terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Soltem Seus Balões


Em 2013, soltem seus balões!

Eu... Já estou voando!

Pedro altino Farias, em 25/12/2012


ATENÇÃO:
os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

domingo, 9 de dezembro de 2012

Apocalipse Now



A civilização maia deixou inestimável legado cultural e científico ao mundo. Excelentes astrônomos, possuíam dois calendários: um solar, de 365 dias; e outro para eventos e cerimônias religiosas, de 360 dias. 

Segundo informações colhidas em enciclopédias e livros, eles observavam ciclos, eras, e em 21 de dezembro próximo se encerraria o 13º b'ak'tun, fato interpretado por alguns como sendo o fim do mundo.

Bem, baseado nessa suspeita de fim dos tempos, tenho duas recomendações importantes a fazer:

1ª) Até 21/12/12: Queimem seus estoques.


Coloquem na diária aquele jogo de porcelana que vocês nem sabem ao certo onde está guardado. Se quebrar alguma peça, o que é que tem? 


Vinho. Hum! Tome o vinho que ganhou do amigo vindo da Europa e estava esperando um dia especial. Ele chegou, afinal, o fim da aventura humana na Terra é ou não uma ocasião ímpar?

Contas. Faça novas, não pague as antigas. Repito, queimem seus estoques, inclusive de crédito.

Uísque escocês: beba com os amigos, sempre ávidos por um bom 12 anos na mesa a preço camarada. 

Se tiverem alguma pendência amorosa a hora é essa, lembrem-se, queimem seus estoques e... Navios.

2ª) Depois do dia 21/12/12: Refaçam seus estoques.



Pedro Altino Farias, em 09/12/2012 (quase lá)


ATENÇÃO: os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Mapa de Suco




Um descuido, copo tombado, suco derramado sobre a toalha da mesa. A mancha que se formou lembrou-lhe o mapa de um lugar qualquer. De imediato veio-lhe à lembrança aulas de geografia do ginásio, quando tinha que decorar informações de países e estados brasileiros: área, população, densidade demográfica, atividade econômica.

O suco, espesso e de um amarelo denso, quase avermelhado, lembrou-lhe também épocas de férias, quando, ainda menino, passava temporada na casa de uma tia. Na hora do almoço, Lúcia, a empregada de anos, trazia uma jarra de suco de manga à mesa. Manga espada, tirada diretamente do pé, que ficava no quintal da grande casa.

Ela fazia o suco cedo e colocava-o numa jarra no congelador da geladeira. Ao servi-lo, pedaços congelados davam-lhe um sabor especial. Coisa de carinho, misturado com natureza e alimentação saudável, tão difíceis nos dias de hoje.

“Corre, corre, pega o pano de prato!”, lembrou-se de tempos atrás, na casa da mesma tia, quando também tombou um copo sem querer. “Desastrado!”, pensou de si mesmo naquele momento, sentindo-se cheio de culpa pelo transtorno causado.

Hoje, em recanto, olhou o suco em forma de mapa se espalhar até ser consumido pela toalha, transformando-se num simples borrão. Depois, calmamente enxugou tudo, sentou novamente e apenas lamentou não haver mais uma gota sequer na jarra. Então, abriu uma cerveja e continuou pensando naquela outra época, na época da inocência, época de mangueiras e quintais. E, qual criança, ficou imaginando como seria bom viver naquele lugar imaginário do mapa de suco.

Pedro Altino Farias, em 03/12/2012

ATENÇÃO:
os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos. 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Desencontros



A música que tocava era das piores, mas como não ouvir?

Meu celular descarregou na hora do “alô”, silenciando minha voz rouca.

A comida chegou antes da fome... E foi embora.

Perdi o que queria encontrar, encontrei o que queria esquecer.

O estômago vazio trai a concentração até que a gente se acostume com ele assim.

Entrei numa contra mão e dei de frente com a Lua. “Agora não”, pensei. “Mais tarde, talvez”.

O estômago vazio parece uma imensa cratera.

Enfim, hora de dormir. Sonhos desconexos completam os desencontros do dia.

Destempero de vida!

Amanheceu. É outro dia. Amém!


Pedro Altino Farias, em 06/11/2012

ATENÇÃO:
os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.
  

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Azeitona do Pastel tem Caroço!



“A azeitona do pastel tem caroço.”, são os dizeres dos cartazes na parede da casa de lanches, um dos poucos comércios tradicionais de Fortaleza, cidade que, ao longo dos anos, vem teimando em apagar sua história.

Quando, garotinho, ia ao Centro com sua mãe. Merendavam nessa casa. Comiam pastel com caldo de cana. A azeitona do pastel já tinha caroço nessa época, mas não havia cartazes. Um dia ele mordeu o caroço de uma azeitona sem querer. Surpresa e dor no pequeno dente de leite.

O tempo passou. A casa manteve suas atividades comerciais. O pastel, considerado dos melhores da cidade, continuou com caroço.

Não se sabe quando, puseram cartazes com o alerta: “A azeitona do pastel tem caroço.”. Alguém deve ter se engasgado ou quebrado um dente. O aviso é pertinente nos dias de hoje, quando se vendem azeitonas descaroçadas; mas soaria surrealista anos atrás, pois à época todas possuíam caroços.

