, pensei, com relação a um socorro elétrico. Perguntamos a um e outro, porém, como era sábado de carnaval, nenhum profissional foi encontrado na ativa, todos estavam na gandaia momina.
Enfim, apareceu um não sei de onde. Assustado e vendo as coisas complicarem, perguntei logo se havia possibilidade do Diplomata ser guardado na oficina dele, caso uma solução imediata não fosse possível. “Dá não, doutor. Minha oficina é pequena, é de bicicleta!”, respondeu o curioso que fazia as vezes de eletricista de automóveis. Perdi a fé no homem, e a esperança de sair dali dirigindo meu carro, mas como ele se mostrava muito prestativo, dei-lhe mais um tempo, afinal era carnaval e minha programação já havia ido mesmo para a lata do lixo.
Sem mais esperar por notícia boa, o “eletricista” emerge a cabeça de dentro do compartimento do motor com um fio solto na mão, dizendo: “Tá aqui o defeito!!”. E pegou um canivete, descascou a ponta do fio, soltou uma porca no alternador retirando um terminal partido, enroscou o fio lá, e apertou a porca. Depois disse animado: “Agora vamos fazer uma chupeta!”, acenando para que um amigo dele encostasse outro carro no meu, com o fim de fornecer a carga necessária para o motor de partida virar.
Sucesso! O motor pegou de primeira, com o alternador gerando a energia necessária para recarga da bateria. Conseguimos ainda cumprir parte do programado, terminando a tarde com uma cerveja gelada à beira das estrada e boas gargalhadas, lembrando a incrível história do mecânico de bicicleta do interior que resolveu o mistério que nenhum eletricista de grife da capital havia conseguido.
Altino Farias
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