quinta-feira, 19 de setembro de 2024

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Poesia do jeito dela

 

A poesia de Concita Farias surge natural, livre de formas e temas. É fruto de suas vivências pessoais e pensamentos de mundo. É atemporal porque fala da vida, da natureza e de valores humanos, tudo inserido num contexto que tem a criação Divina como pano de fundo.

O resultado é uma poesia sempre concisa e objetiva, mas ora leve e fluida em sua mensagem, ora densa e própria à reflexão, seja qual for o assunto central abordado. Educadora infantil, seu trabalho tem por fim uma lição, um ensinamento.

Ler Concita Farias não é como passear num jardim florido numa tarde de Sol. Não é ouvir falar romanticamente de alguém possível ou impossível, não é saber do choro de amarguras e medos, não é cantar conquistas. Ler Concita Farias é sempre positivo, mesmo que o texto provoque no leitor uma reflexão sobre a vida já vivida e a vida ainda por viver. É um despertador para a força e esplendor da natureza, uma chamada para a beleza interior do ser humano, um aceno para a esperança, um vislumbre de outros mundos.

Assim, ao ler Concita Farias, o leitor deve despir sua alma, respirar suave e profundamente, e deixar que essa poesia pura, ingênua e verdadeira permeie todo o seu espírito.

Pedro Altino Farias, 26/03/2024

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Momentos...


Momento 1: reunião anual da cúpula da Cachaça, em abril de 2024.
Momento 2: assembleia aniversária da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, em maio 2024.

Dois momentos diferentes no cenário e parecidos em sua essência. No primeiro, estou na Pousada Macaúva, situada na simpática e pacata Analândia, São Paulo, onde participei da reunião anual da Cúpula da Cachaça em abril desse ano. A Cúpula conta com 13 membros de vários estados, apreciadores e estudiosos da cachaça, prontos a contribuir para a divulgação e valorização da boa cachaça, bem como lutar por condições tributárias justas e acompanhar o desenvolvimento tecnológico na produção da Cachaça. Para que essas ações sejam efetivas, fazemos várias reuniões remotas ao longo do ano e uma presencial para acertarmos assuntos administrativos, financeiros, discutir sobre a Cachaça em Revista, publicação anual da Cúpula, e sobre o Ranking da Cúpula da Cachaça, que se realiza a cada dois anos, estando na sexta edição nesse ano.

Na segunda, estou participando da 16ª Assembleia Aniversária da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, que se realizou em maio do corrente ano. Com 40 cadeiras, sou membro efetivo fundador, ocupando a cadeira nº16. Aqui o zelo é pelas letras, pelas ideias, pelo que está acontecendo agora no Brasil e no mundo, pois essa academia é diferente das demais exatamente nesse aspecto, ela é dinâmica, vive do respirar das pessoas, dos fatos, das coisas, e não apensas de obras feitas e acabadas.

Pode-se perceber a semelhança entre os dois momentos nas fotos. A reunião da Cúpula ocorre em clima descontraído e com muito bom humor, como não poderia deixar de ser. Também recheada de bom humor, a assembleia da ACLJ é revestida de formalidades e protocolos, com convidados especiais recebendo homenagens etc. As diferenças param por aí, pois, no fim das contas, temos dois grupos formados espontaneamente por cidadãos com paixões em comum, num caso a cachaça, no outro, as letras. Saúde!

Altino Farias, em 20/06/2024

domingo, 9 de junho de 2024

Encontro em Nossa Senhora dos Lugares Esquecidos


Trafegava devagar por uma estrada poeirenta e um tanto esburacada, devagar o suficiente para que, a cada solavanco, suas lembranças chegassem a um lugar esquecido do passado, o que por si já era contraditório, pois lembranças não combinam com esquecimento. Será que seu destino seria fazer do esquecimento lembranças vivas? O coração batia em disparada.

Quanto mais se aproximava de Nossa Senhora dos Lugares Esquecidos, mais aumentava sua expectativa. Mas que lugares seriam esses? Por que teriam sido esquecidos?

