sábado, 25 de junho de 2011

E Viva a República!


Essa um amigo me contou numa mesa de bar. Disse que o caso ocorrera com um amigo, mas tenho cá minhas dúvidas, acredito que ele mesmo pode ter sido o personagem central desta história.

O fato é que o cara chegou num bar para o happy hour da sexta acompanhado de sua esposa, que fora apenas deixá-lo. Como ainda não havia ninguém da turma, ela ficou um pouco a lhe fazer companhia. Nesse meio tempo uma mulher, passando pelo mesa do casal, cumprimentou-o. “Uma antiga colega de colégio”, explicou ele à esposa, que logo depois foi embora.

Passou da hora combinada e os amigos, nada! Sozinho, olha daqui, sorri dali; resolveu sentar-se à mesa da antiga colega. Drinks, lembranças do passado, prestações de contas com o presente. Cada um fez um rápido retrospecto de suas vidas desde aqueles tempos até a atualidade. Sem se notarem estavam a trocar carícias e... Eis que surge um beijo!

Ocorre que a mulher dele retornou ao bar por um motivo qualquer, e deparou-se com os dois bem na hora do ósculo, num tremendo azar da dupla de colegas. A esposa, enfurecida, perguntou quase aos gritos: “Fulano, você pode me explicar o que é isso?”. Nosso protagonista, um coroa boa praça, pacato, gentil, e muito espirituoso (além de azarado), levantou-se energicamente, ergueu a mão direita com o punho cerrado e bradou: “E viva a república!”.

“E viva a Republica!?”, quis saber eu a esta altura da narrativa, “Mas o que ele quis dizer com isso?”, perguntei, ingênuo. “E o que ele poderia dizer de melhor numa situação dessas?”, respondeu meu amigo candidamente. Depois, pensando sozinho, conclui: “É, faz sentido... Uma boa resposta... Talvez a melhor de todas!”


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

terça-feira, 14 de junho de 2011

A Itália em 15 Dias




Vou aqui fazer um relato sobre os quinze dias de férias que passei em viagem à Itália em companhia de Gorette, minha esposa. A narração seguirá a cronologia dos dias, e o enfoque dado será, prioritariamente, o da logística, de modo que possa conter informações úteis a todos.

De antemão agradeço ao meu irmão mais velho, Fábio Farias, que, como comandante do Airbus A340, foi um grande incentivador dessa empreitada, inclusive viabilizando o trecho aéreo através das condições especiais de preços de passagens às quais tem direito na companhia. Valeu!

Percorremos seis cidades, tendo quatro delas como sede: a cosmopolita Milão, a apaixonante Florença, a monumental Roma e a bucólica Arona. Além delas, estivemos na curiosa Veneza, e na sossegada Locarno, esta situada no sul da Suíça.

Alguns Valores serão mencionados como referência, e sempre em euros.


Dia 19/03, sábado:

Nossa empreitada se iniciou dia 19 de março, sábado. Como o vôo a Milão partiria de Guarulhos, São Paulo, embarcamos em Fortaleza num vôo às 8 da manhã, chegando ao destino três horas depois. O embarque a Milão se daria somente às 22 horas, então fomos a um hotel próximo ao aeroporto para descansar à tarde. Vários hotéis da cidade disponibilizam vans e ônibus a cada meia hora para fazer o translado de quem está em trânsito, facilitando bastante a vida dos viajantes.

De volta ao aeroporto, encontramos o Fábio, que seria um dos comandantes do vôo. Como o tempo de duração da viagem é de cerca de 12 horas, o Airbus da TAM decola com duas tripulações completas, que se revezam a cada seis horas.

Embarcamos no horário previsto e a viagem transcorreu sem sobressaltos. A convite do comandante, passei boa parte do vôo na cabine, sobrevoando todo o litoral brasileiro, passando por Fernando de Noronha e rumando para a Europa sobre o Atlântico. Como era noite de lua cheia todo o visual ficou especial. Entre os destaques dessa parte da viagem posso citar o visual estranho do “Fogo de Santelmo”, e a ultrapassam de outro avião que trafegava na mesma aerovia e sentido, porém num nível mais acima. Tanto um quanto outro proporcionou um show visual.


