Voltei para a casa da mamãe. Não, não me separei. É que estou reformando meu apartamento, sendo impossível executar os serviços necessários residindo no local. Então fomos todos passar essa temporada na casa dela.
Toda mudança é dramática. Esta minha não fugiu à regra. Tivemos um trabalhão, pois acumulamos uma boa tranqueira durante os últimos vinte e dois anos. Além do mais, voltaremos ao ponto de partida cerca de dois ou três meses depois, quando a reforma estiver concluída. Será então a mudança da mudança.
Mas tudo tem seu lado divertido. A família estava toda em casa: eu, mulher, filha e filho. Cada um fazia a parte que lhe cabia. Ao selecionar objetos e documentos, deparei-me com preciosidades, algumas das quais julgava perdidas para sempre. À medida que encontrava algo inusitado, dizia em voz alta: “Achei meu cartão do CPF!!”, “Olhem meu certificado de alistamento militar!!”, “Encontrei a nota fiscal do nosso primeiro fogão!!”... E a cada anúncio todos corriam para ver o achado.
De estressante a mudança passou a ser uma curtição, pois todos entraram na brincadeira, divulgando em alto e bom som raridades encontradas escondidas pelo peso dos anos. Um celular tipo “tijolão”, um toca-fitas, notas fiscais de lojas que fecharam as portas há anos, um bichinho de pelúcia, cédulas de um dinheiro esquisito que um dia já havia sido dinheiro de verdade, roupas desaparecidas, relógios em desuso... Uma verdadeira volta ao passado.
Selecionamos somente objetos de uso imediato ou de valor para levar, o resto ficou aguardando nosso retorno. Mudamo-nos num domingo, sendo recebidos de braços abertos pela minha mãe, Dona Concita, em nossa casa que, pelos padrões de espaço atuais, é uma verdadeira mansão.
Em tudo a casa lembra papai, que a projetou e construiu. Muitos detalhes e acabamentos foram feitos por ele próprio, que costumava nos chamar sempre para participar de suas atividades. Assim, os quarenta e três anos de convivência que tenho com ela me levaram a uma segunda viagem de volta a outros tempos.
Fruteiras sombreiam o quintal, algumas das quais conheci ainda em estado de mudas, “bebês” de árvores. Outras vieram depois, e hoje várias gerações convivem em harmonia nesse privilegiado espaço, onde há também passáros em profusão e os mesmos encantos de antigamente.
Estou aqui pensando na mudança de volta ao apartamento renovado. Almas renovadas, documentos e objetos antigos reciclados e organizados, como que corrigindo a rota de nossas vidas. O passado presente, lembrando quem fomos um dia, fazendo-nos refletir sobre quem somos hoje e apontando para o amanhã.
E enquanto isso estiver acontecendo, Dona Concita estará onde sempre esteve, na já antiga mansão da família, portas abertas, braços abertos. Tanto ontem, como hoje, amanhã e sempre.
Altino Farias
altino.frs@gmail.com
Toda mudança é dramática. Esta minha não fugiu à regra. Tivemos um trabalhão, pois acumulamos uma boa tranqueira durante os últimos vinte e dois anos. Além do mais, voltaremos ao ponto de partida cerca de dois ou três meses depois, quando a reforma estiver concluída. Será então a mudança da mudança.
Mas tudo tem seu lado divertido. A família estava toda em casa: eu, mulher, filha e filho. Cada um fazia a parte que lhe cabia. Ao selecionar objetos e documentos, deparei-me com preciosidades, algumas das quais julgava perdidas para sempre. À medida que encontrava algo inusitado, dizia em voz alta: “Achei meu cartão do CPF!!”, “Olhem meu certificado de alistamento militar!!”, “Encontrei a nota fiscal do nosso primeiro fogão!!”... E a cada anúncio todos corriam para ver o achado.
De estressante a mudança passou a ser uma curtição, pois todos entraram na brincadeira, divulgando em alto e bom som raridades encontradas escondidas pelo peso dos anos. Um celular tipo “tijolão”, um toca-fitas, notas fiscais de lojas que fecharam as portas há anos, um bichinho de pelúcia, cédulas de um dinheiro esquisito que um dia já havia sido dinheiro de verdade, roupas desaparecidas, relógios em desuso... Uma verdadeira volta ao passado.
Selecionamos somente objetos de uso imediato ou de valor para levar, o resto ficou aguardando nosso retorno. Mudamo-nos num domingo, sendo recebidos de braços abertos pela minha mãe, Dona Concita, em nossa casa que, pelos padrões de espaço atuais, é uma verdadeira mansão.
Em tudo a casa lembra papai, que a projetou e construiu. Muitos detalhes e acabamentos foram feitos por ele próprio, que costumava nos chamar sempre para participar de suas atividades. Assim, os quarenta e três anos de convivência que tenho com ela me levaram a uma segunda viagem de volta a outros tempos.
Fruteiras sombreiam o quintal, algumas das quais conheci ainda em estado de mudas, “bebês” de árvores. Outras vieram depois, e hoje várias gerações convivem em harmonia nesse privilegiado espaço, onde há também passáros em profusão e os mesmos encantos de antigamente.
Estou aqui pensando na mudança de volta ao apartamento renovado. Almas renovadas, documentos e objetos antigos reciclados e organizados, como que corrigindo a rota de nossas vidas. O passado presente, lembrando quem fomos um dia, fazendo-nos refletir sobre quem somos hoje e apontando para o amanhã.
E enquanto isso estiver acontecendo, Dona Concita estará onde sempre esteve, na já antiga mansão da família, portas abertas, braços abertos. Tanto ontem, como hoje, amanhã e sempre.
Altino Farias
altino.frs@gmail.com
Pedrinho,
ResponderExcluirQue delícia de volta ao passado, passando pelo presente intenso, com vistas ao passo futuro. Belo momento esse de vocês, curtam bastante, pois com certeza a nossa mãe também compartilha dessa festa, a casa está cheia...
Pedro,
ResponderExcluirQue linda volta ao passado,eu gostei e viajei... Concordo portas abertas, braços abertos. Acrescento, casa cheia, vozes, movimento, entra e sai... isso é muito bom e meu coração alegre e feliz.
Concita