sexta-feira, 27 de novembro de 2020

BASTA!


Manhã de fins de novembro, calor escaldante típico de dezembro, olhei para minha camisa de listas azuis e pensei: Vou com ela. Muitos anos de serviços prestados, colarinho puído, tecido bem fininho, super confortável, por isso a escolha.

A coitada da camisa de listas azuis, cansada e exaurida de tanto servir, apavorou-se ao ver-me aproximando mais uma vez com aquele olhar de “hoje eu vou te usar”, e disse a si mesma: BASTA! Então, ao passar meu braço direito pela maga, aconteceu a fatalidade já esperada, o “basta” veio ao som do ruído de um rasgão bem no meio das costas, e assim eu disse adeus para minha velha e querida camisa de listas azuis.      


Pedro Altino Farias, em 27/11/2020, ano da pandemia do coronavírus


segunda-feira, 22 de junho de 2020

Dona Concita - 90 anos



Aos 10, era menina ainda;

Aos 20, já tomava conta da casa;

Aos 30, casada para sempre;

Aos 40, familia completa, pronta para novas conquistas;

Aos 50, um recomeço através dos estudos e da poesia, dividindo suas alegrias com os filhos, noras, genros, os primeiros netos, e toda a família, a qual sempre manteve unida;

Aos 60, aposentadoria merecida, mantendo intensa atividade intelectual, assistiu a uma proliferação de netos;

Aos 70, vida plena, grande movimentação na casa, 
a religião ganhou uma nova dimensão em sua vida;

Aos 80, a alegria dos bisnetos, novos projetos antigos ganham forma, e  o mundo ficou maior com o acesso à internet;

Agora, aos 90, familia em paz, a vida continua!

Feliz aniversário, mãezinha! Saúde, paz, felicidades!
Beijos, Pedro Altino, em 19/06/2020, 

COM NETOS

COMEMORAÇÃO DOS 90 ANOS

domingo, 14 de junho de 2020

Poeminha 02


Poeminha 01


Destruição



Primeiro foi marido e mulher, violenta e abruptamente separados. Um num canto, outro noutro. Não demorou muito, minutos talvez, não se sabe ao certo, mas o fato é que aquela família foi sendo despedaçada aos poucos.

Os avós maternos, desavisados e alheios a tudo, foram isolados do restante da família. Dos paternos não se teve mais notícia, mas o cachorrinho de estimação, ah, coitado, foi degolado impie-dosamente.

Os dois garotinhos, irmãos carinhosamente abraçados, tiveram seus braços decepados, sendo assim apartados um do outro sem entenderem o porquê. 

O arbusto em frente à casa, que dava uma boa sombra à tarde, foi ao chão, cortado em três ou quatro partes. O carro da família, novinho, totalmente destruído. Um desastre geral.

Coisas, objetos, mobília, entes queridos, todos envolvidos naquele furacão de destruição. Em pouco tempo, pedaços de tudo espalhados pelo chão da sala, efeito das tesouradas do caçula da casa a destruir o álbum de família, enquanto a mãe cantarolava na cozinha preparando o almoço.


Pedro Altino Farias, 16 de janeiro de 2015

A Barata que saiu caro


Embora amante do automobilismo e antigomolismo, nunca foi de luxar com carros. Mantinha-os sempre com a manutenção em dia e o interior limpo e organizado, deixando que a natureza resolvesse o resto. Para evitar o surgimento de insetos, baratas principalmente, jamais se alimentava no interior dos seus automóveis. Jamais.

Certa noite, ao entrar no carro saindo de um bar, sentiu algo estranho em seu ombro. Instintivamente passou a mão e eis que uma barata saiu de seu ombro diretamente para o interior do veículo. Tarde da noite, tudo escuro, o jeito foi entrar no carro e ir para casa o mais rápido possível, torcendo para que a intrusa não desse o ar da graça durante o trajeto, que era relativamente curto.

Dia claro, a primeira providencia foi dedetizar o interior do carro com uma carga pesada de inseticida. Vidros fechados, deixou o produto agir por uns bons minutos. Pronto! Com toda a certeza o inseto estava fora de combate. Saiu para trabalhar tranquilo e seguro de si, como se nada houvesse acontecido. No final da tarde, ao fim do expediente, procurou o cadáver onde ele suponha estar. Nada. Procurou do outro lado, atrás, embaixo dos bancos e dos tapetes de borracha. Nada. Já atrasado para compromisso familiar desistiu da caça. No dia seguinte nova busca sem sucesso. Nem sinal dos restos mortais da atrevida. Resolveu deixar o assunto para lá até que caiu no esquecimento.

Tempos depois começou a notar estranhas ocorrências noturnas no interior do carro. Uma pequena sombra se movimentando no canto do painel, no console, correndo pelo tapete, a sensação de algo a fazer-lhe cócegas nas pernas. “É ela! Mas será possível?”, pensou. Novas cargas de inseticida, mas as aparições continuaram. Obcecado, mandou fazer uma limpeza geral no interior do automóvel, retirando bancos, tapetes, forrações, tudo. E nada do cadáver aparecer.

O carro era ainda seminovo, em estado de zero, quando surgiu uma boa oportunidade para trocá-lo por outro melhor. Não faltaram pretendentes para “herdar” a jóia que era aquele veículo, que acabou ficando na mão de um conhecido. O negócio foi feito e a vida continuou. 

Passados alguns meses, encontrou com o novo proprietário e seguiu o diálogo:

- E aí, como está meu carrinho?

- Rapaz, nem te conto. O carro já era e quase eu vou junto.

- Mas o que houve? Conte-me.

- Uma noite dessa vinha pela Avenida dos Desesperados com uns 60km/h, quando surgiu uma barata passeando sobre o painel, saindo do canto direito e vindo em minha direção. Nem imagino de onde surgiu tal inseto. Nada podia fazer, pois o trânsito era intenso, apensas fiquei de olho nela. Na primeira chance, peguei uma flanela para tentar neutralizá-la, mas a danada voou em cima do meu rosto. Num instante larguei o volante, perdi o controle do carro, e bati de frente num poste. Perca total, amigo! Ainda bem que foram somente danos materiais. Mas o susto foi grande!

- Ah, Danadinha!

- É o que? O que foi que você disse?

- Não, nada não... 


Pedro Altino Farias, em 03 de março de 2020, ano da pandemia do coronavírus



quinta-feira, 4 de junho de 2020

EU NÃO SOU DOIDO! EU NÃO SOU DOIDO!



Psiquiatra: O senhor tem consciência de que está aqui porque foi encaminhado por alguns familiares e amigos?
Paciente: Sim, senhor.

Psiquiatria: E o que o senhor tem dizer sobre isso?
Paciente: Eu não sou doido, doutor.

Psiquiatra: Mas o senhor disse que o governo mandou você fechar seu comércio por causa da pandemia sem data para abrir, que seu faturamento foi a zero, e por conta disso o senhor não está tendo condições de cumprir seus compromissos.
Paciente: Isso mesmo, doutor.

Psiquiatra: E disse que seus boletos vencidos estão correndo juros altíssimos, embora você tenha interrompido suas atividades por ordem governamental.
Paciente: Esta sendo assim mesmo...

Psiquiatra: E que, embora o escritório de contabilidade esteja também proibido de funcionar, mesmo assim sua empresa tem que prestar informações fiscais ao governo nos prazos legais, foi isso mesmo que o senhor falou??
Paciente: Dou... Doutor... Eu... Eu não sou doido!!

Psiquiatra: Mas o senhor anda dizendo por aí que mesmo com a empresa fechada por ordem do poder público, sem faturamento, tem que pagar aluguel??
Paciente: Eu não sou doido, eu não sou doido!!

Psiquiatra: Veja bem, cuidado com suas respostas, o senhor está sendo avaliado! O senhor falou que, desesperado e angustiado com as contas vencidas a pagar, foi caminhar na praia deserta para relaxar e foi perseguido por policiais, que queriam lhe levar em cana??
Paciente: Foi horrível, doutor... Eu me senti um marginal...


Psiquitra: Senhor, devo lhe avisar que suas respostas estão lhe complicando..
Paciente: Mas... EU NÃO SOU DOIDO, DOUTOR, EU NÃO SOU DOIDO!

Psiquiatra: Calma, vamos continuar. O senhor falou que o governo se prontificou a pagar dois meses de salários dos seus funcionários, desde que, depois desse tempo o senhor não os demitisse por igual período, e que, passados os dois meses, o senhor ainda não foi autorizado a abrir sua empresa, não poderá demitir os funcionários, e que o governo não mais auxiliará as empresas nos pagamentos dos salários de seus respectivos funcionários?? COMO É QUE O SENHOR QUER QUE ACREDITEM NISSO? O SENHOR É DOIDO??

Paciente: Dou... Doutor... Eu... Eu... Snif, snif... Eu não sou doido, doutor... Eu juro! Posso lhe provar... Veja meu extrato do banco... Ele está me cobrando, sem piedade, 13% ao mês no cheque especial, e o cartão tá cobrando 10% ao mês para financiar dividas... E EU NÃO SOU DOIDO, DOUTOR, EU NÃO SOU DOIDO!!

