segunda-feira, 22 de junho de 2020

Dona Concita - 90 anos



Aos 10, era menina ainda;

Aos 20, já tomava conta da casa;

Aos 30, casada para sempre;

Aos 40, familia completa, pronta para novas conquistas;

Aos 50, um recomeço através dos estudos e da poesia, dividindo suas alegrias com os filhos, noras, genros, os primeiros netos, e toda a família, a qual sempre manteve unida;

Aos 60, aposentadoria merecida, mantendo intensa atividade intelectual, assistiu a uma proliferação de netos;

Aos 70, vida plena, grande movimentação na casa, 
a religião ganhou uma nova dimensão em sua vida;

Aos 80, a alegria dos bisnetos, novos projetos antigos ganham forma, e  o mundo ficou maior com o acesso à internet;

Agora, aos 90, familia em paz, a vida continua!

Feliz aniversário, mãezinha! Saúde, paz, felicidades!
Beijos, Pedro Altino, em 19/06/2020, 

COM NETOS

COMEMORAÇÃO DOS 90 ANOS

domingo, 14 de junho de 2020

Poeminha 02


Poeminha 01


Destruição



Primeiro foi marido e mulher, violenta e abruptamente separados. Um num canto, outro noutro. Não demorou muito, minutos talvez, não se sabe ao certo, mas o fato é que aquela família foi sendo despedaçada aos poucos.

Os avós maternos, desavisados e alheios a tudo, foram isolados do restante da família. Dos paternos não se teve mais notícia, mas o cachorrinho de estimação, ah, coitado, foi degolado impie-dosamente.

Os dois garotinhos, irmãos carinhosamente abraçados, tiveram seus braços decepados, sendo assim apartados um do outro sem entenderem o porquê. 

O arbusto em frente à casa, que dava uma boa sombra à tarde, foi ao chão, cortado em três ou quatro partes. O carro da família, novinho, totalmente destruído. Um desastre geral.

Coisas, objetos, mobília, entes queridos, todos envolvidos naquele furacão de destruição. Em pouco tempo, pedaços de tudo espalhados pelo chão da sala, efeito das tesouradas do caçula da casa a destruir o álbum de família, enquanto a mãe cantarolava na cozinha preparando o almoço.


Pedro Altino Farias, 16 de janeiro de 2015

A Barata que saiu caro


Embora amante do automobilismo e antigomolismo, nunca foi de luxar com carros. Mantinha-os sempre com a manutenção em dia e o interior limpo e organizado, deixando que a natureza resolvesse o resto. Para evitar o surgimento de insetos, baratas principalmente, jamais se alimentava no interior dos seus automóveis. Jamais.

Certa noite, ao entrar no carro saindo de um bar, sentiu algo estranho em seu ombro. Instintivamente passou a mão e eis que uma barata saiu de seu ombro diretamente para o interior do veículo. Tarde da noite, tudo escuro, o jeito foi entrar no carro e ir para casa o mais rápido possível, torcendo para que a intrusa não desse o ar da graça durante o trajeto, que era relativamente curto.

Dia claro, a primeira providencia foi dedetizar o interior do carro com uma carga pesada de inseticida. Vidros fechados, deixou o produto agir por uns bons minutos. Pronto! Com toda a certeza o inseto estava fora de combate. Saiu para trabalhar tranquilo e seguro de si, como se nada houvesse acontecido. No final da tarde, ao fim do expediente, procurou o cadáver onde ele suponha estar. Nada. Procurou do outro lado, atrás, embaixo dos bancos e dos tapetes de borracha. Nada. Já atrasado para compromisso familiar desistiu da caça. No dia seguinte nova busca sem sucesso. Nem sinal dos restos mortais da atrevida. Resolveu deixar o assunto para lá até que caiu no esquecimento.

