Depois de ler interessante e oportuno texto que meu amigo e confrade Reginaldo Vasconcelos levou ao ar em seu programa "TENHO DITO!", na TV Fortaleza, imediatamente pedi sua anuência para publicá-lo neste espaço.
Com texto claro e precisa análise dos fatos, Reginaldo, advogado, jornalista e excelente cronista, faz uma rápida explanação sobre a vida no sertão de hoje em dia. Com vocês, "Eldorado", por Reginaldo Vasconcelos.
Altino Farias
Eldorado
Como de costume, fui a minha cidade do sertão central assistir à festa do orago padroeiro, que ocorre sempre no dia primeiro de janeiro. Para meu espanto, desta vez não havia mesa disponível no bar de sempre, e o estoque de cerveja se esgotou antes que a procissão passasse em frente. Na pizzaria não havia mais pizza às seis da tarde, e no restaurante do hotel fui informado de que, pelo extraordinário acúmulo de pedidos, se quisesse jantar eu teria que esperar por uma hora. No outro dia, já não havia onde sentar para o almoço na peixada às onze da manhã, e às onze e meia não havia mais peixe na cozinha. Enfim, o comércio da cidade entrara em colapso, porque a população local passou a gastar mais que os visitantes e o consumo da festa superou a expectativa .
Foi alvissareiro notar que o poder aquisitivo do povo do interior do ceará se elevou muito, não só pelo exemplo da festa deste ano, mas pela quantidade de casas velhas reformadas, e pelo grande número de casas novas construídas. Aparelhos de televisão de tela fina e computadores domésticos nas residências, cada família com no mínimo uma motocicleta ou um automóvel seminovo. Em todas as esquinas das cidades do sertão há lan houses onde os jovens podem jogar e surfar pela internet o dia todo, e em cada bairro várias casas de shows, além de muitos bares ruidosos que, à noite, estendem um mar de mesas e cadeiras pelas ruas.
Porém, como em economia não há mágica, resta a dúvida sobre as fontes primárias e secundárias daquela riqueza dos sertões, que surpreendeu o próprio comércio na comemoração do padroeiro. Ainda não há fazendas tão prósperas na hinterlândia cearense, não há crescimento da indústria por lá, não se vêem caminhões gaiola transportando boiadas nem carretas com cereais a granel pelas estradas, sinalizando produção compatível com o progresso. Não há pleno emprego. Aliás, quase não há emprego, pois todos os pequenos negócios são movimentados por famílias. Não há melhoria em cultura e educação, pois não existem bibliotecas, museus, nem teatros de vergonha. Tampouco há melhoria no ensino, não obstante a ampla oferta de vagas nas escolas públicas, porque a prioridade dos governos é alimentar as estatísticas numéricas, sem investir em qualidade, e portanto só se produz analfabetismo de função.
A conclusão lógica a que se chega é que entre as causas misteriosas da prosperidade no sertão está o assistencialismo do governo, que tem a virtude de matar a fome dos mais carentes, mas com o efeito colateral de desestimular o trabalho dos jovens e desprestigiar as profissões. Além disso, concorre para os sinais de riqueza o crédito facilitado em até cinco anos, que esconde os juros extorsivos nele praticados, um veneno econômico financeiramente diluído. Tudo isso transborda em consumismo insustentável, em ociosidade perniciosa, nas festas imensas que enriquecem as muitas bandas de forró. Ademais, isso desestimula o trabalhismo, cada um querendo se “apropriar” de alguma coisa para ser independente, na direção de um socialismo canhestro em que todos sejam proprietários de algo, mesmo que não produzam nada.
Essa teoria é humanitária e doce, mas não funciona na prática, pois não pode cada família produzir no próprio quintal o que precise – não só os alimentos, mais também o vestuário, o remédio, o celular, a motocicleta, o automóvel, que somente o conhecimento técnico-científico, o trabalho formal e a empresa organizada oferecem à sociedade. Tudo faz crer que esse estado de coisas que ocorre no sertão pode configurar uma bolha de prosperidade aparente, sustentada pelo crédito fácil e pelos programas do governo, este ano ainda mais inflada pelas verbas da política, derramadas pelo esforço eleitoral. Já que não tem base na educação, no trabalho e na produção, em determinado momento a bolha pode explodir no ar – como ocorreu no mercado imobiliário americano, que produziu um mundaréu de falidos e endividados, espalhando decepção e pobreza e causando sofrimento. Tenho dito!
Reginaldo Vasconcelos
Pedro,esse artigo do Reginaldo Vasconcelos infelizmente é o verdadeiro retrato da atul situação social e econômica do nosso Brasil.Que Deus tenha piedade do povo brasileiro.
ResponderExcluirConcita