Sonhava com um cantinho só nosso e
um pedaço de mar a perder de vista. Muitos sonham também. Para isso havia
adquirido um terreno na praia há anos, mas as condições financeiras nunca
haviam permitido a construção de qualquer benfeitoria que fosse. Mais um ano
passado, mais uma vez adiado o sonho. Parecia a linha do horizonte, que se
afasta de nós na mesma proporção em que nos aproximamos dela.
Havia dias em que minha mulher me
flagrava na prancheta rabiscando o que seria a casa da praia. Um puxão de
orelhas me trazia de volta a realidade das posses restritas e sonhos postergados.
“Sonhar não custa nada”, argumentava eu. “Quem sabe um dia...”
O ramo da construção civil, no
qual eu atuava, é cheio de altos e baixos para pequeno empreendedor, meu caso.
Num desses altos, separei modesta quantia, e, num ato de pura irresponsabilidade,
resolvi construir uma casinha no local. Tomei a decisão sozinho, pois,
submetida ao colegiado doméstico, seria voto vencido ante as demandas
prioritárias do cotidiano.
Orçamento e cronograma prontos,
escalei pedreiro e servente e mãos à obra. Às terças e sábados corria até a
praia, distante setenta quilômetros, para
acompanhar o serviço e suprir necessidades. Bronzeado, minha mulher, intrigada,
perguntava por onde eu andava. “Sou peão
de obra e vivo no sol”, respondia desconversando. Mas a pulga continuava atrás
de sua orelha.
Ao cabo de quatro semanas um
pretexto mal inventado levou a família completa à praia: eu, minha mulher,
filha e filho pequenos. Outra desculpa explicava a carrocinha cheia de
tranqueiras que o carro rebocava. Ao chegarmos ao terreno, protesto geral:
“Construíram um casa em nosso terreno!”; “Como é que ninguém viu isso?”; “E
agora?”.
Em meio ao pânico que se
estabeleceu, minha mulher viu Max, o pedreiro que trabalhava para mim, sair da
casa, e sorriu aliviada, entendendo de imediato o que se passava. Foi assim que
aconteceu, e graças a essa “irresponsabilidade” até hoje nos refugiamos no
“Solar Além do Horizonte” para curtir o por do sol, bronzear o corpo todo,
ouvir o silêncio, ver o amanhecer que é lindo...
Pedro Altino Farias, em
03/04/2010
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Pedrinho,
ResponderExcluirSonho sonhado e realizado é vida, é um "solar além do horizonte".
Podro,
ResponderExcluirValeu a espera, o trabalho, sonho realizado com direito a admirar o por do sol, ouvir o silêncio...Maravilha.
Foi muito prazerosa minha estreia como seu leitor . Muita sensibilidade.Posso continuar este novo prazer?
ResponderExcluirFique à vontade. Para mim é um prazer dividir emoções e pensamentos com leitores e amigos.
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