terça-feira, 24 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio V - A Turma do "0800"

Todo botequim de corriola que se preze tem entre seus frequentadores, pelo menos, um bebim, um chato e a turma do “0800”, e é sobre uma turma dessas a história que vou contar...



Turma do 0800



Na corriola do “bar de sempre” há um certo Chico Mineiro. Como o próprio apelido traduz, o homem é de Minas, mas mora no Ceará há anos. Exímio cozinheiro das gostosuras de sua terra natal, faz as vezes de “amigo da onça” quando lhe bate inspiração. Somente a título de introdução, vou contar uma do Chico.

Um dia ele chegou em casa, um belo apartamento de classe média em bairro nobre de Fortaleza, com uma galinha caipira viva nas mãos, e foi logo dizendo à secretária:

- Ô, amarriessagalinhali na mesa e amanhã cêmatela p’reu cozinhá pru armoço.
- Ah, seu Chico, eu num sei matar galinha, não - respondeu a empreguete de plantão.

- Tem nadanão. Deixe quieu mesmato, intão – retrucou Chico.
 
No dia seguinte pela manhã Chico pegou a galinha, abriu suas asas pisando em ambas as extremidades, deu um golpe em seu pescoço fazendo o sangue jorrar e... Soltou-a na cozinha. A ave se debateu por minutos e foi sangue para tudo que é lado!! A secretária teve um trabalho imenso para deixar tudo limpo de novo e ficou muito pau da vida com o lance.

Quinze dias depois Chico chegou com outra galinha, e foi logo mandando a secretária prendê-la para que ele a matasse na manhã seguinte, ouvindo como pronta resposta:

- Se preocupe não, Seu Chico, que eu mesma mato. Minha mãe já me ensinou como se faz.

Imaginem se ela deixaria o Chico fazer aquele desmantelo de novo na cozinha...

Pois bem, um sábado Chico ligou para o Magão, dono do bar, perguntando quem estava lá. Magão soltou a lista dos presentes. Todos da turma do 0800. Chico então anunciou: “Aviselesaí quitôaqui ejeitano um cozidão e chego já”. O recado foi repassado, deixando neguim com água na boca, aguardando Chico chegar com o rango.

Quando o Minerim chegou, segurando uma panela de pressão envolta em um pano de prato devido à quentura, um dos presentes disparou: “Ei, Magão!! Trás prato e talher que o Chico chegou!! Cadê, Magão?? Parece que tu tá abestado hoje!! Deixa de ser lesado e trás logo esses pratos, homem!!”

Magão chegou à mesa com pratos, talheres e uma concha. O mais apressadinho quase tomou a concha da mão do dono do bar, abriu a panela, mergulhando a dita cuja no caldo, e... Somente nesse momento foi que ele se deu conta do odor que havia tomado conta do ambiente. Observou com mais cuidado e viu um caldo descorado, ralo, e que exalava um cheiro esquisito. Mexeu e remexeu a concha, trazendo à tona puxadores de gaveta, pedaços pequenos de madeira, ferrolhos, cacos de alguma coisa e mais outras tranqueiras. Tudo devidamente temperado com caldo de galinha em cubinhos e etc.

“Mas o que é isso, Chico?”, quis saber, o inconformado e desiludido líder do grupo - o mesmo apressadinho da concha. “Ô, sô. Équi fiz umareforma láimcas e sobraram unscoisinhas e eu resolvi fazê um tiragosto procês pra num jogá fora.”, respondeu candidamente nosso “amigo da onça” made in Minas.

Quem estava no bar naquele momento? Ah, todos negam a presença no episódio. Não estava esse, nem aquele, nem ninguém. Mas o Magão e o Minerim sabem muito bem quem foram os protagonistas desse caso típico de “amigo da onça”. Quem quiser saber, pergunte a eles.

Pedro Altino Farias, 24/07/2012


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