Adulto agora, o garotinho daqueles tempos sempre volta lá para saborear o pastel com caldo de cana. Outro dia olhava um dos cartazes enquanto merendava, e a cada mordida esperava encontrar a azeitona. “A azeitona do pastel tem caroço.”, lembrava a si mesmo. Mais uma dentada e lembrou uma restauração em um dente seu. Custou os olhos da cara e nem ficou tão boa. E se sem querer mastigasse o caroço da azeitona em cima...? Humm!

“A azeitona do pastel tem caroço.”, lembrou mais uma vez, lendo o cartaz que parecia lhe puxar as orelhas o tempo todo. Veio à sua memória o dia em que seu caçula engasgou com uma goma de mascar. Pensou que o pequenino fosse morrer, tão arroxeado ficou.

“A azeitona do pastel tem caroço.”, e mais uma dentada. Agora chegara ao recheio, onde deveria estar a tal azeitona. Mastigou com cuidado. Só carne!

Não contendo a expectativa, lançou um olhar fulminante às entranhas do pastel. Avistou a azeitona, quieta, calada, imóvel, lá no fundo do pastel, pronta para dar um bote!

“Essa aí não me pega!”, pensou, dando uma pequena mordida no pastel de modo a deixá-la descoberta, exposta, vulnerável à próxima investida. Apressou-se no mastigar. Engoliu. Nova dentada. Suave. Azeitona à boca, rompeu sua pele. Sentiu seu suco se derramando na língua. Saboreou-a com cuidado. Depois, esmagou-a, mastigou roendo o caroço. Engoliu a poupa, cuspiu o caroço. Fim!

Limpou a gordura nos lábios com um guardanapo de papel, que jogou no lixo junto com o copo descartável. Ao sair, deparou-se com um último cartaz: “A azeitona do pastel tem caroço.”. “Tinha!”, pensou com um sorriso maroto no canto da boca.


Pedro Altino Farias, em 05/11/2012

ATENÇÃO:
os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Cachorro do Vizinho



O cachorro do vizinho, olhos esbugalhados e babando, avançou naquela jovem e gostosa senhora que mora na 777.  Ela se assustou, e, agindo por reflexo e sentido de auto defesa, conseguiu se desvencilhar do agressor, correndo para sua casa, onde permaneceu trancada até passar o susto e certifica-se que o perigo também cessara.

Ligou para o marido, que viajava a trabalho, para contar o que ocorrera. De onde estava ele ficou muito puto, prometendo retornar o mais breve para tomar satisfações com o vizinho.

Vizinhança é negócio complicado. O cachorro do vizinho já havia incomodado a gostosona outras vezes, e todos comentavam, mas fazer o que? Afinal, nunca havia avançado de fato em ninguém como acabara de fazer.

Chegando, o maridão foi direto ter com o vizinho. Ao abrir o portão e adentrar a varanda da casa ao lado, ouviu apenas uns latidos vindos lá de dentro. Bateu na porta, e nada! Somente uns latidos encabulados.

Voltou horas depois. Desta vez obteve sucesso, pois o próprio vizinho o atendeu. Sorte de um, azar de outro. O maridão não esperou nem por um cumprimento, e foi logo esbofeteando o cara. Enquanto metia a mão, cuspia-lhe xingamentos e impropérios os mais cabeludos. Sem chance de defesa, o vizinho apenas balbuciava algo enquanto  tentava, inutilmente, livrar-se dos socos e tapas.

Ao fim de poucos minutos, e algum sangue, a fatura estava liquidada e, afinal, pôde-se ouvir o que o maridão dizia àquele homem, agora reduzido a trapo: “Olha aqui seu cachorro, se tentar agredir minha mulher de novo, ou qualquer outra aqui da vila, te capo!”.

Enquanto isso, Fanny, o poodolzinho simpático do vizinho, assistia a tudo deitado no mosaico frio do terraço, balançando o rabo contidamente. Olhando a expressão do animalzinho, podia-se imaginar o que ele pensava: “Até que enfim!”.



Pedro Altino Farias, em 24/09/2012

ATENÇÃO:
os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Deus Poseidon x Deusa Moda




Quando aquela mulher adentrou o mar para se banhar, Poseidon, conhecido por outros como Netuno, observou-a de longe. Seus cinquenta anos forjaram seu caráter e endureceram sua disposição para a luta. Mas, ao mesmo tempo, tornaram seu coração mais doce, seu sorriso mais meigo e seu olhar mais sábio... Por tudo isso, Poseidon, deus absoluto dos mares, concluiu: Que bela mulher!

Mas o grande deus ficou triste ao perceber que os cabelos dela não possuíam ondas como seu imenso oceano. Ou melhor, que elas haviam sido caladas, subjugadas por alguém sem escrúpulos. Imediatamente, empunhando seu tridente, ordenou a milhares de ajudantes: “Vão lá, peguem fio por fio dos cabelos daquela mulher, e refaçam-nos como antes. Devolvam-lhes a leveza dos movimentos de uma lula, a vida e harmonia de um cardume de peixinhos coloridos, a naturalidade de seus cachos como se algas marinhas fossem. E ondas, quero todas suas ondas de volta!”.

Seus súditos de pronto obedeceram e, enquanto a mulher se banhava, deixando que o mar lhe acariciasse o corpo inteiro com suas águas tépidas, eles trabalhavam rapidamente, fio por fio, conforme o recomendado, devolvendo movimento, vida e beleza àquele cabelo tão sofrido e sufocado.

