terça-feira, 28 de agosto de 2012

Enfim, Abduzido


Abduzido por uma extraterrestre, eu continuava tendo a noção perfeita de tempo e espaço, imune a tudo que dela emanava: luz, pensamento e energia; mesmo sabendo que engendravam todos os esforços para que me deixasse levar pelos encantos do desconhecido.

Na verdade, o termo abduzido está equivocado até aqui, pois não havia desvio de rota, de raciocínio ou de intenção. Nem mesmo inconsciente. Inesperadamente tudo passou, e minha vida voltou ao normal.

Já nem lembrava dessa aparição quando me deparei com outra criatura, que, intuitivamente, logo percebi ser de outro mundo, embora não aparentasse nenhuma estranheza. “Vai dar merda!”, pensei.

Acredito que em algum lugar etéreo do além-céu gravaram meu endereço metafísico, tão fácil foi localizar-me novamente no meio de mais de sete bilhões de iguais a mim. Paciência!

Desta vez tive mais trabalho para me desvencilhar dos que me queriam longe daqui, em outro mundo. Mas não me entreguei, muito pelo contrário. Mantive-me sempre lúcido e ainda imune a um verdadeiro bombardeio de energia, cuja origem e forma eram uma completa incógnita.

Repentinamente tudo passou de novo. “Desistiram, enfim”, pensei aliviado e já cansado de manter-me na defensiva por tanto tempo. Tudo ao meu redor continuava como antes. Cores, luzes, calor, sorrisos. Os dos outros e o meu próprio.

Mas logo depois comecei a imaginá-los encontrando-me novamente, o que me fez fugir, esconder-me, dissimular. Passei a usar roupas cinzentas, neutras. Sempre que possível abrigava-me sob um guarda sol preto, caminhava pelas sombras, olhava de lado, continha a respiração, não mais sorria.

De nada adiantou. Acharam-me mais uma vez. Ou, pelo menos, acredito que sim. A última lembrança que tenho é de uma criatura com gestos femininos, sensuais, quase eróticos. Mas tudo muito difuso e de difícil compreensão para mim.

Então, uma luz absurdamente brilhante me ofuscou. Tanto, que hoje nada vejo além dela, e apenas vagueio sem destino e sem saber onde estou de fato. Não sei se alguém consegue me ver, se lembram de mim, sentem minha falta ou leem meus pensamentos agora. Não sei se estou morto, noutro mundo ou apenas louco...

Altino Farias, em 21/08/2012

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Despedida


Fazia silêncio. As mãos delicadas da mulher acariciaram os cabelos do amante. Em seguida ela o envolveu com seus braços esguios, fazendo com que seu peito fosse encostado ao dele, transmitindo e recebendo calor ao mesmo tempo. O silêncio permanecia. Dentro e fora do recinto. E os dois continuaram se olhando, calados.

Uma lágrima despontou na face daquele homem de quarenta e poucos e muitas dores. Ela, dona de outras tantas, também lacrimejou. Suavemente, primeiro enxugou o rosto dele, depois o seu próprio. O único som que se ouvia naquela penumbra era a respiração de ambos. Ora calma e pausada, ora ofegante, apressada.

Aquele momento se estendeu por alguns minutos. Será? Ou foram somente instantes? Ou longas horas? O tempo não importava. A vida não importava. O mundo não importava.

Seminu, o amante sentou-se numa poltrona. A mulher, então, ajoelhou-se à sua frente, olhou-o mais uma vez com ternura, e rompeu aquele terrível silêncio dizendo simplesmente: “Adeus!”. Foi um adeus miúdo, sofrido, apertado, quase mudo. Mas foi um adeus.


Pedro Altino Farias, em 29/06/2012

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terça-feira, 31 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio VI - Ô Remedinho Bom!

Histórias de amigos da onça pelos bares da vida há ainda muitas e muitas. Mas para encerrar essa série, deixo vocês com...  


Ô Remedinho Bom!



Cabeção é um senhor de setenta e poucos e ainda na ativa, percorrendo diariamente bares variados, frequentados por confrarias variadas, onde mantém papos igualmente variados, ou nem tanto.

Outro dia o coitado levou uma queda desastrada. Não, não bateu com a cabeça no chão, mas fraturou duas ou três costelas. Depois do acidente ele ficou uns dias de repouso, e foi voltando à sua rotina normal aos poucos.

Mesmo liberado para dar uns passeios, continuava sentido pontadas agudas sempre que respirava mais fundo. Espirrar e tossir, nem pensar.

Em pouco tempo já estava de volta à velha labuta, vertendo, ao invés das habituais doses de uísque ou copos de cerveja, vinho. Duas garrafas, em média... Mesmo sentido dores na região do tórax. E qualquer mau jeito... Áiiiii!

Então, os velhos amigos e parceiros de bar resolveram se cotizar para dar ao Cabeção um remédio que lhe livraria daquelas incômodas pontadas nas costelas. “É tiro e queda!”, afirmou um. “Ô remedinho bom!!”, exclamou outro. “Amanhã tu já vai tá bonzim!”, prometeu mais outro.

Depois de grande suspense, passaram a Cabeção um pequeno embrulho, que continha uma latinha. “Peraí, deixa eu botar meus óculos!”, pediu nosso amigo acidentado querendo saber, afinal, que remédio milagroso era aquele, mas... Ao desembrulhar o pacotinho, Cabeção deparou-se com uma latinha de... RAPÉ! Nesse momento todos caíram na gargalhada, tendo como “fundo musical” os impropérios bradados por Cabeção (@>*%”º**##@%><##!!!).

Mas o melhor de todas essas histórias, verídicas e das quais sou testemunha, é que nenhuma amizade ficou abalada, ninguém ficou puto por mais que cinco minutos, e todas acabaram em grande festa. Bons amigos, esses ”amigos da onça”...


Pedro Altino Farias, 31/06/2012

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terça-feira, 24 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio V - A Turma do "0800"

Todo botequim de corriola que se preze tem entre seus frequentadores, pelo menos, um bebim, um chato e a turma do “0800”, e é sobre uma turma dessas a história que vou contar...



Turma do 0800



Na corriola do “bar de sempre” há um certo Chico Mineiro. Como o próprio apelido traduz, o homem é de Minas, mas mora no Ceará há anos. Exímio cozinheiro das gostosuras de sua terra natal, faz as vezes de “amigo da onça” quando lhe bate inspiração. Somente a título de introdução, vou contar uma do Chico.

