terça-feira, 26 de março de 2013

Entre a Luz e a Espada




Sentia uma pressão aguda na pele à altura do peito. Pendesse mais um pouco à frente, por certo a lâmina fria e afiada daquela espada transpassaria seu coração, fazendo-o sangrar fatalmente. Imóvel, olhos arregalados, o suor escorria pela face, ora parecendo lágrimas, ora parecendo gotas suicidas a precipitarem-se da ponta de seu nariz rumo à morte.

E se retrocedesse? Uma enorme e pesada cruz o aguardava. Um peso de cem toneladas, avaliava, esmagá-lo-ia. Que fazer numa situação dessas, estando entre a cruz e a espada? Embora não houvesse tempo para tal, uma reflexão instantânea se fazia necessária.

Seguir adiante significaria morte certa, com uma lâmina de aço atravessando seu peito. Retroceder trazia a expectativa de ter de suportar um enorme peso, talvez maior que seu corpo aguentasse. “Talvez”, essa foi a chave para sua decisão.

Deu um passo atrás e a cruz, aparentemente impiedosa, pesou-lhe nos ombros. Num primeiro momento suas pernas tremularam, o coração bateu em disparada, o suor encharcou todo o seu copo. Fraquejou. Pensou que não resistiria, mas algum tempo depois...

Mesmo com a cruz ainda lhe pesando horrores, as batidas do coração acalmaram, e ele já podia enxergar adiante. Sabia que desde então sempre teria aquela cruz às suas costas, e entendeu que poderia suportá-la. Mais que isso, começou a compreender como torná-la mais leve e o que a fazia pesar mais.

O tempo foi passando. Somente assim, com a cruz às costas, observou que cada um de nós leva consigo sua própria cruz. Uns a suportam com alegria, disposição e resignação; outros, com pesar, tristeza e inconformismo. Concluiu que a maneira como cada um encara sua cruz é que determina seu peso.

O tempo passou mais um pouco. Lembrou-se daquele dia já distante em que ele olhou para frente e sentiu o frio de uma espada, olhou para trás e viu todo o peso de uma cruz. “Como me enganei!!”, pensou, “Não era uma CRUZ, era LUZ!”.


Pedro Altino Farias, em 25/03/2013

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