quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Quase Abraçados




O público foi chegando aos poucos, e aos poucos a casa de show foi tendo seus espaços preenchidos. Alegria, cores, festa, agitação. Um DJ animava o ambiente antes da atração principal, um grupo musical norte americano que fez estrondoso sucesso nos memoráveis anos 70.

Informais e descontraídas conversas agregavam grupos de amigos que aguardavam a apresentação, embalados por boa música e boas doses de alguma bebida. Quanto mais próximo do show, mais pessoas chegavam, alegres e ansiosas, para assistir à exibição e relembrar tempos idos.

Um casal chamava atenção. De pé, na platiea, encostado a uma grade, ele segurava a bolsa dela com a alça enrolada à mão. Parecia temer assaltos e violências, como em ambiente aberto. Quase abraçados, notava-se certa cerimônia, por isso o “quase”.

Tem início o show. Luzes, sons e febre invadem a casa. Todos se agitam, aplaudem, vibram. E o casal lá, encostado à grade, imóvel. Ele, alça da bolsa enrolada firmemente à mão e olhar gélido em direção ao placo. Ela, quase abraçada a ele, e olhos que faltavam saltar das órbitas rumo ao burburinho do público eufórico.

Vai e vem frenético no bar. Jovens e cinqüentões igualmente abrem espaço no balcão com os cotovelos. Copo na mão, música na cabeça, amor no coração e movimentos no corpo. Alheio a tudo, o casal continuava rígido na mesma posição. Olhos arregalados rumo ao palco, ele, ainda com a bolsa segura pela alça com vigor. Ereto ali, transpirava em abundância, agora com uma simplória garrafa de água na outra mão. A cena, traduzida, mostrava um homem de cinqüenta e poucos contando que os minutos passasem rapidamente para voltar ao lar quieto e seguro.

Ela, quase abraçada a ele, tinha os olhos também no palco, mas seu olhar era outro. Com certeza seu coração vibrava com intensidade a cada música. Os olhos, arregalados, queriam transportar o corpo para o meio da multidão, e não fugir dela. Queriam pulsar e viver o momento, sem deixar que ele se fosse impunemente. Ambos com olhos arregalados, porém, sentimentos diferentes os afastavam, fazendo-os “quase” se abraçarem por pouco mais de duas longas horas.

Ao fim do show os dois sumiram. Pareciam tele-transportados instantâneamente. Ao chegar a casa, ele tomou um banho quente, suco de fruta fresco e deitou-se, vendo pela TV a cabo filme enfadonho e insosso. Ela, depois de banho demorado, pretexto para ficar só, deitou-se quase ao lado dele. “Quase” não pela distância física, que era nenhuma, mas pelo pensamento. Ele, com seu filme de nada, esperava o sono lhe abater. E ela torcia por isso. Excitada, queria ainda ficar um pouco sozinha, lembrar um dia especial de muitos anos. Quem sabe, quieta, até se masturbasse pensando nesse dia... Que talvez nem tenha existido de fato. Depois dormiriam assim, um “quase” ao lado do outro. Como sempre.

Pedro Altino Farias

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



Internet, Um Fantástico Mundo Livre e Sem Fronteiras – II


Dia 27 de outubro passado postei aqui um texto com esse mesmo título, no qual falei do meu fascínio com esse fantástico mundo da internet. A informação viaja a uma velocidade estonteante, sem fronteiras nem barreiras. A distância, no mundo virtual, não existe. Sem censuras, nem mesmo limitada pela distância, o que se vê é uma explosão informações. Boas e ruins, cabendo a nós fazermos nossas escolhas.

