quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Olhar e Ver

A pressa, o desinteresse e a distração pura e simples, fazem-nos cegar ante mil coisas bacanas que desfilam frente a nossos olhos diária e continuamente. Verdadeiras maravilhas. É preciso calma, interesse e um pouco de poesia para nos darmos conta do mundo real que nos envolve, caso contrário teremos uma visão seletiva, composta somente das imagens que satisfazem nossas necessidades no momento, criando um “mundo virtual” só nosso.



Toda terça feira vou ao Mercado São Sebastião e percorro seu entorno fazendo compra de insumos para a cozinha do meu comércio, a Embaixada da Cachaça, rotina repetida religiosamente nos últimos dois anos e meio. A pressa é grande, a lista de tarefas, enorme, e a cabeça totalmente ocupada com projetos e pensamentos que vão até o ano de 2035. Nunca dá tempo para ver além do olhar.

Terça última, no entanto, foi diferente. Amanheci a segunda com o propósito de entrar num ritmo mais lento, dando mais atenção a pequenas coisas do dia a dia, e deixando que as grandes questões percorram seu curso mais naturalmente. O universo parecia em sintonia comigo, porque naquele dia tudo estava, também, mais calmo: pessoas, trânsito, e o movimento habitualmente frenético do mercado e lojas, uma tranquilidade só.

Foi dentro desse panorama que, ao sair pela lateral do Mercado, consegui ver uma bela e antiga construção camuflada atrás da testada comercial de uma loja de ferragens. Parecia até que eu nunca estivera ali, que nunca saíra por aquela mesma porta lateral. Ah, como é boa a sensação de olhar e conseguir ver além dos olhos!
          

           
Não resisti e atravessei a rua. Fiquei por ali, olhando as ferragens expostas à venda, mas, na verdade, estava sondando o ambiente. A fachada da casa estava perfeitamente visível (para quem estivesse disposto a vê-la). De longe podemos ver detalhes em alto relevo e a inscrição “Laboratório”. Conta com recuo frontal, pequena área de acesso à porta principal e três janelas altas com vitrais. Pedi licença a um funcionário e fui entrando.

                     

                     

                     

Embora utilizada com depósito de ferragens e materiais pesados, o imóvel se encontra em estado de preservação bastante razoável. Piso mosaico na entrada e madeira corrida na parte interna, portas, bandeirolas trabalhadas, forro em lambri num pé direito alto, vitrais. Estão todos lá. Ainda. Fiz uma viagem no tempo voltando aos anos 40, talvez. Imaginei que funcionou como um laboratório de análises clínicas, com balcão de atendimento, sala de espera, salas da coleta de material e a parte laboratorial em si. É possível que tenha sido ocupado originalmente como residência. Uma bela residência, com todas as nuances de uma família completa: idosos, adultos, jovens, parentes, criados. No quintal, animais e fruteiras. Portas e janelas sempre abertas durante o dia.

Minha incursão foi limitada pelo pouco tempo que dispunha e pela falta de autorização oficial para ir mais adentro. Volto outro dia, quando os astros se alinharem novamente, para fazer o serviço completo. Espero que em breve... E que ela ainda esteja lá.



Altino Farias, em 11/09/2019  























domingo, 30 de dezembro de 2018

Um Presente Chamado Ano Novo - 2019



O ano novo é o futuro embrulhado como um presente.

Na forma, ele será igual ao que findará: terá 365 dias de alegrias ou nem tanto, distribuídos em 12 meses e 52 semanas iguais e consecutivas. É assim ano após ano, desde sempre. Um tédio? Não, absolutamente não!

O conteúdo do ano novo é misterioso, ninguém sabe, e nem deve querer saber, o que ele trará, mas, com certeza, cada instante vivido será um presente.

O presente “ano novo” deverá ser aberto aos poucos, lentamente... E as surpresas irão surgindo, uma trás da outra. Umas nos trarão alegrias, outras, tristezas; mas todas nos farão aprender mais um pouco sobre a vida. Para isso, no entanto, é preciso que estejamos sempre atentos, ligando passado e presente, para chegar a um futuro melhor para todos.

Está quase na hora de começarmos a desembrulharmos, juntos, nosso presente: o ANO NOVO. Façamos dele uma nova emoção a cada dia, uma nova lição, uma nova amizade, uma nova luz na vida de outras pessoas, uma nova história a cada momento, assim, ele será realmente um ANO TODO NOVO para nós.

Pedro Altino Farias, em 30/12/2018

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

E Viva a Democracia!


Reta final das eleições presidenciais, a coisa tá pegando fogo no Bar do Toim, com argumentos positivos, negativos e contraditórios de lado a lado. Chico Litro já se declarou totalmente a favor da liberdade de ingestão; Zé Siriguela anunciou que vai votar no candidato que prometer estender a safra de seriguela, cajá e caju; o Espinhela Caída é comunista de carteirinha, e defende subsídios na produção para ter birita barata pra todo mundo; Chico Matuto é direita e, igualmente ao amigo, quer cachaça com preços baixos pra todos, mas via redução de impostos. Polêmicas!

A grande preocupação, no entanto, é se o bar do Toim vai abrir ou não, pois a lei eleitoral não permite a venda de bebidas alcoólicas neste dia. Mas por que? Porque pode ser (pode ser) que uns “alguéns” bebam demais, e que, dentre estes, alguns botem boneco, e que, dentre estes, uns poucos causem problemas ao processo eleitoral a tal ponto que... É o Estado com sua mão forte tutelando o cidadão como muitos defendem.

Toim avisou que o bar vai fechar, sim, mas só para os outros, os amigos podem entrar pela porta lateral que a turma vai tá toda entocada lá dentro tomando umas. Alívio geral, problemas imediatos do Brasil resolvidos. E viva a democracia!


Pedro Altino Farias, em 04/10/2018

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Palavras? Cuidado!




Final dos anos 70, início da década de 80. Amigos do colégio, cada um seguiu sua vida universitária. Vez em quando ele dava uma passada na casa dela para conversarem, por os papos em dia. Certa vez ela comentou, muito feliz e entusiasmada, que estava namorando um rapaz de Brasília, que viera a Fortaleza para participar dos jogos universitários. Ora, em 1979 não havia internet e seu mundo sem fronteiras, e uma garota de uma cidade namorar um cara de outra distante era complicado. Pensou ele: “Deixa de ser besta, menina, num tá vendo que o cara tá lá em Brasília comendo todo mundo e você aqui, bancando a Amélia?”. Mas ela estava tão animada, que ele preferiu calar e deixar o alerta para outra oportunidade, que nunca aconteceu. 