Um dia ele chegou em casa, um belo apartamento de classe média em bairro nobre de Fortaleza, com uma galinha caipira viva nas mãos, e foi logo dizendo à secretária:

- Ô, amarriessagalinhali na mesa e amanhã cêmatela p’reu cozinhá pru armoço.
- Ah, seu Chico, eu num sei matar galinha, não - respondeu a empreguete de plantão.

- Tem nadanão. Deixe quieu mesmato, intão – retrucou Chico.
 
No dia seguinte pela manhã Chico pegou a galinha, abriu suas asas pisando em ambas as extremidades, deu um golpe em seu pescoço fazendo o sangue jorrar e... Soltou-a na cozinha. A ave se debateu por minutos e foi sangue para tudo que é lado!! A secretária teve um trabalho imenso para deixar tudo limpo de novo e ficou muito pau da vida com o lance.

Quinze dias depois Chico chegou com outra galinha, e foi logo mandando a secretária prendê-la para que ele a matasse na manhã seguinte, ouvindo como pronta resposta:

- Se preocupe não, Seu Chico, que eu mesma mato. Minha mãe já me ensinou como se faz.

Imaginem se ela deixaria o Chico fazer aquele desmantelo de novo na cozinha...

Pois bem, um sábado Chico ligou para o Magão, dono do bar, perguntando quem estava lá. Magão soltou a lista dos presentes. Todos da turma do 0800. Chico então anunciou: “Aviselesaí quitôaqui ejeitano um cozidão e chego já”. O recado foi repassado, deixando neguim com água na boca, aguardando Chico chegar com o rango.

Quando o Minerim chegou, segurando uma panela de pressão envolta em um pano de prato devido à quentura, um dos presentes disparou: “Ei, Magão!! Trás prato e talher que o Chico chegou!! Cadê, Magão?? Parece que tu tá abestado hoje!! Deixa de ser lesado e trás logo esses pratos, homem!!”

Magão chegou à mesa com pratos, talheres e uma concha. O mais apressadinho quase tomou a concha da mão do dono do bar, abriu a panela, mergulhando a dita cuja no caldo, e... Somente nesse momento foi que ele se deu conta do odor que havia tomado conta do ambiente. Observou com mais cuidado e viu um caldo descorado, ralo, e que exalava um cheiro esquisito. Mexeu e remexeu a concha, trazendo à tona puxadores de gaveta, pedaços pequenos de madeira, ferrolhos, cacos de alguma coisa e mais outras tranqueiras. Tudo devidamente temperado com caldo de galinha em cubinhos e etc.

“Mas o que é isso, Chico?”, quis saber, o inconformado e desiludido líder do grupo - o mesmo apressadinho da concha. “Ô, sô. Équi fiz umareforma láimcas e sobraram unscoisinhas e eu resolvi fazê um tiragosto procês pra num jogá fora.”, respondeu candidamente nosso “amigo da onça” made in Minas.

Quem estava no bar naquele momento? Ah, todos negam a presença no episódio. Não estava esse, nem aquele, nem ninguém. Mas o Magão e o Minerim sabem muito bem quem foram os protagonistas desse caso típico de “amigo da onça”. Quem quiser saber, pergunte a eles.

Pedro Altino Farias, 24/07/2012


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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio IV - Peba ou Tatu?


Um sexta à noite, um bar, biritas... E uns tantos "amigos da onça" a papear... Só podia dar nisso mesmo...



Peba ou Tatu?


Marquinho é um grande presepeiro. E não tem quem diga. Meio calvo, cheinho, cinquenta e tantos anos, mais parece um senhor de respeito... E é, mas no botequim...

Outro dia ele chegou no bar de sempre com um jeito inquieto. Conversando, disse que ganhara um bicho, mas não sabia se era um peba ou tabu. Diz o povo que o peba come defunto, e, por isso, se fosse peba ele não ficaria com o animal. Mas quem poderia esclarecer essa dúvida? Ah, logo surgiu o atendente do bar para dirimir a dúvida, e o presepeiro foi apanhar no carro uma caixa de madeira compensada onde estava o bicho.

Quando voltou, fez mil peripécias e suspense, até que colocou a caixa sobre uma mesa, e posicionou sua tampa de modo que o entendido, agachado bem em frente, pudesse segurar o animal para examiná-lo assim que a portinhola tipo guilhotina fosse aberta. “Mas cuidado!”, advertiu, “Ele tá estressado e pode fugir!!”. “Deixa comigo!”, respondeu o especialista.

Todos esperavam ansiosos, e quando a porta foi aberta... Tcham, tcham, tcham!! Saiu de dentro uma enorme peça de madeira em forma de pênis, que, ato contínuo, foi devidamente segura com as duas mãos pelo nosso amigo especialista, em meio a uma risada geral da plateia.

Depois que todos se recompuseram e já sabiam do segredo, começaram a imaginar quem mais poderia cair na brincadeira. Telefonaram para um e outro, e nada. Marquinho, que tinha compromisso com a patroa, foi embora, levando com ele a caixa enigmática. “Que pena!”, pensaram os amigos.

Mas, inesperadamente, apareceu no bar a vítima perfeita: Inaldo, um fazendeiro amigo da turma. Posto diante do desafio de diferenciar o peba do tatu, ele declarou que sabia distinguir um do outro “até pelo sabor do caldo da carne”. E foi ditando as diferenças entre os dois: orelhas, coloração da carapaça, focinho...

A ansiedade tomou conta dos presentes, todos "amigos da onça", claro. “Cadê o Marquinho? Liga para ele!”. E todos se puseram a tentar localizar o presepeiro, até que ele atendeu a uma das ligações. Estava indo com a esposa a um aniversário de família, mas, já que estava com a caixa dentro do carro, fez um arrodeio e voltou ao bar, mesmo sob veementes protestos da mulher. Essa ele não poderia perder por nada nesse mundo.

Ao chegar, a cena anterior se repetiu. Com uma calma absurda, Marquinho fez toda uma cena de preparação para o grande momento. Inaldo estava em grande expectativa para demonstrar seus conhecimentos zoológicos e, quem sabe, faturar um peba.

Por fim a caixa foi posta sobre uma mesa, Inaldo se agachou bem em frente à portinhola, pronto para segurar o bicho e... Tcham, tcham, tcham!! O grande pênis de madeira saltou de dentro da caixa com energia, quase entrando na boca do homem. Só não entrou porque Inaldo o segurou bem firme. Com as duas mãos! Enquanto isso a turma toda já estava às gargalhadas, inclusive o mulherio presente.