Tempos depois começou a notar estranhas ocorrências noturnas no interior do carro. Uma pequena sombra se movimentando no canto do painel, no console, correndo pelo tapete, a sensação de algo a fazer-lhe cócegas nas pernas. “É ela! Mas será possível?”, pensou. Novas cargas de inseticida, mas as aparições continuaram. Obcecado, mandou fazer uma limpeza geral no interior do automóvel, retirando bancos, tapetes, forrações, tudo. E nada do cadáver aparecer.

O carro era ainda seminovo, em estado de zero, quando surgiu uma boa oportunidade para trocá-lo por outro melhor. Não faltaram pretendentes para “herdar” a jóia que era aquele veículo, que acabou ficando na mão de um conhecido. O negócio foi feito e a vida continuou. 

Passados alguns meses, encontrou com o novo proprietário e seguiu o diálogo:

- E aí, como está meu carrinho?

- Rapaz, nem te conto. O carro já era e quase eu vou junto.

- Mas o que houve? Conte-me.

- Uma noite dessa vinha pela Avenida dos Desesperados com uns 60km/h, quando surgiu uma barata passeando sobre o painel, saindo do canto direito e vindo em minha direção. Nem imagino de onde surgiu tal inseto. Nada podia fazer, pois o trânsito era intenso, apensas fiquei de olho nela. Na primeira chance, peguei uma flanela para tentar neutralizá-la, mas a danada voou em cima do meu rosto. Num instante larguei o volante, perdi o controle do carro, e bati de frente num poste. Perca total, amigo! Ainda bem que foram somente danos materiais. Mas o susto foi grande!

- Ah, Danadinha!

- É o que? O que foi que você disse?

- Não, nada não... 


Pedro Altino Farias, em 03 de março de 2020, ano da pandemia do coronavírus



quinta-feira, 4 de junho de 2020

EU NÃO SOU DOIDO! EU NÃO SOU DOIDO!



Psiquiatra: O senhor tem consciência de que está aqui porque foi encaminhado por alguns familiares e amigos?
Paciente: Sim, senhor.

Psiquiatria: E o que o senhor tem dizer sobre isso?
Paciente: Eu não sou doido, doutor.

Psiquiatra: Mas o senhor disse que o governo mandou você fechar seu comércio por causa da pandemia sem data para abrir, que seu faturamento foi a zero, e por conta disso o senhor não está tendo condições de cumprir seus compromissos.
Paciente: Isso mesmo, doutor.

Psiquiatra: E disse que seus boletos vencidos estão correndo juros altíssimos, embora você tenha interrompido suas atividades por ordem governamental.
Paciente: Esta sendo assim mesmo...

Psiquiatra: E que, embora o escritório de contabilidade esteja também proibido de funcionar, mesmo assim sua empresa tem que prestar informações fiscais ao governo nos prazos legais, foi isso mesmo que o senhor falou??
Paciente: Dou... Doutor... Eu... Eu não sou doido!!

Psiquiatra: Mas o senhor anda dizendo por aí que mesmo com a empresa fechada por ordem do poder público, sem faturamento, tem que pagar aluguel??
Paciente: Eu não sou doido, eu não sou doido!!

Psiquiatra: Veja bem, cuidado com suas respostas, o senhor está sendo avaliado! O senhor falou que, desesperado e angustiado com as contas vencidas a pagar, foi caminhar na praia deserta para relaxar e foi perseguido por policiais, que queriam lhe levar em cana??
Paciente: Foi horrível, doutor... Eu me senti um marginal...


Psiquitra: Senhor, devo lhe avisar que suas respostas estão lhe complicando..
Paciente: Mas... EU NÃO SOU DOIDO, DOUTOR, EU NÃO SOU DOIDO!