No texto a que me referi no início, listei algumas cidades de onde houve acessos ao blog. Somavam, então, vinte e oito municípios. Fiz uma atualização desses acessos, que demonstra que houve acessos de dezessete outros municípios, além dos de outros países. Assim temos:

Ceará:
Aquiraz
Crato
Caucaia
Fortaleza
Maranguape

São Paulo:
Franca
Guarulhos
Jacareí
Novo Horizonte
Mauá
São Paulo
São José dos Campos

Rio de Janeiro:
Macaé
Niterói
Petrópolis
Rio de Janeiro

Santa Catarina:
Blumenau
Caçador
Chapecó
Florianópolis
Joinville

Paraná:
Cascavel
Curitiba
Ibiporã
Londrina
Maringá
Rolândia

Minas Gerais:
Belo Horizonte
Barra Longa
Juiz de Fora

Pernambuco:
Recife
Santa Cruz do Capibaribe

E mais: Ponta Porã (MS), Rondonópolis (MT), Brasília (DF), Goiânia (GO), Iúna (ES),
Salvador (BA), Natal (RN), Parnaíba (PI), Belém (PA), Rio Branco (AC), Porto Alegre (RS), Ariquemes (RO), Maceió (AL).

Fora do Brasil houve acessos em Arona (Itália), Trípoli (Líbia), Cabot (Vermont – EUA), Miami (Flórida – EUA) e Moutain View (Califórnia – EUA).

Como puderam ver, as fronteiras ruíram e as distâncias não são impedimento para que a informação e comunicação cheguem até nós. No total 1600 internautas de 50 cidades acessaram o “Opinião em Perspectiva” desde o final de junho, a quem agradeço os acessos, esperando que os textos postados tenham correspondido às expectativas.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

domingo, 5 de dezembro de 2010

A Metade da Metade da Metade da Metade...








Outro dia fui ao casamento de um amigo e, após a cerimônia, nosso grupo seguiu para o buffet onde haveria a recepção do casal aos convidados. Além de o casamento em si ter sido de muito bom gosto, a festa também foi. O lugar era agradabilíssimo, ricamente decorado, mas sem afetação nem exibicionismos. A cozinha estava um esplendor, com salgadinhos finos transitando entre os convivas, camarões e filés pedindo para serem degustados, bebidas para todos os gostos e boa música a embalar as conversas e danças. Lá pelas duas da madrugada o buffet ainda estava completo. Tudo uma delícia. Perfeito.


A dado momento uma pessoa veio à nossa mesa recolher pratos e talheres que haviam sido utilizados. Foi quando um amigo que estava ao meu lado não permitiu que levassem os dele ainda, pois restavam dois camarões, já cortados em pedacinhos. Além de não permitir que recolhessem seu prato, ele ainda pegou de volta um potinho que continha um molho para dar um incremento no camarão e ficou ali, curtindo seu tira-gosto em doses para lá de hemeopáticas, enquanto no bufett os camarões transbordavam num vaso de vidro esperando serem flambados e servidos. Esse comportamento é típico do bebedor de cachaça (o legítimo!!), que com uma pequena porção de qualquer coisa toma doses e doses e doses. Por horas e horas e horas.


Na semana seguinte comentei o assunto num bar com outro amigo, Romeu Duarte, que, como aquele, também aprecia uma boa pinga (também faço parte desse clube, vale salientar). Além de concordarmos com o óbvio, ficamos nós dois fazendo considerações mil a respeito do assunto. Ele contou um fato interessante e bem ilustrativo desse comportamento minimalista típico do bebedor de cachaça. Disse que um certo amigo dele chegou no “bar de sempre” e pediu uma dose de cana e azeitona. O dono do bar, por certo querendo agradar, trouxe a dose e um pires com umas quatro azeitonas. Nosso amigo bebedor de cana olhou para o pires e disse ao dono do bar: “Eu pedi foi um tira-gosto não foi almoço, não!!”


Noutro caso, também relatado por Romeu, o cidadão levou ao bar um queijinho tipo polenguinho. Sentou, pediu uma dose, abriu cuidadosamente o papel laminado que envolvia o queijo, tirou uma Gilette zerada do bolso, e a cada dose fatiava uma lâmina do queijo pra tirar o gosto, tão fina e frágil que se não dispensasse todo o cuidado nada lhe chegaria à boca.