Errantes numa tarde de sábado, dois amigos de faculdade foram a um bar para tomar umas. O estabelecimento se encontrava fechado, porém, o dono estava na varanda de sua casa, que ficava ao lado, bebendo com dois amigos dele, um dos quais armado com um combalido violão. Osmar, esse era o nome do dono do bar, chamou a dupla para beberem juntos. Violão truando, um dos universitários soltou a voz. Incontinenti, o violonista fez mudo o violão, olhou para o cantor amador e disparou: “Mas tu canta ruim, heim, bicho?”. 

Anos passaram. A garota do namorado distante casou com ele. O pai dela faleceu e a mãe casou com o pai dele, que já era viúvo. Todos vivem bem até hoje, e o amiguinho dela poderia ter estragado tudo isso com seu alerta simplista. Sorte dela! 

Enquanto isso, aquele universitário, cantor amador  de outrora, continua calado, cantando apenas para si mesmo, dentro de sua mente. 

Palavras: é bom ter cuidado com elas, pois podem causar grandes estragos! 


Pedro Altino Farias, em 30/08/18

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

SE FOR PRA MIM, DIGA QUE FUI PRU VIETNÃ!


Domingo é Dia dos Pais. Devo passar o dia em casa com minha filha e meu filho, desejando, também, a presença de genro e nora. Sem falar na Gorette, minha mulher, amiga, companheira e filha mais velha (acho que a recíproca é verdadeira e, da mesma forma, ela me considera seu filho mais velho... hehehe). Fafá, minha cunhada irmã, sempre presente. Mais tarde, à noitinha, vou estar com minha querida mãe. O dia promete loooongoooo...

A saudade de meu pai já conta quarenta e quatro anos. É muito tempo... E quase nada, considerando-se a eternidade. As lembranças são bem presentes, apesar do tempo e dos meus irrisórios treze anos quando ele se foi.

Papai adorava trabalhar em casa, mas sozinho, em seu gabinete, e aborrecia-se quando o procuravam nesses momentos para tratar de assuntos profissionais. Telefonema na hora do almoço, então, ih... Ficava muito bravo mesmo. Começo dos anos 70, a guerra fria troando nos quatro cantos do mundo, quando o telefone tocava na hora do almoço papai esperava que um de nós fosse atender. Esperava que se tirasse o fone do gancho quando bradava em alto e bom som: “SE FOR PRA MIM, DIGA QUE FUI PRU VIETNÃ!”.

O que aprendi com ele nesse breve período ficou em mim sedimentado. Logo aos vinte e quatro anos foi minha vez de começar a viver essa fantástica experiência que é ser pai, e que vai perdurar por toda a minha vida e, quem sabe, além dela. Nesses onze anos, entre treze e vinte e quatro, conheci um pouco do mundo pelas minhas próprias pernas para, junto com os ensinamentos de meu pai e minha mãe, completar minha formação moral e ética.

Hoje, aos cinquenta e sete e meio, filhos criados e felizes (que venham os netos!), quero mais é sossego. E se domingo ligarem pra mim... DIGAM QUE EU FUI PRU VIETNÃ!

Pedro Altino Farias, em 07/08/2018

sexta-feira, 30 de março de 2018

A Última Coca Cola



Olhava em volta, via somente o próprio umbigo. No máximo seu reflexo. Acreditava não haver mais alguém além dela. Nem uma água para aplacar a sede, nem uma sombra para aliviar o calor.

E lá estava ela, a dita "última Coca Cola do deserto". Comparável apenas ao "general da banda" e ao "rei da cocada preta". Tampinha intacta, geladíssima, única, necessária.

E se aproxima um forasteiro sedento, vagando por aquele deserto de dimensões universais. Avista a Coca Cola, a qual se mostrou indiferente, afinal, ela se achava coisa rara.

O forasteiro chega perto dela e... Passa em frente, rumo a uma fonte de águas límpidas e cristalinas, bem ali, atrás dela, da "ultima Coca Cola do deserto", onde palmeiras e arbustos formavam um verdejante oásis. 

Pois é... A fonte estava bem ali, e só aquela Coca Cola não viu... Coitada! 

Pedro Altino Farias, 20/04/17

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Mascarada



Cerveja, cachaça, uísque, lança perfume, paqueras e muita brincadeira. Pela manhã, praia; à tarde, corso na cidade e à noite, baile no clube. Assim era o carnaval no Aracati, Ceará, no início dos anos 80. Uma turma de amigos, todos jovens e solteiros, instalou-se numa casa na praia de Majorlândia e começou a folia.

Noite de domingo de carnaval, depois de já terem curtido todo o sábado e cumprido com louvor as duas primeiras etapas daquele dia, circulavam pelo clube com desenvoltura, instalando-se numa mesa à beira do salão. Uísque e cerveja e lança à mão, prontos para a caça. 

Eis que o mais pintoso da turma é avistado de braços com uma das meninas mais feias de toda a festa (desculpem o politicamente incorreto, mas foi assim que aconteceu). Primeiro a turma ficou em choque vendo o amigo dar rodadas e rodadas no salão abraçado àquela moça. Depois começaram a mangar mesmo. 

Todos estavam observando o flerte do pintoso, quando ele levou a moça para um canto e falou algo no ouvido dela que, incontinenti, deu-lhe um belo tapa na cara. Mas como? Tá com a mulher mais feia da festa e ainda leva um tapa na cara? Ficaram curiosos.

E lá vem o amigo pintoso de volta à base massageando o rosto e rindo. Todos querendo saber o porquê da agressão, primeiro ele tomou uma dose de tudo o que havia na mesa e deu uma cheirada no lança. Então, respirou fundo e contou o que acontecera.

Ao chama-la para conversar foram feitas as apresentações de praxe, então ele disse-lhe: “Pronto, agora que já nos conhecemos você já pode tirar máscara!”. E deu no que deu! 

Pedro Altino Farias, em 09/02/2108


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Fraquinha...




A mulher entra no bar e decreta com voz firme, em alto e bom som:
- Juventino, vamos pra casa!
- Mas eu tô em casa, meu amor...
- Em casa? Haha... Nesse bar imundo, bebendo com todos esses homens?
- Aqui é onde me sinto em paz e esses homens que bebem comigo todos os dias são meus irmãos.
- Juventino, seus filhos estão em casa lhe esperando!
- O meus filhos são também seus filhos. Já são adolescentes e não estão nem ai pra mim...
- Juventino, e eu? Snif, snif... Sua esposa?
- Hummm... Fraquinha...! Por que é que você acha que venho pru bar todo dia?

Essa história poderia terminar aqui, mas não terminou.

Seis meses depois...

O bar ainda está em reparos. Depois da reabertura ser anunciada e adiada três vezes, parece que mês que vem reabre mesmo.

Juventino, com fraturas múltiplas, começa a fisioterapia de reabilitação na semana que vem. Se tudo correr bem, com mais uns três meses começa terapia para tratar a síndrome do pânico, adquirida na mesma ocasião das fraturas.

Os amigos de Juventino presentes no bar naquele dia, ou fizeram promessa para parar de beber, ou se converteram a uma religião que proíbe a bebida.

Novamente essa história poderia terminar aqui, mas...

A mulher de Juventino, sentido-se sozinha e com a vida vazia, sem o marido e com os filhos adolescentes cuidando de suas próprias vidas, começou a beber com as amigas. Hoje bebe diariamente e está se sentindo muito feliz. Só não está mais feliz porque começou a ver certa razão naquelas biritagens do marido e aí lhe bate um remorso...

Altino Farias, em 07/02/2018

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Feliz da Vida



Respondia pelo nome de Severino, mas podia ser João, José, Pedro, Sebastião ou outro qualquer. Cinquenta e tantos anos, escolaridade a desejar, trabalhava como porteiro num condomínio que já fora dos mais elegantes da cidade, mas que os anos providenciaram certa decadência.

Véspera de Natal todos ficam com um sentimento fraterno e solidário à flor da pele, e naquele ano não foi diferente. Severino, no seu posto, trabalharia até vinte e duas horas, quando seria substituído por um colega, João Paulo, nome que ganhou quando da vinda do Papa ao Brasil. Estava feliz porque chegaria em casa a tempo de ficar com a família, embora nada fosse ter de especial. Talvez conversassem descontraidamente e fizessem uma oração de agradecimento antes de deitarem.

No condomínio o dia foi movimentado, todos correndo nos últimos preparativos para a ceia da noite. Doutor Malheiros, que Severino poucas vezes viu em carne e osso, pois o homem só entrava e saia do prédio de carro por trás do fumê dos vidros, veio até a portaria e cumprimentou-o apertando-lhe a mão e desejando-lhe feliz Natal com uma voz pausada e firme. Bruna, com seus dezessete anos, a mais patricinha do pedaço, foi até ele e fez um selfie, que logo postou nas mídias sociais, tendo muitas curtidas dos amigos. Salete, a perua do 902, interfonou para Severino desejando um feliz Natal e pedindo que ele subisse quando tivesse uma folguinha para pegar umas roupas usadas, mas que “estavam novinhas”, para que examinasse o que lhe aproveitava. Dona Genoveva, a vovó do prédio, deu a Severino com um vistoso panetone. “Ganhei quatro desses e nem posso comer por conta da minha diabetes”, comentou em tom de lamento enquanto entregava o pão a Severino, que adorou o presente. Já noite, ao sair para a ceia em casa de parentes, o pequeno Jonas, de cinco apenas anos, incomodou-se ao ver Severino na guarita e perguntou, inocente: “Na sua casa não tem Natal não?”.

Severino largou o serviço pontualmente às 22 horas, passando o posto a João Paulo, a quem cumprimentou com apertado abraço e um carinho na cabeça. “Coitado, vai passar a noite de Natal trabalhando.”, pensou solidário. Não fosse a mulher e filhos esperando em casa, por certo trocaria o turno com o colega. 

Apressado, a caminho de casa, pensava nos acontecimentos do dia. Passou num mercadinho e comprou uma tubaína já gelada. Com as roupas usadas, o panetone e o refrigerante, a surpresa para os de casa estava garantida. Seguia feliz da vida, como não importasse as atitudes mesquinhas que observou naquelas pessoas no decorrer de seu expediente e durante todo o ano. De relance, jura que viu um rasgo de luz no céu e teve consigo a certeza de que era Papai Noel com seu trenó. A noite não foi tão longa quanto ele gostaria, mas teve um FELIZ NATAL.

Pedro Altino Farias, em 24/11/2017



sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Dezembro 2017


Saímos da última curva e entramos na pequena reta final de 2017. O tempo passa acelerado. O que está feito, está feito, em que lugar estamos não interessa mais, o importante é chegar, apenas. 

Embora com pé embaixo, agora nos atrevemos a dar uma olhada em volta e, principalmente, no retrovisor. O que ficou para trás nesse momento é destaque. Alguns bons companheiros e entes queridos não conseguiram estar ao nosso lado agora e, com certeza, assistem-nos da arquibancada, e torcem por nós... E nós por eles.

O Brasil, ah, o Brasil! Vem devagar, lá trás. O projeto atual é ruim. Muitos problemas desde a primeira curva do ano. Todos preocupados, muitas opiniões, nenhuma solução à vista. Talvez ano que vem tudo seja melhor, talvez. 

Parentes, amigos e amores nos aguardam na linha de chegada, e nós aguardamos, também, a chegada deles próprios, cada um com sua corrida. Champanhe!

Após breve parada para respirar fundo, pensar no que vivemos, uma nova aventura nos espera: 2018, mas essa é outra corrida.


Pedro Altino Farias, em 01/12/2017

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

RO - Resto de Ontem


A conversa estava boa, a birita também. Nessa hora chegou uma moça bonita e gostosa. Papo bom, alegre e sorridente, logo surgiram uns carinhos. Nem ele nem ela sabem como começou o lero. Talvez tenham juntado a fome com a vontade de comer, quem sabe. Lá pelas tantas resolveram ir para lugar incerto, fugindo dos olhares indiscretos e invejosos dos outros.

Entre quatro paredes, pelados, livres das amarras das convenções sociais e morais, amaram-se loucamente, nem sabem dizer por quantas horas ao som de “Eu te amo”, de Chico Buarque e outras pérolas. Aí a notícia carece de uma exatidão. 

Manhã clara, de banho tomado, recuperado do êxtase intenso, bateu a fome e a necessidade de dar notícias em casa. Tentou matar dois coelhos com uma só paulada. Ainda entre quatro paredes, enquanto a jovem desnuda jazia adormecida na cama, ligou para a mulher contando uma história sobre seu sumiço mais fantástica que a mais fantástica visão de Dali, atrevendo-se a pedir que lhe preparasse um delicioso caldinho de carne do jeito que “só ela sabia fazer” para quando ele chegasse. Como a mulher lhe bateu com o aparelho na cara, olhou para cama e se conformou em comer o “RO”, resto de ontem. 

Esta crônica bem que poderia terminar por aqui, mas, como foi dito antes, a notícia carece de exatidão. 

Recém saída do segundo casamento aos trinta anos nesses tempos modernosos, ela nem pensava em sexo naquela noite, muito menos em começar algo sério, mas... A abstinência vinha de uns poucos meses, o cara era atencioso e divertido, então, “por que não?”, perguntara-se. Ao adentrar as tais quatro paredes, no entanto, decepção, pois o dito cujo parecia estar mais carente que ela umas cinco mil vezes, encerrando sua performance bem antes que o mínimo desejável. Papo vai, papo vem, deram um tempo e foram de novo. E mais uma vez o lanche foi rápido. Para ela, pelo menos, foi uma merendinha insossa tipo chá com bolacha. Como era madrugada, resolveu tirar um bom ronco e pinotar da cama cedinho sem nem olhar para o “RO”, resto de ontem. 