Quando ela por fim deixou o mar, Poseidon ordenou também ao vento que percorresse cada um daqueles fios para secá-los e, assim, realçar sua força e dar-lhes volume, imponência. O Sol, que estava meio escondido, assistindo à cena lá de cima, dirigiu a ela seus melhores raios para devolver-lhes a energia perdida, o vigor, a independência. Pronto!

Satisfeito, Poseidon chamou os seus de volta, agradeceu ao vento e ao Sol pelo auxílio, e recolheu-se às profundezas do seu oceano, às suas ondas eternas.

Retornando às suas atividades no nosso mundo moderno e maluco, aquela bela mulher caiu novamente, incauta, nas vontades da super poderosa deusa Moda, que, de imediato, ordenou ao deus Secador e à deusa Escova que desfizessem o trabalho que seu rival acabara de realizar. E lá se foram aquelas ondas flutuantes, aqueles cachinhos balançando ao vento... Lá se foi a vida. Vendo aquilo, Poseidon bradou furioso do fundo do mar. Tão alto foi seu rugido, que, dizem, foi ouvido até na mais alta e distante montanha que já se viu. É... Deusa Moda que se cuide!


Pedro Altino Farias, 18/09/2012

ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.
  

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Náufrago


Abruptamente tombou na água gelada e agitada. O susto foi seguido de enorme pânico. Querendo permanecer à tona, agitava pescoço, braços e pernas em vão. Cada vez submergia mais naquele universo salgado.

Em pouco, somente via à sua volta um azul imenso e bolhas de ar. Muitas bolhas. O ruído que sua agitação provocava o ensurdecia. Perdeu a noção de onde estava a superfície e a que distância. Viu-se naufragando verdadeiramente, mas ainda lutava.

A essa altura de sua existência, naufragara de várias formas. Como profissional, pai e no convívio social. Esqueceu (ou não sabia) que para manter um relacionamento a dois é preciso bem mais que estar sempre pronto para o sexo. Naufragara como homem, porque a própria vida não poderia naufragar também?

Os movimentos frenéticos de braços e pernas exauriram suas forças rapidamente. Não havia mais ar nos pulmões e seu coração batia em disparada. Engoliu e aspirou água num primeiro instante de vulnerabilidade. Sentiu o gelado invadir seu corpo, que sucumbia em desespero.

Os instantes que se seguiram foram diferentes. Tudo parecia distante, frio, calmo. Braços e pernas moviam-se em câmara lenta. Não sentia mais necessidade de oxigênio. Olhando em certa direção viu um clarão. Pareceu-lhe que era a superfície. Tão perto, mas ele já não estava mais ali...


Pedro Altino Farias, em 24/08/2012

ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Enfim, Abduzido


Abduzido por uma extraterrestre, eu continuava tendo a noção perfeita de tempo e espaço, imune a tudo que dela emanava: luz, pensamento e energia; mesmo sabendo que engendravam todos os esforços para que me deixasse levar pelos encantos do desconhecido.

Na verdade, o termo abduzido está equivocado até aqui, pois não havia desvio de rota, de raciocínio ou de intenção. Nem mesmo inconsciente. Inesperadamente tudo passou, e minha vida voltou ao normal.

Já nem lembrava dessa aparição quando me deparei com outra criatura, que, intuitivamente, logo percebi ser de outro mundo, embora não aparentasse nenhuma estranheza. “Vai dar merda!”, pensei.

Acredito que em algum lugar etéreo do além-céu gravaram meu endereço metafísico, tão fácil foi localizar-me novamente no meio de mais de sete bilhões de iguais a mim. Paciência!

Desta vez tive mais trabalho para me desvencilhar dos que me queriam longe daqui, em outro mundo. Mas não me entreguei, muito pelo contrário. Mantive-me sempre lúcido e ainda imune a um verdadeiro bombardeio de energia, cuja origem e forma eram uma completa incógnita.

Repentinamente tudo passou de novo. “Desistiram, enfim”, pensei aliviado e já cansado de manter-me na defensiva por tanto tempo. Tudo ao meu redor continuava como antes. Cores, luzes, calor, sorrisos. Os dos outros e o meu próprio.

Mas logo depois comecei a imaginá-los encontrando-me novamente, o que me fez fugir, esconder-me, dissimular. Passei a usar roupas cinzentas, neutras. Sempre que possível abrigava-me sob um guarda sol preto, caminhava pelas sombras, olhava de lado, continha a respiração, não mais sorria.

De nada adiantou. Acharam-me mais uma vez. Ou, pelo menos, acredito que sim. A última lembrança que tenho é de uma criatura com gestos femininos, sensuais, quase eróticos. Mas tudo muito difuso e de difícil compreensão para mim.

Então, uma luz absurdamente brilhante me ofuscou. Tanto, que hoje nada vejo além dela, e apenas vagueio sem destino e sem saber onde estou de fato. Não sei se alguém consegue me ver, se lembram de mim, sentem minha falta ou leem meus pensamentos agora. Não sei se estou morto, noutro mundo ou apenas louco...

Altino Farias, em 21/08/2012

ATENÇÃO:

Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Despedida


Fazia silêncio. As mãos delicadas da mulher acariciaram os cabelos do amante. Em seguida ela o envolveu com seus braços esguios, fazendo com que seu peito fosse encostado ao dele, transmitindo e recebendo calor ao mesmo tempo. O silêncio permanecia. Dentro e fora do recinto. E os dois continuaram se olhando, calados.