Dia 20/03, domingo:

Desembarcamos em Milão no domingo, e quatro horas à frente do nosso fuso-horário. Ao final do vôo a comissária de bordo transmitiu ao Fábio vários cumprimentos de passageiros pelo excelente pouso, suave e sem trancos. De lá fomos direto a Arona, cidade turística situada a cerca de 70 quilômetros ao norte de Milão. Às margens do Lago Maggiore, Arona é uma cidadezinha charmosa e bucólica. Fizemos um passeio a pé pelas proximidades, e um jantar fechou o longo dia.


Dia 21/03, segunda-feira:

Pegamos um trem para Milão num percurso de cerca de uma hora de viagem. O Fábio nos acompanhou dando as primeiras coordenadas de como são as coisas na Itália. Dicas valiosas. Chegando, fomos ao hotel, que fica próximo à estação Pasteur do metrô. Depois, à Catedral Duomo e à galeria Vittorio Emanuele, que fica vizinho à Catedral e abriga lojas elegantes. Neste ponto Fábio nos deixou, pois ao fim da tarde já embarcaria de volta ao Brasil, e ficamos por nossa conta e risco.




Passei então a procurar o Teatro Alla Scala. Rodei as adjacências munido de mapa e, estreando meu italiano, fui perguntando aqui e ali pela localização do teatro. Ora entendia o que falavam, ora não. Ora me entendiam, ora não. Depois de muito rodar encontrei, enfim, o teatro, que fica exatamente no ponto de onde partimos, em frente a uma praça que leva o mesmo nome do teatro, e ao lado da galeria Vittorio Emanuele.




Depois desse primeiro “mico” rodamos, sempre orientados pelo mapa, por pontos de destaque, até chegarmos à Corso Venezia/Buenos Aires, avenida repleta de lojas de confecção e artigos de couro. Entre uma e outra passamos em frente ao Museu de História Natural e à Villa Comunale. Esticamos um pouco a programação e encerramos a jornada do dia com um lanche, nos recolhendo ao hotel.


Dia 22/03, terça-feira:

Tiramos a terça para visitar museus. Fomos ao de História Natural ($ 3,00 cada) e em seguida ao Castelo Sforzesco, onde funcionam museus de variados temas ($ 6,00 cada com direito a visitar todos). Essas visitas nos consumiram todo o dia, mas permitiram ainda um passeio na Via Dante, que quase une o castelo à Catedral. Cheia de lojas chiques, a Via Dante é só charme, e aproveitamos o fim de tarde para sentar numa calçada para apreciar o movimento da rua tomando um vinho e saboreando uma massa.


Dia 23/03, quarta-feira:

Na quarta acordamos cedo, tomamos café no hotel e pegamos o metrô rumo à estação de trens. Na Central embarcamos com destino a Veneza ($ 31,00 cada), onde passaríamos o dia. Perdemos um pouco de tempo, pois a viagem dura duas horas e meia, fazendo com que chegássemos a Veneza um pouco tarde. Mas aqui para nós, mesmo sabendo da duração do percurso, acredito que não partiríamos mais cedo do que conseguimos.

Em Veneza fomos de barco direto para a Basílica e Praça de São Marcos. Depois fomos voltando à estação, ponteando a cidade no que tinha de interessante. Chato que os prédios que ladeiam a Ponte dos Suspiros estavam em manutenção, com um grande tecido plástico azul protegendo-os. Com isso a ponte ficou visualmente espremida entre esses dois volumes, quase sumindo.




O último trem partiria às 18:20hs, e não podíamos perdê-lo de forma alguma, fato que nos fez ter sempre um cuidado com o cronômetro. O passeio da gôndola ficou para outra oportunidade, pois o fator tempo unido ao fator custo ($ 150,00) tornou o programa desinteressante. Particularmente acho o maior mico passear naquele negócio, mas...