Seguiram-se minutos e minutos de riso intenso, daqueles de dar dor de barriga. Só a vítima não riu da brincadeira. Depois, chateado, Inaldo murmurou: “Não teve um amigo meu que me piscasse o olho, avisando da pegadinha...”. Mas ora, ora. Amigo tinha muito, mas será que ele nunca ouviu falar de “amigo da onça”?

Pedro Altino Farias, 17/07/2012

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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Amigos da Onça- Episódio III - Confusão no Bar


Era tarde de sábado, e a turma tomava umas no bar de sempre. Sombra, cerveja gelada, polêmicas mil na mesa, e eis que surge uma discussão entre um confrade e um camarada que era apenas conhecido. Os dois foram às vias de fato, logo separados pelo pessoal do “deixa disso”.

Depois de apartados, o quase forasteiro resolveu ir embora para não haver mais confusão. Acontece que o confrade brigão ficou resmungando, dizendo isso e aquilo do outro. Um dos amigos (da onça) presentes à mesa pegou o celular e, escondido dentro do bar, ligou para um orelhão que fica bem em frente ao estabelecimento. Um comparsa atendeu a ligação e chamou o encrenqueiro: “Ei, é pra você.”

Ao atender a ligação, nosso amigo ouviu ameaças, xingamentos e um aviso: “Me disseram que você tá me esculhambando, que vai me dar umas porradas e tal. Pois daqui a cinco minutos eu tô aí para te lascar em bandas!!”, vociferou o que estava escondido no bar, fazendo-se passar pelo forasteiro.

Telefone desligado, o homem voltou à mesa meio pálido e sem graça. Inventou uma desculpa qualquer, pediu a conta, assinou um vale da despesa e se mandou bem ligeirinho. Ao entrar no carro e arrancar em disparada, a turma toda caiu na gargalhada como bons amigos da onça que são. E nosso amigo corajoso? Ainda deve estar correndo pelas ruas da cidade uma hora dessas... Kkkkkk!!


 
Pedro Altino Farias, 10/07/2012


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terça-feira, 3 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio II: O Show Já Terminou

Um romance acabado, uma música tocante e... Um bando de "amigos da onça". A seguir a narração de fato verídico ocorrido no início dos anos 80. Com vocês... 




O Show já Terminou


Casado, o cara teve que acabar um romance extraconjugal porque a esposa descobriu. Depois do rompimento, o homem vivia triste pelos cantos, lamentando o fim do caso, que já era público e notório. Mas os amigos de bar estavam ali prontos para apoiá-lo e ajudá-lo a superar essa fase difícil. Será mesmo?

Também era do conhecimento da turma que o casalzinho separado tinha certa música do Roberto Carlos como predileta. Assim, quando o tristonho amigo saía do bar, os que ficavam esperam um tempo e, então, telefonavam para a casa dele. Esperavam que ele atendesse e colocavam para tocar na vitrola a dita música, que dizia: “O show já terminou, vamos voltar à realidade...”. Aí o homem se desmanchava em soluços. Tanto que a mulher já estava de orelhas em pé com esses telefonemas esquisitos (na época nem se imaginava um dia existir celular).

O desiludido amante sabia que era sacanagem da turma, mas, se reclamasse, aí era que a encheção de saco seria grande, imaginava. E a brincadeira continuava, pois ele sempre corria a atender a ligação com receio que a mulher o fizesse, e piorasse ainda mais sua delicada situação.

Um dia, sem aguentar mais tanta curtição da moçada, abriu o jogo e pediu que parassem de gozação, pois já sofrera o suficiente. Todos se fizeram de desentendidos, e até surpresos em saber da situação pela qual o amigo estava passando. Então, o coitado retrucou soluçando: “Snif, snif, snif... Rapaz, vamu parar com isso. Snif, snif, snif... Assim é sacanagem... Snif, snif... Vocês só tão brincando porque não foi com vocês... Snif, snif, snif...”.

A turma toda respondeu com uma sonora gargalhada, e a noite terminou (bem tarde) numa grande festa. Depois desse dia nosso amado amante amigo nunca mais chorou... Pelo menos por aquela Fulana, não!


Pedro Altino Farias, 27/06/2012


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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Amigos da Onça - Episódio I: Curtição no Autódromo


A amizade masculina tem suas peculiaridades. Os homens, quando amigos de verdade, além de serem solidários e participativos entre si, têm um lado irreverente e brincalhão sempre pronto para aflorar. Como diz o ditado, “perde-se o amigo, mas não se perde a piada”.

Publicarei uma sequência de crônicas com algumas situações verídicas, que poderiam ser tidas como de verdadeiros casos de “amigos da onça” não fosse a forte amizade a unir as duas pontas envolvidas em cada episódio. Para iniciar, fiquem com...


                             Curtição no Autódromo

No início dos anos 80, época ainda romântica, havia um grupo de amigos, todos adolescentes na faixa dos dezoito anos, no máximo, loucos por automóveis e velocidade. Euzébio, cidade da região metropolitana de Fortaleza, abriga um autódromo que foi (e ainda é) palco de muitas pelejas e paqueras naqueles tempos de discoteca, rock e carrões envenenados.

Certo domingo de arrancadas violentas e ultrapassagens arriscadas, autódromo lotado, um dos integrantes dessa turma ocupava um lugar na parte de cima da arquibancada. Entre roncos de motor, goles de cerveja e cantadas de pneus, ele avistou um amigo mais embaixo, curtindo brincadeiras mil com duas belas e jovens garotas. Ficou até com inveja, pois ele mesmo se acompanhava de um marmanjo, outro amigo.

Passando a vista no geral da arquibancada, ele avistou, também, uma amiga da namorada do alegre amigo brincalhão lá de baixo. Prestou um pouco mais de atenção e notou que ela já havia visto tudo o que rolava arquibancada abaixo e pensou: “Isso vai dar uma confusão...”, mas deixou as coisas rolarem.

Acontece que o brincalhão era também afoito e, aproveitando um bom momento, lascou um beijo em uma das beldades ao seu lado. Beijo este que foi correspondido. Daí em diante nem é bom comentar, pois cerveja, calor, velocidade e  aquele ruído ensurdecedor, tudo parecia conspirar a favor e contra aquele rapaz ao mesmo tempo.