Uma lágrima despontou na face daquele homem de quarenta e poucos e muitas dores. Ela, dona de outras tantas, também lacrimejou. Suavemente, primeiro enxugou o rosto dele, depois o seu próprio. O único som que se ouvia naquela penumbra era a respiração de ambos. Ora calma e pausada, ora ofegante, apressada.

Aquele momento se estendeu por alguns minutos. Será? Ou foram somente instantes? Ou longas horas? O tempo não importava. A vida não importava. O mundo não importava.

Seminu, o amante sentou-se numa poltrona. A mulher, então, ajoelhou-se à sua frente, olhou-o mais uma vez com ternura, e rompeu aquele terrível silêncio dizendo simplesmente: “Adeus!”. Foi um adeus miúdo, sofrido, apertado, quase mudo. Mas foi um adeus.


Pedro Altino Farias, em 29/06/2012

ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.


terça-feira, 31 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio VI - Ô Remedinho Bom!

Histórias de amigos da onça pelos bares da vida há ainda muitas e muitas. Mas para encerrar essa série, deixo vocês com...  


Ô Remedinho Bom!



Cabeção é um senhor de setenta e poucos e ainda na ativa, percorrendo diariamente bares variados, frequentados por confrarias variadas, onde mantém papos igualmente variados, ou nem tanto.

Outro dia o coitado levou uma queda desastrada. Não, não bateu com a cabeça no chão, mas fraturou duas ou três costelas. Depois do acidente ele ficou uns dias de repouso, e foi voltando à sua rotina normal aos poucos.

Mesmo liberado para dar uns passeios, continuava sentido pontadas agudas sempre que respirava mais fundo. Espirrar e tossir, nem pensar.

Em pouco tempo já estava de volta à velha labuta, vertendo, ao invés das habituais doses de uísque ou copos de cerveja, vinho. Duas garrafas, em média... Mesmo sentido dores na região do tórax. E qualquer mau jeito... Áiiiii!

Então, os velhos amigos e parceiros de bar resolveram se cotizar para dar ao Cabeção um remédio que lhe livraria daquelas incômodas pontadas nas costelas. “É tiro e queda!”, afirmou um. “Ô remedinho bom!!”, exclamou outro. “Amanhã tu já vai tá bonzim!”, prometeu mais outro.

Depois de grande suspense, passaram a Cabeção um pequeno embrulho, que continha uma latinha. “Peraí, deixa eu botar meus óculos!”, pediu nosso amigo acidentado querendo saber, afinal, que remédio milagroso era aquele, mas... Ao desembrulhar o pacotinho, Cabeção deparou-se com uma latinha de... RAPÉ! Nesse momento todos caíram na gargalhada, tendo como “fundo musical” os impropérios bradados por Cabeção (@>*%”º**##@%><##!!!).

Mas o melhor de todas essas histórias, verídicas e das quais sou testemunha, é que nenhuma amizade ficou abalada, ninguém ficou puto por mais que cinco minutos, e todas acabaram em grande festa. Bons amigos, esses ”amigos da onça”...


Pedro Altino Farias, 31/06/2012

ATENÇÃO:

Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio V - A Turma do "0800"

Todo botequim de corriola que se preze tem entre seus frequentadores, pelo menos, um bebim, um chato e a turma do “0800”, e é sobre uma turma dessas a história que vou contar...



Turma do 0800



Na corriola do “bar de sempre” há um certo Chico Mineiro. Como o próprio apelido traduz, o homem é de Minas, mas mora no Ceará há anos. Exímio cozinheiro das gostosuras de sua terra natal, faz as vezes de “amigo da onça” quando lhe bate inspiração. Somente a título de introdução, vou contar uma do Chico.

Um dia ele chegou em casa, um belo apartamento de classe média em bairro nobre de Fortaleza, com uma galinha caipira viva nas mãos, e foi logo dizendo à secretária:

- Ô, amarriessagalinhali na mesa e amanhã cêmatela p’reu cozinhá pru armoço.
- Ah, seu Chico, eu num sei matar galinha, não - respondeu a empreguete de plantão.

- Tem nadanão. Deixe quieu mesmato, intão – retrucou Chico.
 
No dia seguinte pela manhã Chico pegou a galinha, abriu suas asas pisando em ambas as extremidades, deu um golpe em seu pescoço fazendo o sangue jorrar e... Soltou-a na cozinha. A ave se debateu por minutos e foi sangue para tudo que é lado!! A secretária teve um trabalho imenso para deixar tudo limpo de novo e ficou muito pau da vida com o lance.

Quinze dias depois Chico chegou com outra galinha, e foi logo mandando a secretária prendê-la para que ele a matasse na manhã seguinte, ouvindo como pronta resposta:

- Se preocupe não, Seu Chico, que eu mesma mato. Minha mãe já me ensinou como se faz.

Imaginem se ela deixaria o Chico fazer aquele desmantelo de novo na cozinha...

Pois bem, um sábado Chico ligou para o Magão, dono do bar, perguntando quem estava lá. Magão soltou a lista dos presentes. Todos da turma do 0800. Chico então anunciou: “Aviselesaí quitôaqui ejeitano um cozidão e chego já”. O recado foi repassado, deixando neguim com água na boca, aguardando Chico chegar com o rango.

