Desistiu. Surpreendeu a todos e desistiu. Com este “simples” ato cessaram seus tormentos. Nenhuma expectativa mais, nenhuma esperança. Tudo foi sepultado de uma só vez. O cansaço, por fim, o abatera.
Desistência: palavra não nobre, evoca o sentido de perda, entrega, capitulação. Covardia, freqüentemente, também é associada ao verbo desistir. Mas há casos e casos, e para ele a desistência foi um ato de coragem e abdicação. Antes do “desistir”, mil possibilidades passaram em seu pensamento, todas considerando causas, conseqüências, pessoas (queridas ou não), passado e futuro. Dias de angústia.
E mesmo sabendo o que enfrentaria, desistiu. Depois se sentiu leve com sua decisão, desobrigado, aliviado, renovado. Problemas, claro que continuariam a existir, mas “aquele” havia ficado para trás em definitivo. Alívio!
Mas, afinal, por que desistira? Receio? Cansaço? Desencanto? Falta de meios para ir em frente? Consideração com outrem? Responsabilidade? Toda desistência trás consigo um pouco de cada coisa agregado a um motivo maior, e foi assim com ele também. Nem vale aqui comentar.
No dia seguinte, logo cedo, olhou-se no espelho do banheiro. Prestou atenção em suas rugas, em seus cabelos grisalhos. Num instante viu o tempo passar... E quanto tempo! Mas viu também que seus olhos ainda brilhavam, o coração batia forte, o corpo emanava o calor da vida, e que seu espírito estava pronto para outras conquistas... Ou novas desistências. Tendo consciência disso, percebeu que nada perdera, ao contrário, ganhara uma nova chance. Mais uma vez.
Pedro Altino Farias, em 09/01/2012
altino.frs@gmail.com
* A ilustração é uma pintura do genial Salvador Dali
Caro Altino,
ResponderExcluirLi sua crônica “Desistência”. Uma bela reflexão sobre o tema. Aproveito para enviar mensagem com pinturas do grande Salvador Dali.
Abraços do Gilson Pluto
Olá Altino,
ResponderExcluiragora vc está revelando dotes de pensador. Juntamente c/ a aptidão p/ o lado ameno da vida, tão bem expresso na vivência boêmia, isso sugere um excepcional dote de inteligência múltiplas.
Congratulações p/ excelente crônica.
Até breve,
Rui