terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Festa



A festa prometia. Exigia preparativos. Um jeito no cabelo, roupa inédita, sapatos. Encontraria pessoas especiais naquela noite, portanto, deveria ser especial também. Fora convidado por ilustre figura. Tão ilustre que nem o conhecia pessoalmente, só de nome e ouvir falar.

Mandou lavar o carro. Lavagem completa. Estava precisando mesmo, e ir num carango limpinho e cheiroso fazia parte do clima.

Correu para dar conta dos preparativos pela manhã. Aproveitou a tarde para descansar, afinal, o embalo seria esticado, até alta madruga, talvez vendo a noite virar dia.

Quando chegou, todos lhe sorriram, fizeram gentilezas, mimos até. Não conhecia aquelas pessoas, mas, aos poucos, foi se familiarizando com cada um. Uns mais bacanas, outros mais reservados, alguns poucos chatos. Mas estava ali, e não lhe cabia excluir esse ou aquele da roda de papo já que todos eram convidados do mesmo anfitrião.

Depois de um tempo estava plenamente ambientado. Uísque do bom, canapés, boa música. Mas os sapatos apertavam-lhe os pés, a coluna doía, uma azia começou a incomodar o estômago. E que calor!! Queixou-se a quem estava por perto desses pequenos incômodos, que pareciam bem maiores do que eram na verdade. Mas a festa estava ótima, nem pensar em ir embora. Muito ainda estava por vir.

De repente, uma mensagem do anfitrião no celular lhe convocando a ir a outro lugar. Sentiu-se impotente para negar. Saiu às pressas, conduzido por alguém que lhe parecia familiar, sem se despedir de ninguém, e sem entender bem o que sucedia. 

Os que ficaram sentiram sua falta. “Saiu tão cedo... No melhor da festa!!”. Ele mesmo achava que perdera muito, mas... Quem sabe...? 

Trânsito confuso, muitas luzes. Uma breve tontura. Estaria embriagado? Sem saber ao certo para aonde estava indo, sentiu-se leve, permitindo que agora sentisse que o carro deslizava suave e silencioso naquela avenida sem fim.


Pedro Altino Farias, em 02/07/2013 


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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Nossos Mundos



O mundo é plural. Cada um tem o seu. A verdade também, sempre disposta a servir ao seu senhor.

O mundo de cada um, por sua vez, se desdobra em outros tantos. Seu trabalho é um mundo, sua família, outro; saúde, amigos, futebol, problemas. Mundinhos pessoais, necessários, importantes, suficientes... Ou nem tanto.

Para que consigamos ir em frente sem grandes sobressaltos, é preciso que nossos mundos interiores estejam em harmonia entre si, ou, pelo menos, boa parte deles. É como se girassem ao redor da nossa consciência a uma velocidade estonteante em órbitas próximas e bem definidas. Assim, se um falhar, temos outros tantos a dar suporte.

Além desses mundos interiores, interagimos com os mundos de outras pessoas, conhecidas ou não, amigas ou não, constantemente e em múltiplas relações fabulosamente complexas.

Ora, não é de se estranhar que vez por outra a coisa desande, embaralhe, confunda-se, misturando verdades e verdades. Paciência.

Nessas horas, aqueles mundos mais estáveis que trazemos dentro de nós seguram as pontas, fazendo a diferença para que um “caos cósmico”, num efeito em cadeia, não perturbe toda a paz ao nosso redor.

Por isso tudo é sempre bom que tenhamos, também, um grande Sol conosco para nos ajudar a manter a casa em ordem...


Pedro Altino Farias, em 12/08/2013



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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Navegar é Preciso - Dia dos Pais


“Navegar é preciso, viver não é preciso”. Século I a.C., Roma enfrentava séria crise de abastecimento de gêneros alimentícios por causa de uma rebelião de escravos. Seus habitantes sucumbiam à fome. O general Pompeu recebeu a missão de abastecer a capital do império com trigo vindo das províncias. 

Para tanto, teria que deixar o sossego da Sicília, onde se encontrava, e enfrentar os perigos do mar com instrumentos de navegação imprecisos, barcos frágeis e frequentes ataques de navios pirata. Foi nesta ocasião que, segundo o historiador Plutarco, Pompeu teria proferido a célebre frase: “Navegar é preciso; viver, não é preciso”.

Séculos mais tarde, Fernando Pessoa, poeta lusitano, imortalizou em versos as palavras do general romano. Pessoa foi além de Pompeu, dizendo que o pensar se sobrepõe à própria vida, que ideias e criações permanecem após a morte. Então, “Navegar é preciso; viver, não é preciso”.

Meu saudoso pai, arquiteto Armando Farias, viveu por meros quarenta e sete anos, dos quais eu compartilhei apenas treze, mas navego em sua companhia até os dias de hoje, e sempre navegarei, porque... “Navegar é preciso; viver, não é preciso”.

Ser pai, ser filho, é um eterno navegar. Ora em mares tranquilos e sob céu claro, ora enfrentando tormentas, raios e trovões, mas sempre navegando, assim: juntos e sempre.

Aos amigos que são pais, aos pais dos meus amigos, a todos os pais e filhos, que encontrem na brisa e no sol um navegar tranquilo e sereno, e que na volta haja sempre um porto seguro onde atracar, mas atenção: não deixem de navegar nunca, porque...


Pedro Altino Farias, em 05/08/2013

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