Quando o Minerim chegou, segurando uma panela de pressão envolta em um pano de prato devido à quentura, um dos presentes disparou: “Ei, Magão!! Trás prato e talher que o Chico chegou!! Cadê, Magão?? Parece que tu tá abestado hoje!! Deixa de ser lesado e trás logo esses pratos, homem!!”

Magão chegou à mesa com pratos, talheres e uma concha. O mais apressadinho quase tomou a concha da mão do dono do bar, abriu a panela, mergulhando a dita cuja no caldo, e... Somente nesse momento foi que ele se deu conta do odor que havia tomado conta do ambiente. Observou com mais cuidado e viu um caldo descorado, ralo, e que exalava um cheiro esquisito. Mexeu e remexeu a concha, trazendo à tona puxadores de gaveta, pedaços pequenos de madeira, ferrolhos, cacos de alguma coisa e mais outras tranqueiras. Tudo devidamente temperado com caldo de galinha em cubinhos e etc.

“Mas o que é isso, Chico?”, quis saber, o inconformado e desiludido líder do grupo - o mesmo apressadinho da concha. “Ô, sô. Équi fiz umareforma láimcas e sobraram unscoisinhas e eu resolvi fazê um tiragosto procês pra num jogá fora.”, respondeu candidamente nosso “amigo da onça” made in Minas.

Quem estava no bar naquele momento? Ah, todos negam a presença no episódio. Não estava esse, nem aquele, nem ninguém. Mas o Magão e o Minerim sabem muito bem quem foram os protagonistas desse caso típico de “amigo da onça”. Quem quiser saber, pergunte a eles.

Pedro Altino Farias, 24/07/2012


ATENÇÃO:

 Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.

















quarta-feira, 18 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio IV - Peba ou Tatu?


Um sexta à noite, um bar, biritas... E uns tantos "amigos da onça" a papear... Só podia dar nisso mesmo...



Peba ou Tatu?


Marquinho é um grande presepeiro. E não tem quem diga. Meio calvo, cheinho, cinquenta e tantos anos, mais parece um senhor de respeito... E é, mas no botequim...

Outro dia ele chegou no bar de sempre com um jeito inquieto. Conversando, disse que ganhara um bicho, mas não sabia se era um peba ou tabu. Diz o povo que o peba come defunto, e, por isso, se fosse peba ele não ficaria com o animal. Mas quem poderia esclarecer essa dúvida? Ah, logo surgiu o atendente do bar para dirimir a dúvida, e o presepeiro foi apanhar no carro uma caixa de madeira compensada onde estava o bicho.

Quando voltou, fez mil peripécias e suspense, até que colocou a caixa sobre uma mesa, e posicionou sua tampa de modo que o entendido, agachado bem em frente, pudesse segurar o animal para examiná-lo assim que a portinhola tipo guilhotina fosse aberta. “Mas cuidado!”, advertiu, “Ele tá estressado e pode fugir!!”. “Deixa comigo!”, respondeu o especialista.

Todos esperavam ansiosos, e quando a porta foi aberta... Tcham, tcham, tcham!! Saiu de dentro uma enorme peça de madeira em forma de pênis, que, ato contínuo, foi devidamente segura com as duas mãos pelo nosso amigo especialista, em meio a uma risada geral da plateia.

Depois que todos se recompuseram e já sabiam do segredo, começaram a imaginar quem mais poderia cair na brincadeira. Telefonaram para um e outro, e nada. Marquinho, que tinha compromisso com a patroa, foi embora, levando com ele a caixa enigmática. “Que pena!”, pensaram os amigos.

Mas, inesperadamente, apareceu no bar a vítima perfeita: Inaldo, um fazendeiro amigo da turma. Posto diante do desafio de diferenciar o peba do tatu, ele declarou que sabia distinguir um do outro “até pelo sabor do caldo da carne”. E foi ditando as diferenças entre os dois: orelhas, coloração da carapaça, focinho...

A ansiedade tomou conta dos presentes, todos "amigos da onça", claro. “Cadê o Marquinho? Liga para ele!”. E todos se puseram a tentar localizar o presepeiro, até que ele atendeu a uma das ligações. Estava indo com a esposa a um aniversário de família, mas, já que estava com a caixa dentro do carro, fez um arrodeio e voltou ao bar, mesmo sob veementes protestos da mulher. Essa ele não poderia perder por nada nesse mundo.

Ao chegar, a cena anterior se repetiu. Com uma calma absurda, Marquinho fez toda uma cena de preparação para o grande momento. Inaldo estava em grande expectativa para demonstrar seus conhecimentos zoológicos e, quem sabe, faturar um peba.

Por fim a caixa foi posta sobre uma mesa, Inaldo se agachou bem em frente à portinhola, pronto para segurar o bicho e... Tcham, tcham, tcham!! O grande pênis de madeira saltou de dentro da caixa com energia, quase entrando na boca do homem. Só não entrou porque Inaldo o segurou bem firme. Com as duas mãos! Enquanto isso a turma toda já estava às gargalhadas, inclusive o mulherio presente.

Seguiram-se minutos e minutos de riso intenso, daqueles de dar dor de barriga. Só a vítima não riu da brincadeira. Depois, chateado, Inaldo murmurou: “Não teve um amigo meu que me piscasse o olho, avisando da pegadinha...”. Mas ora, ora. Amigo tinha muito, mas será que ele nunca ouviu falar de “amigo da onça”?

