quarta-feira, 20 de maio de 2015

O Homem Rolha



Natural e residente em Fortaleza, dezenove anos, um metro e sessenta e pouco, cento e dez quilos, acadêmico de engenharia, foi passar férias com a família. O pai, coronel do exército em fim de carreira, fora enviado a servir numa cidade do Paraná fronteiriça com o Paraguai, talvez como punição por ser da linha do direito e da correção, quem sabe...

Chegou numa sexta já tarde. Acordou no sábado pelas oito e tanto, tomou um café reforçado e saiu a fazer um reconhecimento da pequena cidade. Frio, o clima estava convidativo a tomar umas. Tranquilo e bonachão, não tardou a fazer um novo amigo aqui, outro ali, e as horas foram passando, passando, somadas às doses que bebia, bebia.

Começo de noite, todos aguardavam o ilustre e querido visitante para um jantar em família. Mãe morrendo de saudade, irmãos mais novos querendo saber das últimas, pai ansiosamente contido. E nada do cara! Mais um pouco, enfim, e o homem chegou. Bem “alegre”, por sinal. Pediu que esperassem um pouco mais, pois precisava tomar um banho rápido. Todos assentiram.

Casa de dois pavimentos, o banheiro social ficava no piso superior, ao lado da escada. Ele  regulou a temperatura do chuveiro a gosto e pronto, o banho seria perfeito!

Mas todos começaram a se impacientar com a demora do banho. “Deixa, ele vem já”, contemporizou a mãe. Os irmãos começaram a achar o mais velho um folgado, e o pai, desrespeitoso. Grande expectativa.

De repente, começou a escorrer água pelo vão da escada, pingando vigorosamente num aparador da sala de estar. O caçula foi quem chamou a atenção de todos para o fato, e foram ver o que estava ocorrendo: pai, mãe e irmãos.

Subindo, deram conta de que o aguaceiro vinha do banheiro social. Porta trancada, chuveiro aberto, água corrente, mas o visitante não atendia aos chamados dos familiares. Estaria ele passando mal? Mãe em pânico, irmãos apreensivos, pai desconfiado, o jeito foi por a porta abaixo para saber o que estava ocorrendo.

Porta escancarada à força, banheiro aberto, e lá estava ele, dormindo candidamente sentado ao chão do box, enquanto o chuveiro lhe massageava o corpo com uma água tépida. A situação já não seria favorável ao visitante se só assim fosse, mas piorou bastante ao assentar seu gordo glúteo em cima do ralo de escoamento de água, vendando-o e provocando uma grande inundação. Resultado: a ira do rigoroso pai, uma leve pneumonia e retorno antecipado à terrinha de Alencar.



Pedro Altino Farias, em 17/05/2015

ATENÇÃO:
os textos deste blog estão protegidos pela lei nº 9.610 de 19/02/1998. Não copie, reproduza ou publique sem mencionar os devidos créditos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário