Potão era seu apelido. Imaginem a figura: mulato, tronco largo, estatura mediana, pouca instrução. Ainda falaremos dele aqui.
Dois casais amigos foram passar um fim de semana na casa de praia de um deles. Era um programa que estavam acostumados a fazer, de modo que os preparativos já seguiam certo modelo: carnes, carvão para churrasco, gelo, guloseimas para as crianças, queijos, defumados e... Cerveja, claro.
Determinado fim de semana, porém, foi diferente, pois o anfitrião convidou outro casal além dos amigos de sempre. O cara era um parceiro de negócios e havia certa cerimônia para recebê-lo. Notavam-se cuidados especiais com a casa, o arranjo da mesa, uma bela rede armada na varanda. Coisas que não se via no cotidiano. O casal amigo estava ali para dar um apoio, fosse nas conversas, no servir, ou na companhia, simplesmente.
Perto do meio dia do domingo os convidados chegaram. Ele, meio sério e sisudo, logo abriu um sorriso. “Melhor não descuidar, manter alguma distância e não tratar com intimidades”, pensou o anfitrião. Quanto à mulher, o conceito era outro. Metida a chique, maquiada, penteada e toda “não me toques”, era o que se chama hoje de perua.
O almoço estava em preparo. Peixada. Ainda demoraria um tanto, por isso o anfitrião pediu aos amigos que fossem até uma barraca com os convidados para que eles conhecessem a praia e tomassem uma cerveja, enquanto ele se ocuparia ainda com detalhes do almoço. Assim foi feito.
Ao chegarem na barraca de costume, Potão, cunhado do dono, estava fazendo as vezes de garçom. Pediram uma cerveja, a qual foi prontamente servida, acondicionada num porta cerveja de isopor. A mulher retirou a garrafa do suporte apenas o suficiente para ver o rótulo. Ao constatar que a bebida era de marca diferente da sua predileta, exclamou alto e em tom grosseiro: “Essa cerveja você pode levar de volta que eu não bebo!”. Em sua santa ingenuidade, Potão emendou, para horror da perua que estava bem ao seu lado: “A senhora não quer não, é? Pois a casa aceita!”, e tomou a garrafa inteirinha direto no gargalho e num só gole!
Altino Farias
altino.frs@gmail.com
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