Pedro Altino Farias, 17/07/2012

ATENÇÃO:

Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.





quarta-feira, 11 de julho de 2012

Amigos da Onça- Episódio III - Confusão no Bar


Era tarde de sábado, e a turma tomava umas no bar de sempre. Sombra, cerveja gelada, polêmicas mil na mesa, e eis que surge uma discussão entre um confrade e um camarada que era apenas conhecido. Os dois foram às vias de fato, logo separados pelo pessoal do “deixa disso”.

Depois de apartados, o quase forasteiro resolveu ir embora para não haver mais confusão. Acontece que o confrade brigão ficou resmungando, dizendo isso e aquilo do outro. Um dos amigos (da onça) presentes à mesa pegou o celular e, escondido dentro do bar, ligou para um orelhão que fica bem em frente ao estabelecimento. Um comparsa atendeu a ligação e chamou o encrenqueiro: “Ei, é pra você.”

Ao atender a ligação, nosso amigo ouviu ameaças, xingamentos e um aviso: “Me disseram que você tá me esculhambando, que vai me dar umas porradas e tal. Pois daqui a cinco minutos eu tô aí para te lascar em bandas!!”, vociferou o que estava escondido no bar, fazendo-se passar pelo forasteiro.

Telefone desligado, o homem voltou à mesa meio pálido e sem graça. Inventou uma desculpa qualquer, pediu a conta, assinou um vale da despesa e se mandou bem ligeirinho. Ao entrar no carro e arrancar em disparada, a turma toda caiu na gargalhada como bons amigos da onça que são. E nosso amigo corajoso? Ainda deve estar correndo pelas ruas da cidade uma hora dessas... Kkkkkk!!


 
Pedro Altino Farias, 10/07/2012


ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.



terça-feira, 3 de julho de 2012

Amigos da Onça - Episódio II: O Show Já Terminou

Um romance acabado, uma música tocante e... Um bando de "amigos da onça". A seguir a narração de fato verídico ocorrido no início dos anos 80. Com vocês... 




O Show já Terminou


Casado, o cara teve que acabar um romance extraconjugal porque a esposa descobriu. Depois do rompimento, o homem vivia triste pelos cantos, lamentando o fim do caso, que já era público e notório. Mas os amigos de bar estavam ali prontos para apoiá-lo e ajudá-lo a superar essa fase difícil. Será mesmo?

Também era do conhecimento da turma que o casalzinho separado tinha certa música do Roberto Carlos como predileta. Assim, quando o tristonho amigo saía do bar, os que ficavam esperam um tempo e, então, telefonavam para a casa dele. Esperavam que ele atendesse e colocavam para tocar na vitrola a dita música, que dizia: “O show já terminou, vamos voltar à realidade...”. Aí o homem se desmanchava em soluços. Tanto que a mulher já estava de orelhas em pé com esses telefonemas esquisitos (na época nem se imaginava um dia existir celular).

O desiludido amante sabia que era sacanagem da turma, mas, se reclamasse, aí era que a encheção de saco seria grande, imaginava. E a brincadeira continuava, pois ele sempre corria a atender a ligação com receio que a mulher o fizesse, e piorasse ainda mais sua delicada situação.

Um dia, sem aguentar mais tanta curtição da moçada, abriu o jogo e pediu que parassem de gozação, pois já sofrera o suficiente. Todos se fizeram de desentendidos, e até surpresos em saber da situação pela qual o amigo estava passando. Então, o coitado retrucou soluçando: “Snif, snif, snif... Rapaz, vamu parar com isso. Snif, snif, snif... Assim é sacanagem... Snif, snif... Vocês só tão brincando porque não foi com vocês... Snif, snif, snif...”.

A turma toda respondeu com uma sonora gargalhada, e a noite terminou (bem tarde) numa grande festa. Depois desse dia nosso amado amante amigo nunca mais chorou... Pelo menos por aquela Fulana, não!


Pedro Altino Farias, 27/06/2012


ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.




quarta-feira, 27 de junho de 2012

Amigos da Onça - Episódio I: Curtição no Autódromo


A amizade masculina tem suas peculiaridades. Os homens, quando amigos de verdade, além de serem solidários e participativos entre si, têm um lado irreverente e brincalhão sempre pronto para aflorar. Como diz o ditado, “perde-se o amigo, mas não se perde a piada”.

Publicarei uma sequência de crônicas com algumas situações verídicas, que poderiam ser tidas como de verdadeiros casos de “amigos da onça” não fosse a forte amizade a unir as duas pontas envolvidas em cada episódio. Para iniciar, fiquem com...


                             Curtição no Autódromo

No início dos anos 80, época ainda romântica, havia um grupo de amigos, todos adolescentes na faixa dos dezoito anos, no máximo, loucos por automóveis e velocidade. Euzébio, cidade da região metropolitana de Fortaleza, abriga um autódromo que foi (e ainda é) palco de muitas pelejas e paqueras naqueles tempos de discoteca, rock e carrões envenenados.

Certo domingo de arrancadas violentas e ultrapassagens arriscadas, autódromo lotado, um dos integrantes dessa turma ocupava um lugar na parte de cima da arquibancada. Entre roncos de motor, goles de cerveja e cantadas de pneus, ele avistou um amigo mais embaixo, curtindo brincadeiras mil com duas belas e jovens garotas. Ficou até com inveja, pois ele mesmo se acompanhava de um marmanjo, outro amigo.

Passando a vista no geral da arquibancada, ele avistou, também, uma amiga da namorada do alegre amigo brincalhão lá de baixo. Prestou um pouco mais de atenção e notou que ela já havia visto tudo o que rolava arquibancada abaixo e pensou: “Isso vai dar uma confusão...”, mas deixou as coisas rolarem.

Acontece que o brincalhão era também afoito e, aproveitando um bom momento, lascou um beijo em uma das beldades ao seu lado. Beijo este que foi correspondido. Daí em diante nem é bom comentar, pois cerveja, calor, velocidade e  aquele ruído ensurdecedor, tudo parecia conspirar a favor e contra aquele rapaz ao mesmo tempo.

Na segunda feira a confusão foi grande. A namorada do brincalhão disse-lhe todas e mais algumas. Ficaram brigados um tempão, até que as coisas foram voltando à normalidade, mas isso à custa de muita adulação. Da parte dele, claro.

Comentando o episódio com o amigo observador, este lhe contou que estava lá e viu tudo desde o começo. “O QUE? TU VIU TUDO E NÃO ME DISSE NADA? PORQUE NÃO ME AVISOU, BICHO?”, bradou o agora não tão brincalhão assim. “Eu não! Tu tava tão animado que não quis estragar tua curtição. Aquela loirinha que tu beijou é muito gostosa, rapaz!”, respondeu o outro despretensiosamente e em tom de desdém.

Ficou certa rusga entre os dois, mas somente até se encontrarem no bar e darem muitas e boas risadas sobre o que ocorrera. Ao fim o brincalhão avisou ao outro: “Cuidado que um dia também te pego,viu!?”. E, já meio bêbados, reafirmaram a boa amizade com um forte abraço.


Pedro Altino Farias, 27/06/2012

ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.





domingo, 17 de junho de 2012

Confissões de um Alcóolico Assumido



Confessar algo é, antes de tudo, uma demonstração de fé no confessor. Nesse momento faço de vocês meus confessores... Não decepcionem!

Comecei cedo, aos treze anos. Um menino! E não parei mais. Somente uns dez dias aqui, uma semana acolá... Não mais que isso. E sempre por recomendações médicas, em virtude de estar tomando algum medicamento. Para quem não me conhece, estou com cinquenta e um. Firme e forte!

No começo era só cerveja e cachaça. Depois veio o rum com coca e a maldita vodka com Sukita. Tomei inúmeros porres de ambos. Vodka, hoje em dia, só bebo em pequena quantidades, pura e retirada direto do freezer; o rum continua a me enfeitiçar vez por outra.

Não tenho exageros para uísque. Em qualidade, eu falo. Em quantidade, como diz um querido amigo, o consumo é em “escala industrial”, embora eu não seja um especialista da área. Para bebê-lo, gosto de duas modalidades: puro, em copo pequeno; ou com gelo, em copo alto. O puro, normalmente tomo em casa, e tem, necessariamente, que ser de boa qualidade. Detesto os copos baixos, mas eles se mostraram muito úteis quando eu bebia e dirigia, pois são difíceis de virar. Na verdade, deixando o “politicamente correto” de lado, eles ainda me servem bastante, quem me conhece sabe.

Adoro cachaça, detesto caipirinha. A última que tomei foi... Deixe-me ver... Ah, lembrei! Meu primeiro porre foi de caipirinha, e, depois dele, jamais! Aliás, a única bebida misturada que gosto é o rum, as outras têm que ser puras ou com gelo, no máximo.

Cerveja é a companheira do dia a dia, embora só sirva para tomar na rua. Em casa é um saco, pois a gente precisa ter vontade minutos antes, para poder botar para gelar e beber minutos depois. E se der uma piscada de olho a mais, congela tudo!

Para cachaça e cerveja, o copo americano serve bem. Se tiver um pequeno para a cana, melhor, senão... Fazer o que? Houve uma época em que as lanchonetes baniram o copo americano, servindo cerveja somente em taças. Até hoje há certo preconceito contra o copo americano (isso precisa ser visto pelo Congresso, talvez criando um sistema de quotas ou algo parecido). Outro dia cheguei num restaurante e pedi que a cerveja fosse servida em um copo desses. O garçom disse não tinha, então peguei um que estava à minha frente, com palitos e guardanapos, dei para ele e disse: “Tome, lave e traga de volta com a cerveja.”.

Tem uma cerveja agora de casco verde, outra, transparente. Cerveja que se preze tem o casco escuro e fim, o resto é invenção. A maioria das cachaças de antigamente vinham envasadas em cascos tipo de cerveja. Essas embalagens de litro são grotescas, a gente toma meio litro e ainda fica metade da garrafa lá. Um vexame! Já com os cacos tipo de cerveja, a gente abre uma zero, toma à vontade, e deixa só um tantinho no fundo da garrafa que ninguém nem vê. Muito mais elegante!

A saideira, ah, a sadeira! Contrariando um mito, declaro aqui que a grande maioria das minhas saideiras estavam rigorosamente programadas. Talvez de cem umas cinco estavam devidamente previstas. Falando em saideiras, esse percentual representa “uma grande maioria”, podem crer, afinal, tudo é relativo, não é mesmo?