Pedro Altino Farias, em 25/11/2017





quinta-feira, 23 de novembro de 2017

22 de Novembro - Dia da Bandeira


Uma miniatura de máquina de escrever, um pequeno globo, alguns lápis, livros de automóveis antigos, cachaças, um violão de brinquedo, um velho vinil e fitas cassete, Patativa, Padre Cícero, um crucifixo, uma mini sela feita pelo Espedito Seleiro. Objetos que falam um pouco de mim, das coisas que gosto. Ao fundo, abraçando meu pequeno universo, o Pavilhão Nacional. Esse cenário é real e faz parte do meu dia a dia o ano inteiro, todo ano.

Dia 19 de Novembro foi o Dia da Bandeira, pouco se falou disso. Amar a Pátria se tornou piegas, cafona, ridículo. O governo militar usou mal o sentimento patriota. Os governos seguintes se esmearam em desvirtuá-lo ainda mais... Ou simplesmente ignorá-lo. E o povo, em sua maioria, entrou nessa. Lamentável. 

Vivemos atualmente uma situação crítica em termos morais e éticos. O Estado Brasileiro acabou, sobrevivemos apenas como Nação, a sociedade levando tudo nas costas. Até quando?

Patriota que sou, aproveito essa ocasião para ratificar meu amor BRASIL e meu repúdio veemente a toda essa lama que se tornou o Estado brasileiro, com seus executivos e legislativos e judiciários. Em todos os níveis.


Altino Farias, em 22/11/17

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Episódios de Chico Litro - resumo IV



- Ei Chico Litro, o Toim fechô o bar ônti, num foi? E tu bebeu       onde?
- Em casa mermo.
- E se melô?
- Melei. A Santinha mandou eu limpá a caixa de gordura da cunzinha e fiquei todo melado... e cachaça qui é bom, nada!



*****

- Essa água de coco tá doce, Chico Litro?
- Muito não.
- Me dá um gole?
- Ah, Santinha, se quisé peça uma pra você...
- Arreégua, fí de quenga imprestável! Pois num quero mais não, viu? E vá se lascá todim!
Aí Zé Siriguela, intrigado, perguntou:
- Macho, purquié qui tu num deu logo um gole pra ela pra num tê confusão, porra?
- Num tá vendo qui isso aqui num é água de coco, não, abestado? O coco tá chei, mas é de cachaça!

*****

- Vixe, acordei hoje cedo no maior susto! Pensava que era segunda... Mas ainda bem que é domingo, dia de tomar umas..
- E se fosse segunda feira, Chico Litro?
- Também!
(colaboração: balcão da Embaixada)

*****

A Santinha levou Chico Litro para o médico:
- Seu Chico,o Sr.bebe?
- Bebo,doutor!
- Quantas doses o senhor bebe na semana?
A Santinha,interpola!
- Doutor, pergunte em litro!
(colaboração Assis Assisnildes)

*****

- Esse molho de pimenta é pra tu, Chico Litro?
- É não, é pra minha sogra.
- Mas Chico, esse molho é fuderoso, arranca as pele da língua! Será que véia aguenta?
- Rapaz, num se meta, não!



*****

- Tu vai se mudar, Chico Litro? Mas a tua casa é tão boa...
- É, mas a que eu vô morá agora é quase vizim do bar!

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- Tu soube, Chico Litro, entraram no bar do Toim de madrugada e reviraram tudo! Parece que levaro umas coisa...
- Será que levaro a cardeneta dos vale?
(colaboração Dalber Dálber Farias Landim)

*****

- Qui cara de felicidade é essa, Chico Litro?
- Ganhei 500 contos no bicho!
- Êita! E o qui é qui tu vai fazer cum essa grana toda, homi?
- BEBER!
(colaboração Paulo Costa - baseado em fatos reais)

*****

- Ei, purque qui te chamam Zé Siriguela?
- Purque eu tomo quase um litro de cana c'uma seriguela de vez...
- E purque qui tu num toma logo um litro todo?
- Purque aí é demais!



*****

Chico Litro mostrando a mão firme, sem tremor:
- Olhaí, tô bonzim, ó!
- Também, Chico Litro, tu tá bebendo desde de manhã... Quero ver é se bem cedinho, antes da primeira, tu num treme que nem uma Toyota das antiga...
(colaboração balcão da Embaixada da Cachaça)



*****

- Ei, Chico Litro, vamu ali no Forró da Colega?
- Nóis vamu de carro ou de a pé?
- A pé, né, purque?
- Ah, se for de a pé eu num vô, não!
- Arriégua, macho, que viadagem é essa?
- Ne viadagem não, macho véi, é purque se a gente for de a pé eu vô chegar lá bonzim... aí perde a graça...



*****

- Chico Litro, arrumei uma consulta pra tu vê tua unha incravada...
- Tu conhece esse médico? Ele bebe?
- Rapaz, bebe, sim!
- Ah, intão nesse eu vô!

*****

- Diabeisso qui tu ta bebendo, Chico Litro?
- Vodka cum menta.
- Vodka cum menta? Égua, macho véi, pra que isso?
- É pro mode eu me ispritá!



*****

- Leite? Me dê uma caixa que eu rebolo no mato na merma hora! Mas se for de cachaça, eu bebo todinha! (Chico Litro)

*****

- Chico Litro, o que tu vai dá de presente no Dia dos Namorados?
- Num tenho nem namorada...
- E a Santinha, tua mulher, homi, num é também tua namorada não?
- Nada! A Santinha é uma "presseguição", isso sim!

*****

- Tu num foi purque ninguém te chamou, foi, Chico Litro?
- Não, num fui purque ouvi dizer qui ia ser fraco de birita..

*****

- Chico Litro, tavam falando mal de tu lá na feira...
- Inda tão?
- Não, macho véi, isso foi de manhã.
- Ah. bom, sinão ia lá agora das umas porrada nesse povo. Toim, bota mais uma aqui!

*****

- Que marca encarnada é essa na tua camisa, hein, seu fí duma égua?
- É... é... é beterraba!
- Beterraba? E tu tava comendo beterraba, Chico Litro? E desde quando tu gosta de beterraba? E desde quando beterraba serve de tira gosto pra cachaça, hein, seu fí de quenga?
- Desde hoje, Santinha.
- Safado!
SPLASSCHH!

*****

Chico Litro
- Segura aí, Zé Seriguela, que vou bem ali, na Embaixada, dá um chero na Lindinha e volto já...
Santinha
- VAI ONDE MERMO, HEIN, CHICO?
Zé Seriguela (mumurando)
- Vixe! Agora sujou...
Chico Litro
- Vou ali, dar um beijo na sobrinha, na sobrinha... Será que ela tá acordada uma hora dessas?
Santinha
- Ah, é, e´?
SPLASSCHH!!