Na segunda feira a confusão foi grande. A namorada do brincalhão disse-lhe todas e mais algumas. Ficaram brigados um tempão, até que as coisas foram voltando à normalidade, mas isso à custa de muita adulação. Da parte dele, claro.

Comentando o episódio com o amigo observador, este lhe contou que estava lá e viu tudo desde o começo. “O QUE? TU VIU TUDO E NÃO ME DISSE NADA? PORQUE NÃO ME AVISOU, BICHO?”, bradou o agora não tão brincalhão assim. “Eu não! Tu tava tão animado que não quis estragar tua curtição. Aquela loirinha que tu beijou é muito gostosa, rapaz!”, respondeu o outro despretensiosamente e em tom de desdém.

Ficou certa rusga entre os dois, mas somente até se encontrarem no bar e darem muitas e boas risadas sobre o que ocorrera. Ao fim o brincalhão avisou ao outro: “Cuidado que um dia também te pego,viu!?”. E, já meio bêbados, reafirmaram a boa amizade com um forte abraço.


Pedro Altino Farias, 27/06/2012

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domingo, 17 de junho de 2012

Confissões de um Alcóolico Assumido



Confessar algo é, antes de tudo, uma demonstração de fé no confessor. Nesse momento faço de vocês meus confessores... Não decepcionem!

Comecei cedo, aos treze anos. Um menino! E não parei mais. Somente uns dez dias aqui, uma semana acolá... Não mais que isso. E sempre por recomendações médicas, em virtude de estar tomando algum medicamento. Para quem não me conhece, estou com cinquenta e um. Firme e forte!

No começo era só cerveja e cachaça. Depois veio o rum com coca e a maldita vodka com Sukita. Tomei inúmeros porres de ambos. Vodka, hoje em dia, só bebo em pequena quantidades, pura e retirada direto do freezer; o rum continua a me enfeitiçar vez por outra.

Não tenho exageros para uísque. Em qualidade, eu falo. Em quantidade, como diz um querido amigo, o consumo é em “escala industrial”, embora eu não seja um especialista da área. Para bebê-lo, gosto de duas modalidades: puro, em copo pequeno; ou com gelo, em copo alto. O puro, normalmente tomo em casa, e tem, necessariamente, que ser de boa qualidade. Detesto os copos baixos, mas eles se mostraram muito úteis quando eu bebia e dirigia, pois são difíceis de virar. Na verdade, deixando o “politicamente correto” de lado, eles ainda me servem bastante, quem me conhece sabe.

Adoro cachaça, detesto caipirinha. A última que tomei foi... Deixe-me ver... Ah, lembrei! Meu primeiro porre foi de caipirinha, e, depois dele, jamais! Aliás, a única bebida misturada que gosto é o rum, as outras têm que ser puras ou com gelo, no máximo.

Cerveja é a companheira do dia a dia, embora só sirva para tomar na rua. Em casa é um saco, pois a gente precisa ter vontade minutos antes, para poder botar para gelar e beber minutos depois. E se der uma piscada de olho a mais, congela tudo!

Para cachaça e cerveja, o copo americano serve bem. Se tiver um pequeno para a cana, melhor, senão... Fazer o que? Houve uma época em que as lanchonetes baniram o copo americano, servindo cerveja somente em taças. Até hoje há certo preconceito contra o copo americano (isso precisa ser visto pelo Congresso, talvez criando um sistema de quotas ou algo parecido). Outro dia cheguei num restaurante e pedi que a cerveja fosse servida em um copo desses. O garçom disse não tinha, então peguei um que estava à minha frente, com palitos e guardanapos, dei para ele e disse: “Tome, lave e traga de volta com a cerveja.”.

Tem uma cerveja agora de casco verde, outra, transparente. Cerveja que se preze tem o casco escuro e fim, o resto é invenção. A maioria das cachaças de antigamente vinham envasadas em cascos tipo de cerveja. Essas embalagens de litro são grotescas, a gente toma meio litro e ainda fica metade da garrafa lá. Um vexame! Já com os cacos tipo de cerveja, a gente abre uma zero, toma à vontade, e deixa só um tantinho no fundo da garrafa que ninguém nem vê. Muito mais elegante!

A saideira, ah, a sadeira! Contrariando um mito, declaro aqui que a grande maioria das minhas saideiras estavam rigorosamente programadas. Talvez de cem umas cinco estavam devidamente previstas. Falando em saideiras, esse percentual representa “uma grande maioria”, podem crer, afinal, tudo é relativo, não é mesmo?

Claro que às vezes dá um branco, isso é inevitável. Reconstituir os passos dados durante o porre do dia anterior pode ser uma grande curtição... Ou não! Engraçado que, no meu caso, esses lapsos de memória se dão em situações tranquilas, quando estou mais relaxado. Certa vez tomei todas e vinha dirigindo numa avenida larga e iluminada. Meu GPS natural apontava corretamente para o norte, mas eu não reconhecia a trajetória, não fazia ideia de onde estava. De repente reconheci um prédio e localizei-me. Desse momento em diante não me lembro de mais nada. Foi como se eu acionasse o piloto automático do carro, ou meu anjo da guarda me conduzisse com todo cuidado e carinho até minha casa.

Tenho algumas manias. É normal estar ouvindo uma música no som do carro e assobiar outra ao mesmo tempo, por exemplo. Outra é que gosto de tomar umas doses quando chego em casa do trabalho à noite. Não raro levo copo e um refil com cachaça para o banheiro. Acompanham queijo ou azeitonas num pires. Uma vez instalado no “trono”, tomo umas lendo algo e ouvindo o noticiário que rola na tevê do quarto. Depois de umas três ou quatro, o banho tem outro sabor. Pena que o noticiário, com tanta corrupção à solta, não ajude nesses momentos de relax.

Mas naquelas horas especiais não faço questão de birita. O foco é outro, e bebida só atrapalha. Cachaça deixa um bafo impróprio ao momento. Cerveja requer algumas idas inconvenientes ao banheiro. Não combinam. Escapam o uísque e o vinho... Ah, o vinho! Ideal para a ocasião, mistura sabor, aroma, charme e sensualidade. Tudo muito moderado, muito sutil e quase sempre com a vantagem da cumplicidade.

