O comércio era do tipo “bar & mercearia”, muito comum em
bairros das grandes cidades e mais comum ainda em municípios do interior até a
uns anos atrás. Na cidade grande hoje restam poucos desses estabelecimentos,
que eram bastante sortidos. Neles vendia-se corda, pregos, alfinetes, botões,
remédios, cereais, fumo, bombons, pão, enlatados e por aí vai. E ainda
aceitavam fiado dos fregueses com débitos anotados na “caderneta”. A caninha e
a cerveja para os amigos e papudins da redondeza não faltavam. O balcão dessas
casas era ocupado em grande parte por mil e uma bugigangas, restando, via de
regra, pouco espaço livre. Pois bem, foi num boteco desses que correu o caso
que agora vou narrar para vocês.
Certa tarde de sábado, no Bar do Seu Mundim, os amigos de
sempre celebravam a vida com cerveja quase gelada, talagadas de aguardente barata e
muita conversa fiada. Como os bancos para sentar eram poucos, alguns ficavam de
pé, então um dos presentes fez uma proposta: Turma, já tô cansado de ficar em
pé, por que a gente não faz um rodízio de bundas? Depois de um tempo os que
estão sentados ficam de pé, e os que estavam de pé, sentam um pouco para
descansar os cambitos”. Proposta aceita na
hora pela assembleia, deu-se de imediato o primeiro “rodízio de bundas”.
Logo depois do “rodízio” chegaram dois forasteiros e todos
olharam para eles desconfiados. Os intrusos se espremeram num cantinho do
balcão, afastaram uns pacotes de bolachas abrindo uma pequena clareira, e pediram duas doses de cachaça, prontamente servidas pelo Mundim em copos que acabara de
retirar da bacia na qual os lavara com água aparada, e parada. E a rotina do bar
continuou, com a conversa fiada correndo solta entre os diaristas, e os dois
forasteiros bebendo suas cachaças e conversando baixinho entre si.
Foi aí que um dos habitués disse: “Bora! Agora quero me sentar, já faz um
tempão que tô em pé e vocês aí, bem sentadinhos”. Conforme o combinado, os que
estavam sentados levantaram-se, cedendo seus tamboretes aos que estavam
cansados de estarem de pé. Nessa troca de posições, um deles acabou confundindo
os copos e pegou o copo errado. Quando já aí tomando um gole, o verdadeiro dono
do copo exclamou em alto e bom som: “Ei, peraí! Rodízio de bundas tudo bem, mas
de copos, aí já é putaria!”. Nesse momento um dos forasteiros olhou para o
outro e disse: “Cumpade, vamu s’imbora daqui que esse bar num é pra nós, não!”
Altino Farias, em 14/01/2024
https://www.conhecaminas.com/2021/03/16-vendas-botecos-e-mercearias-antigas.html
Bom “causo”. 👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirValeu!
ExcluirA bodega lembrou o cantinho do Seu Zé Bigode, pai do querido Arlindo. Ele tinha uma lá na velha ESTÂNCIA, na rua Joaquim Nabuco.
ResponderExcluirEita saudade véia de um tempo que se foi SENDO ...
O tempo passou e os bares de corriola estão se acabando por falta de sucessores da nossa geração. O povo hoje só quer saber é de mídias e baladas.
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