quarta-feira, 6 de maio de 2015

A Enorme Utilidade das Coisas Inúteis


Era uma caixa de papelão. Uns quarenta centímetros de largura por cerca de sessenta de comprimento e outros quarenta de altura. Dentro dela, documentos em papel guardados há anos. Autênticas preciosidades de valor apenas estimativo.

Depois de anos e anos adormecida, precisou dos documentos da caixa, mas... Cadê a danada? Procurou em todas as dependências de seu espaçoso apertamento de 90m². Nada! Novo rolezinho no apê, e nada de novo. Entrou em depressão. Brincadeiras à parte, aqueles documento representavam um parte de sua história, sentimentos inclusos. Afinal, quem poderia ter extraviado a caixa? Quem?

Ela não tinha atrativos. Era de papelão e velha. Dentro, pastas, também de papelão, igualmente envelhecidas, nas quais repousavam os tais documentos, estes mais antigos ainda. Tudo meio empoeirado, com certeza não chamou atenção de ninguém por suposto valor monetário que justificasse um furto. Excluída a possibilidade de furto, e de reencontrá-la, somente restou uma hipótese: lixo!

Mas como? Por que? Pôs a refletir sobre o assunto e chegou a uma conclusão. Provavelmente, alguém de casa, que desconhecia o valor do conteúdo da caixa, pensou estar fazendo um favor arremessando a dita cuja ao lixo para nunca mais. O objetivo da desova era dar lugar a algo completamente inútil, mas que precisava urgentemente ter um lugar somente seu naquele resumido apertamento.

Inutilidade guardada, a vida seguiu em frente até que se deu por falta do legítimo ocupante daquele mísero lugar no armário do hall. Tarde demais! A inutilidade, enfim, havia revelado para que servia: tomar o lugar de algo útil. Infelizmente a inutilidade guardada não conseguiu ocupar o mesmo lugar no coração daquele que perdeu para sempre um pouco de sua vida. Infelizmente.


Pedro Altino Farias, em 21/01/2014 – O dia em que a caixa se foi. 


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