*****

- Rapaz, o Chico Litro tava todo se coçando lá no bar do Toim hoje de manhã.
- E era? Tá com curuba? Impinge?
- Que nada! É que a Santinha disse que só era pra ele começá a bebê só depois do almoço, aí já viu, né? Num sei como foi que o coitado aguentô...

*****

- Ei, Chico Litro, pur que qui tu só vevi de óculos escuro?
- É pro mode pudê olhá pras menina e ninguém notá...
- Rapaz, tu é muito sabido mermo, Chico, égua!

*****

- Deu pra fumar agora foi, Chico Litro?
- Dei não, Santinha! Tá me disconhecendo? Eu sô é macho! Hahahaha...
- Tá engradinho, tu...
SPLAASCHH!!
- PELO CIGARRO E PELA GRACINHA, VIU, SAFADO!

*****

- Ei, Chico Litro, tu qué um piper?
- Ora se quero! Melhor tira gosto pra cachaça num tem, não! Cu'm bichim desse eu tomo é mei litro de cana!

*****

- Tu soube, Chico Litro? O Quinzin morreu! O velório tá sendo lá casa dele...
- Pois num é, rapaz... Será que vão bebê o morto?

*****

- Chico Litro, tu é de lascar, homi... Pedi tanto pra tu num bebê onti, mas tu nem aí. Eu lavo e passo tuas rôpa, faço o teu cumê, mas quando te peço uma coisa tu num faz. É um ingrato!
- Santinha, minha fia, fique aborrecida por causa disso, não. Olha, vamu fazê assim, de hoje por diante num se preocupe mais cum minhas rôpa nem cum meu comê tá certo?


*****

- Tu gosta de pitú, Chico Litro?
- Gosto. Tanto do de bebê, quanto o de cumê...

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- Tu viu a notícia, Chico Litro? O Lula foi condenado!
- Foi mermo? Quanto tempo sem bebê?

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- Tu morre de medo da Santinha, né, Chico Litro?
- Medo não, eu tenho é respeito!
(Colaboração, Kelson Daniel, no balcão da Embaixada

*****

- Chico Litro, tu se alembra do dia do teu casamento cum Santinha?
- Lembro, sim... Buaaaá... Toim, bota uma dupla aí! Buaaaaá...!

*****

- Voltou a bebê, Chico Litro?
- Voltei. Capotei ônti de noite, dormi, acordei hoje e vim pra cá, rebatê a ressaca...
(Colaboração mesa 13 do Flórida)

*****

- Chico Litro, a Santinha disse pra tu num bebbê hoje... Tu vai se lascá todim quando chegá em casa de noite...
- Foi mermo, Zé Siriguela. Intão acho qui só vô pra casa amanhã, ó...

*****

- Arrumei um emprego, Zé Siriguela!
- Foi mermo. Chico Litro? E tu começa quando?
- Eu não, tu! Arrumei um emprego foi pra tu, hômi... E começa amanhã!
- Nãnnn... Eu, hein?

*****

- Zé Siriguela, tô chatedo... Quando ia saindo hoje de manhã pra vim pru bar a Santinha me esculhambô... Snif... Me chamou de cachorro... Apois intão quando eu chegar im casa vô dá um mordida nela... Eu num sô cachorro? Intão...
- Morde ela não, Chico Litro. Tu num é cachorro? Intão faz xixi nos pé dela!
- É mermo, ó! Toim, traz uma cerveja aí!

*****

- Bora, Chico Litro, tá na hora, macho véi.
- Tá nada! Tá é cedo, agora que o piper tá na metade...!

*****

- A conta, Chico Litro? Vai pendurar de novo?
- Faça o seguinte, Toim, bote mais uma só pr'eu terminar essa azeitona...

*****

- Vocês souberam? O Chico Litro foi insultá com o pitibul do fí do Manel e levou uma dentada bem na batata da perna.
- Valha-me Deus! E o Chico tá bem?
- Tá, mas o coitado do cachorro ficou bebim e agora tá na maior ressaca.

*****

- Chico Litro, vamu lá na quadra amanhã jogar um futebolzinho pra desenferrujar?
- Rapaz, prefiro ir no bar jogá conversa fora e se embriagá...

*****

- Égua, ônti foi bom demais, num foi Santinha? Dancei tanto qui tô aqui todo doído...
- Tu tá doído é de apanhar, seu fí de quenga safado! Vai dizer qui num se alembra não das fulerage qui fez na festa da Dasdores não é?

*****

- Chico Litro, o qui tu achou de ônti a noite?
- Num achei nada. Fiz foi perdê. Num me alembro de porra niuma...Fiz alguma bestêra besta??

*****

- Toim, soma aí minha conta do mês.
- Humm... cento e vinte e quatro real.
- Ah, tá bom. Pensei que era mais. Segura aí, e quando chegá em duzento tu me avisa, tá?
- ARRE ÉGUA!!

*****

- Larga esse celular, Chico Litro, vamu convesá, ômi!
- Rapaz, dêxa eu cum minha meiota aqui e vá convesá cum outro...

*****

- Chico Litro, dizem que tu bebe demais, isso é verdade?
- Conversa desse povo quI malda tudo.
- Mas tu bebe todo dia?
- Todo dia e toda noite, marrépouco... Umas duas cerveja e quatro cana... Poraí...
- Por dia, Chico Litro!?
- Não, por hora, né...?

*****

- Chico Litro, tu num trabalha, não?
- Tenho esse vício não, ó!
- Mas de jeito nium?
- Só no Sábado de Aleluia qui faço um bico de Judas....
(colaboração Romeu Duarte)

*****

- Ô, Seu Cinco Litros...
- Desculpa, amigo, mas meu nome é Chico Litro, mas obrigado pelo elogio...

*****

Enquanto isso, no Bar do Toim...
- Ei, Chico Litro, olha o qui eu truxi pra tu, um quilo de queijo do bom!
- E pra que qui eu quero essa ruma de queijo?
- Ora, pra cumê, ômi!
- Mas eu gosto mermo é de bebê... EI, TOIM, QUANTO TU DÁ NUM QUILO DE QUEIJO DO BOM??

*****

- Pronto, já cumpri minhas obrigação, agora tô livre pra bebê...
- E qual foi as obrigação qui tu fez, Chico Litro?
- Cunfiri o jogo do bicho e fiz ôtra aposta, passei no mercado pra cortá os cabelo e comprei umas tangerina na feira pra tomá umas aqui... Cansei, viu?

*****

- Ômi, eu sai daqui era uma hora e tu tava comendo azeitona. Agora são cinco hora e tu inda tá comendo azeitona... Quantas tu comeu, Chico Litro?
- Comi, não, AINDA tô comendo... Só essa aqui mermo...
- Égua!

*****

Um papudim perguntou ao Chico Litro:
- Chico tu bebi em pé ou sentado
- Tanto faiz o copo tandu xei...
(Colaboração Rogerio Gonçalves)

*****

- Tá feliz pur que, Chico Litro?
- Purque hoje é segunda ferira, Zé Siriguela!
- E daí?
- Tenho uma semana inteirinha pra bebê!