O papo está bom, mas já passou de uma página, hora de parar. Espero que perdoem minhas omissões, os dias em que não estava muito a fim, ou que sai cedo demais dos bares da vida por causa de algum aniversário. Sei que não preciso pedir perdão aqui pelos dias em que eu não bebi por estar de ressaca, nem pelas brincadeiras com a turma, sempre feitas sem intenção de magoar.

Espero que me imponham uma penitência tanto pesada quanto líquida, mas que seja, também, geladíssima. Em caso de destilados, que a coisa comece com um litro zerado, e gelo de boa qualidade. Estou pronto para o que der e vier, mandem daí e dou meu jeito daqui.


Pedro Altino Farias, em 10/06/2012

 
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domingo, 3 de junho de 2012

Politicamente (In)Correto



Éramos felizes. Mais felizes, melhor dizer assim. O “politicamente correto” dos dias de hoje tirou a espontaneidade da expressão e censurou a linguagem quando o que se queria dizer era exatamente aquilo, com aquelas expressões: cego, aleijado, retardado, nego, velho... Perdeu-se a ênfase, o transbordamento da ideia.

Antes desse novo e maldito tempo em que vivemos, quando a vida era mais ou menos como ela era de fato, aconteceu um episódio que agora vou narrar, sem pedir licença nem perdão a quem quer que seja, pois foi assim que ocorreu.

Saí um dia do trabalho e fui tomar uma cerveja num bar próximo. O estabelecimento, quatro metros e meio de largura, duas portas, sem recuo frontal ou lateral, era uma casa estilo antigo feita de bar. Entre o balcão e a entrada, espaço apenas para três mesas daquelas de flandres, além do balcão.

Ao adentrar a casa me deparei com João Ricardo, caboclo tão parrudo quanto ingênuo, numa das tais mesas. João era responsável pela manutenção das máquinas da empresa em que eu trabalhava, prensas e caldeiras dentre outras. Serviço pesado.

Ele, que tinha à época uns cinquenta anos, puxava da perna direita devido a uma paralisia, e por isso era conhecido por “João Perneta”. Mesmo assim dava conta de suas tarefas sem uma reclamação sequer.

Ao chegar ao bar vi João tomando uma bebida, e seguiu-se uma conversa mais ou menos assim:
- O que tu tá bebendo, João?
- Cachaça com Coca-Cola.
- O que? Cachaça com Cola-Cola? Isso é bebida de viado, porra! Se manca, bicho!! Homem que é homem bebe cachaça é pura, João!

E deixei João lá na mesa, sozinho com sua birita, enquanto tomava minha cerveja e conversava com um ilustre desconhecido que acabara de chegar. Ao sair, deparei-me com nosso tolo amigo, agora bebendo cachaça pura, e...
- O que tu tá bebendo agora, João?
- Cachaça pura!
- E tu é baitola é, homem? Só porque eu disse que tomar cachaça com Coca-Cola é coisa de viado tu foi tomar ela pura? Tu num tem gosto nem opinião não é? Acabe com isso, João, se você gosta de beber cachaça com Coca-Cola, então beba! E não se importe se lhe chamarem de viado. Putaquipariu, João!
- Que saber de uma coisa? Eu num tô entendendo mais é nada. Vou s’imbora que moro no Pirambu (bairo pobre de Fortaleza) e quando chegar em casa inda vô ter que guentar desaforo da muié...
- O que? E ainda por cima é babaca, barriga branca?...

Pedro Altino Farias, em 25/06/2012


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terça-feira, 29 de maio de 2012

Dois Amigos, Duas Pendências



Era uma vez dois bons amigos. O primeiro morava com a mãe de sua esposa há anos, numa boa e confortável casa. Lá o casal criou os filhos e viveu em harmonia sem perceber o tempo passar. Um dia a boa senhora teve que partir, e o casal, que há tantos anos a fazia companhia, viu-se na necessidade de se mudar com os filhos para um apartamento que compraram tempos atrás. Um ótimo apartamento, aliás.

O segundo, viúvo há anos, conheceu uma jovem de jeito simples, simpática e muito elegante. Aos poucos ele foi cedendo espaço e dividindo coisas do dia a dia com ela, também sem se perceber. A jovem cativou a amizade dos amigos dele, com os quais ele se encontra freqüentemente nos bares da vida. Chegaram a um ponto em que ou seguiam adiante formalizando a união, ou o relacionamento iria sofrer um desgaste continuado até se exaurir.

Especialista em fabricar móveis projetados, foi contratado pelo primeiro para mobiliar seu apartamento. Os móveis foram fabricados e instalados com todo esmero e carinho pelo amigo enamorado. Apartamento pronto, nada de mudança. As semanas foram passando, meses também. Talvez não tenha ultrapassado a marca de um ano completo, mas o fato é que a família não estava pronta para mudar. O experiente chefe da família deixou que o tempo passasse mais um pouco... Lentamente. A mudança somente se daria quando todos estivessem firmemente decididos.

Assuntos de família à parte, o que rolava nas mesas de bar freqüentadas pelos dois amigos eram suas pendências ou... Embromações. Um com a mudança, outro com o casamento. Brincadeiras de amigos, claro. Um dia o segundo disse ao primeiro: "No dia que você mudar, fico noivo e marco o casório!"

Passaram mais algumas semanas desde então, mas ambos percebiam dentro de si que o dia "M" (de Mudança) se aproximava silenciosamente, até que numa sexta feira o segundo recebeu um telefonema do primeiro que disse apenas: "Amigo, mudei!". E logo no sábado seguinte o segundo trocou alianças com a jovem, oficializando o noivado. Mas... Quando vai ser mesmo o casamento?


Pedro Altino Farias, em 05/10/2011
altino@pelosbaresdavida.com.br



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terça-feira, 22 de maio de 2012

Don't Stop! Keep Walking!


Não pare! Continue caminhando! Se estiver cansado demais, diminua o ritmo, mas não pare. O mundo se transforma à nossa volta em segundos. Paisagens e cenários mudam a todo o momento. Se você parar, quando for retomar a vida, pode ser que desconheça completamente quem é, onde está, o que faz ali, em qual direção deve seguir.

Não pare! Observe as pessoas. Absorva os sentimentos delas, processe tudo em seu íntimo, e depois exale os seus próprios. Não saber dos sentimentos alheios isola e aliena. Não externar os seus, torna-lhe um ilustre desconhecido, afinal, somos o que somos pelo que pensamos e sentimos, e se você esconder o que pensa e sente do mundo, ou será visto de forma equivocada pelos outros, ou não será visto de forma alguma. Esse processo é contínuo e interminável, portanto, não o interrompa, não pare!

