Antes de iniciar a caminhada, alongamentos. Dos músculos, da
visão, dos pensamentos. Pés descalços pisando na areia, ora seca e quente, ora
molhada e fria, estou conectado à Terra mãe, trocando energias diretamente com ela.
Durante o trajeto, marmanjos tatuados, idosos passeando com
seus cãezinhos, donzelas com glúteos bronzeados à mostra com suas metades separadas
apenas por um fio, pessoas comuns tirando fotos bacanas num cenário idem.
Os óculos escuros atenuam a claridade da manhã ao mesmo
tempo que, providencialmente, escondem o
destino do meu olhar. Pensamentos vários fazem meu membro intumescer, então,
procuro distração observando um parapente colorido no céu, um carrinho de
picolé com seu sininho, o garotão com sua prancha a adentrar o mar agitado. E
curto a sensação gostosa da brisa salgada a acalmar as rugas do meu rosto.
Atingi a meta! Hora de retornar. Cheguei à fronteira até
aonde posso ir. Dali para frente o tempo não me pertence. Agora só o tempo da
volta é meu, mas a vontade de seguir adiante, avançar no tempo proibido, é
enorme. Paro e dou um rápido mergulho na água fria, que me teletransporta instantaneamente à
velha realidade e penso: melhor voltar, senão não existirão mais fronteiras
para mim.
Altino Farias, 10/04/25