Um encontro inusitado o esperava. Adentrou a cidade pela Avenida dos Sonhos Perdidos, com folhas secas caídas pelo asfalto estéril. Apenas uma leve brisa lhes dava algum ar de vida. Avenida reta e tão longa e monótona, que quase não se via seu fim.

Dobrou na rua Carinhos de Pai e Mãe e, automaticamente, sentiu-se feliz com um cheiro de bem me quer invadindo o ar. Fazia muito e muito tempo que não se sentia tão bem assim. A “Carinhos” faz esquina com a barulhenta e animada “Natais em Família”, fazendo prolongar aquela sensação de paz e felicidade no nosso turista ocasional.

Mas, assim como a vida, as cidades nos aprontam surpresas. No fim da “Natais” há a praça Projetos Engavetados. Com obras por terminar, a praça nada tem de agradável, “melhor passar adiante”, pensou o viajante, mas eis que logo em seguida caiu na Travessa das Palavras ao Vento. Nesse momento, considerou fazer a volta, pegar a “Sonhos Perdidos” novamente e sair da cidade o mais rápido que pudesse, mas a curiosidade, ou algumas lembranças escondidas, fizeram-no seguir adiante no seu programa de um dia qualquer.

Muitos dos habitantes da melancólica Lugares Esquecidos frequentaram, e ainda frequentam, o teatro Amores Impossíveis, um dos mais antigos prédios da cidade com seus jardins secretos e camarotes discretos. Ao longo do tempo, as sucessivas direções da casa privilegiaram o drama à comédia. Talvez isso não explique muitas cenas que ocorreram naquele palco. No momento, estava em cartaz a peça Parentes Distantes que, segundo moradores locais, não estava obtendo bom público. Quando há afinidade, a distância não importa. Não havendo, a distância traz o esquecimento.

Enfim, nosso turista chegou ao centro histórico de Lugares Esquecidos, cuja avenida principal é a Pinturas Desbotadas. Aos sábados há uma feirinha na Rua Cartas Amareladas, na qual as pessoas levam objetos que não lhes servem mais, ou por serem antigos, ou, simplesmente, por terem sido esquecidos. O curioso dessa feira é que esses objetos não são postos à venda, seus donos apenas procuram quem os queiram sob a promessa de não os esquecerem num canto qualquer também.

Na radiadora da cidade tocava a música Retrato em Branco & Preto quando ele parou num pequeno bar para merendar. Foram-lhe oferecidos coalhada, queijo fresco, ovos de galinha caipira, café moído na hora, cuscuz com leite de coco feitos do milho e do coco naturais, sucos de frutas da estação. Coisas que ele já havia até esquecido no ruge-ruge da cidade grande das comidas prontas.

Barriga cheia, chegara o momento do grande encontro, razão de sua viagem a Nossa Senhora dos Lugares Esquecidos. O dono do bar deu-lhe uma dica preciosa para que chegasse mais rápido ao seu destino, o Largo da Felicidade de Outrora, indicando que fosse pelo Primeiro e Único Amor, um beco estreito, uma via exclusiva, de mão única, sem volta. Poucos têm a sorte de saber de sua existência. Sim, existem as paralelas, mas paralelas são... Apenas paralelas.

No Largo da Felicidade de Outrora, no lugar e hora não marcados, encontrou-se consigo mesmo, uma pessoa quase irreconhecível, que fora esquecida pelo tempo e trato com as coisas práticas e rudes da vida corrida da metrópole. Achou-se um camarada legal, divertido e cheio de boas ideias. Sentiu uma enorme nostalgia tomar conta do seu peito. Findo o encontro, já saindo da cidade, fez uma oração a Nossa Senhora dos Lugares Esquecidos que terminava mais ou menos assim: “... Por isso, Nossa Senhora, um dia quero ser como esse cara!”. 