Psiquiatra: Entenda que o senhor só está dizendo disparates, coisas absurdas, que fogem totalmente à lógica... Sinto muito... Eu nada mais posso fazer pelo senhor... ENFERMEIROS, TRAGAM A CAMISA DE FORÇA E UMA DOSE DUPLA DE "SOSSEGA LEÃO"!!
Paciente: EU NÃO SOU DOIDO, DOUTOR! EU NÃO SOU DOIDO, EU NÃO SOU DOIDO!! PERGUNTEM AO PREFEITO, AO GOVERNADOR, AO PRESIDENTE... ELES SÃO MEUS AMIGOS, ELES SABEM A VERDADE!! PERGUNTEM AO ELVIS PRESLEY, AO JORGE AMADO... LIGUEM PARA OS MAMONAS ASSASSINAS, PARA O PELÉ... ELES SABEM QUE... EU NÃO SOU DOIDO... EU NÃO SOU DOIDO... E...u... Nnaão s..s...sou... Do... Doi...do... e... u...


Pedro Altino Farias, um quase doido, em 03/06/2020, ano da pandemia do coronavírus

terça-feira, 2 de junho de 2020

Meu Tratado de Paz - dedicado a todos os meus amigos


Nesses tempos estranhos, quando cada um tem sua própria bandeira, adoto a universal bandeira branca. Improvisada, despojada de tudo, sem um designer bom bolado, sem cores, sem detalhes, sem raça, sem religião, sem orgulho, sem imposições, ela traz apenas uma mensagem: a PAZ.

Assim como diversidade biológica é condição existencial da natureza, a diversidade de pensamento é condição para o desenvolvimento humano. Abraçar quem é diferente de você lhe faz caminhar por outros mundos, pensar, refletir e, sobretudo, viver essa amizade plenamente, embora que eventualmente com opiniões contrárias às suas nisso ou naquilo.

No meu modelo de mundo, ele é maravilhoso e fascinante exatamente pelas diferenças que o habitam, e nas viagens que posso empreender navegando nesses mares, as vezes turbulentos, de coisas absurdamente diferentes. Isolar-se em seus princípios, abraçando apenas os iguais a você, diminui sua estatura, limita seu desenvolvimento, e rouba-lhe mil oportunidades de ser ainda mais feliz e pleno. E você vai sorrir menos, com certeza.

Se duas paralelas se encontram, inexoravelmente, no infinito, por que não relaxar e encontrar aquele seu amigo “contrário”, que andava meio distante, no bar da esquina? Por que não ouvir suas queixas da vida, dar-lhe uns bons conselhos, falar de suas próprias dúvidas e reconhecer suas fraquezas (ou será que você não as tem?)? Depois darem boas risadas de tudo isso, tomarem mais uma dose juntos, abraçarem-se e darem-se as mãos com juras de amizade eterna e, no fim da noite, sacramentarem um armistício com um forte abraço de PAZ?

Nossa vida não nos pertence, e o mundo é infinitamente maior que nosso pobre pensamento, mas o amor... Ah, com esse ninguém pode, porque ele é obra divina!

Pedro Altino Farias, em 02//06/2020, ano da pandemia do coronavírus

sábado, 23 de maio de 2020

Ainda Bem...


Ainda bem que estamos perdendo entes amados e amigos do coração;

Ainda bem que estamos suprimidos de nossas liberdades individuais, isolados em nossas casas e apavorados com a pandemia e suas consequências;

Ainda bem que muitos perderam seus empregos, e outros perderão;

Ainda bem que, com o isolamento necessário, muitas empresas vão quebrar, muitos sonhos virarão pó, e muitas famílias restarão desfalcadas de alegria;

Ainda bem que não existe tratamento eficaz comprovado para combater esse vírus;

Ainda bem que o dia de amanhã é incerto, e o mês que vem também;

Ainda bem que toda essa desgraça veio para mostrar ao povo brasileiro que o Estado precisa ser grande, onipresente, dominador, controlador, e que, se assim fosse, essa pandemia seria só mais uma "gripezinha", e a crise econômica, uma "marolinha".

Ainda bem que quem disse isso foi a "alma mais honesta desse grande país", mais honesta do que eu, do que você que me lê, mais honesta do que seus pais, do que todos os professores do ensino fundamental, médio e universitário, do que todos os cientistas com suas pesquisas geniais, que todos os militares, enfim, um santo dentre 210 milhões de brasileiros.

AINDA BEM...

Pedro Altino Farias, em 21/05/2020, ano da pandemia do coronavírus

sexta-feira, 22 de maio de 2020

MÁSCARAS E MASCARADOS



MÁSCARAS I
Na minha infância, anos 60, brincamos muito de bang-bang. Revólveres à cintura, era tiro para tudo que é lado. O bandido, com um lenço cobrindo o rosto, sempre levava a pior, tombando morto ao final do tiroteio. Esse era o combinado, nem sempre cumprido pelo fora da lei. Hoje tá difícil, não há mais armas para vender, e brincadeiras "violentas" só no videogame.