Claro que às vezes dá um branco, isso é inevitável. Reconstituir os passos dados durante o porre do dia anterior pode ser uma grande curtição... Ou não! Engraçado que, no meu caso, esses lapsos de memória se dão em situações tranquilas, quando estou mais relaxado. Certa vez tomei todas e vinha dirigindo numa avenida larga e iluminada. Meu GPS natural apontava corretamente para o norte, mas eu não reconhecia a trajetória, não fazia ideia de onde estava. De repente reconheci um prédio e localizei-me. Desse momento em diante não me lembro de mais nada. Foi como se eu acionasse o piloto automático do carro, ou meu anjo da guarda me conduzisse com todo cuidado e carinho até minha casa.

Tenho algumas manias. É normal estar ouvindo uma música no som do carro e assobiar outra ao mesmo tempo, por exemplo. Outra é que gosto de tomar umas doses quando chego em casa do trabalho à noite. Não raro levo copo e um refil com cachaça para o banheiro. Acompanham queijo ou azeitonas num pires. Uma vez instalado no “trono”, tomo umas lendo algo e ouvindo o noticiário que rola na tevê do quarto. Depois de umas três ou quatro, o banho tem outro sabor. Pena que o noticiário, com tanta corrupção à solta, não ajude nesses momentos de relax.

Mas naquelas horas especiais não faço questão de birita. O foco é outro, e bebida só atrapalha. Cachaça deixa um bafo impróprio ao momento. Cerveja requer algumas idas inconvenientes ao banheiro. Não combinam. Escapam o uísque e o vinho... Ah, o vinho! Ideal para a ocasião, mistura sabor, aroma, charme e sensualidade. Tudo muito moderado, muito sutil e quase sempre com a vantagem da cumplicidade.

O papo está bom, mas já passou de uma página, hora de parar. Espero que perdoem minhas omissões, os dias em que não estava muito a fim, ou que sai cedo demais dos bares da vida por causa de algum aniversário. Sei que não preciso pedir perdão aqui pelos dias em que eu não bebi por estar de ressaca, nem pelas brincadeiras com a turma, sempre feitas sem intenção de magoar.

Espero que me imponham uma penitência tanto pesada quanto líquida, mas que seja, também, geladíssima. Em caso de destilados, que a coisa comece com um litro zerado, e gelo de boa qualidade. Estou pronto para o que der e vier, mandem daí e dou meu jeito daqui.


Pedro Altino Farias, em 10/06/2012

 
ATENÇÃO:

Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.


domingo, 3 de junho de 2012

Politicamente (In)Correto



Éramos felizes. Mais felizes, melhor dizer assim. O “politicamente correto” dos dias de hoje tirou a espontaneidade da expressão e censurou a linguagem quando o que se queria dizer era exatamente aquilo, com aquelas expressões: cego, aleijado, retardado, nego, velho... Perdeu-se a ênfase, o transbordamento da ideia.

Antes desse novo e maldito tempo em que vivemos, quando a vida era mais ou menos como ela era de fato, aconteceu um episódio que agora vou narrar, sem pedir licença nem perdão a quem quer que seja, pois foi assim que ocorreu.

Saí um dia do trabalho e fui tomar uma cerveja num bar próximo. O estabelecimento, quatro metros e meio de largura, duas portas, sem recuo frontal ou lateral, era uma casa estilo antigo feita de bar. Entre o balcão e a entrada, espaço apenas para três mesas daquelas de flandres, além do balcão.

Ao adentrar a casa me deparei com João Ricardo, caboclo tão parrudo quanto ingênuo, numa das tais mesas. João era responsável pela manutenção das máquinas da empresa em que eu trabalhava, prensas e caldeiras dentre outras. Serviço pesado.

Ele, que tinha à época uns cinquenta anos, puxava da perna direita devido a uma paralisia, e por isso era conhecido por “João Perneta”. Mesmo assim dava conta de suas tarefas sem uma reclamação sequer.

Ao chegar ao bar vi João tomando uma bebida, e seguiu-se uma conversa mais ou menos assim:
- O que tu tá bebendo, João?
- Cachaça com Coca-Cola.
- O que? Cachaça com Cola-Cola? Isso é bebida de viado, porra! Se manca, bicho!! Homem que é homem bebe cachaça é pura, João!

E deixei João lá na mesa, sozinho com sua birita, enquanto tomava minha cerveja e conversava com um ilustre desconhecido que acabara de chegar. Ao sair, deparei-me com nosso tolo amigo, agora bebendo cachaça pura, e...
- O que tu tá bebendo agora, João?
- Cachaça pura!
- E tu é baitola é, homem? Só porque eu disse que tomar cachaça com Coca-Cola é coisa de viado tu foi tomar ela pura? Tu num tem gosto nem opinião não é? Acabe com isso, João, se você gosta de beber cachaça com Coca-Cola, então beba! E não se importe se lhe chamarem de viado. Putaquipariu, João!
- Que saber de uma coisa? Eu num tô entendendo mais é nada. Vou s’imbora que moro no Pirambu (bairo pobre de Fortaleza) e quando chegar em casa inda vô ter que guentar desaforo da muié...
- O que? E ainda por cima é babaca, barriga branca?...

Pedro Altino Farias, em 25/06/2012


ATENÇÃO:
Os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos.