terça-feira, 28 de agosto de 2012

Enfim, Abduzido


Abduzido por uma extraterrestre, eu continuava tendo a noção perfeita de tempo e espaço, imune a tudo que dela emanava: luz, pensamento e energia; mesmo sabendo que engendravam todos os esforços para que me deixasse levar pelos encantos do desconhecido.

Na verdade, o termo abduzido está equivocado até aqui, pois não havia desvio de rota, de raciocínio ou de intenção. Nem mesmo inconsciente. Inesperadamente tudo passou, e minha vida voltou ao normal.

Já nem lembrava dessa aparição quando me deparei com outra criatura, que, intuitivamente, logo percebi ser de outro mundo, embora não aparentasse nenhuma estranheza. “Vai dar merda!”, pensei.

Acredito que em algum lugar etéreo do além-céu gravaram meu endereço metafísico, tão fácil foi localizar-me novamente no meio de mais de sete bilhões de iguais a mim. Paciência!

Desta vez tive mais trabalho para me desvencilhar dos que me queriam longe daqui, em outro mundo. Mas não me entreguei, muito pelo contrário. Mantive-me sempre lúcido e ainda imune a um verdadeiro bombardeio de energia, cuja origem e forma eram uma completa incógnita.

Repentinamente tudo passou de novo. “Desistiram, enfim”, pensei aliviado e já cansado de manter-me na defensiva por tanto tempo. Tudo ao meu redor continuava como antes. Cores, luzes, calor, sorrisos. Os dos outros e o meu próprio.

Mas logo depois comecei a imaginá-los encontrando-me novamente, o que me fez fugir, esconder-me, dissimular. Passei a usar roupas cinzentas, neutras. Sempre que possível abrigava-me sob um guarda sol preto, caminhava pelas sombras, olhava de lado, continha a respiração, não mais sorria.

De nada adiantou. Acharam-me mais uma vez. Ou, pelo menos, acredito que sim. A última lembrança que tenho é de uma criatura com gestos femininos, sensuais, quase eróticos. Mas tudo muito difuso e de difícil compreensão para mim.

Então, uma luz absurdamente brilhante me ofuscou. Tanto, que hoje nada vejo além dela, e apenas vagueio sem destino e sem saber onde estou de fato. Não sei se alguém consegue me ver, se lembram de mim, sentem minha falta ou leem meus pensamentos agora. Não sei se estou morto, noutro mundo ou apenas louco...

Altino Farias, em 21/08/2012

ATENÇÃO:

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Despedida


Fazia silêncio. As mãos delicadas da mulher acariciaram os cabelos do amante. Em seguida ela o envolveu com seus braços esguios, fazendo com que seu peito fosse encostado ao dele, transmitindo e recebendo calor ao mesmo tempo. O silêncio permanecia. Dentro e fora do recinto. E os dois continuaram se olhando, calados.

Uma lágrima despontou na face daquele homem de quarenta e poucos e muitas dores. Ela, dona de outras tantas, também lacrimejou. Suavemente, primeiro enxugou o rosto dele, depois o seu próprio. O único som que se ouvia naquela penumbra era a respiração de ambos. Ora calma e pausada, ora ofegante, apressada.

Aquele momento se estendeu por alguns minutos. Será? Ou foram somente instantes? Ou longas horas? O tempo não importava. A vida não importava. O mundo não importava.

Seminu, o amante sentou-se numa poltrona. A mulher, então, ajoelhou-se à sua frente, olhou-o mais uma vez com ternura, e rompeu aquele terrível silêncio dizendo simplesmente: “Adeus!”. Foi um adeus miúdo, sofrido, apertado, quase mudo. Mas foi um adeus.


Pedro Altino Farias, em 29/06/2012

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