segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Da janela do meu carro - A força do progresso


O que era seiva, agora é dor,

O que era verde, é sem cor,

Destruição sem pudor,

A vida, retorcida, sem amor,

Padece, abandonada, esperando um trator. 

Eu vi da janela do meu carro e fotografei para vocês.

Pedro Altino Farias, em 30/10/2023

sábado, 28 de outubro de 2023

Inexistência

É madrugada. Minha dor descansa, o silêncio decanta as contrariedades do dia que se foi, e logo será esquecido. O coração pulsa devagar, a cachaça vai chegando no meu sangue aos poucos. 

Agora o silêncio envolve também meu pensamento. Penso em nada, logo, deixo de existir por alguns instantes. 

Mais um gole de cachaça, que desce marcando caminho: boca, garganta, esôfago, estômago. Mais um instante sem pensamentos. Minha inexistência toma forma. Sou ninguém, sou nada. Um vácuo em plena vida. 

Outro gole. Agora só o sabor me interessa. Só a utopia dos sonhos me interessa... E uma vontade incontrolável de novamente inexistir. 

Pedro Altino Farias, em 28/10/2023

domingo, 22 de outubro de 2023

No tempo do "É Proibido Proibir"

O mundo tá doido. Ainda bem que vivemos o tempo do "é proibido proibir" e do "faça amor, não faça guerra". Nossa geração não envelheceu, mas os jovens de hoje estão cheios de neuroses... Uma pena. 

É tudo tão fácil, mas o "sistema" joga os incautos num mar de absurdos impensáveis até pouco tempo atrás, que hoje se transformaram em regras de conduta social. Sei não... 

Para aguentar tanta insanidade, vivo metido numa brecha no tempo, com minha calça jeans suja e desbotada, o som e os costumes dos 60/70/80, minhas costeletas fora de moda, meus cabelos brancos e meus sonhos, que continuam vivos. 

Pedro Altino Farias, em 21/10/23

O Sol da Manhã

O Sol da manhã é mágico. Ao contrário do Sol do meio dia para a tarde, que nos dá certa indolência, o da manhã desperta nossos instintos e desejos. Infelizmente a rotina nos impede de deixá-los aflorar como deveriam, o que tornaria a missão de enfrentar mais um dia muito mais leve. 

 Pedro Altino Farias, em 22/10/23

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

RARA


A voz é meiga, o olhar é doce;
Compreende como ninguém, e está sempre pronta à caridade;
O trabalho não lhe assusta, a dificuldade a fortalece;
A simplicidade é a chave da sua elegância, e seu brilho é natural;
Mãe zelosa, irmã companheira;
Esposa cúmplice e amiga, amante fervorosa.
Rara!

Pedro Altino Farias, em 16/02/2023

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Antigamente - A entrega do gás de cozinha

 


Antigamente, o gás de cozinha em Fortaleza era entregue porta a porta pela “entrega sistemática” da então Ceará Gás Butano, empresa que detinha o monopólio na venda de gás butano no estado.

A companhia distribuía às residências e comércios um calendário com as datas de entrega de cada bairro/região. O serviço não falhava, e todos podiam se programar para receber o entregador de gás. No "caminhão do gás", um sino badalado em alto e bom som anunciava sua aproximação, dando tempo para que se providenciasse o dinheiro para o pagamento.

Caso se perdesse o dia da entrega, era necessário fazer um pedido avulso, pagando uma taxa de valor razoável pelo serviço de entrega extraordinário.

Outra opção era ir até o depósito no Mercado dos Pinhões, ou no terminal da companhia no Mucuripe, para trocar o botijão vazio por um cheio. Para fazer esse manejo sem prejuízos, nem correr o risco de falta, o normal era que os usuários tivessem dois botijões.   

Como se pode ver, deixar de comprar no caminhão da “entrega sistemática” era um mau negócio.

Hoje em dia há vários distribuidores de gás de cozinha, e outros tantos revendedores, de modo que com um simples telefonema recebe-se um botijão em casa em questão de minutos, sem estresse. Pena que os botijões residenciais de treze quilos não evoluíram. São trabalhosos de trocar, sujos e apresentam vazamentos na rosca de engate com bem mais frequência que o desejável, exatamente como acontecia antigamente.

Pedro Altino Farias, em 23/06/2014

 


terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Antigamente


Era comum casas urbanas de terreno estreito e comprido, porta e janela na fachada. O telhado de telha de barro, a cumeeira alta afastava o calor, e meias paredes dividindo seus interiores também facilitavam a circulação do ar.

O banheiro, invariavelmente lá trás, e exigia longa caminhada, daí a utilização de penicos para necessidades noturnas e urgentes.

Uma sala na frente para as visitas, outra depois dos quartos para as refeições. Mas na copa era que a vida vibrava a todo momento, do amanhecer até que todos fossem dominados pelo sono.

O melhor dessas antigas moradias era e vai e vem, o entra e sai de pessoas. Irmãos, normalmente numerosos, tios, primos, compadres, avós, empregados.

O leiteiro, o padeiro, o verdureiro, todos à porta e prontos para uma boa prosa a cada passagem. Sem pressa, nem ambição de ser mais, ou ter mais.

Cadeiras na calçada ao final da tarde, carroças preguiçosas e automóveis idem trafegavam na rua calma, notícias de alguém distante contada de boca em boca, e aquela moça mal falada desfilando provocativamente. “Cadê o padre que não vê isso, meu Deus?”, exclamavam horrorizadas as “mulheres direitas”. Será que não via mesmo?

Bem, melhor ir parando por aqui, senão pode ser que algum leitor fique com vontade de viajar para antigamente... E não queira mais voltar.

Pedro Altino Farias, em 14?07/2014