quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Quase Abraçados




O público foi chegando aos poucos, e aos poucos a casa de show foi tendo seus espaços preenchidos. Alegria, cores, festa, agitação. Um DJ animava o ambiente antes da atração principal, um grupo musical norte americano que fez estrondoso sucesso nos memoráveis anos 70.

Informais e descontraídas conversas agregavam grupos de amigos que aguardavam a apresentação, embalados por boa música e boas doses de alguma bebida. Quanto mais próximo do show, mais pessoas chegavam, alegres e ansiosas, para assistir à exibição e relembrar tempos idos.

Um casal chamava atenção. De pé, na platiea, encostado a uma grade, ele segurava a bolsa dela com a alça enrolada à mão. Parecia temer assaltos e violências, como em ambiente aberto. Quase abraçados, notava-se certa cerimônia, por isso o “quase”.

Tem início o show. Luzes, sons e febre invadem a casa. Todos se agitam, aplaudem, vibram. E o casal lá, encostado à grade, imóvel. Ele, alça da bolsa enrolada firmemente à mão e olhar gélido em direção ao placo. Ela, quase abraçada a ele, e olhos que faltavam saltar das órbitas rumo ao burburinho do público eufórico.

Vai e vem frenético no bar. Jovens e cinqüentões igualmente abrem espaço no balcão com os cotovelos. Copo na mão, música na cabeça, amor no coração e movimentos no corpo. Alheio a tudo, o casal continuava rígido na mesma posição. Olhos arregalados rumo ao palco, ele, ainda com a bolsa segura pela alça com vigor. Ereto ali, transpirava em abundância, agora com uma simplória garrafa de água na outra mão. A cena, traduzida, mostrava um homem de cinqüenta e poucos contando que os minutos passasem rapidamente para voltar ao lar quieto e seguro.

Ela, quase abraçada a ele, tinha os olhos também no palco, mas seu olhar era outro. Com certeza seu coração vibrava com intensidade a cada música. Os olhos, arregalados, queriam transportar o corpo para o meio da multidão, e não fugir dela. Queriam pulsar e viver o momento, sem deixar que ele se fosse impunemente. Ambos com olhos arregalados, porém, sentimentos diferentes os afastavam, fazendo-os “quase” se abraçarem por pouco mais de duas longas horas.

Ao fim do show os dois sumiram. Pareciam tele-transportados instantâneamente. Ao chegar a casa, ele tomou um banho quente, suco de fruta fresco e deitou-se, vendo pela TV a cabo filme enfadonho e insosso. Ela, depois de banho demorado, pretexto para ficar só, deitou-se quase ao lado dele. “Quase” não pela distância física, que era nenhuma, mas pelo pensamento. Ele, com seu filme de nada, esperava o sono lhe abater. E ela torcia por isso. Excitada, queria ainda ficar um pouco sozinha, lembrar um dia especial de muitos anos. Quem sabe, quieta, até se masturbasse pensando nesse dia... Que talvez nem tenha existido de fato. Depois dormiriam assim, um “quase” ao lado do outro. Como sempre.

Pedro Altino Farias

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



Internet, Um Fantástico Mundo Livre e Sem Fronteiras – II


Dia 27 de outubro passado postei aqui um texto com esse mesmo título, no qual falei do meu fascínio com esse fantástico mundo da internet. A informação viaja a uma velocidade estonteante, sem fronteiras nem barreiras. A distância, no mundo virtual, não existe. Sem censuras, nem mesmo limitada pela distância, o que se vê é uma explosão informações. Boas e ruins, cabendo a nós fazermos nossas escolhas.