Não pare! Não desista de tudo. Adapta-se às circunstâncias, mas não pare. Seja sempre solidário. Ser solidário fortalece o espírito. Agindo assim você estará seguindo a única lei verdadeira da humanidade, que é praticar a bondade. Por menos que tenha, por mais ocupado que seja, por mais magoado que possa estar, não pare... Pense, reflita... Continue. Se você parar, perderá mil sorrisos e sonhos, e quando quiser tê-los de volta eles já terão se evaporado no tempo... Porque o tempo não para!

Não pare! Continue sempre! Essa é a lei da vida. As águas dos rios correm para o mar incessantemente, o vento percorre toda a superfície do planeta em minutos, a Terra gira, constante e inconscientemente, em torno do sol. Em todo lugar a vida pulsa com vigor, se você parar estará em desacordo com tudo o que existe ao seu redor. Eu sei que às vezes cansa... Nosso mundo massacra e atordoa (e pensar que fomos nós mesmos que o construímos assim, que ironia!). Se estiver se sentindo esgotado e sozinho, essa é a hora de pensar, refletir, ajustar o corpo à mente, a mente aos sentimentos, inventar uma nova “moda” para você mesmo... E seguir em frente. Mas não pare!

Não estamos aqui para parar. Continue! Se nosso coração parar a vida se vai. Se nossos pulmões pararem de aspirar e expirar nosso organismo entra em colapso. Se você parar, terá que fazer um esforço descomunal quando resolver continuar. A inércia é enorme, acredite... E aí talvez esse seu coração não suporte, e seus pulmões não encontrem oxigênio suficiente para lhe saciar as necessidades... E talvez você já não esteja mais aqui nesse momento, e sim numa dimensão que não conhecemos. Estando lá, nesse lugar, você verá que, embora tenha tentado, não conseguiu parar, apenas inverteu a ordem natural das coisas... Quem sabe à custa de muita dor e sofrimento, por isso, não pare!

O tempo é este, estamos aqui, todos juntos. Essa é a hora, esse é o momento. Então, nada de maus sentimentos. Nada de rancorezinhos, invejinhas, desentendimentozinhos, intrigazinhas... Isso tudo diminui e atrasa. Não vale a pena...

Sendo assim, Relaxe! Vamos aproveitar para cantar e dançar, trabalhar e descansar, falar e ouvir, cair e levantar, amar e perdoar, chorar e sorrir, agradecer e ajudar, superar e construir, dar as mãos e caminhar juntos rumo a um futuro que somente é desconhecido e temido por quem não está preparado para ele.

Por tudo isso, desejo a você um bom presente, e que esse presente lhe conduza a um futuro de muita paz e amor. Mas lembre-se sempre: Não pare! Continue caminhando!


Pedro Altino Farias, em 21/05/2012


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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mau Gosto - Opinião



Há algum tempo recebi um e-mal com vídeo de uma modelo (não lembro o nome) que se descontrola perante uma equipe de reportagem que foi à sua casa. Em estado de histerismo, ela se despe perante a câmera e dispara um desabafo comovente. Ela se despe mais de espírito que de corpo, embora tivesse ficado completamente nua por alguns minutos.

Outro dia recebi também um e-mail com um vídeo anexado em que uma jovem adolescente é surpreendida pelo pai quando curtia brincadeiras íntimas pelo msn com alguém. O pai a agride violentamente, com palavras e atos. Ela entra em desespero, e o vídeo acaba provavelmente com a quebra do computador pelo pai possesso.

Recentemente devo ter recebido uns trinta com fotos da Carolina Dieckmann. Nos três casos houve uma violenta invasão de privacidade, pois não era vontade de nenhuma dessas mulheres citadas se verem expostas a brincadeiras, comentários maliciosos e risos de gente de toda espécie. Isso é o que podemos chamar de SACANAGEM, bem diferente da pornografia usual, na qual as pessoas se mostram nas situações mais extravagantes por vontade própria, quer seja motivadas pelo dinheiro, quer sejam por tesão mesmo. Os antigos filminhos da Xuxa, por exemplo, são públicos, ela ganhou dinheiro para fazê-los e achou bom quando ficou famosa, então...

Sem querer ser moralista ou piegas, considero que repassar e-mails dessa natureza é um ato de mau gosto e falta de respeito. É corroborar, e mais que isso, é ser cúmplice do mau caráter que praticou essa sacanagem. É fazê-lo obter êxito em sua falta de respeito ao próximo. Pessoal, o mundo tá cheio de gente a fim de se expor. Tem de tudo para todos os gostos. Vamos deixar quietas as pessoas que querem ficar quietas.




Altino Farias, em 15/05/2012

domingo, 13 de maio de 2012

Sopa de Palavras


Há algum tempo participei de um treinamento profissional desses cheios de lugares comuns, que unem o nada a coisa nenhuma, o óbvio ao deduzível, o inútil à conversa fiada. E pensar que perdi umas duas ou três quintas feiras com a turma do bar por isso...

Mas acabei me divertindo um pouco com a coisa. Escrevi um texto cheio de palavras, mas que não dizia absolutamente nada e assinei como sendo de um certo Piter Small. Levei para a sala e li para o grupo. Todo mundo ficou voando, como sempre, mas o instrutor elogiou muito minha “pesquisa”. Com vocês...


O Auto Conhecimento no Desenvolvimento de Competências


Para que consigamos nos desenvolver individualmente necessitamos trabalhar nosso auto-conhecimento, identificando nossas carências e deficiências, de modo a direcionar nosso aprendizado e treinamento ao que nos interessa de fato. Ocorre que, como premissa para que saiamos desse ponto de partida, é condição que estejamos bem com relação à nossa auto estima, pois, caso contrário, qualquer tentativa de alterar a ordem das coisas esbarrará numa inércia muitas vezes intransponível.

Uma vez vencida essa primeira etapa, trabalhos e treinamentos direcionados, desenvolvidos em grupo e/ou individuais, focados no desenvolvimento das habilidades nas quais estejamos deficientes, necessitam de um feed back como forma de atestarmos a nós mesmos os resultados esperados. Para tanto devemos ter uma postura pró-ativa para que provoquemos os indivíduos com os quais mantemos relações interpessoais, complementando e encerrando essa etapa do aprendizado.