MÁSCARAS II
Início dos anos 60, nossa familia fez um passeio a uma pequena localidade, famosa na região por suas fontes de águas minerais puríssimas. Lá havia um balneário muito simples, com uma piscina de água corrente, que reservava um horário só para mulheres. Como papai não conhecia esse detalhe, fomos todos conhecer a casa. Chegamos exatamente no horário em que o mulherio estava bem à vontade, e foi um alvoroço danado, com jovens e senhoras correndo em busca de abrigo. O curioso é que a maioria escondeu o rosto ao invés de proteger as partes. Tem lógica, se não se sabe quem é, o resto pouco importa.

MÁSCARAS III
Uma verdadeira legião de super heróis povoa os sonhos de crianças e adolescentes desde os anos 50. Bemfeitores da humanidade, escondem-se atrás de uma máscara para preservar suas identidades e, assim, continuarem suas lutas contra o mal, e salvar o planeta das diaburas do vilão mais uma vez.

MÁSCARAS IV
Mais de 50 anos depois, a lógica daquele balneário dos anos 60 está cada vez mais em voga, com muita gente se exibindo na internet, ao vivo ou em fotos, em variadas e extravagantes performances sexuais, porém sem mostrar o rosto, ou com a identidade protegida por uma máscara, qual os heróis das estórias em quadrinho e aquelas mulheres do balneário.

MÁSCARAS V
Em longo de toda a história da humanidade, pessoas se escondem atrás de "máscaras" por mil e um motivos, desde uma simples timidez até para praticar uma sórdida traição, passando por um drible meio inocente, ou necessário, na sociedade e seus valores recheados de hipocresia.

MÁSCARAS VI
Hoje, a própria máscara é a heroína. No rosto de pessoas comuns, é a grande e decisiva arma contra a propagação do vírus que veio para mudar nossas vidas. Saúde a todos... E não esqueçam suas máscaras!

Pedro Altino Farias, em 21/05/2020, ano da pandemia do coronavírus

terça-feira, 19 de maio de 2020

Roleta Russa



Faltando dois minutos para as três e meia da tarde do sábado, 09/05/2020, meu celular tocou. Do outro lado da linha estava o amigo Fabrício, que, com a voz embargada e sufocada, disse ser portador de uma má notícia. Tempos difíceis, naquela mísera fração de segundos pensei: Meu Deus, quem terá sido? E a insana, diabólica e fatal roleta russa começou a girar em minha cabeça, com a sua assustadora aleatoriedade de sempre. “Quem?”, perguntei-me novamente. Rostos e sorrisos projetaram-se para mim, ainda esperando que a notícia não fosse tão devastadora assim. Era. E a roleta parou no nosso amigo Haroldo.

Parei. Emudeci. Agora eu é quem teria que ser portador da notícia para a Gorette e outros amigos. Falei para um e outro, e preferi o silêncio. Apenas atendi a telefonemas de amigos incrédulos em busca da não confirmação do fato. Negativa que não pude dar. Infelizmente.

Com o coração um pouco mais sossegado, agora que estou quebrando o silêncio. Haroldo não era cor, era multicor. Não era bar, era multi bar. Não era música, era todas as músicas, não era amigo, era NOSSO AMIGO e amigo do mundo.

Quem diz que não existem espaços vazios, e que o cemitério está cheio de insubstituíveis, nunca teve um amigo de verdade. Nunca! Com certeza o lugar dele estará sempre vazio no Serpentina, Embaixada da Cachaça, Raimundo do Queijo, Flórida Bar e em todos os bares da vida, mas ele estará em todos, ao mesmo tempo, cantando e sorrindo para nós. Haroldo se foi, mas nós continuamos com ele!

Pedro Altino Farias, em 10/05/2020, ano da pandemia do coronavírus
(foto arquivo PBV, com Romeu Duarte, Gorette Almeida e Haroldo Sousa)

Manelzinho, O Garoto do Placar


 

Naqueles anos românticos, antes da automação eletrônica e do politicamente correto, era Manelzinho quem fazia a troca dos números de gols do Estádio Presidente Vargas durante os jogos nos anos 60, por isso ficou conhecido como “O Garoto do Placar”. Inimaginável hoje, não é mesmo?


Fora de campo, Manelzinho trabalhou no bar do Luis Picas, na Gentilândia, sucedendo a este na direção da casa, que passou a se chamar Bar do Ventura. O bar contava com um balcão de um lado a outro, com os frequentadores ocupando-o tanto por dentro, quanto por fora. Servia somente bebidas, e quem quisesse tira gosto que trouxesse de outro lugar.


Uma grande televisão na calçada, e outra na parte interna, garantiam futebol para todos. Na parte interna, uma insólita abreugrafia pendurada no teto fazia as vezes de defletor de luminosidade, impedindo que a lâmpada ocasionasse brilho na tela da TV (vejam última foto). Coisa de botequim.


