Era noite. A febre do
caçula não cedia, apesar dos medicamentos. Antes que as horas avançassem, pai e
mãe resolveram procurar atendimento médico. A dificuldade financeira que a
família atravessava deixou apenas e tão somente dez reais disponíveis na
carteira, cinco dois quais gastos com combustível no tanque da Belina.
Trocaram de roupa
rápido, ajeitaram a filha mais velha – só um pouco mais velha – e dirigiram-se,
os quatro, a um hospital. No trajeto, o garotinho vomitou.
A consulta foi
satisfatória, pois a criança foi atendida pelo pediatra que a acompanhava há
algum tempo e conhecia bem todo seu quadro de alergia e bronquite. Exames
realizados, a suspeita era de uma forte virose. Para acalmar o estômago, o
médico ministrou-lhe um remédio via oral e liberou-os.
Em pouco tempo estavam
em casa, todos deitados, quando o caçula acordou os pais ainda com febre alta, mas
agora também ofegante e muito esmorecido. Os pais logo perceberam que à virose
juntou-se uma alergia ao medicamento que ele tomara. Rapidamente estavam todos
novamente a bordo da Belina a caminho do hospital.
O mesmo médico o
atendeu, aplicando um antialérgico na veia. A criança adormeceu – a outra já
adormecera nos braços do pai – e foi preciso aguardar um tempo para avaliar
como ela reagiria ao remédio. Tudo certo, todos de volta para casa, com a
recomendação de não deixar que a febre se mantivesse alta. Caso ocorresse,
dever-se-ia recorrer até mesmo a um banho de chuveiro como forma emergencial de
controlar a situação.
Alta madruga, um leve
cochilo, uma verificação da temperatura do garoto. Embora a febre não cedesse,
estava em níveis aceitáveis até que subiu repentina e perigosamente. O
menininho chorava sem forças, corpinho combalido, olhos avermelhados, pele
ardendo, mesmo sob efeito de remédios.
Os pais, jovens ainda,
olharam-se em dúvida e penalizados: que fazer? Começaram molhando com um pano
juntas, testa, axila. Foram molhando aqui e ali. Nova verificação, e a febre continuava beirando o absurdo. Eles se olharam novamente.
Não havia opção, e apelaram para o banho de chuveiro. Uma cena violenta, grotesca,
jamais esquecida, mas que trouxe o alívio de baixar a temperatura e acalmar os
ânimos.
Mais uma lição de vida,
uma marca, uma lembrança e um capítulo na história dessa longa jornada que já
conta quase trinta anos.
Pedro Altino Farias, em
09/11/2013
ATENÇÃO:
os textos
deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza
ou publique sem mencionar os devidos créditos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário