domingo, 19 de setembro de 2010


A Calma Liberta



Quando tinha meus vinte e poucos anos já havia superado boa parte da timidez dos anos de infância e adolescência, mas, por outro lado, havia me tornado um homem afobado, apressado e compromissado em 100% com a vida. Era uma espécie de “novo-velho”. Trabalhava na área operacional e comercial de uma empresa, sendo freqüentes meus contatos com clientes, quando tinha como interlocutores do outro lado pessoas de todos os tipos, de todas as nuances do espectro que vai de um simples peão ao empresário bem sucedido e culto, tendo aprendido muito com todos eles.

Um certa Dona Doralice, que gerenciava os setores de compras e manutenção de uma dessas empresas, sempre que via o jovem Altino de então afobado e aborrecido, dizia pausadamente: “Calma seu Altino, calma é bom para os nervos”. Embora o óbvio da frase, ela fazia efeito contrário em mim, pois me deixava mais estressado ainda, fazendo-me pensar coisas como: “O que ela está pensando? Pensa que tudo fácil como é para ela??”, “Se ela disser isso mais uma vez...”, ou ainda “Lá vem ela de novo com esse papo!!”. Nessa época Dona Doralice era uma mulher já de seus quarenta poucos. Solteira, vivia para o trabalho e a cuidar da mãe, e era (ou ainda é, tomara) muito inteligente e perseverante. Uma figura que deixou esse ensinamento em estado latente no meu íntimo por anos: “Calma é bom para os nervos”.

Hoje, beirando os cinqüenta, transporto-me para aquela época, e posso ver agora o tempo que perdi com estresses sem motivos, aborrecimentos fúteis, raivas que magoaram pessoas, compromissos cancelados, lugares que não fui, pessoas que não conheci... Um tempo perdido, coisas que deixei de viver por não ter sabido ter calma nas horas certas.

A frase de Dona Doralice foi acordando com o passar de todos esses anos, fazendo-me ver o quanto realmente a calma é bom para os nervos. Para que viver a angústia de um dia que estar por vir? Para que sofrer pelo que nem sabemos ainda se vai realmente acontecer? E se acontecer? E por que se deixar irritar por aquela pessoa que já sabemos não merecer? Imprevistos e problemas no trabalho ocorrem, doença se trata, aperto financeiro se tenta solucionar, problemas de famílias sempre existirão. Para que perder a calma?

É comum perder a razão quando se perde a calma, porque, sob efeito das adrenalinas da vida, saímos do nosso normal e não conseguimos raciocinar de forma ponderada, muitas vezes cometendo atos impensados dos quais nos arrependemos logo depois. A calma, ao contrário, dá-nos o domínio pleno das situações, condições de tomarmos as decisões mais acertadas a cada ocasião e permite-nos viver cada momento, desfrutando dele todas as suas vantagens.

Diante disso tudo, agradeço hoje aos ensinamentos de Dona Doralice, e atrevo-me a dizer que, mais que fazer bem aos nervos, a calma LIBERTA. Pensem nisso.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

Um comentário:

  1. Pedrinho,

    O difícil é ter essa consciência quando se é bem jovem. Feliz daquele que consegue amadurecer para saber se controlar nesses momentos, pois há quem persista nessa insanidade até o fim da vida, sem ter a calma necessária, sem libertar-se.

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