Pedro Altino Farias, em 08/06/2024





quarta-feira, 27 de março de 2024

Desencontro Marcado

(FOTO ANDRÉ BEZERRA)

Mais uma vez te esperei, mais uma vez tu não vieste conforme o combinado. Passei vinte e oito dias rodando o mundo te esperando e o que tenho além da tua ausência? Nada! Nem um carinho. Nem uma satisfação sequer. És cruel comigo. Já não conto os meses a te esperar.

Se pensas que sou de todos, universal, engana-te. Sou de poucos, sou especial. Sou de quem sonha, de quem delira, de quem ama. Vivo da luz dos outros, dos enigmas das madrugadas, do encanto dos enamorados, dos sonhos alheios, da poesia. Tens tudo isso e muito mais na tua alma, por isso me és importante.

Sei que também esperas por mim, e que queres me ver surgir no horizonte linda e maravilhosa, toda nua para ti, ou então envolta em nuvens e mistérios. Vives aí, nessa vida mundana, correndo para lá e para cá para sobreviver, sem poder sequer bem respirar, e mesmo assim encontras tempo para pensar em mim e me contemplar. Saiba que te vejo muito bem daqui e que dependo dessa tua paixão para brilhar. Preciso muito de ti, me importo contigo e sinto tua falta.

Bem, nosso encontro já se foi. Volto pontualmente em vinte e oito dias. Estejas pronto para mim, mas, se mais uma vez não puderes comparecer, mais uma vez entenderei, e te banharei com os raios de luz mais puros que tiver para te dar força e acalmar teu coração. Vou te esperar porque sei que me admira e me adora e, quando passar essa tua agonia, haveremos de nos encontrar e serei toda tua outra vez.

Ass. Lua Cheia, em 25/03/2024

sexta-feira, 15 de março de 2024

A Força do Xinin - baseado em fatos reais


Jovem divorciada na faixa dos trinta, mantinha um relacionamento amoroso com um sujeito casado. Viam-se com certa regularidade, porém, como ela morava longe, toda vez que se encontravam ele a deixava num terminal de ônibus para ela ir para casa. A ideia era aproveitar ao máximo o tempo que tinham juntos, ou, pelo menos, era isso que o artista alegava. Ocorre que, numa dessas, a amante passou um aperto, pois deu-lhe vontade de verter as cervejas que bebera durante o percurso do coletivo e a coitada quase molha as calças.

Ela comentou o sufoco que passara com uma amiga íntima, e esta lhe aconselhou a exigir que o amante a deixasse o mais próximo possível de sua casa. Ela rebateu, argumentando que morava longe, e que ele perderia muito tempo no trajeto e tal, mas a amiga foi taxativa, disse-lhe que acreditasse na “FORÇA DO XININ” e exigisse que ele a levasse no conforto e segurança até sua casa e ponto.

Se pensarmos bem, baseado na história, lendas e fatos contemporâneos, seremos forçados a concordar com a amiga da amante e reconhecer a “FORÇA DO XININ”, senão vejamos...

Helena de Tróia, disputada por Pária e Menelau foi motivo de uma sangrenta guerra. Cleópatra, do Egito antigo, foi amante dos generais romanos César e Marco Antônio, influenciando o rumo da história. Dizem que Yoko Ono, com seu romance com John Lennon, foi o pivô da separação dos Beatles. Na imponente Casa Branca, o poderoso John Kennedy cedeu aos encantos de Marilyn Monroe e anos depois seu colega, Bill Clinton, se curvou aos encantos orais da estagiária Mônica Lewinsky. Há uma versão de que os ciúmes que Tereza causou em Pedro implodiu a república de Alagoas, e o que seria de Lampião sem Maria Bonita? Vixe, esse xinin é poderoso mesmo!