E assim somos nós, os apreciadores de uma boa cachaça: minimalistas, cuidadosos, experimentalistas. Sim experimentalistas, pois sempre aparece alguém dizendo: “Olhem o que descobri, é jóia para tira-gosto!!”. E todos experimentam incontinenti... E aprovam. Uma só cajá ou seriguela pode durar horas. Alguns curtem dar uma lambida num píper depois de um trago. Cajú, abacaxi, limão, laranja, tangerina... Um caldinho numa xícara pequena... A mínima parte de uma fatia de salame... Aquele restinho de pão molhado no melado do molho que ficou no prato... Tudo vai bem, tudo basta.


Mas para mim o campeão do tira-gosto é o queijo, porque vai bem com qualquer bebida, seja cerveja, uísque, vinho ou... Cachaça. Mas acompanhando a cachaça no ritual da biritagem é que o queijo se revela valioso, pois permite subdivisões que a própria física não compreende ainda, sendo o último pedaço sempre dividido na metade pelos confrades presentes à mesa. Depois, na metade da metade, depois, na metade da metade da metade, depois ainda na metade da metade da metade da metade... Não sei se é verdade, mas ouvi dizer que em certa mesa se dividiu tanto o último pedaço de queijo que se chegou a uma partícula de dimensões subatômicas!! E eu acredito, pois quase cheguei lá uma vez. E só não cheguei porque, enquanto fui ao banheiro, levaram o pires da minha mesa com o pedaço de queijo restante. Ainda fui até o balcão, o prato estava lá, e o que restava de tantas metades do queijo subdivididas em seqüência também, mas o cara insistia em teimar comigo dizendo que não estava vendo coisa alguma, que o pires estava vazio. Nesse momento eu pensei que ele estava querendo me fazer de bobo... E ele pensou, talvez, que eu fosse louco. Mas que com aquele queijim ainda dava para tomar umas três doses, dava!

Altino Farias
altino.frs@gmail.com

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sopa de Letras




O Ceará, que este ano disputou a Série “A”, conseguiu se manter na elite do futebol brasileiro, classificando-se para a Copa Sul Americana, inclusive. O Icasa, que havia ascendido à Serie “B” de 2009 para 2010, soube se segurar e continuar firme na categoria intermediária do nosso futebol. Já o Fortaleza este ano disputou a Série “C” do Brasileirão. Sempre jogando com seu time “A”, não conseguiu subir para a “B”. Por fim o Guarani de Sobral mudou da Série “D” para “C”. E assim iniciaremos 2011.

Como veremos adiante “A”, “B”, “C” e “D” têm pesos bastante diferentes, pois a que se considerar que, se de “B” para “A” a distância é um certo “X”, de “C” para “B” esta distância cresce exponencialmente, sendo no final algo como a décima potência de “X”. E o que dizer então se for considerada a distância de “C” para “A”? Ah, aí amigos chegaremos a certo “Y” que nem é bom imaginar... Devido a essas distâncias é que o Santa Cruz pernambucano vem estagnado na “D” há anos. Se de “C” para “B” já é um percurso e tanto, partindo de “D” para se chegar a algum lugar é osso!!

Engraçado notar que essas distâncias não se observam quando o sentido é oposto, ou seja: De “A” para “B”, de “B” para “C”. Basta um cochilo e, quando se abre os olhos, já se chegou lá. E isso vale para todos, tanto os que estão na “A”, como na “B”. Mas em se tratando de “C” para “D” nem tanto, pois há uma certa tendência de os times, por inércia, manterem-se onde estão.

De qualquer forma, renovam-se as esperanças para 2011, já em clima de Copa do Mundo. Que o Ceará consiga chegar na Libertadores e uma boa posição na Copa Sul Americana, Que o Icasa tenha um bom desempenho na “B”, que o Tricolor consiga sair da “C” (para a “B”, claro), e que o Guarani também tenha o direito de sonhar com uma ascensão. Que os amigos de todas as torcidas continuem a beber juntos e a se amarem mutuamente. Que se amem tanto, que a amizade seja tão forte, que às vezes briguem e discutam, apostem e sofram quando seus times forem derrotados, mas que, ao fim, tudo termine numa grande festa, regada a muita cerveja, uísque e cachaça, porque a vida é muito doce para cultivarmos amarguras.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