A partir de então temos que ter a consciência que nos mantermos na zona de conforto, tanto acomoda como reprime nosso desenvolvimento de uma forma geral. Ter uma visão sistêmica numa ocasião dessas muito auxilia o indivíduo a saber identificar o momento presente para, a partir de então, procurar esse aperfeiçoamento de competências que lhe permitirá desenvolver um maior potencial pessoal e profissional.

Desnecessário dizer que em tudo devemos ter em mente que a gestão de pessoas é um dos alicerces primordiais do bem gerir qualquer negócio. É através dessa gestão que elementos como liderança, autoridade, feed back, habilidades e competências irão fazer a diferença entre o sucesso e o insucesso de um gestor, tendo este que ser plenamente capaz de, mais que enfrentar mudanças, sugeri-las e promovê-las, pois é através de mudanças que gira essa imensa engrenagem do conhecimento e das relações corporativas.

Mas como identificarmos essas nossas deficiências em algumas competências? Ora, a auto avaliação é um dos instrumentos que deve ser largamente utilizado pelos bons gestores, pois o dia-a-dia, e as necessidades da equipe e da empresa como um todo, vão nos indicar esses fatores, cabendo a nós sabermos identificá-los. Outro bom dispositivo é seguirmos as diretrizes da corporação em se tratando de aperfeiçoamento de métodos e sistemas, pois essa evolução acarretará, necessariamente, na evolução de seus gestores em paralelo.

Agora só nos resta ficarmos sempre atentos a quando formos chamados a empreender e absorver mudanças, sejam de sistemas, relações interpessoais ou de atitude. SEMPRE!


Autor: Piter Small
Tradução: Simone Vernner


domingo, 6 de maio de 2012

O Grito - Comentário de Reginaldo Vasconcelos



Caro confrade Altino,


Li teu texto várias vezes, para analisar a profundidade da mensagem. Ao final, pude decodificar a linguagem lírica que utilizas na tua prosa poética, vazada em linguagem conotativa.

Especulas principalmente sobre a vida não biológica, portanto metafísica, exatamente o objeto do estudo que faço no meu livro Euthymia, de cunho denotativo, que está no nosso blog (http://www.academiacearense.blogspot.com/).

Então, é como se teu texto fosse a descrição, sentida e real, de uma tempestade, por quem a vivenciou diretamente, e o meu texto fosse a análise fria de um meteorologista, expondo os comos e os porquês do mesmo fenômeno natural.

Por outra, tua crônica seria a descrição, feita por um gourmet, rica e pormenorizada, de um prato gastronômico já produzido, com suas cores e sabores, e a minha análise fosse a formulação da receita, com seus ingredientes, quantidades, sua ordem e seu tempo de cocção, relatada pelo chefe de cozinha.

Dizes tu que a vida metafísica está centrada no trabalho, para alguns, para outros na profissão de fé, e, para terceiros, na família. O meu estudo indica que todos esses fatores são essenciais ao ser feliz.

A família está no pé do afeto, e sobre este está a perna da “transcendência”, na estrutura do nosso corpo metafísico. A religião é a transcendência, assim como para outros a transcendência é o partido político, e ainda, para outros, seria a paixão futebolística.

E o trabalho? O trabalho está na outra perna, a perna do “engajamento”, que se firma sobre o pé da vocação. Claro que quem não é feliz no amor conjugal mais se apoiará na transcendência (religião, ideologia, futebol...), ou até na outra perna, trabalhando loucamente. Mas o fato é que falha em qualquer desses membros metafísicos enfraquece o corpo sutil do indivíduo como um todo, de modo a tornar mais pesada a maromba representada pelo estresse normal da vida, o que torna difícil ser feliz.

Não sei se me fiz entender.

Reginaldo Vasconcelos
Membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo - ACLJ

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Grito



Alguma vez você já perdeu a vida? Será que não mesmo?
Outro dia ouvi “Sangue Latino”, música dos Secos e Molhados que diz num trecho:

“Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo...
E o que me importa é não estar vencido...
Minha vida meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino,
Minh’alma cativa...”


E comecei a pensar... De um modo geral, consideramos como vida somente a atividade biológica, mas há outras formas de vida. Há indivíduos que consideram seu trabalho como sendo sua própria vida. Outros, têm por vida um sólido patrimônio. A fé religiosa é a vida de muitos. O mais comum é termos em nossos entes queridos nossa vida. Por eles se morre, se mata. Sem eles “não dá pra ser feliz”, disse Fagner noutra canção. Passei então a ordenar as ideias mentalmente. Depois transferi tudo para o “papel”. Após poucos retoques, o resultado foi o pequeno texto que segue. Depois de lê-lo, pense novamente... Talvez perceba que em algum momento você já perdeu a vida.



O Grito


Lancei um grito de desespero: socorro, estou cansado, minha vida corre perigo! Fui atendido em minha súplica, mas, por ironia, acabei ficando à deriva. Perdi o rumo, quase a vida. Meu norte se confundiu com o sul; leste ou oeste, não fazia diferença, todas as direções levavam ao mesmo lugar: um abismo profundo, frio, vazio, e escuro. Difícil sair sozinho.

Mas não foi logo assim. Quando cai, esperneei, gritei de novo, mas desta vez não fui ouvido. Ninguém do lado de fora entendia onde eu estava, o que passava. Não ouviram meus apelos. Não ouviram minha vida, que ainda pulsava.

O cansaço me levou mais ao fundo. O que me parecia luz era, na verdade, escuridão, ilusão; e eu desci mais um pouco nesse imenso fosso sem fim.

Como num filme de suspense, fui salvo pela mocinha no último segundo... Talvez até um instante depois dele. Enquanto ela me segurava firme pelo coração, o que me sustentava até então desabou sob meus pés, pois era pura ilusão de fato.

O caminho de volta ao topo não está sendo fácil. Tempestades, vendavais. Pedras rolaram sobre mim, às vezes me machucando profundamente, mas continuei seguindo em frente, subindo, sempre levado pelo coração. Queria vida!

Depois de muito, vi o Sol e a Lua e as estrelas. Senti uma brisa fresca e suave tocar meu rosto suado, e toda a verdade de um sorriso ingênuo, um abraço amoroso. Embora esteja infinitamente melhor que ontem, ainda sofro pela minha vida, ainda grito: quero minha vida de volta!

