Um sexta à noite, um bar, biritas... E uns tantos "amigos da onça" a papear... Só podia dar nisso mesmo...
Peba ou Tatu?
Marquinho é um grande presepeiro. E não tem quem diga. Meio calvo, cheinho, cinquenta e tantos anos, mais parece um senhor de respeito... E é, mas no botequim...
Outro dia ele chegou no bar de sempre com um jeito inquieto. Conversando, disse que ganhara um bicho, mas não sabia se era um peba ou tabu. Diz o povo que o peba come defunto, e, por isso, se fosse peba ele não ficaria com o animal. Mas quem poderia esclarecer essa dúvida? Ah, logo surgiu o atendente do bar para dirimir a dúvida, e o presepeiro foi apanhar no carro uma caixa de madeira compensada onde estava o bicho.
Quando voltou, fez mil peripécias e suspense, até que colocou a caixa sobre uma mesa, e posicionou sua tampa de modo que o entendido, agachado bem em frente, pudesse segurar o animal para examiná-lo assim que a portinhola tipo guilhotina fosse aberta. “Mas cuidado!”, advertiu, “Ele tá estressado e pode fugir!!”. “Deixa comigo!”, respondeu o especialista.
Todos esperavam ansiosos, e quando a porta foi aberta... Tcham, tcham, tcham!! Saiu de dentro uma enorme peça de madeira em forma de pênis, que, ato contínuo, foi devidamente segura com as duas mãos pelo nosso amigo especialista, em meio a uma risada geral da plateia.
Depois que todos se recompuseram e já sabiam do segredo, começaram a imaginar quem mais poderia cair na brincadeira. Telefonaram para um e outro, e nada. Marquinho, que tinha compromisso com a patroa, foi embora, levando com ele a caixa enigmática. “Que pena!”, pensaram os amigos.
Mas, inesperadamente, apareceu no bar a vítima perfeita: Inaldo, um fazendeiro amigo da turma. Posto diante do desafio de diferenciar o peba do tatu, ele declarou que sabia distinguir um do outro “até pelo sabor do caldo da carne”. E foi ditando as diferenças entre os dois: orelhas, coloração da carapaça, focinho...
A ansiedade tomou conta dos presentes, todos "amigos da onça", claro. “Cadê o Marquinho? Liga para ele!”. E todos se puseram a tentar localizar o presepeiro, até que ele atendeu a uma das ligações. Estava indo com a esposa a um aniversário de família, mas, já que estava com a caixa dentro do carro, fez um arrodeio e voltou ao bar, mesmo sob veementes protestos da mulher. Essa ele não poderia perder por nada nesse mundo.
Ao chegar, a cena anterior se repetiu. Com uma calma absurda, Marquinho fez toda uma cena de preparação para o grande momento. Inaldo estava em grande expectativa para demonstrar seus conhecimentos zoológicos e, quem sabe, faturar um peba.
Por fim a caixa foi posta sobre uma mesa, Inaldo se agachou bem em frente à portinhola, pronto para segurar o bicho e... Tcham, tcham, tcham!! O grande pênis de madeira saltou de dentro da caixa com energia, quase entrando na boca do homem. Só não entrou porque Inaldo o segurou bem firme. Com as duas mãos! Enquanto isso a turma toda já estava às gargalhadas, inclusive o mulherio presente.
Seguiram-se minutos e minutos de riso intenso, daqueles de dar dor de barriga. Só a vítima não riu da brincadeira. Depois, chateado, Inaldo murmurou: “Não teve um amigo meu que me piscasse o olho, avisando da pegadinha...”. Mas ora, ora. Amigo tinha muito, mas será que ele nunca ouviu falar de “amigo da onça”?
Pedro Altino Farias, 17/07/2012
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Pedro, essa série Amigo da Onça merece aplausos,
ResponderExcluirnarrativa oral e escrita desperta curiosidade e provaca risadas...
Concita