domingo, 28 de novembro de 2010

Brisa Que Te Quero Brisa



Ah, brisa; suave brisa! Passaste tão rápido que nem pude te sentir plenamente. Mas estavas tão gostosa, insinuante e sedutora, que vou ficar aqui parado, esperando que passes novamente, mesmo sabendo que quando vieres mais uma vez não serás a mesma, pois terás arrebanhado os odores das flores e dos suores que tiveres encontrado pelo teu caminho, e capturado os ruídos da madrugada e os sonhos mais puros com os quais te deparaste... E os mais profanos também.

Ah, brisa; inquieta brisa! Nem ouso te pedir que fiques um pouco, pois o movimento está na tua própria delicada essência de ser, então, vou estar preparado para que quando passares pela segunda vez, eu possa sorver-te e sentir-te por todo meu corpo, e, logo depois, ficar novamente esperando tua volta. Sei que quando voltares pela terceira vez estarás irreconhecível, embora as sensações de frescor, leveza, saudade, e tantas outras que trazes, sejam as mesmas.

Ah, brisa; querida brisa! Peço-te que quando por aqui passares de novo, traga os bons fluidos e energias que carreastes pelo teu caminho, e que leves meus melhores pensamentos para os quantos que encontrares daqui por diante. Só não te peço que me leves junto a ti, porque aqui tenho os que amo, e ir contigo, soprando suavemente mundo afora, seria uma grande aventura, mas a saudade que se abateria sobre mim seria maior ainda, e eu acabaria por sucumbir a meio caminho, estragando tua louca viagem.

Ah, brisa; inconstante brisa! Vamos continuar a nos sentir assim, casual e espiritualmente. Vamos continuar na cumplicidade dessa troca de sentimentos: tu me trazes os alheios e leva os meus bons para outros, estejam onde estiverem esses outros... E em que tempo. Mas agora tenho que ir. Meu mundo não é como o teu. Embora tenhamos que continuar indo e vindo para nos mantermos vivos, tu o fazes naturalmente, e eu, sofridamente, pois assim é a vida.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carros Antigos: Cor, Alegria, Classe, Personalidade

Ser amante de carros antigos dá um grande prazer. Sensorial, inclusive, pois suas cores, formas e emoções que provocam, são um show à parte. Para mim, ser proprietário de um antigo, mesmo que não seja de um modelo considerado dos mais clássicos, é antes de tudo uma satisfação pessoal. Conseguir adquirir (e manter) aquele modelo que era o sonho de adolescente ou lembrança da infância, é uma grande conquista, além de sinal inequívoco de muita coragem ou pura insanidade. Mas o importante é ser feliz, e se um antigo for pré-requisito para essa plenitude de felicidade, que assim seja.

Como falei, considero curtir um antigo uma satisfação pessoal, e não me importo se há carros melhores e mais preservados que o meu, porque quando a gente ama realmente o antigomobilismo, e se une a uma certa "raridade", cria-se uma sentimento mútuo que ignora mesquinharias. Os encontros que reúnem os amantes de antigos são uma boa oportunidade para bater papo, trocar informações, tomar umas doses, ouvir histórias, saber de oportunidades, combinar outros eventos. Exibicionismo? Nem pensar, pois nessas ocasiões só deve reinar o alto astral e a cooperação entre os participantes.

Os encontros também exercem outra função, que é tornar visíveis ao público essas preciosidades, pois, sabe-se bem, muitos são antigomobilistas de coração, porém, por falta de coragem, ou excesso de sanidade, não são proprietários (ainda) de um carrinho com mais de vinte, pelo menos. Então, satisfação pessoal, intercâmbio de informações e exibição ao público simpatizante, são os motivos de acontecerem regularmente, em várias cidades do país, eventos que concentram veículos de marcas, modelos e anos variados, sempre sob a liderança de obstinados organizadores.