Perdemo-nos e achamo-nos várias vezes durante esse percurso, pois é impossível se andar numa direção reta na cidade, pois o caminho é sempre entrecortado por passarelas e canais, porém conseguimos chegar à estação a tempo. Ainda fizemos um lanche antes de partir de volta, quando comemos sanduíches com uma garrafa de vinho. Interessante assinalar que é comum tratorias, osterias, pasticerias e restaurantes disporem de mesas na calçada, ocupando o espaço público. Mas saibam que para usufruir deste privilégio cada freguês paga cerca de dois euros ou preços majorados. No caso do nosso lanche cada “panini” saiu a $ 3,00, e a garrafa de vinho a $ 8,00. Sentados os valores seriam $ 5,00 e $ 10,00, respectivamente. Comemos sentados nas escadarias da Central, como tantos outros turistas.




Chegamos ao hotel em Milão por volta das 22hs, cansados, porém satisfeitos com a empreitada. Cedo partiríamos para Florença, então evitamos programa esticado.


Dia 24 a 26/03, de quinta-feira a sábado:

Na quinta partimos com nossas mochilas para Florença. A viagem foi tranqüila, com 1:45hs de duração ($ 53,00 cada). Como nas outras, o trem era confortável, pontual e rápido. Desembarcamos na estação central, denominada de Santa Maria Novela. Ela fica a cerca de trezentos metros da Catedral, num percurso tranqüilo e prazeroso. Aqui vai uma dica. Se levar pouco peso a mochila é ideal, pois, carregada às costas, nos confere muita agilidade. Mas se o peso for maior, melhor mesmo é a mala com rodízios. Particularmente prefiro as mochilas, mas a mala é bem prática quando mais pesada.

Nosso hotel se situava a uns trinta metros da Catedral, numa transversal. Logo que chegamos passei um susto, pois o número do endereço do hotel que constava na reserva, 13, simplesmente não existia na rua indicada. De novo meu “fluente” italiano nos salvou, e fui informado que a numeração da rua era desordenada. Já havíamos passado do lugar correto, que era exatamente onde eu havia visto na internet.

Instalado num prédio antigo, bem no centro histórico da cidade, o hotel se assemelha mais a uma de nossas acolhedoras pousadas, e dele nada temos a reclamar. Sua localização foi o ponto alto, pois estávamos bem no meio de onde as coisas acontecem.

Florença se parece mais com a gente. Pequena, acolhedora. Uma mistura de Ouro Preto, Olinda, Parati e Jericoacoara. Igrejas, praças, palácios, pontes, sorvetes... Tudo muito gostoso e dentro de uma atmosfera de animação e cores.

Nesta tarde rodamos pela cidade em reconhecimento, privilegiando a visita à Catedral. Depois almoçamos num restaurante na praça cujo garçom falava português com fluência. Através dele conhecemos o dono do estabelecimento, que tem um filho casado com mineira de Uberlândia e reside no Brasil há quatro anos.




No dias que ficamos em Florença caminhamos para todos os lados. Saímos do centro histórico, entramos em quitandas, açougues, oficinas, vistamos antiquários. Para nós os destaques da cidade, além da Catedral, claro, são a Casa di Dante, a Ponte Vecchio e o Palácio Pitti.

No Palácio funcionam dois museus ($ 12,00 individual para cada museu). A construção é lindíssima, imponente. Por trás existe um grande parque, Jardins do Bóboli, com muitas alamedas e jardins. Na parte posterior do parque há o Museu da Porcelana (visitação franqueada ao público), que exibe peças antigas e raras. Mais um delírio para os olhos. Numa das pontas há o Forte de Belvedere, que não podemos visitar por estar em manutenção. Quando já estávamos de saída nos deparamos com um recanto cheio de estátuas imitando uma gruta ou algo assim. As imagens assemelham-se a formações de calcário que encontramos em cavernas. Belíssimo!!

