segunda-feira, 27 de novembro de 2017

RO - Resto de Ontem


A conversa estava boa, a birita também. Nessa hora chegou uma moça bonita e gostosa. Papo bom, alegre e sorridente, logo surgiram uns carinhos. Nem ele nem ela sabem como começou o lero. Talvez tenham juntado a fome com a vontade de comer, quem sabe. Lá pelas tantas resolveram ir para lugar incerto, fugindo dos olhares indiscretos e invejosos dos outros.

Entre quatro paredes, pelados, livres das amarras das convenções sociais e morais, amaram-se loucamente, nem sabem dizer por quantas horas ao som de “Eu te amo”, de Chico Buarque e outras pérolas. Aí a notícia carece de uma exatidão. 

Manhã clara, de banho tomado, recuperado do êxtase intenso, bateu a fome e a necessidade de dar notícias em casa. Tentou matar dois coelhos com uma só paulada. Ainda entre quatro paredes, enquanto a jovem desnuda jazia adormecida na cama, ligou para a mulher contando uma história sobre seu sumiço mais fantástica que a mais fantástica visão de Dali, atrevendo-se a pedir que lhe preparasse um delicioso caldinho de carne do jeito que “só ela sabia fazer” para quando ele chegasse. Como a mulher lhe bateu com o aparelho na cara, olhou para cama e se conformou em comer o “RO”, resto de ontem. 

Esta crônica bem que poderia terminar por aqui, mas, como foi dito antes, a notícia carece de exatidão. 

Recém saída do segundo casamento aos trinta anos nesses tempos modernosos, ela nem pensava em sexo naquela noite, muito menos em começar algo sério, mas... A abstinência vinha de uns poucos meses, o cara era atencioso e divertido, então, “por que não?”, perguntara-se. Ao adentrar as tais quatro paredes, no entanto, decepção, pois o dito cujo parecia estar mais carente que ela umas cinco mil vezes, encerrando sua performance bem antes que o mínimo desejável. Papo vai, papo vem, deram um tempo e foram de novo. E mais uma vez o lanche foi rápido. Para ela, pelo menos, foi uma merendinha insossa tipo chá com bolacha. Como era madrugada, resolveu tirar um bom ronco e pinotar da cama cedinho sem nem olhar para o “RO”, resto de ontem. 

Pedro Altino Farias, em 25/11/2017





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