  



Em março de 2016 Manelzinho optou pela aposentadoria e fechou o bar. Fim de uma era, de uma bela história. Mas ele continuou frequentando bares da Gentilândia na boa, curtindo as muitas amizades que fizera ao longo da vida com muita alegria.


Hoje Manelzinho não mais está entre nós. Foi chamado ao céu, onde encontrará os amigos que já foram, todos ansiosos pelas últimas notícias do nosso futebol. “E aí, Manelzinho, qual foi o placar?”.

Pedro Altino Farias, em 19/05/2020, ano da pandemia do coronavírus

Foto 01: Fachada do Bar (foto arquivo PBV),
Foto 02: Manelzinho na frente do bar (foto arquivo PBV),
Foto 03: O Garoto do Placar (foto arquivo PBV),
Foto 04: A calçada do Bar do Ventura (foto arquivo PBV),
Foto 05: Manelzinho com Luís Picas (desconheço autoria),
Fotos 06, 07 e 08: O balcão do Ventura (fotos André Bezerra),
Foto 09: O exclusivo defletor de luminosidade do Manelzinho (foto exclusiva PBV)
Foto 10: Homenagem dos amigos a Manelzinho no GB (foto Mara Amélia),


domingo, 17 de maio de 2020

ADVERTÊNCIA COVID-19


Pedro Altino Farias, em 16/05/2020, ano da pandemia do coronavirus

"Depois", cadê você?


Estamos todos aguentando o "Durante" esperando o "Depois", mas depois do "Durante" veio outro "Durante", e
 mais outro e mais outro. 
A expectativa sobre o "Depois" é grande.
                                   - "Depois", quando você virá? 
                                   - Como você é? 
                                   - Será que seremos amigos? 
                                   - Mande notícias!


                     Pedro Altino Farias, em 16/05/2020, ano da pandemia do coronavírus

Seu Nogueira, Um Vitorioso!


                                      

Sabendo das minhas andanças bar em bar, foi com orgulho que o amigo Sérgio Holanda me levou para conhecer o Vitória Bar, no Centro, em outubro de 2012. Chegando lá, apresentou-me ao Seu Nogueira, proprietário do estabelecimento, e ao Gildo, filho de Seu Nogueira e gerente da casa. Afeiçoei-me aos dois e à casa de imediato. Tempos depois, em 2015, levei lá o amigo Romeu Duartetambém legítimo amante de botequins, e ele teve a mesma reação.





No reservado, numa cadeira alta, à frente de uma antiga registradora, com um espelho da Colonial acima desta, parecia pilotar uma astronave, com todos os controles à mão e ampla visão daquele universo. O prazer em receber amigos em seu bar, novos e antigos, traduzia-se no sorriso franco e no bom papo.

Reputo o Vitória Bar como o mais antigo de Fortaleza, pois funciona há sessenta anos, no mesmo endereço, sob a mesma direção, sem nunca ter passado por uma reforma que o descaracterizasse. Obra de Seu Nogueira, continuada pelo Gildo.





Com a missão cumprida, uma linda família e muitas amizades conquistadas ao longo de seus mais de noventa anos, tenho certeza que Seu Nogueira partiu em paz, e que uma turma boa estará esperando por ele no melhor bar que há nos céus, porque a vida dele aqui na Terra foi uma VITÓRIA!

Pedro Altino Farias, em 17/05/2020, ano da pandemia do coronavírus

Fotos arquivo PBV
Fotos 1 e 2: Seu Nogueira no caixa, 2012;
Foto 3: Seu Nogueira, eu e Sérgio, 2012;
Foto 4: Gildo no balcão, 2012;

Foto 5: Seu Nogueira, Gildo Nogueira, eu e Romeu Duarte, 2015

domingo, 10 de maio de 2020

INSUPERÁVEL! - Dia das Mães 2020

És mãe, és insuperável!
És filho, és abençoado! 
Mãe e filho, filho e mãe; 
Vida que vai e volta... 
E passa adiante com os filhos dos filhos e filhas, 
E estas se transmutam em mães um dia. 
Amor que vem e fica. 
Divina lei natural de Deus. 
Amas alguém? Pois que esse amor seja verdadeiro, mas... 
Se tens mãe, tens o mundo inteiro aos teus pés! 
Se és mãe, tua vida há que continuar para sempre 
através dos teus filhos e filhas. 
Tudo advém desse amor, desse milagre da vida criado por Deus. 
E que assim seja. 