No texto a que me referi no início, listei algumas cidades de onde houve acessos ao blog. Somavam, então, vinte e oito municípios. Fiz uma atualização desses acessos, que demonstra que houve acessos de dezessete outros municípios, além dos de outros países. Assim temos:

Ceará:
Aquiraz
Crato
Caucaia
Fortaleza
Maranguape

São Paulo:
Franca
Guarulhos
Jacareí
Novo Horizonte
Mauá
São Paulo
São José dos Campos

Rio de Janeiro:
Macaé
Niterói
Petrópolis
Rio de Janeiro

Santa Catarina:
Blumenau
Caçador
Chapecó
Florianópolis
Joinville

Paraná:
Cascavel
Curitiba
Ibiporã
Londrina
Maringá
Rolândia

Minas Gerais:
Belo Horizonte
Barra Longa
Juiz de Fora

Pernambuco:
Recife
Santa Cruz do Capibaribe

E mais: Ponta Porã (MS), Rondonópolis (MT), Brasília (DF), Goiânia (GO), Iúna (ES),
Salvador (BA), Natal (RN), Parnaíba (PI), Belém (PA), Rio Branco (AC), Porto Alegre (RS), Ariquemes (RO), Maceió (AL).

Fora do Brasil houve acessos em Arona (Itália), Trípoli (Líbia), Cabot (Vermont – EUA), Miami (Flórida – EUA) e Moutain View (Califórnia – EUA).

Como puderam ver, as fronteiras ruíram e as distâncias não são impedimento para que a informação e comunicação cheguem até nós. No total 1600 internautas de 50 cidades acessaram o “Opinião em Perspectiva” desde o final de junho, a quem agradeço os acessos, esperando que os textos postados tenham correspondido às expectativas.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

domingo, 5 de dezembro de 2010

A Metade da Metade da Metade da Metade...








Outro dia fui ao casamento de um amigo e, após a cerimônia, nosso grupo seguiu para o buffet onde haveria a recepção do casal aos convidados. Além de o casamento em si ter sido de muito bom gosto, a festa também foi. O lugar era agradabilíssimo, ricamente decorado, mas sem afetação nem exibicionismos. A cozinha estava um esplendor, com salgadinhos finos transitando entre os convivas, camarões e filés pedindo para serem degustados, bebidas para todos os gostos e boa música a embalar as conversas e danças. Lá pelas duas da madrugada o buffet ainda estava completo. Tudo uma delícia. Perfeito.


A dado momento uma pessoa veio à nossa mesa recolher pratos e talheres que haviam sido utilizados. Foi quando um amigo que estava ao meu lado não permitiu que levassem os dele ainda, pois restavam dois camarões, já cortados em pedacinhos. Além de não permitir que recolhessem seu prato, ele ainda pegou de volta um potinho que continha um molho para dar um incremento no camarão e ficou ali, curtindo seu tira-gosto em doses para lá de hemeopáticas, enquanto no bufett os camarões transbordavam num vaso de vidro esperando serem flambados e servidos. Esse comportamento é típico do bebedor de cachaça (o legítimo!!), que com uma pequena porção de qualquer coisa toma doses e doses e doses. Por horas e horas e horas.


Na semana seguinte comentei o assunto num bar com outro amigo, Romeu Duarte, que, como aquele, também aprecia uma boa pinga (também faço parte desse clube, vale salientar). Além de concordarmos com o óbvio, ficamos nós dois fazendo considerações mil a respeito do assunto. Ele contou um fato interessante e bem ilustrativo desse comportamento minimalista típico do bebedor de cachaça. Disse que um certo amigo dele chegou no “bar de sempre” e pediu uma dose de cana e azeitona. O dono do bar, por certo querendo agradar, trouxe a dose e um pires com umas quatro azeitonas. Nosso amigo bebedor de cana olhou para o pires e disse ao dono do bar: “Eu pedi foi um tira-gosto não foi almoço, não!!”


Noutro caso, também relatado por Romeu, o cidadão levou ao bar um queijinho tipo polenguinho. Sentou, pediu uma dose, abriu cuidadosamente o papel laminado que envolvia o queijo, tirou uma Gilette zerada do bolso, e a cada dose fatiava uma lâmina do queijo pra tirar o gosto, tão fina e frágil que se não dispensasse todo o cuidado nada lhe chegaria à boca.


