quinta-feira, 10 de março de 2011

Divagando Durante o Carnaval













Escrevi um pensamento na areia. Logo uma onda o apagou. “Duração efêmera”, pensei. Mas pensamentos não precisam de meios físicos para existir. Essa efemeridade me fez lembrar de um a amigo que já se foi, Eduardo Ramos. Lutou, constituiu família, lutou. Aos quarenta anos, quando começava a colher resultados de tanta batalha, foi-se. Sua vida aqui foi breve, mas, na verdade, nunca nos deixou, e continua vivo em nossas lembranças.

Pensamentos em cadeia, lembrei de papai. Arquiteto assim como Eduardo, nos deixou aos quarenta e sete anos. Também batalhou muito, e, mesmo em pouco tempo, deixou razoável legado profissional e pessoal. Quando há substância, pensamentos não precisam da areia para existir, nem pessoas de seus corpos.

Às vezes fico pensando sobre quanto tempo ainda tenho aqui. Será que parto logo, ou vou ser daqueles que parecem esquecidos e vão ficando? Não vejo muita vantagem em demorar demais nesse mundo. Entes queridos se vão, amigos idem, limitações físicas nos transformam, e temos que ficar... Até quando tiver de ser. Só não quero ir antes de minha mãe. Não é natural, nem justo para os pais, que os filhos partam antes deles.

Vi uma pequena jangada entrando ao mar. Seguia com rapidez, fazendo-me pensar ser o pescador dono de grande habilidade. Mas nem podia ser ao contrário, senão, além de não obter resultado em sua pesca, ainda correria sério risco de perder-se naquela imensidão.

"Vem um carro ali. Será a polícia?". Agora é assim: não se pode beber dirigindo nem trafegar na praia de carro. Se me pegam, incorro em dupla infração. Um caso grave!

E por falar em cerveja, meu tempo na praia é determinado por ela. Coloco umas tantas latas na bolsa térmica e vou tomando de forma moderada, porém regular. Quando começam a esquentar é porque está chegando a hora de recorrer aos serviços do Veinho, dono da barraca onde costumamos fazer pouso.

Quadriciclos. Ainda não me despertaram emoção. Por enquanto sou mais meu buggy no qual posso passear pela beira da praia com certo conforto, apontando uma nuvem curiosa, uma duna recém formada, uma bela enseada... E isso tudo desfrutando das tais cervejas da bolsa térmica e boas companhias.

Quanta gente por aqui! Bons são os fim de semana comuns, quando, à tardinha, vê-se apenas um ou outro pescador nativo encerrando suas atividades. Sempre fazemos um passeio para ver o por do sol. Bom demais! Pode-se conversar ouvindo o ronco do mar, tomar um banho gostoso, fazer nada. Nessas ocasiões sungas e biquínis pesam demais. Acho que é porque nossos espíritos ficam mais leves e qualquer peça posta sobre nós, por mínima que seja, tem seu peso multiplicado. Confesso que o único receio é que apareça um peixe curioso o morda o que não deve... Mas estou perdendo esse medo, já que até hoje nada aconteceu.

Abri mais uma lata. Talvez fosse a última antes de levantar acampamento, pois sua temperatura já deixava a desejar. Lembrei da cerveja geladíssima do Flórida Bar. Bom seria se pudesse tomar uma daquelas naquele momento...

Contrações no abdômen sinalizaram que precisava interromper meus afazeres de nada para uma escala técnica. Mas ir em casa e voltar... Nem pensar! Peguei o buggy, rodei passando das ditas pessoas até que encontrei o lugar perfeito. Quando cheguei lá notei que alguém já havia tido a mesma idéia. “Até para escolher onde cagar se precisa de lógica e bom senso”, pensei ante a coincidência. Mas aquele era, realmente, um excelente local para o serviço, e assim deixei minha marca ali, recobrindo tudo de areia depois, à moda felina. Inevitável não lembrar de nossos políticos que “cagam” publicamente a sociedade sem nenhum pudor.

Fui ao mar “restaurar as configurações originais”. Aproveitei para um bom mergulho na maré forte, que subia rapidamente. Fora d’água, abri mais uma. Quase não deu para beber, mas a ocasião inusitada merecia pelo menos dois goles.

Voltei ao ponto de partida, recolhi o pessoal e fomos à barraca. No Veinho ouvimos o “melhor” da música baiana, funk e forró, e assim dei um descanso aos meus neurônios, que tanto já haviam trabalhado para mim. Meus tímpanos é que não gostaram muito da idéia, mas...

Pedro Altino Farias, em 10/03/2011

2 comentários:

  1. Pedro´
    É muito bom deixar que as palavras expressem nossos pensamentoa,o que você faz com grande
    mestria.
    Concita

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  2. Pedrinho,

    São momentos simples, repletos de coisas simples, mas que ficam marcados para sempre. Foi tão real a narrativa que me reportei até essa praia.
    bjs.

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