Agora, voltando ao casal de pombinhos apaixonados, quando combinavam o próximo encontro, ela comentou o sufoco que passara, e disse que só poderiam se ver se depois ele a levasse até a esquina de sua casa. A resposta foi negativa com aquele blá, blá, blá que conhecemos bem, e ela respondeu que dessa forma não daria mais certo. Apaixonada, ficou angustiada em não poder encontrar seu amor e curtir aqueles bons momentos, mas tinha de ser assim, era para o bem dela. Então, depois de não mais que vinte minutos de silêncio, seu celular tocou. Era ele perguntando: “Onde é que você mora mesmo, heim?”.

É amigos, como podem ver todo cuidado com a “FORÇA DO XININ” é pouco, porque o bicho é bom e a carne é fraca! Hehehehe...

Altino Farias, em 15/03/2024


 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Dia Internacional da Mulher 2024 - O "X" da Questão

 


No começo, o “X” sempre é a incógnita da equação. E se forem duplos... Ah, meu Deus! Sim, é verdade, em certas ocasiões temos, também, um “Y”, mas este nunca é duplo e não passa de um coadjuvante, a questão central é o “X” e ponto!

Assim, bons matemáticos têm nele um amigo e companheiro presente no seu cotidiano, mas os que desprezam a ciência dos números temem, e tremem, ao se depararem com dois deles, pois, com suas limitações, podem não chegar a uma resolução da incógnita. Por isso, sem querer, o “X” pode causar grandes turbilhões para uns tantos “Y”, ilusões para outros e ser a razão de viver uma vida toda para muitos.

Vale lembrar que todo “Y” tem um quê de “X” em sua alma. Na verdade, eles são metade problema e, imaginam, metade solução. Os mais sábios, porém, tratam os “X” com um misto equilibrado de emoção e exatidão, conseguindo se aproximar natural e perigosamente deles simplesmente com o coração.

Quando a equação chega ao final, eis que se revela a verdade: o valor de “X”! Por absurdo que seja, ele não se mostra um valor numérico, absoluto. É medido em sentimentos, tão nobres quanto intensos e, multiplicado por dois, percebe-se claramente toda a beleza, pureza e força da criação divina, pois estaremos diante de uma MULHER!

Altino Farias, em 08/03/2024

 


domingo, 25 de fevereiro de 2024

Crônica da Madrugada

 

A madrugada me persegue. Ouço os seus passos, vejo sua sombra, mas ela, sorrateiramente, esconde-se de mim.

Bebo um gole de cachaça. Finjo brincar de boemia e ela vem se chegando, encabulada, por trás dos espaços já vazios.

Agora o dissimulado sou eu. Faço de conta que não a vejo. Ela me joga um charme, mas fico indiferente. A cachaça e os pensamentos me bastam nesse momento.

Sim, é tarde (ou cedo?). Estou no território dela, porém, contrariando a lógica, o senhor aqui sou eu. Mais uma dose, que desce suave, e uma enxurrada de pensamentos. O tempo passa devagar dose após dose. O meu tempo. Cansado, enfim, entrego os pontos. Voluntariamente.

Assim deveriam ser os porres, as paixões, os amores. Não deveriam ser interrompidos, cortados, proibidos, e sim, esgotados por si próprios, como o carvão que, feito em cinzas, extingue o fogo, com o vento se encarregando de levar aquelas lembranças para bem longe... Ou para dentro do coração.

Altino Farias, em 24/02/2024

domingo, 21 de janeiro de 2024

Cerveja Lavada


Esse fato ocorreu há muitos anos, antes do “politicamente correto” dominar no mundo, portanto, desculpem qualquer coisa. Naquela época, imaginem, era proibido proibir, mas vamos ao caso.

Sou engenheiro civil e nesse tempo tocava uma pequena construtora com construções próprias, prestando, também, serviços para terceiros. Do “bloco do eu sozinho”, passava o dia rodando de uma obra para outra suprindo-as dos materiais necessários, supervisionando os serviços e atendendo a clientes, além da parte burocrática. A rotina era bem corrida e as atividades bem diversificadas. E fazia tudo isso a bordo de um buggy, que puxava um reboque para levar até quinhentos quilos de materiais sempre que necessário.