Diferentemente dos veículos atuais, quando todos seguem uma certa “tendência”, e acabam por se tornarem muito parecidos, os antigos possuem personalidade própria, tendo cada um seu charme particular. Se hoje veículos de uma mesma montadora têm a mesma linha de estilo, antes cada um nascia de uma concepção única. Outro aspecto em voga atualmente é a bicromia morna do preto e prata que impera no mercado, fazendo dos carros, mesmo os mais vistosos, figuras neutras, com suas formas sendo difusas sob o efeito de cores que hoje não são mais cores, e sim, apenas um padrão.

E quando chega o dia de um desses encontros, normalmente num sábado à tardinha ou domingo pela manhã, os antigomobilistas e seus carros maravilhosos vão surgindo aos poucos. Devagarzinho, mas sempre com certa ansiedade e alarde, e... A paisagem, até há pouco tempo preta e prata, vai ganhando cores e alegria com carros de cores exuberantes como azul-caixão-de-anjo, amarelo-laranja, verde-cana, amarelo-ovo, verde-abacate, vermelho-sangue, azul-piscina ou marrom-telha, quebrando a monotonia e fazendo sempre acontecer uma grande festa. E em volta desses “senhores idosos” se formam grupos onde há jovens e coroas a conversar, a sorrir e a comemorar essa gostosa paixão impregnada de cor, alegria, classe e personalidade.

Altino Farias
altino.frs@gmail.com

quarta-feira, 27 de outubro de 2010


Internet

Um Fantástico Mundo Livre e Sem Fronteiras



Dia 28 de julho passado formatei este blog, o Opinião em Perspectiva, com a intenção de aqui postar crônicas, pensamentos e textos de opinião de minha lavra. Nada terceirizado, e tudo sem a menor pretensão, sem nenhuma estratégia de divulgação, sem nem saber bem como esse “mundo blog” funciona. E até hoje não sei ao certo, sinceramente.

Passados três meses da primeira postagem, conto com cerca de 1200 acessos, que vieram de lugares que jamais imaginei. Uma boa parte deles teve origem em Fortaleza, como era de se esperar, por conta de meu ciclo de amizades na cidade. Além de Fortaleza houve acessos significativos em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. A lista segue com Curitiba, Florianópolis, Londrina (PR), Joinville (SC), Caçador (SC), Chapecó (SC), Ponta Porã (MS), Niterói, Macaé (RJ), Iúna (ES), Mauá (SP), Novo Horizonte (SP), Salvador, Belo Horizonte, Natal, Maranguape (CE), Aquiraz (CE), Parnaíba (PI), Belém, Rio Branco, Santa Cruz do Capibaribe (PE), Crato (CE), Recife e Porto Alegre, além de outras de origem estrangeira ou não identificadas pelo sistema.

Trinta e três textos foram postados neste período, cobrindo assuntos variados. Procuro manter certa regularidade nas publicações como forma de prestigiar os internautas dessas vinte e oito cidades citadas que acessam o blog em busca de novidades, além dos de outras cidades no estrangeiro ou não identificadas precisamente. Ainda me causa surpresa acessar o blog e ver que há alguém em Rio Branco ou em Ponta Porã, por exemplo, conectado e lendo, calmamente, os textos que elaboro a partir da minha observação pessoal de fatos do cotidiano e de sentimentos vividos. E receber emails ou comentários sobre os assuntos abordados é recompensador, mesmo que sejam de opiniões opostas e discordantes, pois o que importa é a interação civilizada entre as pessoas e o bem querer comum.

Assim é a internet, democrática, sem censuras nem fronteiras, e que faz com que a informação viaje de norte a sul, leste a oeste, com a rapidez do acesso a um simples link, que se propaga de um para dez amigos, de dez para cem, de cem para mil... Esse movimento é definitivo, que ninguém o subjugue, que ninguém pretenda detê-lo, porque ele é LIVRE.

Agradeço, por fim, aos internautas e leitores que acessaram o Opinião em Perspectiva nesse período inicial, e espero contar com vocês por ainda muito tempo, pois a vida não pára, o mundo não pára, e se nós pararmos será nosso fim.