Pedro Altino Farias, em 11/05/2017

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Quando não houver um botequim aberto


Quando não houver um botequim aberto, invente um para si... Dentro da sua cabeça, do seu coração de andarilho, aventureiro ou o que quer que seja... Imagine-se com amigos ao seu redor, uma música boa ou ruim no ambiente, risadas e goles de qualquer coisa. Sinta o calor dessa companhia fraterna, e o gosto de fel da pior aguardente que existe, mas que acalmava sua angústia naquele momento. Lembre-se daquela partida de sinuca disputada a tapas (literalmente)... E dos abraços que vieram depois. Ou daquele dia de chuva em que todos se amontoaram ao redor do balcão com uma boa desculpa para não ir embora. Pense no tira gosto que certa vez alguém levou e que, afinal, não era nem tão bom assim, mas todo mundo caiu de pau em cima como se fosse o última última refeição desse mundo... Por fim, pense na liberdade, amizade e alegria que imperam pelosbaresdavida, e grite alto, e voe, porque você já vai estar dentro de um botequim, aquele que mora dentro da sua alma... 

Pedro Altino Farias, em 26/04/2020, ano da pandemia do coronavírus 

Fotos: arquivo PBV 

Homenagens saudosas aos amigos poeta Mário Gomes, Erasmo Pitombeira, Narcélio Corta Jaca e Carlão do Cavaco. 

Bares – Cantinho do Frango, Kina do Carneiro, Paraíba (Feijão Maravilha), Bar do Adão, Bar do Helano, Rainha da Panelada, Buraco do Reitor, Alpendre, Paraíso Fiscal, Embaixada da Cachaça, Bar do Bigode (2000), Bar do Ciço (antigo), Frangril (Gentil), Flórida Bar, Bibi e Raimundo do Queijo.

domingo, 26 de abril de 2020

Padaria Espiritual - O Bar

Comentários retirados da postagem "Segura Coração", feita no perfil do Pelos Bares da Vida, em 20/04/2020, em meio à quarentena imposta pela pandemia do covid-19. um autêntica conversa de botequim.

 


Paulo Verlaine Nunca houve uma mulher como Gilda. Nunca houve um bar como a Padarial Espiritual.

Toni Bala Paulo trabalhamos na Radio Assunção ,na época do seu Geraldo Fontenele um abraço amigo

 Paulo Verlaine Toni Bala Sim, lembro do violonista e cantor. Equipe boa: Paulo Henrique, César de Castro, Vidal Santos, Elias de Oliveira Júnior (chefe do jornalismo), e muitos outros, sob o comando de Geraldo Fontenele. Abraço.

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Lizia Aguiar Essa esquina tem muitas memórias

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Bomfim Feitosa No comando, o saudoso Vicente. Na cozinha, Romulo e seus pratos.
Eu frequentei garoto e depois de adulto, pouco tempo, até a morte do Vicente. Meu pai era assíduo na Padaria. O pequeno grande Roberto Bomfim ( orelhinha).
Grato pela lembrança.

Paulo Verlaine Encerrou as atividades em 1994 ou 1995.

Bomfim Feitosa Paulo Verlaine não lembro, mas acho que foi em 1995. Logo depois do falecimento do Micié Vansan (Vicente), acredito. Lembro disso, pois meu pai continuou a andar nas adjacentes.

Paulo Verlaine Bomfim Feitosa Frequentei até 1995 mais ou menos. Foi quando morreu o Vicente.

Bomfim Feitosa Paulo Verlaine O bom era o bate papo no balcão e os saraus de música boa. Violões e voz, apenas.

Bomfim Feitosa Chegou a conhecer o Bomfim? Ele era das antigas, pois morava na época de garoto na Visconde do Rio Branco. Ah! Adorava uma cachaça

Paulo Verlaine Bomfim Feitosa Devo ter conhecido, sim..

Paulo Verlaine Bomfim Feitosa Rômulo, o gerente, comandava os tira-gostos: cuscuz com carne moída (sempre aos domingos), galinha ao molho...e outros petiscos.

Bomfim Feitosa Paulo Verlaine sim. Ah! É tinha umas gororobas... Show. E quando os amigos entravam na cozinha ele ficava louco. E botava moral. Por isso que eu tenho um carinho pela Embaixada, pois tem amigos, balcão, e boas estórias e histórias. Salve o bom amigo Altino e senhora. Remetem um lugar único, que, ora só existe na Embaixada.

Paulo Verlaine Bomfim Feitosa Clientela variada: intelectuais, jornalistas, artistas, comerciantes, bancários, funcionários públicos, tudo reunido.

Bomfim Feitosa Paulo Verlaine sim. Igual a Embaixada.

Paulo Verlaine Outros apenas biriteiros. Turma boa.

Paulo Verlaine Escritores e poetas também.

