Em tempos que já se vão, antes da Lei Seca e do politicamente correto, bebia-se na liberdade dos bons papos acompanhados de bons porres. Homéricos porres, às vezes. Pois bem, nesse belo e dourado tempo, dois amigos se encontravam rotineiramente nas noites de sexta e tardes de sábado para tomar umas tantas, sem horários, nem estresse, e num certo sábado...
Chegaram ao bar do Zezim Gordo por volta das dez da manhã, quando as duas portas de enrolar ainda estavam semicerradas. Logo que Zezim abriu a primeira por completo, a dupla adentrou o bar e, incontinente, fez seu primeiro pedido:
- Uma gelada aí, Zezim!
- Peraí, deixa eu terminar de abrir esse carái!, resmungou.
Portas abertas, mesas e cadeiras organizadas, cerveja servida e sorvida pela dupla como se oxigênio fosse, veio logo a segunda. Nem bem deram o quarto gole, chegou um terceiro amigo, o qual também pediu uma geladíssima para lavar a garganta. O homem estava todo social: camisa, calça e sapatos. Extremamente amarrotado, é verdade, mas todo no social. “Esse tá virado”, disseram os da mesa em pensamento, provavelmente de forma simultânea, quando o homem, começou a contar o que se passara com ele naquela noite.
- Rapaz, ontem depois do expediente subi o Morro de Santa Terezinha (nessa época se podia curtir a bela vista da cidade de cima do morro). Nem ia demorar, mas apareceu um cara com um violão e perdi a noção da hora. Quando dei por mim era três da manhã! Aí eu pensei: Tô fudido! Liguei para minha mulher para avisar que estava tudo bem. Ela me chamou de cachorro e bateu o telefone na minha cara. O jeito foi curtir o violão até o Sol nascer. Depois fui fazer a base com um caldo no Pote. Agora vou tomar uma cerveja e chegar em casa latindo. Se ela cismar, cachorro que sou, dou-lhe uma mordida!
Finda a fala do socialmente incorreto, um dos ouvintes emendou:
- Tenho sugestão melhor: já que és um cachorro, levante uma perna e mije nos pés dela.
- Rapaz, como não pensei nisso antes? Gordo, mais uma cerveja aí...!
Pedro Altino Farias, em 11/10/2017
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