Pois bem, certo dia, final de tarde, o calor era grande e eu estava coberto de poeira de cimento. Após cumprir todos os meus compromissos, estava com uma sede daquelas, sonhando uma cerveja bem gelada para preencher o vazio de todas as minhas desidratadas células. Então, para resolver esse problema, parei numa churrascaria anexa a um posto de combustíveis localizado na BR-116, na zona urbana de Fortaleza. Sim, eu dirigia e ia tomar uma cerveja, mas lembrem-se que isso foi há muitos anos, antes da lei seca e seus bafômetros.

Cheguei ao balcão com uma sede de mil desertos e fui logo perguntando ao atendente: Você tem uma cerveja Antárctica* em lata bem gelada? Respostas positiva, o balconista perguntou se eu queria que lavasse a lata. Sim, naquela época não era procedimento comum lavar as latas de cervejas e refrigerantes antes de pô-las no freezer. À pergunta respondi: Não precisa, isso é coisa de via..., ops! De quem não tem o que fazer! Nesse momento notei que outro atendente acabara de enxugar uma lata de cerveja e estava entregando-a a outro cliente que estava ao bem meu lado, que me olhou meio de banda e com ar de censura ao ouvir meu comentário. Foi chato.

Altino Farias, em 14/01/2024
*Naquela época cerveja em lata só havia Skol e Antárctica

domingo, 14 de janeiro de 2024

Rodízio de Bundas

 


O comércio era do tipo “bar & mercearia”, muito comum em bairros das grandes cidades e mais comum ainda em municípios do interior até a uns anos atrás. Na cidade grande hoje restam poucos desses estabelecimentos, que eram bastante sortidos. Neles vendia-se corda, pregos, alfinetes, botões, remédios, cereais, fumo, bombons, pão, enlatados e por aí vai. E ainda aceitavam fiado dos fregueses com débitos anotados na “caderneta”. A caninha e a cerveja para os amigos e papudins da redondeza não faltavam. O balcão dessas casas era ocupado em grande parte por mil e uma bugigangas, restando, via de regra, pouco espaço livre. Pois bem, foi num boteco desses que correu o caso que agora vou narrar para vocês.

Certa tarde de sábado, no Bar do Seu Mundim, os amigos de sempre celebravam a vida com cerveja quase gelada, talagadas de aguardente barata e muita conversa fiada. Como os bancos para sentar eram poucos, alguns ficavam de pé, então um dos presentes fez uma proposta: Turma, já tô cansado de ficar em pé, por que a gente não faz um rodízio de bundas? Depois de um tempo os que estão sentados ficam de pé, e os que estavam de pé, sentam um pouco para descansar os cambitos”.  Proposta aceita na hora pela assembleia, deu-se de imediato o primeiro “rodízio de bundas”.

Logo depois do “rodízio” chegaram dois forasteiros e todos olharam para eles desconfiados. Os intrusos se espremeram num cantinho do balcão, afastaram uns pacotes de bolachas abrindo uma pequena clareira, e pediram duas doses de cachaça, prontamente servidas pelo Mundim em copos que acabara de retirar da bacia na qual os lavara com água aparada, e parada. E a rotina do bar continuou, com a conversa fiada correndo solta entre os diaristas, e os dois forasteiros bebendo suas cachaças e conversando baixinho entre si.

Foi aí que um dos habitués disse: “Bora! Agora quero me sentar, já faz um tempão que tô em pé e vocês aí, bem sentadinhos”. Conforme o combinado, os que estavam sentados levantaram-se, cedendo seus tamboretes aos que estavam cansados de estarem de pé. Nessa troca de posições, um deles acabou confundindo os copos e pegou o copo errado. Quando já aí tomando um gole, o verdadeiro dono do copo exclamou em alto e bom som: “Ei, peraí! Rodízio de bundas tudo bem, mas de copos, aí já é putaria!”. Nesse momento um dos forasteiros olhou para o outro e disse: “Cumpade, vamu s’imbora daqui que esse bar num é pra nós, não!”