Altino Farias
altino.frs@gamil.com

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Copo de Cada Um




Certo dia estávamos, eu e mais uns bons amigos, em divertido papo num barzinho que frequentamos costumeiramente. De relance, notei que numa mesa próxima havia um sujeito sozinho, com o olhar longe e, talvez, o pensamento mais distante ainda. Ele, debruçado exageradamente por sobre a mesa, segurava um copo baixo e largo com as duas mãos, formando com a mesa e a cadeira uma só figura. Olhei para o copo dele, quase cheio, e intuí, pela cor e gelo, que continha uma dose de uísque. Se dos baratos ou mais caros, não saberia dizer.

Voltei a atenção para as conversas de nossa mesa novamente. Futebol, política, economia, assuntos variados. Passou o tempo. Muitas doses e muitas garrafas foram esvaziadas pela turma. E por mim também. Quando percebi, notei que o homem da dose e do copo baixo e largo da outra mesa ainda estava lá. Do mesmo jeito, na mesma posição, com o mesmo olhar longe e pensamento distante. Olhei novamente o copo com um olhar mais atento e sensível e perguntei-me o que haveria de fato dentro dele.

Pensando nesse sentido, logo percebi que em nossos copos, dos integrantes da mesa, havia bem mais que a habitual cerveja, uísque ou cachaça; havia também prazer, amizade, alegria, companheirismo, sonhos, lembranças passadas, planos futuros. E no copo do sujeito da mesa ao lado, o que haveria?

Lancei meu olhar mais uma vez para ele, que se curvara ainda mais olhando pra o fundo do copo, agora cheio de uma dose já aguada, abandonada por seus pensamentos longínquos. E, de novo, perguntei-me querendo adivinhar o que haveria naquele copo: mágoas profundas, cicatrizes doloridas, feridas ainda abertas, preocupações... Meu Deus, pensei, quantas coisas cabem dentro de um copo já cheio!

Chegou a hora de irmos embora e o sujeito, sempre só, continuava lá, quase imóvel, encurvado por sobre a mesa, segurando seu copo baixo e largo com as duas mãos, olhando para o fundo e pensando em algo que lhe doía muito, por certo. Antes de sair passei ao seu lado, parei e, instintivamente, o cumprimentei apalpando seu ombro, como quem diz: “Eu sei de suas dores e sinto muito”. Ele correspondeu silenciosamente, pressionando sua mão sobre a minha fazendo-me entender que dizia simplesmente: “Obrigado, obrigado por saber sobre meu copo”.

Pedro Altino Farias, 19 de outubro de 2010


terça-feira, 28 de setembro de 2010


Sonhar é Viver


Um sonho se faz realidade
Juntando pedaços de insanidade
Com um pouco de juízo
Num movimento conciso

Mas não tão conciso assim
Porque, se assim for, terá fim
E se fim tiver, morto estará
Pois morre quem não mais sonhar

Seus sonhos sempre lhe acompanharão
Às vezes se realizarão, às vezes não
O importante é seguir adiante
Pois nunca sonhamos o bastante

Para os que não se realizarem
Tenha-os como uma miragem
Como uma visão turva
De algo visto através de pingos de chuva

Os que fizer existir
Você os deverá curtir
Com muito empenho e felicidade
Por DEUS ter permitido se tornarem realidade

Por fim lhe digo
Assim como diz um amigo
Seja sempre você mesmo
E conte sempre comigo


Altino Farias, em 09/2003
altino.frs@gmail.com

O Homem e o Mundo Perfeito de Deus


O mundo não tem ponta nem cabeça. Ele é redondo e perfeito, sem lados, arestas ou rugas. Nós, com nossos desejos, anseios e limitações, é que o sentimos imperfeito... E esse é o grande lance de Deus: fazer com que convivamos com nossas limitações e imperfeições num mundo perfeito.