*****

- Chico Litro, sáo dez pra meia noite, sabe o qui isso qué dizê?
- Não, o quê?
- Qui falta só 10 minutu pra terça feira...
- Ô besteira besta!

*****

No almoço do Dia dos Pais...
- Chico Litro, meu filho, você num tem vontade de trabalhar, não?
- Pai, vontade eu tenho, mas eu me controlo!!
(Colaboração Figueiredo, no balcão da Embaixada)

*****

- Chico Litro, pur que qui tu só gosta de bebê no balção?
- Purque a birita chega mais ligêro... Sou abestado, não, rapaz!

*****

Enquanto isso, no bar do Toim...
- E aí, Chico Litro, hoje vai bebê ou vai tomar??
- Ô brincadêra, besta...

*****

- Chico Litro,tu qué Skin ou Kaiser? Tá tudo gelado!
- Rapaz, dêxa de frescurage e traz logo minha cachaça!

*****

- Chico Litro, sabe como é, né? Esse povo malda tudo... E dizem por aí que aquele teu filho do meio, o lôrim, num é teu purque tu é moreno...
- Rapaz, o negoço é o seguinte: tem uma tia-avó duma prima em terceiro grau da Santinha qui dizem qui era lôra igual a esse menino. Intão é assim, se for parente direto, é capaz do menino nascer parecido c'uns parente qui já morrreram, sabia não?

*****

- Chico Litro, tu gosta de galinha?
- Gosto! Mas só pra cumê!

*****

Notícia de última hora!!
Santinha mandou recado ao marido, Chico Litro, depois do sumiço de uma semana do mesmo:
"Se quiser voltar, duas semanas sem bebê!!"
Replica do Chico Litro:
"Se pudé sê dia sim, dia não... posso até tentar..."

*****

- Ei, Chico Litro, tu sofre de pressão alta?
- Muito! A Santinha tá demais!

*****

Chico Litro é totalmente avesso a médicos e exames. Para ele receita só de caipirinha e olhe lá. Há anos não vai a uma consulta médica, tanto que dizem ser ele uma bomba relógio ambulante de alta octanagem.
Da última vez que foi coletar sangue para exames, e isso faz muito, muito tempo, seguiu-se o seguinte diálogo entre a atendente do laboratório e ele:
- O senhor toma algum medicamento?
- Cerveja gelada em jijum três ou quatro veiz pur semana...
- Mas que absurdo, que brincadeira sem graça! Cerveja não é remédio, meu senhor!
- A senhora diz isso purque nunca deve ter tido uma ressaca daquelas bem braba...

Ps. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coicidência.

*****

- Chico Litro, o Sol hoje tá de lascar, tira essesovo da cadeira quente, sinão vão se estragar e num vão serví mais é pra nada!
- É mermo, Santinha, vou tomá minha cachaça é bem ali, debaixo da sombra castanhola...

*****

- Capotô de novo ônti, Chico Litro?
- Foi, Tio Pitú... Sacanage. .Me pegaru de surpresa... A curva era fechada demais...

*****

- Chico Litro, o Toim mandou avisar qui tem uma promoção pra tu lá.
- Esse Toim é gente fina mermo... E como é essa promoção qui ele fez pra mim?
- É assim: tome cinco cachaças e pague dez.
- Arrégua, diabeisso?
- É assim: tu paga as cinco qui tomá hoje e as cinco qui tu ficou devendo de ônti... hahahaha...
- Ô bestêra besta...

*****

- Vamu tomá umas mais tarde?
- Hoje é segunda feira, Chico Litro!
- E o qui é qui tem?
- É contra a minha religião...
- Apois mude de religião, rapaz!
(colaboração Lauro Bezerra ao balcão da Embaixada)

*****

- Chico Litro, tu tá já bebendo?
- Rapaz, acho qui num vô nem bebê hoje, ó... amanheci mei ruim... pur quê?
- É qui eu truxe uma cachaça aí pra gente espermentar, mas deixe...
- Intão traga lá a bicha, ômi, qui eu já tô bem milhó!
(colaboração Maria de Socorro no balcão da Embaixada)

*****

- Quié qui houve cum a Santinha, Chico Litro, qui ela passou por aqui e nem falô com tu?
- Ela tá assim, sem áudio desde o fim de semana passado... Tá só cum vídeo...
(colaboração Lúcio, no balcão da Embaixada)

*****

- Tu já vai, Chico Litro?
- Já, ômi. Por hoje tá bom, e amanhã tenho que acordar pru almoço...
(colaboração Dórian Sampaio Filho, no balcão da Embaixada)

*****

- Chico Litro, vamu amanhã de manhã lá na casa da Maninha?
- Amanhã de manhã já tenho compromisso, Santinha.
- Compromisso?? Hahaha... Só se for com a ressaca, seu fí duma égua!!

*****

- Ei, Chico Litro, qui cachaça diferente é essa qui tu tá bebendo? De onde ela veio?
- Zé Siriguela, eu num quero nem sabê de onde ela veio, eu quero é sabê pra aonde ela vai me levá...

*****

- Chico Litro, o pessoal tão perguntado se tu é coxinha ou mortadela.
- Rapaz, pra mim uma banda de limão ou um píper já resolve...

*****

Amigos de copo e de cruz foram à residência de Chico Litro nesta manhã para saber como estava o amigo.
Chegando lá, encontram-no em estado deplorável. Só de calção, o homem adulava Santinha mendigando por uma dose e um cajá.
Resgatado ainda com vida pelosamigopapudim, ele já bebe sem ajuda de tira gostos. Assim seja.

*****

- Tá fazendo o que aí, Chico Litro?
- Só fazendo hora mermo...
- E tá aqui no bar desde qui hora?
- Desde de manhã...
- Intão tu tá fazendo é "dia" né hora, não, macho véi!

*****

- Chico Litro, amanhã é feriado, tu sabia?
- Rapaz, pra mim num tem moleza, feriado é um dia ingualzim os outro e amanhã vô fazê o qui faço todo dia: BEBER!!

*****

- Bebissonão, Chico Liro Isso faz é mal, ômi
- Nãnnn... E eu sei lá de quem é esse leite, Zé?

*****

- Chico Litro, o Ranulfo chegou onti na bar cum chapelão preto parecia o Durango Kid...
- Rapaz, sei não... Aquele ali tá mais pra Molengo Kid mermo...

*****

- Snif, snif, snif...
- Qui foi, Chico Litro, que churumingo é esse ômi?
- Snif... Eu e a Santinha tava discutino e ela mandou eu se lascar... Snif...
- Mas se lascar de que?
- E eu sei lá, Zé Siriguela, mandou eu se lascá e pronto... Snif...
- Intão pur que tu num se lasca de bebê?
- Rapaz, é mermo! Ei, Toim, baixa um litrão aqui por conta da Santinha!
*****

- Tu viu o Zé dos Anjo? A mulhé dele disse qui ele dexô de bebê já faz três semana... Disse qui ele tá mais disposto, tá até pensano em trabalhá...Tu divia pará de bebê também, Chico Litro.
- Santinha, minha fia, isso é muito bunitu é nusotro...

Colaboração Roberto Paiva, no balcão da Embaixada

*****

NOTA DO AUTOR


Temos postado episódios de Chico Litro, personagem pitoresco e folclórico criado por mim,que aproveitei o apelido de um antigo colega de trabalho (mecânico).
Algumas poucas passagens são diálogos verídicos, ou tidos como tal, sendo a esmagadora maioria pura criação, portanto, qualquer semelhança como fatos reais é mera coincidência.
Vale ressaltar que a cachaça de alambique é hoje um produto nobre, cujo setor conta com pesados investimentos em tecnologia e qualidade, fazendo chegar ao consumidor cachaças bem elaborados, de qualidade superior e reconhecimento internacional.
Obviamente existem os rótulos de baixa qualidade, alguns até sem o devido registro nos órgãos competentes, produtos estes de baixo custo e de consumo mais popular. O comportamento de Chico Litro, de uma forma geral, é reprovável, embora enseje sorrisos discretos.

Altino Farias, em 23/05/2017




quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Última Curva!




Última curva de 2017. Depois dela, somente uma pequena e rápida reta para a linha de chegada: 2018!

Com a pista emborrachada pelo descaso dos políticos, o risco de derrapagem é grande, por isso, cuidado! O importante a esta altura é chegar, apenas, não importa em qual posição.

Os motores estão por demais desgastados, afinal, quase 365 dias em alta rotação, com os noticiários diários a enfernizar nossas vidas, quem é que aguentaria mais que isso? E quando pensamos que está tudo bem, ameça de chuvas e trovoadas, mudando toda a lógica da corrida.

Braços e pernas estão dormentes e a concentração começa a escapar do controle, mas falta só esta curva e aquela pequena reta... Tem que dá!

Estamos com um pé em novembro: curva fechada, atenção e perícia. Depois vem aquela última acelerada e fim. Estaremos prontos para um pequeno balanço do que saiu legal ou nem tanto e já começar a planejar a estratégia para 2018, nossa próxima corrida da vida.

Pedro Altino Farias, em 01/11/2017

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Invisíve II - O Manto da Invisibilidade



Já havia tomado todas durante a tarde toda. A caminho de casa deu na veneta de passar num bar, um bar conhecido, frequentado por muitos amigos. Ao chegar, preferiu beber uns uísques no balcão. Passa um, passa outro, abraços, papos rápidos, mais uma dose e mais uma. 

Pouco depois uma loura acomodou-se numa mesa próxima ao balcão e pediu uma bebida qualquer. Sozinha, parecia que também já havia tomado algumas e interessada apenas em curtir sua dose e seus pensamentos. 

Num primeiro momento, mais pela oportunidade que pela boniteza, nosso amigo começou a puxar conversa com a loura, que correspondia desenvolta. Embora estivesse num bar onde todos se conheciam, junto ao balcão e no trajeto rumo aos banheiros, pensou:  “Rapaz, aqui nesse cantinho ninguém me vê. Eu vou é aproveitar”, e continuou com o papo, seguido de carinhos, agarrados e beijinhos. O manto da invisibilidade caíra sobre ele naquele exato momento. 

Quase meia noite, a moça chamou o rapaz para a responsabilidade: “Vamu, sair daqui? Vamu pra outro lugar onde a gente possa ficar à vontade? Tá a fim?”. Um “clic” repentino dentro do juízo do sujeito desativou o manto da invisibilidade e ele sentiu-se horrivelmente e desesperadamente vulnerável. “Uma péssima sensação”, resumira ele depois. Pediu a conta, despediu-se da moça com elegância, argumentando que chegara sua hora e foi-se.

No dia seguinte, antes das dez da manhã, três amigos já haviam ligado perguntando quem era a loura. “Mas como me viram se eu estava tão entocado e ainda mais com o manto da inviabilidade sobre mim?”, perguntava-se intrigado. Sabe-se lá, talvez não se façam mais mantos da inviabilidade como antigamente...

Pedro Altino Farias, em 17/10/2017

sábado, 14 de outubro de 2017

Invisível (I)



- Ei, garçom, meu uísque!

Passara a tarde do sábado biritando com amigos num botequim. Uísque foi a pedida do dia, já que a cerveja imperou na noite de sexta. “Não gosto de repetir cardápio”, justificou. Bons papos, atendimento perfeito (dentro do possível), tira gosto nem tanto, finda a etapa vespertina, já começo da noite, marcou encontro com a esposa numa churrascaria para morder uma boa picanha. Com uísque, claro!

Qual criminoso de altíssima peliculosidade, pediu a conta junto com a saideira, que foi bebendo ao volante. Regulou o consumo de forma a chegar ao destino junto com o último gole. Com a esposa já à espera, sentou e disparou seu pedido: uma dose de uísque em copo alto e com muito gelo. E urgente!

Intermináveis quatro minutos passados, ele vê o garçom passando ao largo e gritou lembrando seu pedido como já foi dito aqui. O garçom acenou que esperasse mais um minuto e sumiu. A essa altura o suor lhe escorria pela testa, a mãos ansiavam por um copo, parecia-lhe que o mundo ao seu redor congelara até que a dose estivesse à mesa. A mulher falava, porém o áudio não chegava aos seus ouvidos. Estava temporariamente surdo. 

Numa terceira tentativa, “Meu filho, esqueceu de mim?”, ainda procurando ser simpático e amável sem resultado prático. Daí por diante, com a esposa sempre lhe pedindo calma, começou a achar que estava invisível aos olhos do garçom e do mundo. Picanha e coca cola à mesa, e nada do uísque. O tal garçom simplesmente o ignorava. Agora não era mais suspeita, tinha a certeza que tornara-se invisível, decididamente.

Já sem esperanças de levar uma vida normal dali em diante, reuniu suas últimas forças e gritou a plenos pulmões ao garçom que mais uma vez passava ao largo, pensando que, se não poderia ser visto, que pelo menos fosse escutado, e disparou em desespero:

- GARÇOM, ESQUEÇA O UÍSQUE EM COPO ALTO COM MUITO GELO E TRAGA-ME UMA DOSE DUPLA SEM GELO E UMA SERINGA DESCARTÁVEL! 

O garçom tomou um susto com o grito mas, enfim, se tocou do mau atendimento que estava prestando, dirigiu-se à mesa e, num sorrisinho meio culpa, meio cúmplice, respondeu com um tapinha nas costas do cliente :

- Meu patrão, não se preocupe que não vai faltar mais nada pru senhor hoje!

