Copa América 1997, Zagalo, então treinador da Seleção Brasileira desabafa para as câmeras após a vitória brasileira: “Vocês vão ter que me engolir!”.
Esse brado emocionado tinha endereço certo. Ele foi
dirigido a repórteres que agiam nos bastidores para minar o trabalho do
treinador e apeá-lo do controle da seleção na Copa do mundo do ano seguinte,
segundo versão dele próprio. Os acontecimentos e o resultado da copa de 1998 são conhecidos, e
lamentados, por todos. No fim das contas, o episódio ficou gravado na história
do futebol brasileiro.
O tempo passou, porém, nesse mundo de meu Deus, sempre
alguém tem que engolir alguém...
Nesse sentido, boa parte dos cidadãos deste País têm
engolido o que não concordam e não merecem. Têm engolido até o que repudiam com
veemência. Aqui se criou a filosofia do “nós” e os “outros”, os “corretos” e os
“do contra”, colocando a sociedade brasileira numa situação de perigosa
animosidade entre os que pensam de modo diferente.
Apoiado numa base eleitoral criada a partir de programas
sociais assistencialistas idealizados exatamente para esse fim, o governo
manobra uma maioria cooptada até nos rincões mais remotos deste País. Pessoas
estas que não participam dos acontecimentos políticos para além da cerca de seu
vizinho. Pessoas que desconhecem as traficâncias de Brasília, o cotidiano dos altos
gabinetes estatais, o jogo intrincado da economia e as sutilezas necessárias à
diplomacia internacional. Pessoas que visam apenas e tão somente manter seu
pequeno universo em movimento com o recebimento mensal de seus pingados trocados
do benefício oficial.
Enquanto isso uma minoria eleitoral, estômago de
avestruz, vai tendo que engolir o que lhes impõem à frente. A coisa funciona
mais ou menos assim:
Em tempo recorde a Polícia Federal prendeu e deportou
esportistas cubanos que pediram asilo ao Brasil por ocasião dos jogos Pan
Americanos do Rio, em 2007, tentando fugir da ditadura de Cuba. Algum tempo
depois, o governo de esquerda, mesmo contra recomendação do STF, deu asilo
político a um terrorista assassino italiano, julgado e condenado democraticamente
pela mais alta corte daquele país.
Para seus eleitores-beneficiários o governo dizia: “Vou
lhes dar crédito fácil para comprarem o que tiverem vontade!”.
Aos demais, o governo dizia: “Vocês vão ter que me
engolir!”.
O governo progressista aliou-se a governantes
ditadores e assassinos. Chamou o Irã de Mahmoud Ahmadinejad de pais irmão,
brindou amizade com o truculento Kadafi e aliou-se a outras tantas
republiquetas de regime antidemocrático.
Aos afilhados a quem garante uma subsistência inerte,
dizia o governo: “Nós estamos aqui para defendê-los contra as elites dominantes
deste país”.
Para os outros, dizia apenas: “Vocês vão ter que me
engolir!”.
Em plena crise do apagão aéreo, a ministra do turismo
de então, uma senhora sem a menor preparação para ocupar quaisquer cargos
públicos, recomendou aos passageiros em pânico: “Relaxem e gozem”.
Aos seus, o governo dizia: “Esse colapso na operação
dos aeroportos é devido ao aumento de renda do povo”.
Aos outros, informava: “Vocês vão ter que me engolir!”
O governo, pretenso líder dos povos da América Latina,
defendeu a soberania dos bolivianos, reconhecendo o direito deles de invadir e
expropriar uma refinaria de petróleo brasileira legalmente instalada naquele
país em detrimento de nossa própria soberania.
Para o povão, o presidente de então posava de
estadista...
Para os “do contra”, bradava: “Vocês vão ter que me
engolir!”
A esquerda brasileira apoia a ditadura dos Castro, que
apoia a Venezuela de Chávez, que apoia o narcotráfico, que tem negócios com Evo
Morales, o próprio produtor da coca. De quebra, afastou-se do equilibrado Chile,
levou um chega para lá do insignificante Equador, apoiou o patético golpe de
Zelaya.
Com essas, garantiu boa propaganda junto aos seus
eleitores e... Quase mata de vergonha “os outros”, que mais uma vez ouviram... “Vocês vão ter que me engolir!”.
A vida foi seguindo. Alguns que fazem parte desse
governo socialista foram flagrados roubando a nação. Presos e condenados,
disseram aos seus eleitores: “Estamos sendo perseguidos e injustiçados. Somos
heróis!”.
Alguns dos que neles acreditam, juntaram uns (muitos) dinheiros
para, imoralmente, quitar dívidas dos condenados com a Justiça. Os coitados deste
país, vendo as notícias na imprensa, exclamaram:
“Oh, como são unidos esses
heróis e seus seguidores!”, e logo correram para sacar na lotérica mais um mês.
Para os que acompanhavam a cena de longe, aqueles
mesmos “heróis” gritaram, gesticulando uma “banana”: “Vocês vão ter que nos
engolir!”
Caso Rosemary, campanha eleitoral antecipada e com recursos públicos, compra milionária de refinaria sucata
nos EUA, financiamentos oficiais generosos a Eike Batista, porto de Cuba, revisão
no julgamento dos mensaleiros...
Tudo goela abaixo dos “outros”.
Mas vem aí a Copa do Mundo. Grande conquista do
Brasil! A vez do binômio pão e circo. Aqueles camaradas, os dos benefícios e
malefícios, estarão no circo que lhes foi armado esperando pelo pão bem longe
dos estádios, onde estarão apenas “os outros”.
Por isso, o pessoal do governo não vai poder aparecer nas magníficas arenas onde os jogos serão disputados, sob pena de serem sonoramente vaiados. Diante dessa hipótese já veio uma ordem do Planalto para os seus: “Nada de estádios! Todo mundo deve assistir aos jogos na copa!”.
Por isso, o pessoal do governo não vai poder aparecer nas magníficas arenas onde os jogos serão disputados, sob pena de serem sonoramente vaiados. Diante dessa hipótese já veio uma ordem do Planalto para os seus: “Nada de estádios! Todo mundo deve assistir aos jogos na copa!”.
Tomara que eles arrisquem uma aparição pública durante
o evento, efêmera que seja. Talvez ouçam uma forte e estrondosa vaia. Talvez
aquele povo que estiver presente aproveite ilustres presenças para
devolverem-lhes em forma de vômito azedo tudo o que vêm engolindo contra a
vontade nesses últimos tempos... Tomara.
Pedro Altino Farias, em 28/02/2014
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Do jeito que a coisa anda, o jargão completa 20 anos, o circo continua armado e o cerco se fechando cada vez mais para "os outros".
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