Bomfim Feitosa Um lugar democrático

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Romeu Duarte Trata-se do botequim mais fidedigno, mais legítimo da história de Fortaleza. Daquele tipo no qual o dono disputava com os clientes quem bebia mais. Freqüentei-o de 1984 até meados dos anos de 1990. Sua arquitetura era um exemplo da tipologia de uso misto da Fortaleza na passagem do século XIX para o XX. A mercearia estrategicamente colocada na esquina da 25 de Março e a residência atrás, na Rua Pero Coelho. O bar era composto por cinco ambientes: um salão fronteiriço, onde os fregueses se amontoavam em torno do balcão, comandado pelo Vicente (também conhecido como Vansan, Monsieur Vincent ou Monsieur Vincent de las Palmitas) e dos freezers; uma minúscula cozinha, a que chamávamos "cozinha de avião", reino do querido Rômulo, o factotum do bar; um WC de higiene ausente; um reservado (moda nos bares da Fortaleza antiga), aonde tinham acesso somente os clientes mais vetustos ou de maior prestígio, local dos jogos de baralho e dos muitos encontros com amores clandestinos; e, por fim, mas não menos, um espaço que faz falta hoje aos botequins desta cidade: sobre o depósito de caixas de cerveja e cachaça, um jirau dotado de redes de tucum para aqueles que não agüentavam mais de tanta cana ou para os desamparados a quem a entrada no lar havia sido proibida. E os tira-gostos? Carne moída com cuscuz, galinha à cabidela com baião de dois, panelada, além da generosa distribuição de frutas da estação. Os freqüentadores, todos biriteiros de escol, tinham suas terças e meiotas acondicionadas em "burrinhos", que nada mais eram do que garrafinhas de Guaraná Antárctica com o nome do distinto aposto ao recipiente, escrito num esparadrapo. Numa plaquinha situada próxima ao balcão lia-se: "Senhor, dai-me forças para beber". Fiz grandes amizades lá: os irmãos Luciano e Virgílio Maia, Elmar Arruda, Velé, Augusto Pontes, além de reencontrar meu caro amigo Manoel Maia no recinto. Vai, saudade, vai torturar outro que ousa ter memória nesta terra bárbara de tanto esquecimento...

Bomfim Feitosa Romeu Duarte Você disse tudo meu bom amigo. É isso mesmo. Grande Rômulo e Vansan. Boas recordações.

Paulo Verlaine Romeu Duarte Havia os clientes que, depois de certo tempo, adquiriam o privilégio de ficar por dentro do balcão e se autoservir. Conquistei essa honraria, depois de alguns meses, e fiquei muito feliz: era sinal de que fui aprovado pelo dono.

Romeu Duarte E hoje é uma inofensiva perfumaria...

Paulo Verlaine Romeu Duarte Nome Padaria Espiritual foi escolhido pelo escultor cearense Zenon Barreto. Em homeagem ao movimento literário Padaria Espiritual que pontificou em Fortaleza no início do século XX. Muita gente incauta confunde as duas coisas - o movimento literário e o bar - mas isso é outra história.

Romeu Duarte O Zenon andava muito por lá. Irascível e carrancudo, tinha receio de falar com ele...

Paulo Verlaine Romeu Duarte Era o jeito dele. Tinha fama de briguento, mas era gente boa, além de artista notável. Sobre o nome, me contaram o seguinte: o Vicente havia acabado de botar a mercearia naquele ponto. Como toda mercearia que se preza, tinha bebida para vender. Zenon era um dos clientes pioneiros. Vicente viu que vender birita (e beber) era bom e resolveu esquecer a mercearia e fazer dali um bar de fato e de direito. Pediu ajuda do Zenon para escolha do nome. Aí surgiu Padaria Espiritual, homenagem do Zenon ao movimento de poetas e escritores do início do século XX.

Romeu Duarte Outras boas amizades que lá fiz foi com os primos René e Zeferino Barreira.


Romeu Duarte Aos domingos, ia com meu querido concunhado Henrique Baima, a quem o Rômulo idolatrava, fazer a base na PE até umas 15 h para depois nos dirigirmos à soirée do Bar do Aírton. Naquele tempo a gente bebia...


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Roberto Paiva Parque das crianças bem ali, e o cara criando mau hábito

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Pelos Bares da Vida Se me permitem, vou condensar os comentários aqui expostos, com os devidos créditos, claro, para publicação posterior nas mídias do Pelos Bares da Vida.

Romeu Duarte à vontade, à vontade.

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Robespierre Amarante BAR

Uma palavra tão simples mas que engloba um universo. Neste mundão que é um bar, o solitário encontra acolhida e pode permanecer na sua solidão, escolhendo uma mesa de canto aonde só vai o garçom.
Aqueles para quem a vida é um eterno festim, ou que forçam assim parecer, existe aquela mesa da diretoria, e muitas das vezes, o balcão.
O balcão que pode ser dividido entre o alto e o baixo clero, igual ao do saudoso Bar Padaria Espiritual.
Os que o frequentaram sabem muito bem de que este divisor, se dava mais por voluntariedade, nada de superioridade, coisa que o boêmio abomina.
E igual a toda atividade em que o homem põe as patas, a "panelinha" procura seu espaço, que pode crescer em demasia e espantar os que dela não fazem parte.
Assim foi, assim será, e os que são da lida, compreendem, mesmo que não aceitem.
No bar derruba-se um presidente da República antes do próprio "impeachment", igual ocorreu na confraria etílica Padaria Espiritual.
No topo, acima de um portal, um quadro dominava.
O todo poderoso Collor de Mello ali posto por um eleitor incondicional, o saudoso Rômulo, olhava a nós todos como se fôssemos seus lacaios, e ai de quem imaginasse, tocá-lo.
Até que certa noite, lançado não se sabe de onde, um copo americano atingiu o quadro presidencial, e fez cair por terra o presidente com faixa e tudo.
Não amiudaram as investigações, para se evitar um mal maior, Rômulo com certeza arrancaria o fígado do "iconoclasta"!

Romeu Duarte belo texto, meu caro. Lembro-me do quadro do collor.

Robespierre Amarante Romeu Duarte , obrigado Romeu, você é bamba na matéria!

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Mauricao Lima Não era habitué, mas cheguei a frequentar algumas vezes.
Amizades adiadas por 20 e poucos anos.

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Aurea Pinheiro Eita que tanta coisa boa para ler...histórias da vida boêmia de Fortaleza.

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Martiniano Neto Não conheci, após deixar o Ceará em 1954, retornando em 1972 após meu casamento, não conhecia ninguém em Fortaleza que curtisse esse ambiente e o prazer de sorver algum golinho inocente.

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Dorian Sampaio No tempo que editava o Anuário do Ceará com o Dorian pai frequentei o bar do Vicente para "pastorar" a Audifax, na época um bom copo, para não atrasar a programação visual do livro sob sua responsabilidade. Como ninguém é de ferro, muitas vezes saía de lá mais melado que o "pastorado".

Romeu Duarte Audifax foi outro que conheci na PE.

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Sebastião Matias De Carvalho Neto Prédio pomposo, um clássico quando bares atendiam por mercearia Paulo Verlaine

Paulo Verlaine Sebastião Matias De Carvalho Neto Sim, começou como mercearia, mas depois, com o mesmo dono (Vicente) virou bar consagrado. Eu comecei a frequentá-lo em 1990 quando já era bar famoso. Cliente tardio, mas assíduo. Fechou em 1995, se não me engano. O Vicente bebia mais do que os clientes. Rs.


Paulo Verlaine Sebastião Matias De Carvalho Neto Uma vez uma senhora, que viu nome Padaria na fachada, chegou lá e perguntou se tinha pão. Respondemos: "Só em forma líquida".

Sebastião Matias De Carvalho Neto Paulo Verlaine não deixa de ser pão do espírito

Marcelo Augusto Saldanha Estive várias vezes com esse pessoal. Grande Vicente a Palitim o Romeo o profeta. Tempo bom do boi ralado

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Pelos Bares da Vida Comentário do amigo Fernando Fernando Peixoto Melo Melo em postagem no Facebook:
Por lá passei 2 vezes em 1986, acho, levado por colega de mestrado que fazíamos na Faculdade de Direito da UFC. Morava no Crato, como professor da UECE e Auditor Fisca do Trabalho, pra onde voltava quinzenalmente em funcao do deslocamento provisório face ao pós graduação. Nao conhecia nenhum dos amigos que tenho hoje, varios deles frequentadores do Bar-Confraria. Dos Maias passara a conhecer Napoleao Nunes Maia, que era professor no mestrado mas que nao fazia nenhum périplo "etílico-cultural" conforme se sabia. Somente a partir do meu retorno definitivo de Crato pra Fortaleza, em 1996, pasando a dar aula no Curso de Administracao de Empresas, é que vim conhecer, a partir do Clube dos Gatos, tantos deodatos levantadores de copos e taças. Dos Gatos foi um pulo para, depois de passar a frequentar Ideal Club, Cantina do Colegio, Dallas, Alpendre, Cantinho do Frango e outros, conhecer e bibiricar com Augusto Pontes, Luciano, Virgilio e Manoel Maia, Flavio Torres, Guilherme Neto, Ricardo Guilherme, Cláudio Pereira, Mônica Barroso, Fausto Nilo, Nilton Padilha, Airton Monte, Ivan Monte, Romeu Duarte e tantos e tantos outros. Hoje, o nosso melhor Quartel General é a Embaixada da Cachaça, onde tantos outras amizades já patenteiam o saudável convivio etilico-cultural!

 * Os comentários não foram revisados nem editados.
** Foto de Altino Farias feita a partir de outra já existente na Esquina Espiritual, que ficava defronte ao prédio da "Padaria".

Pedro Altino Farias, em 26/04/2020