terça-feira, 31 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio VI - Ô Remedinho Bom!

Histórias de amigos da onça pelos bares da vida há ainda muitas e muitas. Mas para encerrar essa série, deixo vocês com...  


Ô Remedinho Bom!



Cabeção é um senhor de setenta e poucos e ainda na ativa, percorrendo diariamente bares variados, frequentados por confrarias variadas, onde mantém papos igualmente variados, ou nem tanto.

Outro dia o coitado levou uma queda desastrada. Não, não bateu com a cabeça no chão, mas fraturou duas ou três costelas. Depois do acidente ele ficou uns dias de repouso, e foi voltando à sua rotina normal aos poucos.

Mesmo liberado para dar uns passeios, continuava sentido pontadas agudas sempre que respirava mais fundo. Espirrar e tossir, nem pensar.

Em pouco tempo já estava de volta à velha labuta, vertendo, ao invés das habituais doses de uísque ou copos de cerveja, vinho. Duas garrafas, em média... Mesmo sentido dores na região do tórax. E qualquer mau jeito... Áiiiii!

Então, os velhos amigos e parceiros de bar resolveram se cotizar para dar ao Cabeção um remédio que lhe livraria daquelas incômodas pontadas nas costelas. “É tiro e queda!”, afirmou um. “Ô remedinho bom!!”, exclamou outro. “Amanhã tu já vai tá bonzim!”, prometeu mais outro.

Depois de grande suspense, passaram a Cabeção um pequeno embrulho, que continha uma latinha. “Peraí, deixa eu botar meus óculos!”, pediu nosso amigo acidentado querendo saber, afinal, que remédio milagroso era aquele, mas... Ao desembrulhar o pacotinho, Cabeção deparou-se com uma latinha de... RAPÉ! Nesse momento todos caíram na gargalhada, tendo como “fundo musical” os impropérios bradados por Cabeção (@>*%”º**##@%><##!!!).

Mas o melhor de todas essas histórias, verídicas e das quais sou testemunha, é que nenhuma amizade ficou abalada, ninguém ficou puto por mais que cinco minutos, e todas acabaram em grande festa. Bons amigos, esses ”amigos da onça”...


Pedro Altino Farias, 31/06/2012

ATENÇÃO:

Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio V - A Turma do "0800"

Todo botequim de corriola que se preze tem entre seus frequentadores, pelo menos, um bebim, um chato e a turma do “0800”, e é sobre uma turma dessas a história que vou contar...



Turma do 0800



Na corriola do “bar de sempre” há um certo Chico Mineiro. Como o próprio apelido traduz, o homem é de Minas, mas mora no Ceará há anos. Exímio cozinheiro das gostosuras de sua terra natal, faz as vezes de “amigo da onça” quando lhe bate inspiração. Somente a título de introdução, vou contar uma do Chico.

Um dia ele chegou em casa, um belo apartamento de classe média em bairro nobre de Fortaleza, com uma galinha caipira viva nas mãos, e foi logo dizendo à secretária:

- Ô, amarriessagalinhali na mesa e amanhã cêmatela p’reu cozinhá pru armoço.
- Ah, seu Chico, eu num sei matar galinha, não - respondeu a empreguete de plantão.

- Tem nadanão. Deixe quieu mesmato, intão – retrucou Chico.
 
No dia seguinte pela manhã Chico pegou a galinha, abriu suas asas pisando em ambas as extremidades, deu um golpe em seu pescoço fazendo o sangue jorrar e... Soltou-a na cozinha. A ave se debateu por minutos e foi sangue para tudo que é lado!! A secretária teve um trabalho imenso para deixar tudo limpo de novo e ficou muito pau da vida com o lance.

Quinze dias depois Chico chegou com outra galinha, e foi logo mandando a secretária prendê-la para que ele a matasse na manhã seguinte, ouvindo como pronta resposta:

- Se preocupe não, Seu Chico, que eu mesma mato. Minha mãe já me ensinou como se faz.

Imaginem se ela deixaria o Chico fazer aquele desmantelo de novo na cozinha...

Pois bem, um sábado Chico ligou para o Magão, dono do bar, perguntando quem estava lá. Magão soltou a lista dos presentes. Todos da turma do 0800. Chico então anunciou: “Aviselesaí quitôaqui ejeitano um cozidão e chego já”. O recado foi repassado, deixando neguim com água na boca, aguardando Chico chegar com o rango.