Pedro Altino Farias, em 23/12/11

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domingo, 15 de abril de 2012

Não Sobrou Um Segundo


Quando não resta um segundo sequer, a atitude e a vontade traduzem mil sentimentos, em todas as suas verdades e intensidades. (Altino Farias)


Não Sobrou Um Segundo


A notícia surpreendeu. Ficaram felizes. Muito felizes. Radiantes. A correria foi grande para prepararem tudo. Quase não deu tempo. A distância que se estabeleceria entre eles preocupava e doía, mas aquela chance não poderia ser perdida.

Recomendações, telefonemas, despedidas, esquecimentos últimos. “Será que ainda dá tempo?”, perguntou um. “Estamos em cima da hora!”, foi a resposta. Às vezes é melhor não arriscar. Prudência!

Desejariam correr mais ainda, mas o trânsito caótico frustra e desespera. Em certas ocasiões leis e regras viram pó diante de algo maior, mesmo que este “algo” seja uma necessidade ou interesse particular e imediato. Tudo o mais é automaticamente ignorado nessas circunstâncias.

Ela foi, ele ficou; separados pela geografia e a obrigação de uma oportunidade única. Na despedida não sobrou um segundo sequer para uma troca de beijos... Mas se beijaram mesmo assim. Um beijo inesquecível!


Pedro Altino Farias, em 11/04/2012
altino.frs@gmail.com

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terça-feira, 10 de abril de 2012

Um Velho Sofá





Um dia já foi um dia brinquedo de menino. Numa fantasia, foi feito de pula-pula... Até que a mãe soltasse um berro lá da cozinha chamando sua atenção e mandando-o parar com aquela algazarra.

Foi também alcova de namorados. Na penumbra da meia luz, entre suspiros e gemidos, eles se acariciavam e se tocavam com malícia e desejos inocentes, mas ruídos vindos lá de fora denunciavam: chegaram!

Os convidados se acomodavam no sofá para drinques, petiscos e boas prosas. Confortáveis, os casais, anfitriões e visitantes, não sentiam as horas avançarem pela madrugada, e quase sempre eram necessários braços para erguer do estofado um que ultrapassara um pouco a fronteira da sobriedade.

Para o marido, expulso do quarto em momentos de ira, foi porto seguro no exílio. Depois de uma noite mal dormida pela mágoa, acordava sempre doído e incomodado, mas agradecido pela acolhida que tivera daquele bondoso sofá, sabendo que ele havia dado o melhor se si para confortá-lo.

Também serviu para aquela simpática senhora, misto de mãe, sogra, irmã, avó e... Filha teimosa. As tardes assistindo TV a pouparam de passar horas e horas no vazio de um tempo perdido no passado. E o conforto daquele mesmo sofá, que parecia abraçá-la carinhosamente, fazia com que ela se sentisse protegida e segura.

E agora? Agora ele jaz, insolitamente abandonado, no meio da rua, sem entender o porquê daqueles carros e pessoas desconhecidas, que passam de uma lado para o outro sem nem lhe perceber...

Pedro Altino Farias, em 10/04/2012
altino@pelosbaresdavida.com.br

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terça-feira, 27 de março de 2012

O Ratto e o Queijo de Cem Contos



Tratam-se carinhosamente por Rattos: Ratto Pai, Ratta Mãe, Ratta Filha e Ratto Filho. Rattinho e Rattinha são diminutivos inevitáveis. É assim porque fazem ratices como, por exemplo, abrir parcialmente potes de requeijão sem retirar completamente o lacre, deixar farelos de pão na mesa, ou comer o último pedaço de pudim e guardar a forma vazia na geladeira como se ainda contivesse alguma coisa. Além de todos gostarem de queijos, claro. O “T” dobrado é para diferenciar dos roedores comuns.

Pois bem, naquele dia, Ratto Pai foi ao centro da cidade desbloquear o cartão magnético de sua conta bancária, que, de uma hora para outra, negava-se a realizar saques e depósitos. Restabelecidas a funções do cartão, fez uma retirada de cem reais para atestar que estava tudo certo. A operação foi realizada com sucesso! Na sequencia, aproveitou a viagem e passou num tradicional comércio especializado em queijos da terra, onde comprou uma peça de quilo e meio de coalho, pagando a despesa com a nota de cem, que pouco tempo passou no bolso de sua camisa.

Chegando em casa à noite, fez um balanço dos gastos do dia, dando por falta de certa quantia. Refez as contas, fez de novo. O saldo não fechava com o que deveria ser. Depois de muito pelejar com a calculadora, percebeu que lhe faltava o troco do queijo, algo em torno de setenta e cinco reais. Primeiro ficou chateado com o prejuízo, mas, depois, resolveu curtir a situação.

Assim, quando a Ratta Mãe chegou do trabalho, deparou-se com uma cena inusitada: o Ratto Pai estava sentado solenemente à cabeceira da mesa da sala de jantar, com uma garrafa da melhor cachaça posta à sua frente. Acompanhavam dois pequenos cálices de cristal, talheres finos, azeite de boa qualidade, prato de porcelana onde repousavam cubinhos de queijo e guardanapos de linho. Tudo isso sobre uma delicada toalha e com uma música suave ao fundo.

“Mas quediabeisso, Rattinho?”, quis saber a esposa, curiosa e já rindo da marmota. “Mulher, é precioso muita pompa e circunstância para degustar um queijo coalho de cem contos!”, respondeu ele, explicando em seguida, tim-tim por tim-tim, o que ocorrera naquele dia. Como havia um segundo lugar posto à mesa, ela resolveu lhe fazer companhia naquela ratice, e saborear, também, o tal “queijo de cem contos” com uma boa cachacinha. Dizem que estava uma delícia!


Pedro Altino Farias

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terça-feira, 6 de março de 2012

Mulher é Muito Mais!



Mulher não é somente luz, é brilho.
Seus olhos mais que veem, adivinham.
Tem um coração sempre pronto para o perdão,
E um corpo que aquece, salva e dá vida.

Possui mãos delicadas, mas sempre prontas para o trabalho pesado;
A capacidade de acalmar uma furiosa tempestade;
Ou transformar-se, ela mesma, num verdadeiro furacão.
E quando repreende ou nega, é quem mais sofre.

Necessária? Não, imprescindível!
Caridosa? Não, sensível!
Sonhadora? Não, romântica!
Perfeita? Não. Muito mais que isso: SUBLIME!

Pedro Altino Farias
altino@pelosbaresdavida.com.br




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