Psiquiatra: Calma, vamos continuar. O senhor falou que o governo se prontificou a pagar dois meses de salários dos seus funcionários, desde que, depois desse tempo o senhor não os demitisse por igual período, e que, passados os dois meses, o senhor ainda não foi autorizado a abrir sua empresa, não poderá demitir os funcionários, e que o governo não mais auxiliará as empresas nos pagamentos dos salários de seus respectivos funcionários?? COMO É QUE O SENHOR QUER QUE ACREDITEM NISSO? O SENHOR É DOIDO??

Paciente: Dou... Doutor... Eu... Eu... Snif, snif... Eu não sou doido, doutor... Eu juro! Posso lhe provar... Veja meu extrato do banco... Ele está me cobrando, sem piedade, 13% ao mês no cheque especial, e o cartão tá cobrando 10% ao mês para financiar dividas... E EU NÃO SOU DOIDO, DOUTOR, EU NÃO SOU DOIDO!!

Psiquiatra: Entenda que o senhor só está dizendo disparates, coisas absurdas, que fogem totalmente à lógica... Sinto muito... Eu nada mais posso fazer pelo senhor... ENFERMEIROS, TRAGAM A CAMISA DE FORÇA E UMA DOSE DUPLA DE "SOSSEGA LEÃO"!!
Paciente: EU NÃO SOU DOIDO, DOUTOR! EU NÃO SOU DOIDO, EU NÃO SOU DOIDO!! PERGUNTEM AO PREFEITO, AO GOVERNADOR, AO PRESIDENTE... ELES SÃO MEUS AMIGOS, ELES SABEM A VERDADE!! PERGUNTEM AO ELVIS PRESLEY, AO JORGE AMADO... LIGUEM PARA OS MAMONAS ASSASSINAS, PARA O PELÉ... ELES SABEM QUE... EU NÃO SOU DOIDO... EU NÃO SOU DOIDO... E...u... Nnaão s..s...sou... Do... Doi...do... e... u...


Pedro Altino Farias, um quase doido, em 03/06/2020, ano da pandemia do coronavírus

terça-feira, 2 de junho de 2020

Meu Tratado de Paz - dedicado a todos os meus amigos


Nesses tempos estranhos, quando cada um tem sua própria bandeira, adoto a universal bandeira branca. Improvisada, despojada de tudo, sem um designer bom bolado, sem cores, sem detalhes, sem raça, sem religião, sem orgulho, sem imposições, ela traz apenas uma mensagem: a PAZ.

Assim como diversidade biológica é condição existencial da natureza, a diversidade de pensamento é condição para o desenvolvimento humano. Abraçar quem é diferente de você lhe faz caminhar por outros mundos, pensar, refletir e, sobretudo, viver essa amizade plenamente, embora que eventualmente com opiniões contrárias às suas nisso ou naquilo.

No meu modelo de mundo, ele é maravilhoso e fascinante exatamente pelas diferenças que o habitam, e nas viagens que posso empreender navegando nesses mares, as vezes turbulentos, de coisas absurdamente diferentes. Isolar-se em seus princípios, abraçando apenas os iguais a você, diminui sua estatura, limita seu desenvolvimento, e rouba-lhe mil oportunidades de ser ainda mais feliz e pleno. E você vai sorrir menos, com certeza.

Se duas paralelas se encontram, inexoravelmente, no infinito, por que não relaxar e encontrar aquele seu amigo “contrário”, que andava meio distante, no bar da esquina? Por que não ouvir suas queixas da vida, dar-lhe uns bons conselhos, falar de suas próprias dúvidas e reconhecer suas fraquezas (ou será que você não as tem?)? Depois darem boas risadas de tudo isso, tomarem mais uma dose juntos, abraçarem-se e darem-se as mãos com juras de amizade eterna e, no fim da noite, sacramentarem um armistício com um forte abraço de PAZ?

Nossa vida não nos pertence, e o mundo é infinitamente maior que nosso pobre pensamento, mas o amor... Ah, com esse ninguém pode, porque ele é obra divina!

Pedro Altino Farias, em 02//06/2020, ano da pandemia do coronavírus