Um dia já foi um dia brinquedo de menino. Numa fantasia, foi feito de pula-pula... Até que a mãe soltasse um berro lá da cozinha chamando sua atenção e mandando-o parar com aquela algazarra.
Foi também alcova de namorados. Na penumbra da meia luz, entre suspiros e gemidos, eles se acariciavam e se tocavam com malícia e desejos inocentes, mas ruídos vindos lá de fora denunciavam: chegaram!
Os convidados se acomodavam no sofá para drinques, petiscos e boas prosas. Confortáveis, os casais, anfitriões e visitantes, não sentiam as horas avançarem pela madrugada, e quase sempre eram necessários braços para erguer do estofado um que ultrapassara um pouco a fronteira da sobriedade.
Para o marido, expulso do quarto em momentos de ira, foi porto seguro no exílio. Depois de uma noite mal dormida pela mágoa, acordava sempre doído e incomodado, mas agradecido pela acolhida que tivera daquele bondoso sofá, sabendo que ele havia dado o melhor se si para confortá-lo.
Também serviu para aquela simpática senhora, misto de mãe, sogra, irmã, avó e... Filha teimosa. As tardes assistindo TV a pouparam de passar horas e horas no vazio de um tempo perdido no passado. E o conforto daquele mesmo sofá, que parecia abraçá-la carinhosamente, fazia com que ela se sentisse protegida e segura.
E agora? Agora ele jaz, insolitamente abandonado, no meio da rua, sem entender o porquê daqueles carros e pessoas desconhecidas, que passam de uma lado para o outro sem nem lhe perceber...
Pedro Altino Farias, em 10/04/2012
altino@pelosbaresdavida.com.br
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Pedro,
ResponderExcluirCreio que todos nós já tivemos ou usamos um sofá desses, mas, creio também, que somente você o retratou tão bem, fazendo a leitura e ressaltando os papéis que ele assume, conforme cada contexto.
abs.