sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Mascarada



Cerveja, cachaça, uísque, lança perfume, paqueras e muita brincadeira. Pela manhã, praia; à tarde, corso na cidade e à noite, baile no clube. Assim era o carnaval no Aracati, Ceará, no início dos anos 80. Uma turma de amigos, todos jovens e solteiros, instalou-se numa casa na praia de Majorlândia e começou a folia.

Noite de domingo de carnaval, depois de já terem curtido todo o sábado e cumprido com louvor as duas primeiras etapas daquele dia, circulavam pelo clube com desenvoltura, instalando-se numa mesa à beira do salão. Uísque e cerveja e lança à mão, prontos para a caça. 

Eis que o mais pintoso da turma é avistado de braços com uma das meninas mais feias de toda a festa (desculpem o politicamente incorreto, mas foi assim que aconteceu). Primeiro a turma ficou em choque vendo o amigo dar rodadas e rodadas no salão abraçado àquela moça. Depois começaram a mangar mesmo. 

Todos estavam observando o flerte do pintoso, quando ele levou a moça para um canto e falou algo no ouvido dela que, incontinenti, deu-lhe um belo tapa na cara. Mas como? Tá com a mulher mais feia da festa e ainda leva um tapa na cara? Ficaram curiosos.

E lá vem o amigo pintoso de volta à base massageando o rosto e rindo. Todos querendo saber o porquê da agressão, primeiro ele tomou uma dose de tudo o que havia na mesa e deu uma cheirada no lança. Então, respirou fundo e contou o que acontecera.

Ao chama-la para conversar foram feitas as apresentações de praxe, então ele disse-lhe: “Pronto, agora que já nos conhecemos você já pode tirar máscara!”. E deu no que deu! 

Pedro Altino Farias, em 09/02/2108


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Fraquinha...




A mulher entra no bar e decreta com voz firme, em alto e bom som:
- Juventino, vamos pra casa!
- Mas eu tô em casa, meu amor...
- Em casa? Haha... Nesse bar imundo, bebendo com todos esses homens?
- Aqui é onde me sinto em paz e esses homens que bebem comigo todos os dias são meus irmãos.
- Juventino, seus filhos estão em casa lhe esperando!
- O meus filhos são também seus filhos. Já são adolescentes e não estão nem ai pra mim...
- Juventino, e eu? Snif, snif... Sua esposa?
- Hummm... Fraquinha...! Por que é que você acha que venho pru bar todo dia?

Essa história poderia terminar aqui, mas não terminou.

Seis meses depois...

O bar ainda está em reparos. Depois da reabertura ser anunciada e adiada três vezes, parece que mês que vem reabre mesmo.

Juventino, com fraturas múltiplas, começa a fisioterapia de reabilitação na semana que vem. Se tudo correr bem, com mais uns três meses começa terapia para tratar a síndrome do pânico, adquirida na mesma ocasião das fraturas.

Os amigos de Juventino presentes no bar naquele dia, ou fizeram promessa para parar de beber, ou se converteram a uma religião que proíbe a bebida.

Novamente essa história poderia terminar aqui, mas...

A mulher de Juventino, sentido-se sozinha e com a vida vazia, sem o marido e com os filhos adolescentes cuidando de suas próprias vidas, começou a beber com as amigas. Hoje bebe diariamente e está se sentindo muito feliz. Só não está mais feliz porque começou a ver certa razão naquelas biritagens do marido e aí lhe bate um remorso...

Altino Farias, em 07/02/2018