Os sorvetes são um show à parte. Deliciosos, eles são expostos de maneira irresistível em vitrines geladas, numa combinação de formas e cores que saltam aos olhos. Os restaurantes também fazem seu papel, sempre com uma decoração de bom gosto e atrativos gastronômicos expostos.

Em Florença as atrações são muitas: praças, museus, palácios, igrejas, parques, lojas, restaurantes... Artistas expõem trabalhos nas ruas, corais ensaiam cantos em igrejas, exposições de arte se sucedem. Só mesmo indo para ver.

No domingo partimos para Roma de trem ($ 45,00 cada passagem) dando continuidade à nossa programação, numa viagem de 1 hora e 35 minutos.


Dia 27/03, domingo:

Chegamos à Roma ao meio dia, totalmente desnorteados. Da estação liguei para o hotel, que confirmou nossa reserva e deu algumas orientações. Pegamos um táxi (pela primeira vez), e em pouco tempo estávamos devidamente instalados. Ocorre que era domingo, e tudo estava fechado, deserto. Saímos caminhando em direção à Basílica de São Pedro, procurando pegar um ônibus. Mas era necessário antes comprar um bilhete, que é vendido em tabacarias. Como era domingo, todas estavam fechadas.

Continuamos caminhando. Paramos numa espécie de padaria/lanchonete e fizemos uma pausa para comer algo. Conversamos com a pessoa que nos atendeu, e ela deu algumas dicas, inclusive indicou que estávamos mais perto que longe da Basílica, então decidimos continuar para não perder o dia. Decisão sábia, pois a Basílica, além de lindíssima, é enorme e conta com várias opções de visitação.




Neste domingo visitamos a Basílica em si, a Tumba, que fica abaixo do piso e é onde estão sepultados papas e religiosos (a de João Paulo II é a mais reverenciada), e subimos até a cúpula, cuja primeira etapa é de elevador e a segunda uma seqüência de escadas com 322 degraus no total ($ 7,00 cada).

Voltamos ao hotel já à noitinha e cansados. Compramos queijos, pães e vinhos, e fizemos um pic-nic na suíte do hotel.


Dia 28/03, segunda-feira:




A segunda amanheceu chuvosa e fria. Tomamos o café no hotel (muito bem servido, aliás), e esperamos um pouco. As nuvens pesadas estavam baixas e o vento forte, e logo deu uma clareada. Retornamos à Basílica para concluir a visita. A Praça de São Pedro, apesar do frio e tempo duvidoso, estava lotada, com uma grande fila contornando-a toda pelo lado direito, passando de sua metade. A fila é para ordenarem o acesso e revistarem os visitantes. Algumas áreas interditadas no domingo estavam liberadas. Além disso, visitamos o museu da Basílica ($ 6,00 cada).

Na área da Basílica há um ponto de parada de ônibus turísticos. Optamos por apanhar um deles ($ 15,00 cada) para um city tour, e conhecer os pontos principais da cidade com menos tempo e caminhadas. O bilhete do ônibus permite que se desça num ponto, visite na calma e apanhe o próximo. Com tempo pode-se fazer todo o percurso parando em cada local e prosseguindo quando for conveniente, fazendo, assim, uma programação em ritmo próprio.

Paramos primeiramente na Fontana de Trevi, um monumento que impressiona pela realidade dos movimentos e força que impõe. Muito turistas: jovens, idosos, orientais, americanos... Havia até italianos. No entorno da Fontana há várias tratorias e osterias para lanches e refeições completas, além de lojinhas variadas. É um local bem agradável e aconchegante, movimentado e vibrante. Aproveitando uma dica que recebi, procurei um estúdio que grava a imagem das pessoas em três dimensões num cubo de vidro ($ 30,00). O trabalho é rápido e o resultado é excepcional. Uma ótima lembrança de viagem personalizada.




