terça-feira, 12 de novembro de 2013

FEBRE


Era noite. A febre do caçula não cedia, apesar dos medicamentos. Antes que as horas avançassem, pai e mãe resolveram procurar atendimento médico. A dificuldade financeira que a família atravessava deixou apenas e tão somente dez reais disponíveis na carteira, cinco dois quais gastos com combustível no tanque da Belina.

Trocaram de roupa rápido, ajeitaram a filha mais velha – só um pouco mais velha – e dirigiram-se, os quatro, a um hospital. No trajeto, o garotinho vomitou.

A consulta foi satisfatória, pois a criança foi atendida pelo pediatra que a acompanhava há algum tempo e conhecia bem todo seu quadro de alergia e bronquite. Exames realizados, a suspeita era de uma forte virose. Para acalmar o estômago, o médico ministrou-lhe um remédio via oral e liberou-os.

Em pouco tempo estavam em casa, todos deitados, quando o caçula acordou os pais ainda com febre alta, mas agora também ofegante e muito esmorecido. Os pais logo perceberam que à virose juntou-se uma alergia ao medicamento que ele tomara. Rapidamente estavam todos novamente a bordo da Belina a caminho do hospital. 

O mesmo médico o atendeu, aplicando um antialérgico na veia. A criança adormeceu – a outra já adormecera nos braços do pai – e foi preciso aguardar um tempo para avaliar como ela reagiria ao remédio. Tudo certo, todos de volta para casa, com a recomendação de não deixar que a febre se mantivesse alta. Caso ocorresse, dever-se-ia recorrer até mesmo a um banho de chuveiro como forma emergencial de controlar a situação.

Alta madruga, um leve cochilo, uma verificação da temperatura do garoto. Embora a febre não cedesse, estava em níveis aceitáveis até que subiu repentina e perigosamente. O menininho chorava sem forças, corpinho combalido, olhos avermelhados, pele ardendo, mesmo sob efeito de remédios. 

Os pais, jovens ainda, olharam-se em dúvida e penalizados: que fazer? Começaram molhando com um pano juntas, testa, axila. Foram molhando aqui e ali. Nova verificação, e a febre continuava beirando o absurdo. Eles se olharam novamente. Não havia opção, e apelaram para o banho de chuveiro. Uma cena violenta, grotesca, jamais esquecida, mas que trouxe o alívio de baixar a temperatura e acalmar os ânimos. 

Mais uma lição de vida, uma marca, uma lembrança e um capítulo na história dessa longa jornada que já conta quase trinta anos.


Pedro Altino Farias, em 09/11/2013

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