Saímos de Canoa Quebrada na manhã do dia 18/03, uma segunda feira, véspera de São
José, padroeiro do Ceará, debaixo de um céu nublado.
Passamos em Aracati para rever a cidade depois de longo período. Chuviscava. Fizemos, então, um rápido city tour: igreja matriz, Aracati Clube, Mercado Municipal, casario antigo e seus azulejos.
IGREJA MATRIZ |
FACHADA DO ARACATI CLUBE - ABANDONO |
INTERIOR DO ARACATI CLUBE |
TEATRO |
Logo que saímos de Aracati, ao pegarmos a CE-040 paramos num centro de artesanato à beira da estrada. Nas lojinhas, artigos de palha, rendas, esculturas em madeira. Gorette aproveitou para suas últimas compras, e voltamos para a estrada.
ÚLTIMAS COMPRAS |
Inicialmente havíamos planejado pernoitar em Fortim, mas antes mesmo de iniciar a viagem resolvemos fazê-lo em Canoa por achá-la mais envolvente e movimentada, inclusive reservamos pousada antecipadamente. Uma decisão acertada. Na volta, pensamos
em apenas entrar até o Fortim, mas sendo uma segunda feira, e chuvosa,
resolvemos abortar o plano, imaginando não haver nada de interessante por lá naquele
momento. Além disso, a vontade de chegar em casa também era grande.
Viemos na calma, e chegamos a Fortaleza no início da tarde, a tempo de
almoçar bem e descarregar o Kadett, que marcava 94.201 quilômetros no odômetro,
contra os 91.745 da saída, perfazendo
2.456 quilômetros rodados em terras genuinamente alencarinas em quinze dias.
91.745 Km NO INÍCIO DA JORNADA |
2.456 KM RODADOS AO FINAL DE QUINZE DIAS DE CEARÁ |
Tudo em paz, roteiro 100% cumprido, revimos filhos e família, dormimos
uma boa noite de sono.
O MOMENTO DA CHEGADA |
Na terça, feriado de São José, fomos ao Flórida Bar, local da partida
oficial para finalizar o programação. Lá estavam os amigos Robson, Júlio
Augusto, Beto Vasconcelos, Attila e Ediane, além de Ermínio, dono da casa, para
umas geladas e registro fotográfico. Fim de jornada.
FECHAMENTO COM CHAVE DE OURO |
Impressões de Viagem
As Estradas:
Surpreendentemente boas. Até a estrada para Barbalha e Caldas está
boa.Trecho ruim de fato somente de Nova Olinda a Juazeiro do Norte. Seus muitos
remendos – nenhum buraco – faziam o carro pular e oscilar constantemente. Quase
não havia um metro quadrado que fosse sem estar remendado. A favor, obra de
restauração total da estrada em execução em ritmo acelerado.
Outro trecho ruim é o de Juazeiro do Norte a Caririaçu, na Rodovia Padre
Cícero, mesmo assim não oferece riscos, e ainda permite um tráfego sem maiores
problemas.
Uma deficiência notada é com relação a sinalização horizontal e
vertical. Além da ausência em muitos trechos da simples demarcação de faixas e outras marcações no asfalto,
falta informação de localidades, distâncias a percorrer, indicações de direção.
Poderia ser bem melhor.
Policiamento:
Totalmente inexistente nas estradas, ineficiente nas cidades. Vimos um
guarda municipal em Camocim multando por estacionamento proibido, quando ao
lado uma D20 cabine dupla completava sua lotação, com pessoas superlotando seu
interior e carroceria. Um mini pau de arara.
D20 COM PASSAGEIROS NA CAÇAMBA EM CAMOCIM |
Nas estradas, nada de policia. O cidadão que viaja não deseja ser
importunado com paradas e mais paradas para fiscalização. Ele deseja apenas sentir a
presença da polícia para viajar tranquilo. Saber que pode contar com um socorro
rápido em cada quilômetro percorrido. Sentimos essa falta de segurança na pele com a pane no
sistema elétrico do Kadett. Se houvesse uma emergência, teríamos que contar com
Deus e com a própria sorte. Em todo o percurso não fomos parados uma única vez, e
só muito raramente avistamos postos policiais, que pareciam abandonados,
diga-se. Um descaso com o cidadão que viaja.
Conectividade:
O povo simples do interior continua hospitaleiro e comunicativo, porém,
a conectividade com o mundo nos impressionou. As pessoas que trabalham sob o
sol estão protegendo a pele das agressões dos raios ultra violetas, com acessórios cobrindo-lhes os
braços, rosto e região do pescoço. Difícil ver alguém “rachando” a pele ao sol.
Falar de internet, então... Em todo lugar há conexão WI-FI. Ao chegar na
mais simples das pousadas, recebemos logo instruções de como acessar a net. Na
oficina em Tauá, durante o conserto do carro, fui chamado ao balcão. Fiquei desconfiado e, chegando lá, o dono da loja virou o visor do PC para mim,
exibindo a página inicial do Pelos Bares da Vida (o carro estava identificado
com o endereço do site), abrindo a possibilidade de ampliar nosso relacionamento.
PESSOAL DA LOJA DE PEÇAS EM TAUÁ LIGADOS NO PBV |
Na pousada Bougainville, também em Tauá, enquanto Seu Elias negociava um
contrato ao celular, Dona Goreti, esposa dele, “passeava” pelo Facebook.
Em Nova Olinda, Seu Espedito disse: “O pessoal faz tudo antes pela
internet. Aí eles descem em Juazeiro do Norte (de avião) e vêm direto para cá
numa van”. Em Nova Jaguaribara fomos a uma pizzaria de instalações modestas. Ao
olhar ao redor pude perceber câmeras de um circuito interno de TV. Presenteamos
a garota que nos atendeu com copinhos e porta cerveja do PBV. Ela logo sacou
seu celular do bolso acessou o site, achando-o muito “massa”.
ACESSO AO PBV PELO CELULAR EM NOVA JAGUARIBARA |
Esses são alguns entre tantos exemplos que pudemos ter dessa verdadeira
revolução da informação. O mundo está em constante evolução, disso nós sabemos, tanto que em breve talvez não o reconheçamos mais, não duvidem disso.
Mobilidade:
Se a conectividade vem revolucionando os costumes a partir da
informação, as motocicletas estão promovendo outra revolução: a da mobilidade. Rapazes,
moças, garotos, senhoras, idosos, todos pilotam motocicletas, num vai e vem sem
fim. Burro, carroça, bicileta não gozam mais do mesmo prestígio de outrora. O
negócio é motocicleta! Com ela se tange o gado, leva-se o menino ao médico,
compra-se material de construção, carregam-se bichos na garupa, curtem-se horas de lazer.
MOTOS ESTACIONADAS NO CENTRO DO CRATO: FALTA A EDUCAÇÃO DO EUROPEU |
Calma e sossego numa cidadezinha do interior? Esqueçam, porque essas motocicletas
nervosas cortam avenidas, ruas, travessas, pontes. Elas tomaram conta de tudo.
Se o tempo naquele recanto perdido dos Inhamuns parecia não passar, hoje em dia
faltam horas a todos. Todos têm que ir a algum lugar, todos vêm de algum lugar. Todos têm algo urgente a resolver. Ruidosamente. Seja por conta do barulho do motor acelerado, seja o som incessante das buzinas estridentes. Novos tempos. Bem melhores que d’antes, pois as pessoas têm uma melhor condição de vida, mas falta a educação dos europeus ao nosso povo, que trafega sem condições de segurança, abusando da sorte e da paciência alheia.
É, aqueles velhos tempos de cidadezinhas calmas e tranquilas, sem pressa e sem correria já estão ficando na saudade...
Carros:
Gosto de carros antigos, notadamente os nacionais dos anos 70 e 80, e não vou mentir: viajei com um olho nas estrada
e outro “caçando” raridades. Decepção! Não há mais carros velhos bem
conservados, os considerados antigos, pelo interior. Muito carro atual rodando por aí. Novos e semi
novos. Pensei que iria me deparar com uma profusão de Chevettes, Brasílias,
Corcéis, Opalas, Fuscas... Nada, e o que tem é sucata.
Não sou especialista, mas
acredito que dois fatores combinados provocaram esse fenômeno. Primeiro, com a
estabilização da moeda, houve uma evolução do mercado de carros antigos em todo o Brasil,
estabelecendo valores, o que é caro e o que é barato. Essa nova situação provocou
o interesse nos apaixonados por antigos, que passaram a se abastecer desse
nicho fornecedor de bons exemplares. Assim o “carro velho” ganhou o status de “antigo”. Qualquer um que
acesse sites especializados na internet (olhem a conectividade aí novamente)
pode facilmente estabelecer preço para seu carro antigo.
Por outro lado, a facilidade de financiamentos para carros novos encheram os olhos de vontade do brasileiro.
Com o homem do interior se deu o mesmo e, talvez, a combinação da valorização
de seu carrinho velho e a facilidade de aquisição do novo, fez com que os
antigos disponíveis migrassem para as grandes cidades. Será? Essa é só uma
teoria para explicar minha grande decepção.
Turismo
Nossa experiência foi de um extremo a outro. Em alguns lugares tivemos uma ótima recepção, com muita informação e pessoal preparado. Noutros, a hospitalidade do cearense se fez presente, porém, desprovida de quaisquer informações turísticas úteis. Um pena. Todo o povo deveria conhecer sua cidade, sua história, suas particularidades.
Em Viçosa contamos com o auxílio oficial de um jovem guia, Eduardo, salvo engano. Ele dividiu conosco seus conhecimentos sobre a cidade, poupou-nos tempo e elevou a qualidade dos nossos passeios.
Acreditem, voltamos dessa pequena mostra do que é nosso Estado mais marido e mulher que antes, mais cearenses que antes, mais gente que antes, mais corajosos que antes.
Nosso obrigado aos que viajaram conosco pela Terra da Luz lendo minhas postagens aqui, no Opinião em Perspectiva. Uma pequena aventura que jamais será esquecida.
Pedro Altino Farias, em 22/07/2013
PS. O problema com o Kadett era com um regulador de voltagem, que fazia com que o alternador enviasse uma voltagem diferente do especificado ao sistema elétrico, que dava seu alerta sempre que isso ocorria. Nada de mais.
PS. O problema com o Kadett era com um regulador de voltagem, que fazia com que o alternador enviasse uma voltagem diferente do especificado ao sistema elétrico, que dava seu alerta sempre que isso ocorria. Nada de mais.