E assim somos nós, os apreciadores de uma boa cachaça: minimalistas, cuidadosos, experimentalistas. Sim experimentalistas, pois sempre aparece alguém dizendo: “Olhem o que descobri, é jóia para tira-gosto!!”. E todos experimentam incontinenti... E aprovam. Uma só cajá ou seriguela pode durar horas. Alguns curtem dar uma lambida num píper depois de um trago. Cajú, abacaxi, limão, laranja, tangerina... Um caldinho numa xícara pequena... A mínima parte de uma fatia de salame... Aquele restinho de pão molhado no melado do molho que ficou no prato... Tudo vai bem, tudo basta.


Mas para mim o campeão do tira-gosto é o queijo, porque vai bem com qualquer bebida, seja cerveja, uísque, vinho ou... Cachaça. Mas acompanhando a cachaça no ritual da biritagem é que o queijo se revela valioso, pois permite subdivisões que a própria física não compreende ainda, sendo o último pedaço sempre dividido na metade pelos confrades presentes à mesa. Depois, na metade da metade, depois, na metade da metade da metade, depois ainda na metade da metade da metade da metade... Não sei se é verdade, mas ouvi dizer que em certa mesa se dividiu tanto o último pedaço de queijo que se chegou a uma partícula de dimensões subatômicas!! E eu acredito, pois quase cheguei lá uma vez. E só não cheguei porque, enquanto fui ao banheiro, levaram o pires da minha mesa com o pedaço de queijo restante. Ainda fui até o balcão, o prato estava lá, e o que restava de tantas metades do queijo subdivididas em seqüência também, mas o cara insistia em teimar comigo dizendo que não estava vendo coisa alguma, que o pires estava vazio. Nesse momento eu pensei que ele estava querendo me fazer de bobo... E ele pensou, talvez, que eu fosse louco. Mas que com aquele queijim ainda dava para tomar umas três doses, dava!

Altino Farias
altino.frs@gmail.com

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sopa de Letras




O Ceará, que este ano disputou a Série “A”, conseguiu se manter na elite do futebol brasileiro, classificando-se para a Copa Sul Americana, inclusive. O Icasa, que havia ascendido à Serie “B” de 2009 para 2010, soube se segurar e continuar firme na categoria intermediária do nosso futebol. Já o Fortaleza este ano disputou a Série “C” do Brasileirão. Sempre jogando com seu time “A”, não conseguiu subir para a “B”. Por fim o Guarani de Sobral mudou da Série “D” para “C”. E assim iniciaremos 2011.

Como veremos adiante “A”, “B”, “C” e “D” têm pesos bastante diferentes, pois a que se considerar que, se de “B” para “A” a distância é um certo “X”, de “C” para “B” esta distância cresce exponencialmente, sendo no final algo como a décima potência de “X”. E o que dizer então se for considerada a distância de “C” para “A”? Ah, aí amigos chegaremos a certo “Y” que nem é bom imaginar... Devido a essas distâncias é que o Santa Cruz pernambucano vem estagnado na “D” há anos. Se de “C” para “B” já é um percurso e tanto, partindo de “D” para se chegar a algum lugar é osso!!

Engraçado notar que essas distâncias não se observam quando o sentido é oposto, ou seja: De “A” para “B”, de “B” para “C”. Basta um cochilo e, quando se abre os olhos, já se chegou lá. E isso vale para todos, tanto os que estão na “A”, como na “B”. Mas em se tratando de “C” para “D” nem tanto, pois há uma certa tendência de os times, por inércia, manterem-se onde estão.

De qualquer forma, renovam-se as esperanças para 2011, já em clima de Copa do Mundo. Que o Ceará consiga chegar na Libertadores e uma boa posição na Copa Sul Americana, Que o Icasa tenha um bom desempenho na “B”, que o Tricolor consiga sair da “C” (para a “B”, claro), e que o Guarani também tenha o direito de sonhar com uma ascensão. Que os amigos de todas as torcidas continuem a beber juntos e a se amarem mutuamente. Que se amem tanto, que a amizade seja tão forte, que às vezes briguem e discutam, apostem e sofram quando seus times forem derrotados, mas que, ao fim, tudo termine numa grande festa, regada a muita cerveja, uísque e cachaça, porque a vida é muito doce para cultivarmos amarguras.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com