quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

REVERSO



Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Cansado, tirou um breve cochilo. Quando despertou, teve que tomar as primeiras providências sobre sua maior criação, o homem, expulsando Adão e Eva do paraíso. 



Um pequeno descuido e homem, de novo, precisou de um corretivo sério. E choveu por quarenta dias e quarenta noites. Um dilúvio que varreu a vida animal da Terra, exceto a dos animais que embaarcaram na Arca de Noé, ao qual foi passsada a missão de preservar a vida a animal e repovoar a Terra. 


Mais um cochilo e as coisas ameaçavam novamente sair do controle, obrigando-o a enviar seu próprio filho à Terra para consertar o que os homens haviam bagunçado totalmente.


Outro cochilo, e a civilização evoluiu a ponto de levar o planeta à completa exaustão. Nessa época, as fontes energéticas estavam esgotadas, as megacidades produziam mais lixo do que conseguiam processar, uma enorme cratera na camada de ozônio expunha todos às radiações ultravioletas e ao aumento de temperatura, faltava comida. Nem os mais antigos sabiam contar como fora farto este planeta outrora. Nem os mais antigos...


O esperado grande salto da ciência, que redimiria a todos, viabilizando a sobrevivência do homem, não aconteceu. Descobertas importantes aqui e acolá, um ou outro invento espetacular, porém, nada que pudesse retroceder o processo de esgotamento de recursos naturais, que caminhava a passos largos.
 


Ao acordar e deparar-se com este cenário apocalíptico, Deus resolveu radicalizar. O homem, com seu egoísmo e egocentrismo, sempre pensou que sua espécie somente poderia ser extinta por grande hecatombe, como a queda de um meteoro ou coisa parecida, que exterminaria, também, o próprio planeta e toda a vida nele contida. Ledo engano!


De um só sopro, Deus esterilizou a todos com sua decepção e ira. Nenhum ser humano foi gerado desde então. Assim, em muito pouco tempo seria consumado o fim da espécie humana na Terra.


Os homens não entendiam porque não mais conseguiam reproduzir-se. Então, todas as atenções e pesquisas da ciência foram voltadas para a possibilidade de reverter essa situação, tentando restabelecer a fertilidade. Apelou-se até para os métodos tradicionais antigos, como o coito entre homem e mulher, deixando tubos de ensaio e laboratórios de lado. De nada adiantou. Nada conseguiram.



Aos poucos, parecia que nosso planeta aumentava de dimensão. Os ruídos das cidades diminuíram, havia muitos imóveis desabitados, ar ficou mais respirável, a temperatura mais amena, enfim, a Terra se tornou um lugar bem mais agradável de se viver, pena que... 


 

A indústria reduziu seu ritmo progressivamente, escolas não abriram novas turmas, cidades inteiras foram sendo abandonadas.

Quanto mais o tempo avançava em sua linha inexorável, menos habitantes a Terra suportava. Pessoas morriam naturalmente sem que crianças pavimentassem o futuro de daquela civilização até que restaram somente um homem e uma mulher. Eram o reverso de seus longínquos ancestrais, Adão e Eva: velhos, estéreis, vencidos, sem vida. 
 
 


Passaram seus últimos tempos numa solidão absoluta, impotentes, apenas olhando para o infinito vazio. Por fim, aquele fiapo de vida se foi também. Era o fim do homem numa Terra agora, apesar das ruínas, deslumbrante e abundante.

 


Algum tempo depois, não se sabe ao certo quando, num lugar qualquer do planeta, livres dos ruídos, da poluição, dos raios ultravioletas, das águas contaminadas e de todo o mal, alguns ovos, hibernantes a milhões e milhões de anos, retomaram seus processos de reprodução. Começaram a pulsar novamente. Então, uma casca foi rompida, depois outra, depois outra. E surgiram uns dinossaurozinhos lindos...!




Pedro Altino Farias, em 22/10/2013


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Um comentário:

  1. Oi Pedro,
    Linda e oportuna reflexão...que Deus o abençoe.
    Beijos.
    Jovita

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