Ela me viu nascer em março de 1961, no coração da Gentilândia. Sempre senti sua presença, mas foi, talvez, a partir dos cinco anos de idade que comecei a ter uma ideia de quem era Fortaleza. Na minha cabeça de menino de infância feliz figuram nossas praias, Iracema, Mucuripe e Caça e Pesca, nossas imaculadamente brancas dunas, a calma dos sítios de Messejana, a Casa José de Alencar, o agito do Centro, o Farol Velho, a grandiosidade da Bezerra de Menezes, a visão paradisíaca de nossas lagoas, os passeios no Aeroporto Pinto Martins com sua Praça do Vaqueiro, dentre outras memórias.
Adolescente, comecei a conhecer outra Fortaleza, sem esquecer aquela. Os bares e praias da moda, que mudavam a cada temporada, as barracas da Praia do Futuro, às quais podíamos frequentar tanto de dia quanto à noite, o forró no Morro de Santa Terezinha, os clubes suburbanos, onde a vida acontecia de verdade, os botequins de bairro onde se reuniam as corriolas. A cidade crescia a passos largos, e uma intensa movimentação cultural provocava uma nova explosão em cada esquina.
E num piscar de olhos eu me tornara adulto, e Fortaleza, uma metrópole! Casado, minhas responsabilidades naturalmente se multiplicaram. O mesmo aconteceu com nossa cidade, que começou a sentir o peso de um desenvolvimento acelerado e um tanto desordenado. Caminhamos mais uns tantos anos no tempo, e vejo-me hoje beirando os sessenta, morando numa cidade encantadora como sempre foi, porém, ressentindo-me com as imposições desses novos tempos.
Saudosista? Sim! E como não poderia ser? Quando adolescente, perambulava sem destino a qualquer hora do dia ou da noite por uma Fortaleza hospitaleira, acolhedora e protetora (nas madrugadas, apenas cachorros e vigias). Hoje eu apenas transito por suas ruas e avenidas... A bordo de um automóvel, e sem saber quando vou chegar ao meu destino, dado o caos no tráfego e a violência nas ruas.
O exemplo acima caracteriza bem todo um modo de vida, que do feliz, espontâneo, e ingênuo, tornou-se restritivo, impositivo, limitador, cabendo a cada um de nós fazer sua própria Fortaleza, uma microrregião dentro da metrópole, para que dela possa usufruir com algum prazer e segurança.
Saudosista, sim, mas otimista também! Se quisermos uma Fortaleza sempre pronta para o Sol, a luz, a música e a alegria, com um comércio forte e um turismo vibrante, suas vocações naturais, façamos nossa parte. Não vamos nos contentar com menos, e vivamos Fortaleza por inteiro. Entreguemo-nos de corpo e alma à nossa querida “loira desposada do Sol”.
Pedro Altino Farias, em 13/04/2020, ano da pandemia do corona vírus
Legal, Pedrinho! Boas lembranças, vamos assistir o que ainda está por vir.
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