domingo, 17 de junho de 2012

Confissões de um Alcóolico Assumido



Confessar algo é, antes de tudo, uma demonstração de fé no confessor. Nesse momento faço de vocês meus confessores... Não decepcionem!

Comecei cedo, aos treze anos. Um menino! E não parei mais. Somente uns dez dias aqui, uma semana acolá... Não mais que isso. E sempre por recomendações médicas, em virtude de estar tomando algum medicamento. Para quem não me conhece, estou com cinquenta e um. Firme e forte!

No começo era só cerveja e cachaça. Depois veio o rum com coca e a maldita vodka com Sukita. Tomei inúmeros porres de ambos. Vodka, hoje em dia, só bebo em pequena quantidades, pura e retirada direto do freezer; o rum continua a me enfeitiçar vez por outra.

Não tenho exageros para uísque. Em qualidade, eu falo. Em quantidade, como diz um querido amigo, o consumo é em “escala industrial”, embora eu não seja um especialista da área. Para bebê-lo, gosto de duas modalidades: puro, em copo pequeno; ou com gelo, em copo alto. O puro, normalmente tomo em casa, e tem, necessariamente, que ser de boa qualidade. Detesto os copos baixos, mas eles se mostraram muito úteis quando eu bebia e dirigia, pois são difíceis de virar. Na verdade, deixando o “politicamente correto” de lado, eles ainda me servem bastante, quem me conhece sabe.

Adoro cachaça, detesto caipirinha. A última que tomei foi... Deixe-me ver... Ah, lembrei! Meu primeiro porre foi de caipirinha, e, depois dele, jamais! Aliás, a única bebida misturada que gosto é o rum, as outras têm que ser puras ou com gelo, no máximo.

Cerveja é a companheira do dia a dia, embora só sirva para tomar na rua. Em casa é um saco, pois a gente precisa ter vontade minutos antes, para poder botar para gelar e beber minutos depois. E se der uma piscada de olho a mais, congela tudo!

Para cachaça e cerveja, o copo americano serve bem. Se tiver um pequeno para a cana, melhor, senão... Fazer o que? Houve uma época em que as lanchonetes baniram o copo americano, servindo cerveja somente em taças. Até hoje há certo preconceito contra o copo americano (isso precisa ser visto pelo Congresso, talvez criando um sistema de quotas ou algo parecido). Outro dia cheguei num restaurante e pedi que a cerveja fosse servida em um copo desses. O garçom disse não tinha, então peguei um que estava à minha frente, com palitos e guardanapos, dei para ele e disse: “Tome, lave e traga de volta com a cerveja.”.

Tem uma cerveja agora de casco verde, outra, transparente. Cerveja que se preze tem o casco escuro e fim, o resto é invenção. A maioria das cachaças de antigamente vinham envasadas em cascos tipo de cerveja. Essas embalagens de litro são grotescas, a gente toma meio litro e ainda fica metade da garrafa lá. Um vexame! Já com os cacos tipo de cerveja, a gente abre uma zero, toma à vontade, e deixa só um tantinho no fundo da garrafa que ninguém nem vê. Muito mais elegante!

A saideira, ah, a sadeira! Contrariando um mito, declaro aqui que a grande maioria das minhas saideiras estavam rigorosamente programadas. Talvez de cem umas cinco estavam devidamente previstas. Falando em saideiras, esse percentual representa “uma grande maioria”, podem crer, afinal, tudo é relativo, não é mesmo?

Claro que às vezes dá um branco, isso é inevitável. Reconstituir os passos dados durante o porre do dia anterior pode ser uma grande curtição... Ou não! Engraçado que, no meu caso, esses lapsos de memória se dão em situações tranquilas, quando estou mais relaxado. Certa vez tomei todas e vinha dirigindo numa avenida larga e iluminada. Meu GPS natural apontava corretamente para o norte, mas eu não reconhecia a trajetória, não fazia ideia de onde estava. De repente reconheci um prédio e localizei-me. Desse momento em diante não me lembro de mais nada. Foi como se eu acionasse o piloto automático do carro, ou meu anjo da guarda me conduzisse com todo cuidado e carinho até minha casa.

Tenho algumas manias. É normal estar ouvindo uma música no som do carro e assobiar outra ao mesmo tempo, por exemplo. Outra é que gosto de tomar umas doses quando chego em casa do trabalho à noite. Não raro levo copo e um refil com cachaça para o banheiro. Acompanham queijo ou azeitonas num pires. Uma vez instalado no “trono”, tomo umas lendo algo e ouvindo o noticiário que rola na tevê do quarto. Depois de umas três ou quatro, o banho tem outro sabor. Pena que o noticiário, com tanta corrupção à solta, não ajude nesses momentos de relax.

Mas naquelas horas especiais não faço questão de birita. O foco é outro, e bebida só atrapalha. Cachaça deixa um bafo impróprio ao momento. Cerveja requer algumas idas inconvenientes ao banheiro. Não combinam. Escapam o uísque e o vinho... Ah, o vinho! Ideal para a ocasião, mistura sabor, aroma, charme e sensualidade. Tudo muito moderado, muito sutil e quase sempre com a vantagem da cumplicidade.

O papo está bom, mas já passou de uma página, hora de parar. Espero que perdoem minhas omissões, os dias em que não estava muito a fim, ou que sai cedo demais dos bares da vida por causa de algum aniversário. Sei que não preciso pedir perdão aqui pelos dias em que eu não bebi por estar de ressaca, nem pelas brincadeiras com a turma, sempre feitas sem intenção de magoar.

Espero que me imponham uma penitência tanto pesada quanto líquida, mas que seja, também, geladíssima. Em caso de destilados, que a coisa comece com um litro zerado, e gelo de boa qualidade. Estou pronto para o que der e vier, mandem daí e dou meu jeito daqui.


Pedro Altino Farias, em 10/06/2012

 
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