quarta-feira, 28 de julho de 2010

Internético




Hoje em dia, além do eternamente etílico, sou também um ser altamente internético, pois muito me utilizo da informática para meus trabalhos jornalísticos e besteirísticos. As enciclopédias e wikpédias, disponíveis na rede, me permitem ser mais enfático nas palavras e eclético nos assuntos, evitando que seja aleatório, enquanto que a maioria dos e-mails que recebo me tornam menos eclesiástico, por assim dizer.

Dicionários variados, e em todos os idiomas, dirimem dúvidas quanto aos vocábulos apropriados para cada situação, tornando mais fluente a dialética e, conseqüentemente, menos errática.

É emblemática a influência que sofro da fonética, fazendo com que os textos soem mais poéticos, ou, pelo menos, mais simpáticos. Frígidos, burocráticos, hepáticos ou anêmicos é que não podem ser, e, se forem, nem passam numa análise crítica depois de revisão enérgica.

Nessa hora, o fato de ser etílico me ajuda bastante a ser um pouco mais filosófico, se é que me entendem, pois cachaça, sentimentos e idéias, tudo junto, tem efeito em mim como um ácido lisérgico...

E para não ser mais prolixo, até porque o espaço aqui é exíguo, vou encerrando por aqui, já pensando num próximo colóquio.

Altino Farias

Cuba Envelheceu...


Fidel Castro envelheceu. É hoje um ancião. Cruel, é verdade, mas um ancião. E com ele Cuba toda envelheceu também. Suas belas praias com seus pescadores que retornam ao fim da tarde envelheceram. Seus bares e cafés envelheceram. Seus prédios,ruas e avenidas envelheceram. Seus automóveis e máquinas envelheceram. Os sorrisos e o “cuba libre” envelheceram. Todo um sistema envelheceu e se esclerosou. Triste destino para uma ilha tão simpática, plantada em lugar privilegiadíssimo do planeta, na qual habita um povo honesto e simples.

À idade cronológica de Fidel deve-se acrescentar outros tantos anos que foram roubados dos cubanos. Cinqüenta anos de muitos, quarenta e tantos de outros muitos, trinta e muitos de mais outros... Até chegarmos aos recém nascidos de hoje. Assim considerando, Fidel é um ancião milenar!! Mais ou menos, todos perderam. Todos foram roubados. Todos foram penalizados como que se tem de mais precioso além da saúde: o tempo, que é inexorável.

Passaram-se cinqüenta anos desde a revolução. São muitos anos... A lembrança real de outros tempos reside apenas na mente de quem tem uns cinqüenta e cinco anos em diante. O restante da população só sabe de Cuba pré-revolução de ouvir contar. Pensem nisso... É uma nação quase sem memória... É muito tempo... Uma geração inteira destituída do direito de ter de boas lembranças, convivências, conquistas, viagens, fracassos, amores, aventuras, oportunidades, idas e vindas. Para os cubanos só há um imenso vazio habitando esses cinqüenta anos, os quais são alardeados com orgulho por Fidel e, agora, Raul, como um grande feito.

Em uma de suas canções, Chico Buarque fala de uma certa Carolina, uma moça de olhos tristes e fundos. A certa altura da poesia ele diz que “O mundo passou na janela e só Carolina não viu”. Pois é, o mundo desfilou frente aos nossos olhos a revolução sexual, a explosão pop, a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria, atentados ao Papa, o fim do apartheid na África do Sul, a união da Europa (sem guerras), o sucesso dos japoneses e dos Tigres Asiáticos, a consciência ecológica... Meus Deus, foram tantos fatos, tantos acontecimentos que mudaram as feições do mundo nestes cinqüenta anos... E só Cuba não viu... É triste.

Talvez a maior punição imposta pelos Estados Unidos a Fidel tenha sido deixá-lo envelhecer ridiculamente como está acontecendo hoje. Deixá-lo exposto ao mundo assim: velho, demente, cruel... Ridículo. Muito melhor que fazê-lo morto e mártir. Pobres cubanos, obrigados a assistir a esse espetáculo macabro enquanto freqüentam filas para comprar exemplares do jornal oficial do Partido... Que lhes servirão como papel higiênico. Mais uma vez citando Chico, “peço a Deus por essa gente, é gente humilde, que vontade de chorar”.

Altino Farias, abril 2010
altino.farias@yahoo.com.br