Altino Farias, em 14/01/2024

Imagem postada no site
https://www.conhecaminas.com/2021/03/16-vendas-botecos-e-mercearias-antigas.html

Eu, Prisioneiro


Nesse momento me encontro no estômago da Mobydick. Aqui é escuro, frio, quieto, estranho. Lutei, resisti muito para não chegar até aqui. Criei situações, inventei estórias, fiz amizades, planejei mil estratégias diferentes de tudo que já se viu. De nada adiantou. Fui engolido pela famosa e temida Mobydick.

Daqui posso ouvir o barulho das ondas e correntes marinhas e ver um pouco do mundo exterior através dos olhos dela, mas nada posso fazer, estou preso, imóvel, impotente. Temo não pela minha vida, mas pelos sentimentos dos que estão lá fora e gostam de mim, afinal, isso não são modos de se sair dessa existência. Aliás, a pior hipótese para mim é continuar existindo assim, nas entranhas dessa baleia.

Mas tenho um plano para sair dessa situação. Não, não posso contar a vocês porque ela pode me ouvir, e então minha ideia iria por terra, ou melhor, por mar. Mas o plano é bom! Sei que nada que planejei funcionou até agora, mas quem sabe dou sorte dessa vez e me livro dessa insólita prisão.

Agora tenho que ir. Vou trabalhar no meu plano. Vai dar certo! Qualquer dia chego numa praia distante. Sei que não irão acreditar na minha fantástica história, então vou inventar outra, bem simples. Um quase afogamento, ou o naufrágio de um pequeno barco, ou que me perdi no mar praticando kitesurf, para mim não importa, o que importa é ver o Sol e a Lua, sentir a brisa no rosto e ver o sorriso no rosto das pessoas amadas. E nunca mais ser prisioneiro novamente onde quer que seja.

Altino Farias, em 14/01/24  



 



quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Meu 2024 ainda não começou


Para mim 2024 ainda não começou. Explico. Passei todo o mês de dezembro extremamente cansado, preocupado e estressado com mil problemas e imprevistos. E me sentindo mal, cheio, empachado. A coisa aperto mesmo foi depois do Natal, com sintomas de dores na boca do estômago e nas costas, lado direito, e noites em claro.

Atribui as dores no estômago a distúrbios digestivos, e a das costas e mal jeito na dormida. À base de antiácidos e analgésicos fui levando e cumprindo os últimos compromissos operacionais e legais do ano até o dia 28, ao qual seguiu mais uma noite em claro.

Na sexta, 29/12, procurei um atendimento de emergência e veio o diagnóstico bombástico: eu estava com um cálculo renal obstruindo o ureter, tubo que liga o rim à bexiga. Essa era a causa de todo o mal estar que estava sentindo há dias. Foi operado no mesmo dia às 19 horas.

Tive alta hospitalar dia 30 e a graça de passar o réveillon em casa com a família, lamentando apenas não passar com minha mãezinha, dona Concita, que esse ano vai a 94 anos, e irmãos como é tradição na família desde os tempos do meu saudoso pai, mas a maravilha da internet hoje permitem as chamadas de vídeo, que quebram o maior galho nessa situação.

Enfim, meia noite, e na minha taça para o brinde, água! Brindei feliz por estar me recuperando, pelo bem estar de todos da família e amigos. Pelo nosso Brasil e pela paz no mundo.

Água. A gênese da vida dos primeiros seres se deu na água. Animais e vegetais são compostos de água. A água nos mantém vivos. Água é o solvente universal. Na virada do ano, que para mim ainda não começou, tomei água e um decisão: de ora em diante brindarei a chegada de mais um ano com água, simbolizando a simplicidade e a purificação. Cachaça a gente bebe antes e depois.

Meu 2024 começa semana que vem, pois devo me submeter a um procedimento médico para a retirada de um cateter colocado para facilitar a drenagem dos resíduos do cálculo renal. Estou ansioso para ver e sentir 2024!

       

Altino Farias, em 11/01/2024