Da Fontana fomos ao Coliseu ($ 12,00), já no final da tarde. Aqui cometemos um erro por puro desconhecimento, pois o ingresso comprado dava direito a visitar também o Foro Romano, que fica bem ao lado. Além de não termos sido informados disso, o tempo não permitiria a visita, tendo sido preferível se tivéssemos priorizado a visita ao Coliseu em relação à Fontana, mas...

No Coliseu encontramos alguns brasileiros e um casal cearense, Vera e Carlos Alberto, que residem no Meireles e acompanharam-nos na visita. A construção é impressionante, ainda mais se levando em conta a época em que foi concebido e construído. É bom parar um pouco e contemplar o cenário, imaginando o agito ali nos dias de glória do Império Romano.




No retorno passamos na Praça Veneza, onde comemos alguma coisa enquanto a leve chuva que caía passava. Depois voltamos ao ponto de partida, jantamos comentando as andanças, mancadas e impressões do dia... E dando boas risadas também.


Dia 29/03, terça-feira:

Reservamos este dia para visitar o Museu do Vaticano, aonde chegamos por volta das 9:30. Fomos de metrô e aqui vai um comentário. O sistema de Roma é antigo, mal conservado e limitado. A limitação é compreensível, pois a cidade é repleta de tesouros da antiguidade, mas a má conservação não se justifica.

Na entrada do Vaticano também encontramos uma grande fila, porém organizada e sempre em movimento, com pessoas de todos os lugares, de todas as idades. O museu é bem variado, o prédio em si já é uma atração, e anda-se bastante em meio a uma multidão para se chegar à Capela Sistina, ponto alto da visitação.




Saímos do museu já à tarde e almoçamos num restaurante ali perto. A atendente era paulista. A dona também. Ainda pensamos em ir ao Foro Romano, mas desistimos, preferindo ficar mais na de tomar um vinho e bater papo num lugarzinho gostoso até chegar a hora de se recolher.


Dia 30/03, quarta-feira:

Iniciamos a viagem de retorno. Pegamos um trem de volta a Milão ($ 91,00 cada), num percurso de 3:30hs (partida às 11:15hs com chegada às 14:45hs). A viagem foi tranqüila e tivemos uma família americana como vizinhos até Florença. Como estávamos em assentos desencontrados pedi ao nosso parceiro de viagem para trocar de lugar falando meu bom inglês colegial: “I and my wife travell toghther. You se importa de trocar de lugar comigo?”. Obviamente a pergunta foi acompanhada por gestos, o que facilitou um pouco a compreensão. Lugares trocados, curtimos a viagem na boa.

Chegando em Milão, pegamos outro trem para Arona ($ 5,20 cada). Quando fui comprar os bilhetes havia um horário com partida quase imediata, e fiquei em dúvida se daria tempo de embarcar ou era melhor esperar o próximo. O funcionário que me atendia quis perder a paciência e tive, de novo, que lançar mão de meus conhecimentos lingüísticos para explicar-lhe: “We are brasilians tourists. I and my wyfe traveled by Italy on treno Trenitália. We going for Florence, Venzia, Roma, Arona e Milano. You tem que ter paciência com a gente!!” . Acabei optando pelo segundo horário, o que nos fez ficar por uma hora na estação, chegando a Arona ao fim da tarde. À noite fizemos um passeio pela cidade e jantamos no mesmo restaurante em que estivemos em nossa chegada.




31/03, quinta-feira:

Pegamos um trem rumo a Domodôssola ($ 3,90 cada). De lá pegamos outro, panorâmico, com destino a Locarno ($ 20,00 cada, incluída a volta), cidade situada no sul da Suíça, na extremidade norte do Lago Maggiore, o mesmo que banha Arona. O percurso é de quase duas horas por entre montanhas de cumes congelados e pequenas vilas. Uma paisagem lindíssima.