Quando o Minerim chegou, segurando uma panela de pressão envolta em um pano de prato devido à quentura, um dos presentes disparou: “Ei, Magão!! Trás prato e talher que o Chico chegou!! Cadê, Magão?? Parece que tu tá abestado hoje!! Deixa de ser lesado e trás logo esses pratos, homem!!”

Magão chegou à mesa com pratos, talheres e uma concha. O mais apressadinho quase tomou a concha da mão do dono do bar, abriu a panela, mergulhando a dita cuja no caldo, e... Somente nesse momento foi que ele se deu conta do odor que havia tomado conta do ambiente. Observou com mais cuidado e viu um caldo descorado, ralo, e que exalava um cheiro esquisito. Mexeu e remexeu a concha, trazendo à tona puxadores de gaveta, pedaços pequenos de madeira, ferrolhos, cacos de alguma coisa e mais outras tranqueiras. Tudo devidamente temperado com caldo de galinha em cubinhos e etc.

“Mas o que é isso, Chico?”, quis saber, o inconformado e desiludido líder do grupo - o mesmo apressadinho da concha. “Ô, sô. Équi fiz umareforma láimcas e sobraram unscoisinhas e eu resolvi fazê um tiragosto procês pra num jogá fora.”, respondeu candidamente nosso “amigo da onça” made in Minas.

Quem estava no bar naquele momento? Ah, todos negam a presença no episódio. Não estava esse, nem aquele, nem ninguém. Mas o Magão e o Minerim sabem muito bem quem foram os protagonistas desse caso típico de “amigo da onça”. Quem quiser saber, pergunte a eles.

Pedro Altino Farias, 24/07/2012


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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio IV - Peba ou Tatu?


Um sexta à noite, um bar, biritas... E uns tantos "amigos da onça" a papear... Só podia dar nisso mesmo...



Peba ou Tatu?


Marquinho é um grande presepeiro. E não tem quem diga. Meio calvo, cheinho, cinquenta e tantos anos, mais parece um senhor de respeito... E é, mas no botequim...

Outro dia ele chegou no bar de sempre com um jeito inquieto. Conversando, disse que ganhara um bicho, mas não sabia se era um peba ou tabu. Diz o povo que o peba come defunto, e, por isso, se fosse peba ele não ficaria com o animal. Mas quem poderia esclarecer essa dúvida? Ah, logo surgiu o atendente do bar para dirimir a dúvida, e o presepeiro foi apanhar no carro uma caixa de madeira compensada onde estava o bicho.

Quando voltou, fez mil peripécias e suspense, até que colocou a caixa sobre uma mesa, e posicionou sua tampa de modo que o entendido, agachado bem em frente, pudesse segurar o animal para examiná-lo assim que a portinhola tipo guilhotina fosse aberta. “Mas cuidado!”, advertiu, “Ele tá estressado e pode fugir!!”. “Deixa comigo!”, respondeu o especialista.

Todos esperavam ansiosos, e quando a porta foi aberta... Tcham, tcham, tcham!! Saiu de dentro uma enorme peça de madeira em forma de pênis, que, ato contínuo, foi devidamente segura com as duas mãos pelo nosso amigo especialista, em meio a uma risada geral da plateia.

Depois que todos se recompuseram e já sabiam do segredo, começaram a imaginar quem mais poderia cair na brincadeira. Telefonaram para um e outro, e nada. Marquinho, que tinha compromisso com a patroa, foi embora, levando com ele a caixa enigmática. “Que pena!”, pensaram os amigos.

Mas, inesperadamente, apareceu no bar a vítima perfeita: Inaldo, um fazendeiro amigo da turma. Posto diante do desafio de diferenciar o peba do tatu, ele declarou que sabia distinguir um do outro “até pelo sabor do caldo da carne”. E foi ditando as diferenças entre os dois: orelhas, coloração da carapaça, focinho...

A ansiedade tomou conta dos presentes, todos "amigos da onça", claro. “Cadê o Marquinho? Liga para ele!”. E todos se puseram a tentar localizar o presepeiro, até que ele atendeu a uma das ligações. Estava indo com a esposa a um aniversário de família, mas, já que estava com a caixa dentro do carro, fez um arrodeio e voltou ao bar, mesmo sob veementes protestos da mulher. Essa ele não poderia perder por nada nesse mundo.

Ao chegar, a cena anterior se repetiu. Com uma calma absurda, Marquinho fez toda uma cena de preparação para o grande momento. Inaldo estava em grande expectativa para demonstrar seus conhecimentos zoológicos e, quem sabe, faturar um peba.

Por fim a caixa foi posta sobre uma mesa, Inaldo se agachou bem em frente à portinhola, pronto para segurar o bicho e... Tcham, tcham, tcham!! O grande pênis de madeira saltou de dentro da caixa com energia, quase entrando na boca do homem. Só não entrou porque Inaldo o segurou bem firme. Com as duas mãos! Enquanto isso a turma toda já estava às gargalhadas, inclusive o mulherio presente.

Seguiram-se minutos e minutos de riso intenso, daqueles de dar dor de barriga. Só a vítima não riu da brincadeira. Depois, chateado, Inaldo murmurou: “Não teve um amigo meu que me piscasse o olho, avisando da pegadinha...”. Mas ora, ora. Amigo tinha muito, mas será que ele nunca ouviu falar de “amigo da onça”?

Pedro Altino Farias, 17/07/2012

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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Amigos da Onça- Episódio III - Confusão no Bar


Era tarde de sábado, e a turma tomava umas no bar de sempre. Sombra, cerveja gelada, polêmicas mil na mesa, e eis que surge uma discussão entre um confrade e um camarada que era apenas conhecido. Os dois foram às vias de fato, logo separados pelo pessoal do “deixa disso”.

Depois de apartados, o quase forasteiro resolveu ir embora para não haver mais confusão. Acontece que o confrade brigão ficou resmungando, dizendo isso e aquilo do outro. Um dos amigos (da onça) presentes à mesa pegou o celular e, escondido dentro do bar, ligou para um orelhão que fica bem em frente ao estabelecimento. Um comparsa atendeu a ligação e chamou o encrenqueiro: “Ei, é pra você.”

Ao atender a ligação, nosso amigo ouviu ameaças, xingamentos e um aviso: “Me disseram que você tá me esculhambando, que vai me dar umas porradas e tal. Pois daqui a cinco minutos eu tô aí para te lascar em bandas!!”, vociferou o que estava escondido no bar, fazendo-se passar pelo forasteiro.

Telefone desligado, o homem voltou à mesa meio pálido e sem graça. Inventou uma desculpa qualquer, pediu a conta, assinou um vale da despesa e se mandou bem ligeirinho. Ao entrar no carro e arrancar em disparada, a turma toda caiu na gargalhada como bons amigos da onça que são. E nosso amigo corajoso? Ainda deve estar correndo pelas ruas da cidade uma hora dessas... Kkkkkk!!


 
Pedro Altino Farias, 10/07/2012


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terça-feira, 3 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio II: O Show Já Terminou

Um romance acabado, uma música tocante e... Um bando de "amigos da onça". A seguir a narração de fato verídico ocorrido no início dos anos 80. Com vocês... 




O Show já Terminou


Casado, o cara teve que acabar um romance extraconjugal porque a esposa descobriu. Depois do rompimento, o homem vivia triste pelos cantos, lamentando o fim do caso, que já era público e notório. Mas os amigos de bar estavam ali prontos para apoiá-lo e ajudá-lo a superar essa fase difícil. Será mesmo?

Também era do conhecimento da turma que o casalzinho separado tinha certa música do Roberto Carlos como predileta. Assim, quando o tristonho amigo saía do bar, os que ficavam esperam um tempo e, então, telefonavam para a casa dele. Esperavam que ele atendesse e colocavam para tocar na vitrola a dita música, que dizia: “O show já terminou, vamos voltar à realidade...”. Aí o homem se desmanchava em soluços. Tanto que a mulher já estava de orelhas em pé com esses telefonemas esquisitos (na época nem se imaginava um dia existir celular).

O desiludido amante sabia que era sacanagem da turma, mas, se reclamasse, aí era que a encheção de saco seria grande, imaginava. E a brincadeira continuava, pois ele sempre corria a atender a ligação com receio que a mulher o fizesse, e piorasse ainda mais sua delicada situação.

Um dia, sem aguentar mais tanta curtição da moçada, abriu o jogo e pediu que parassem de gozação, pois já sofrera o suficiente. Todos se fizeram de desentendidos, e até surpresos em saber da situação pela qual o amigo estava passando. Então, o coitado retrucou soluçando: “Snif, snif, snif... Rapaz, vamu parar com isso. Snif, snif, snif... Assim é sacanagem... Snif, snif... Vocês só tão brincando porque não foi com vocês... Snif, snif, snif...”.

A turma toda respondeu com uma sonora gargalhada, e a noite terminou (bem tarde) numa grande festa. Depois desse dia nosso amado amante amigo nunca mais chorou... Pelo menos por aquela Fulana, não!


Pedro Altino Farias, 27/06/2012


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