Um descuido,
copo tombado, suco derramado sobre a toalha da mesa. A mancha que se formou
lembrou-lhe o mapa de um lugar qualquer. De imediato veio-lhe à lembrança aulas
de geografia do ginásio, quando tinha que decorar informações de países e
estados brasileiros: área, população, densidade demográfica, atividade
econômica.
O suco, espesso
e de um amarelo denso, quase avermelhado, lembrou-lhe também épocas de férias,
quando, ainda menino, passava temporada na casa de uma tia. Na hora do almoço,
Lúcia, a empregada de anos, trazia uma jarra de suco de manga à mesa. Manga
espada, tirada diretamente do pé, que ficava no quintal da grande casa.
Ela fazia o suco
cedo e colocava-o numa jarra no congelador da geladeira. Ao servi-lo, pedaços
congelados davam-lhe um sabor especial. Coisa de carinho, misturado com
natureza e alimentação saudável, tão difíceis nos dias de hoje.
“Corre, corre,
pega o pano de prato!”, lembrou-se de tempos atrás, na casa da mesma tia,
quando também tombou um copo sem querer. “Desastrado!”, pensou de si mesmo naquele
momento, sentindo-se cheio de culpa pelo transtorno causado.
Hoje, em recanto, olhou o suco em forma de mapa se espalhar até ser consumido
pela toalha, transformando-se num simples borrão. Depois, calmamente enxugou
tudo, sentou novamente e apenas lamentou não haver mais uma gota sequer na
jarra. Então, abriu uma cerveja e continuou pensando naquela outra época, na
época da inocência, época de mangueiras e quintais. E, qual criança, ficou imaginando como
seria bom viver naquele lugar imaginário do mapa de suco.
Pedro Altino
Farias, em 03/12/2012
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