Em Locarno subimos a montanha Cardada, que fica a 1360 metros acima do nível do mar. A subida se dá em duas etapas: a primeira, num trenzinho ($ 5,50 cada incluindo a descida), e a segunda, de teleférico ($ 25,00 cada, incluindo a descida). Em cima da montanha há várias trilhas, cabanas para alugar e uma pista de esqui. A paisagem é lindíssima, com vista para o lago e para Arcona, que fica na outra margem do lago. Estávamos com o horário apertado, pois tínhamos que retornar a Domodôssola a tempo de pegar o último trem para Arona. Enquanto esperávamos o teleférico inocentemente no restaurante, vimo-lo, incrédulos, partir, silencioso, deslizando pelos cabos de aço... E outro só em mais meia hora. Mas tudo acabou dando certo, e chegamos bem.




À noite demos uma circulada na cidade, curtindo o friozinho gostoso. Mais algumas fotos, vitrines, sorvetes. Acabamos por encostar numa cantina, sendo atendidos por um cara muito simpático e conversador. A massa era muito gostosa, e tomei umas cervejas enquanto comia e papeava. Uma parada mais adiante, uma conversa fiada, e chegou a hora de nos recolhermos, afinal o dia foi bastante longo e proveitoso.


01/04, sexta-feira:

Amanhecemos a sexta com a sensação do dever cumprido. Começou aquela vontade grande de voltar para casa, para os filhos, a família, os amigos, o trabalho, os bares da vida. A essa altura a vontade de degustar uma picanha gorda e mal passada era enorme. Tomar umas canas e umas cervejas bem geladas (lá só as servem frias) tinha se transformado numa quase obsessão. Para aliviar, parei numa choperia artesanal e tomei uns tantos. Gimmy, o atendente, era simpático e comunicativo, e acabei experimentando todos os tipos de chope produzidos pela casa. Passamos o dia assim, beliscando uma guloseima aqui, tomando uma ali, batendo pernas.




No começo da tarde o Fábio chegou para nos “resgatar”. Sua companhia é ótima. Além disso, ele conhece bem a pequena cidade, pois há mais de dois anos fica hospedado lá quando vai a Milão. Quando pensávamos que iríamos somente cumprir tabela até a volta no sábado, eis que no fim da tarde uma grande feira começa a ser armada bem ao lado do hotel, no espaço que margeia o lago. Era uma feira de produtos europeus: doces, perfumes, artesanato, flores, queijos, defumados, porcelanas, vinhos, chopes, chocolates... Uma festa multicolorida. Em pouco tempo pessoas já transitavam entre uma barraca e outra. Para nós foi um achado ter toda a Europa ali, em poucos metros, bem vizinho à nossa casa provisória. Aproveitamos e demos uma prévia logo na sexta.

Mais tarde fomos jantar os três. O hotel no qual estávamos hospedados tem um restaurante na cobertura com vista noturna lidíssima. Ambiente animado, boa comida e atendimento. Um bom vinho para acompanhar e muito papo. Depois dormir.


02/04, sábado/domingo:

A feira tomou conta de nossa manhã. Compramos mais umas bobagens, algumas lembranças. Tomei uns chopes de marcas famosas. Não sei explicar porque, mas havia uma barraca de comidas da Argentina. Nunca pensei em ficar feliz ao ver argentinos, mas aqueles cortes de carnes na brasa... Almoçamos um bom e farto churrasco, coisa mais parecida com o que temos aqui.

Ao fim da tarde embarcamos no ônibus que nos levaria ao aeroporto de Milão. A viagem foi tranqüila e desembarcamos em Guarulhos às cinco da manhã do domingo, chegando em Fortaleza às 13 horas... Do aeroporto fomos direto para o Picanha do Miguel, onde tomei umas três cachaças e mais umas tantas cervejas com os filhos ao redor. Ô coisa boa é estar de volta à nossa terrinha!!



Altino Farias
altino.frs@gmail.com

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mudanças



Voltei para a casa da mamãe. Não, não me separei. É que estou reformando meu apartamento, sendo impossível executar os serviços necessários residindo no local. Então fomos todos passar essa temporada na casa dela.