E foi assim que aconteceu.

Pedro Altino Farias, em 14/10/2017

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Conselho Bom pra Cachorro





Em tempos que já se vão, antes da Lei Seca e do politicamente correto, bebia-se na liberdade dos bons papos acompanhados de bons porres. Homéricos porres, às vezes. Pois bem, nesse belo e dourado tempo, dois amigos se encontravam rotineiramente nas noites de sexta e tardes de sábado para tomar umas tantas, sem horários, nem estresse, e num certo sábado...


Chegaram ao bar do Zezim Gordo por volta das dez da manhã, quando as duas portas de enrolar ainda estavam semicerradas. Logo que Zezim abriu a primeira por completo, a dupla adentrou o bar e, incontinente, fez seu primeiro pedido:

- Uma gelada aí, Zezim!
- Peraí, deixa eu terminar de abrir esse carái!, resmungou.

Portas abertas, mesas e cadeiras organizadas, cerveja servida e sorvida pela dupla como se oxigênio fosse, veio logo a segunda. Nem bem deram o quarto gole, chegou um terceiro amigo, o qual também pediu uma geladíssima para lavar a garganta. O homem estava todo social: camisa, calça e sapatos. Extremamente amarrotado, é verdade, mas todo no social. “Esse tá virado”, disseram os da mesa em pensamento, provavelmente de forma simultânea, quando o homem, começou a contar o que se passara com ele naquela noite.

- Rapaz, ontem depois do expediente subi o Morro de Santa Terezinha (nessa época se podia curtir a bela vista da cidade de cima do morro). Nem ia demorar, mas apareceu um cara com um violão e perdi a noção da hora. Quando dei por mim era três da manhã! Aí eu pensei: Tô fudido! Liguei para minha mulher para avisar que estava tudo bem. Ela me chamou de cachorro e bateu o telefone na minha cara. O jeito foi curtir o violão até o Sol nascer. Depois fui fazer a base com um caldo no Pote. Agora vou tomar uma cerveja e chegar em casa latindo. Se ela cismar, cachorro que sou, dou-lhe uma mordida!

Finda a fala do socialmente incorreto, um dos ouvintes emendou:
- Tenho sugestão melhor: já que és um cachorro, levante uma perna e mije nos pés dela.
- Rapaz, como não pensei nisso antes? Gordo, mais uma cerveja aí...!


Pedro Altino Farias, em 11/10/2017 








quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O Marujo




Moreno claro, corpanzil avantajado, gordo tipo socado. Olhos apertados, parecia sem pescoço por conta de uma manta de gordura que o envolvia. Cabelos pretos, escorridos e ralos, desciam até o meio da testa. Se o visual impressionava, seu sorriso fácil e franco cuidava de dissipar qualquer erro de avaliação.


Calorento e bonachão, costumava descansar nos começos de tarde numa espreguiçadeira gentilmente posta na calçada do bar pelo proprietário do mesmo, onde ele tirava uns cochilos alheio ao calor, ao barulho e às brincadeiras da turma que frequentava a casa.

Toda tarde, quase pontualmente às três horas, passava em frente ao bar uma garota que trabalhava num restaurante sef service que funcionava na esquina. Com seus viçosos dezoito aninhos, distribuía simpatia e simplicidade no trajeto do trabalho à parada do coletivo. Alguns marmanjos a viam com malícia, outros com um desejo ingênuo e contido. E eis a grande dúvida da turma: seria ele ingênua de fato ou insinuante e oferecida?

Nosso amigo bonachão era o mais agraciado pelos sorrisos e olhares dúbios da encantadora moça. Isso porque era o único a ali estar todos os dias que Deus deu. Muitas vezes só ele e ela, como se cúmplices fossem. Com o tempo a ideia de que a garota estava a fim dele foi se consolidando. Ao comentar suas suspeitas com a turma, encorajaram-lhe a partir para cima dela e resolver a parada> “Tá na cara que ela tá na tua!”, disseram-lhe. Ah, essa turma! 

Certa tarde, uma sombra boa, uma brisa fresca, e lá vem ela. Sem mais ninguém como testemunha, nosso garanhão deu o bote fatal. Ela esgueirou-se, reagiu, dissimulou e se saiu da mesma forma que sempre agira: sedutora, ingênua... Sempre dúbia, deixando nosso amigo a ver navios.

Tarde seguinte, bar lotado, turma reunida na calçada. Quase três horas e lá vem ela mais uma vez. Sorriso discreto, roupinha simples, na mesma simpatia enigmática de sempre. Ao cruzar caminho com o garanhão, que descansava no sossego de sua espreguiçadeira, recolhido à sua insignificância, ela o cumprimentou: “Olá, marujo.”. “Marujo? Marujo por que?”, quis saber ele, surpreso com o inesperado apelido. “Porque entrou na onda!”, respondeu ela sem alterar o passo nem se importar com as gargalhadas da turma. 

Pedro Altino Farias, em 05/10/2017




segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Cuspindo Bala!


Meados dos anos 80. Naquela manhã de domingo corria uma brisa fresca e o Sol brilhava num céu límpido, enquanto músicas populares soavam de em novíssimo 3 em 1 Philips na sala. De repente, estampidos de tiros vindos da cozinha!

Vizinhos assustados indagavam-se: assalto? Tragédia familiar? Acidente? Na dúvida, chamaram a polícia que, como sempre, tardou a chegar.

Para entender o que ocorreu, temos que contar a história desde o início. Embora gostasse de uma boa briga quando adolescente, não era dado a armas. Casado e com filhos pequenos, acalmara-se. Guardava a sete chaves o três oitão que herdara do pai, falecido há anos e anos, juntamente com alguma munição. De bobeira num domingo, resolveu fazer uma manutenção na arma.

Som ligado, tira gosto pronto, uma cachacinha para acalmar a garganta, apanhou o revólver e as balas no "esconderijo". Arma limpa e lubrificada, chegou a vez da  munição. Segundo a dica de um amigo, era bom de vez em quando "esquentar" a balas para que elas não perdessem a eficácia, então, foi até a cozinha e arrumou-as de pé, fundo de espoleta na chapa da frigideira. Fogo alto acesso, pôs-se junto ao fogão como quem frita um inocente ovo. Pouco tempo depois as balas começaram a detonar numa sequência de tiros frenética, digna de um filme de bang bang dos bons.

Esposa em pânico, filhos chorando, ele agachado junto ao fogão esperando o fim do inusitado tiroteio. Quando a calma enfim voltou a reinar, podia-se ouvir Gonzagão no 3 em 1 e vizinhos em pequena balbúrdia, sem entenderem o que acontecera. A polícia? Ah, passou em frente uma hora depois, nada viu e seguiu adiante incontinente. E ele nunca mais tirou o três oitão do esconderijo novamente...


Padro Altino Farias, em 25/09/2017