Respondia pelo nome de Severino, mas podia ser João, José, Pedro, Sebastião ou outro qualquer. Cinquenta e tantos anos, escolaridade a desejar, trabalhava como porteiro num condomínio que já fora dos mais elegantes da cidade, mas que os anos providenciaram certa decadência.
Véspera de Natal todos ficam com um sentimento fraterno e solidário à flor da pele, e naquele ano não foi diferente. Severino, no seu posto, trabalharia até vinte e duas horas, quando seria substituído por um colega, João Paulo, nome que ganhou quando da vinda do Papa ao Brasil. Estava feliz porque chegaria em casa a tempo de ficar com a família, embora nada fosse ter de especial. Talvez conversassem descontraidamente e fizessem uma oração de agradecimento antes de deitarem.
No condomínio o dia foi movimentado, todos correndo nos últimos preparativos para a ceia da noite. Doutor Malheiros, que Severino poucas vezes viu em carne e osso, pois o homem só entrava e saia do prédio de carro por trás do fumê dos vidros, veio até a portaria e cumprimentou-o apertando-lhe a mão e desejando-lhe feliz Natal com uma voz pausada e firme. Bruna, com seus dezessete anos, a mais patricinha do pedaço, foi até ele e fez um selfie, que logo postou nas mídias sociais, tendo muitas curtidas dos amigos. Salete, a perua do 902, interfonou para Severino desejando um feliz Natal e pedindo que ele subisse quando tivesse uma folguinha para pegar umas roupas usadas, mas que “estavam novinhas”, para que examinasse o que lhe aproveitava. Dona Genoveva, a vovó do prédio, deu a Severino com um vistoso panetone. “Ganhei quatro desses e nem posso comer por conta da minha diabetes”, comentou em tom de lamento enquanto entregava o pão a Severino, que adorou o presente. Já noite, ao sair para a ceia em casa de parentes, o pequeno Jonas, de cinco apenas anos, incomodou-se ao ver Severino na guarita e perguntou, inocente: “Na sua casa não tem Natal não?”.
Severino largou o serviço pontualmente às 22 horas, passando o posto a João Paulo, a quem cumprimentou com apertado abraço e um carinho na cabeça. “Coitado, vai passar a noite de Natal trabalhando.”, pensou solidário. Não fosse a mulher e filhos esperando em casa, por certo trocaria o turno com o colega.
Apressado, a caminho de casa, pensava nos acontecimentos do dia. Passou num mercadinho e comprou uma tubaína já gelada. Com as roupas usadas, o panetone e o refrigerante, a surpresa para os de casa estava garantida. Seguia feliz da vida, como não importasse as atitudes mesquinhas que observou naquelas pessoas no decorrer de seu expediente e durante todo o ano. De relance, jura que viu um rasgo de luz no céu e teve consigo a certeza de que era Papai Noel com seu trenó. A noite não foi tão longa quanto ele gostaria, mas teve um FELIZ NATAL.
Pedro Altino Farias, em 24/11/2017
Retrato da realidade vivida por muitos. Cada um comemorando do seu jeito e como pode, o que vale é o sentimento e a família.
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