quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Palavras? Cuidado!




Final dos anos 70, início da década de 80. Amigos do colégio, cada um seguiu sua vida universitária. Vez em quando ele dava uma passada na casa dela para conversarem, por os papos em dia. Certa vez ela comentou, muito feliz e entusiasmada, que estava namorando um rapaz de Brasília, que viera a Fortaleza para participar dos jogos universitários. Ora, em 1979 não havia internet e seu mundo sem fronteiras, e uma garota de uma cidade namorar um cara de outra distante era complicado. Pensou ele: “Deixa de ser besta, menina, num tá vendo que o cara tá lá em Brasília comendo todo mundo e você aqui, bancando a Amélia?”. Mas ela estava tão animada, que ele preferiu calar e deixar o alerta para outra oportunidade, que nunca aconteceu. 

Errantes numa tarde de sábado, dois amigos de faculdade foram a um bar para tomar umas. O estabelecimento se encontrava fechado, porém, o dono estava na varanda de sua casa, que ficava ao lado, bebendo com dois amigos dele, um dos quais armado com um combalido violão. Osmar, esse era o nome do dono do bar, chamou a dupla para beberem juntos. Violão truando, um dos universitários soltou a voz. Incontinenti, o violonista fez mudo o violão, olhou para o cantor amador e disparou: “Mas tu canta ruim, heim, bicho?”. 

Anos passaram. A garota do namorado distante casou com ele. O pai dela faleceu e a mãe casou com o pai dele, que já era viúvo. Todos vivem bem até hoje, e o amiguinho dela poderia ter estragado tudo isso com seu alerta simplista. Sorte dela! 

Enquanto isso, aquele universitário, cantor amador  de outrora, continua calado, cantando apenas para si mesmo, dentro de sua mente. 

Palavras: é bom ter cuidado com elas, pois podem causar grandes estragos! 


Pedro Altino Farias, em 30/08/18

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

SE FOR PRA MIM, DIGA QUE FUI PRU VIETNÃ!


Domingo é Dia dos Pais. Devo passar o dia em casa com minha filha e meu filho, desejando, também, a presença de genro e nora. Sem falar na Gorette, minha mulher, amiga, companheira e filha mais velha (acho que a recíproca é verdadeira e, da mesma forma, ela me considera seu filho mais velho... hehehe). Fafá, minha cunhada irmã, sempre presente. Mais tarde, à noitinha, vou estar com minha querida mãe. O dia promete loooongoooo...

A saudade de meu pai já conta quarenta e quatro anos. É muito tempo... E quase nada, considerando-se a eternidade. As lembranças são bem presentes, apesar do tempo e dos meus irrisórios treze anos quando ele se foi.

Papai adorava trabalhar em casa, mas sozinho, em seu gabinete, e aborrecia-se quando o procuravam nesses momentos para tratar de assuntos profissionais. Telefonema na hora do almoço, então, ih... Ficava muito bravo mesmo. Começo dos anos 70, a guerra fria troando nos quatro cantos do mundo, quando o telefone tocava na hora do almoço papai esperava que um de nós fosse atender. Esperava que se tirasse o fone do gancho quando bradava em alto e bom som: “SE FOR PRA MIM, DIGA QUE FUI PRU VIETNÃ!”.

O que aprendi com ele nesse breve período ficou em mim sedimentado. Logo aos vinte e quatro anos foi minha vez de começar a viver essa fantástica experiência que é ser pai, e que vai perdurar por toda a minha vida e, quem sabe, além dela. Nesses onze anos, entre treze e vinte e quatro, conheci um pouco do mundo pelas minhas próprias pernas para, junto com os ensinamentos de meu pai e minha mãe, completar minha formação moral e ética.

Hoje, aos cinquenta e sete e meio, filhos criados e felizes (que venham os netos!), quero mais é sossego. E se domingo ligarem pra mim... DIGAM QUE EU FUI PRU VIETNÃ!

Pedro Altino Farias, em 07/08/2018