Toda mudança é dramática. Esta minha não fugiu à regra. Tivemos um trabalhão, pois acumulamos uma boa tranqueira durante os últimos vinte e dois anos. Além do mais, voltaremos ao ponto de partida cerca de dois ou três meses depois, quando a reforma estiver concluída. Será então a mudança da mudança.

Mas tudo tem seu lado divertido. A família estava toda em casa: eu, mulher, filha e filho. Cada um fazia a parte que lhe cabia. Ao selecionar objetos e documentos, deparei-me com preciosidades, algumas das quais julgava perdidas para sempre. À medida que encontrava algo inusitado, dizia em voz alta: “Achei meu cartão do CPF!!”, “Olhem meu certificado de alistamento militar!!”, “Encontrei a nota fiscal do nosso primeiro fogão!!”... E a cada anúncio todos corriam para ver o achado.

De estressante a mudança passou a ser uma curtição, pois todos entraram na brincadeira, divulgando em alto e bom som raridades encontradas escondidas pelo peso dos anos. Um celular tipo “tijolão”, um toca-fitas, notas fiscais de lojas que fecharam as portas há anos, um bichinho de pelúcia, cédulas de um dinheiro esquisito que um dia já havia sido dinheiro de verdade, roupas desaparecidas, relógios em desuso... Uma verdadeira volta ao passado.

Selecionamos somente objetos de uso imediato ou de valor para levar, o resto ficou aguardando nosso retorno. Mudamo-nos num domingo, sendo recebidos de braços abertos pela minha mãe, Dona Concita, em nossa casa que, pelos padrões de espaço atuais, é uma verdadeira mansão.

Em tudo a casa lembra papai, que a projetou e construiu. Muitos detalhes e acabamentos foram feitos por ele próprio, que costumava nos chamar sempre para participar de suas atividades. Assim, os quarenta e três anos de convivência que tenho com ela me levaram a uma segunda viagem de volta a outros tempos.

Fruteiras sombreiam o quintal, algumas das quais conheci ainda em estado de mudas, “bebês” de árvores. Outras vieram depois, e hoje várias gerações convivem em harmonia nesse privilegiado espaço, onde há também passáros em profusão e os mesmos encantos de antigamente.

Estou aqui pensando na mudança de volta ao apartamento renovado. Almas renovadas, documentos e objetos antigos reciclados e organizados, como que corrigindo a rota de nossas vidas. O passado presente, lembrando quem fomos um dia, fazendo-nos refletir sobre quem somos hoje e apontando para o amanhã.

E enquanto isso estiver acontecendo, Dona Concita estará onde sempre esteve, na já antiga mansão da família, portas abertas, braços abertos. Tanto ontem, como hoje, amanhã e sempre.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Meus Primeiros 50 Anos

Fiz muitos planos para comemorar meus primeiros cinqüenta anos, mas todos foram por terra. Da grande festa de aniversário, embalada com luz negra e músicas dos anos 60/70, ficou só a vontade, pois a data este ano ficou espremida entre o carnaval e uma viagem de férias.



De volta à terrinha depois de quinze dias me deleitando com as maravilhas da Itália, muito trabalho por fazer... E contas a pagar.



“Mas um bom texto sobre o evento ‘50 anos’ vou escrever e publicar no blog”, pensei. Compromissos, falta de inspiração, cachaçadas. Passou um dia, outro, e mais outro. Então veio a solenidade de instalação da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e tomou todos os espaços ocasionalmente livres. Assim já vou com cinqüenta anos e dois meses. Melhor deixar as tais comemorações para ano que vem. O bom texto também.



Porém, para a data não passar totalmente em branco, reproduzo um texto de Mário Coelho Pinto de Andrade, escritor e político angolano (1928-1990), que fala sobre “O valioso tempo dos maduros”. Espero que gostem.





O Valioso Tempo dos Maduros





Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.



Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.



Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.



Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.



'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...



Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.



O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!


Altino Farias
altino.frs@gmail.com