Altino Farias, em 2005
altino.frs@gmail.com

domingo, 19 de setembro de 2010


A Calma Liberta



Quando tinha meus vinte e poucos anos já havia superado boa parte da timidez dos anos de infância e adolescência, mas, por outro lado, havia me tornado um homem afobado, apressado e compromissado em 100% com a vida. Era uma espécie de “novo-velho”. Trabalhava na área operacional e comercial de uma empresa, sendo freqüentes meus contatos com clientes, quando tinha como interlocutores do outro lado pessoas de todos os tipos, de todas as nuances do espectro que vai de um simples peão ao empresário bem sucedido e culto, tendo aprendido muito com todos eles.

Um certa Dona Doralice, que gerenciava os setores de compras e manutenção de uma dessas empresas, sempre que via o jovem Altino de então afobado e aborrecido, dizia pausadamente: “Calma seu Altino, calma é bom para os nervos”. Embora o óbvio da frase, ela fazia efeito contrário em mim, pois me deixava mais estressado ainda, fazendo-me pensar coisas como: “O que ela está pensando? Pensa que tudo fácil como é para ela??”, “Se ela disser isso mais uma vez...”, ou ainda “Lá vem ela de novo com esse papo!!”. Nessa época Dona Doralice era uma mulher já de seus quarenta poucos. Solteira, vivia para o trabalho e a cuidar da mãe, e era (ou ainda é, tomara) muito inteligente e perseverante. Uma figura que deixou esse ensinamento em estado latente no meu íntimo por anos: “Calma é bom para os nervos”.

Hoje, beirando os cinqüenta, transporto-me para aquela época, e posso ver agora o tempo que perdi com estresses sem motivos, aborrecimentos fúteis, raivas que magoaram pessoas, compromissos cancelados, lugares que não fui, pessoas que não conheci... Um tempo perdido, coisas que deixei de viver por não ter sabido ter calma nas horas certas.

A frase de Dona Doralice foi acordando com o passar de todos esses anos, fazendo-me ver o quanto realmente a calma é bom para os nervos. Para que viver a angústia de um dia que estar por vir? Para que sofrer pelo que nem sabemos ainda se vai realmente acontecer? E se acontecer? E por que se deixar irritar por aquela pessoa que já sabemos não merecer? Imprevistos e problemas no trabalho ocorrem, doença se trata, aperto financeiro se tenta solucionar, problemas de famílias sempre existirão. Para que perder a calma?

É comum perder a razão quando se perde a calma, porque, sob efeito das adrenalinas da vida, saímos do nosso normal e não conseguimos raciocinar de forma ponderada, muitas vezes cometendo atos impensados dos quais nos arrependemos logo depois. A calma, ao contrário, dá-nos o domínio pleno das situações, condições de tomarmos as decisões mais acertadas a cada ocasião e permite-nos viver cada momento, desfrutando dele todas as suas vantagens.

Diante disso tudo, agradeço hoje aos ensinamentos de Dona Doralice, e atrevo-me a dizer que, mais que fazer bem aos nervos, a calma LIBERTA. Pensem nisso.


Altino Farias
altino.frs@gmail.com

domingo, 12 de setembro de 2010

Um Sujeito Qualquer


Viveu a vida desregradamente. Mulheres, bebidas, jogo, cigarros, noites em claro. Dizem até que de vez em quando “puxava um baseado”, mas disso ninguém tem certeza. E se fosse? Nada de mais. Também amou muito. Exageradamente. E esse exagero sempre o levava do céu ao inferno em fração de segundos, tão intensos que eram seus sentimentos.

Morava numa espécie de estúdio, que se resumia a uma saleta, cozinha com balcão/bar, suíte e sacada, de onde tanto se via o nascer do sol quanto seu ocaso, dependendo da época do ano. Na sala, seu local favorito era uma pequena escrivaninha onde costumeiramente se debruçava sobre folhas de papel escrevendo compulsivamente não se sabe o quê. Escrevia por horas a fio madrugada adentro, enquanto ouvia boa música e bebia alguma coisa. Qualquer coisa, desde que contivesse álcool. Depois, já embriagado de tanto pensar, beber e sonhar, rasgava tudo que escrevera e jogava no lixo. E ao que parece esquecia definitivamente o que acabara de colocar no papel, deixando esses pensamentos para trás, como que para poder seguir adiante.

Seu quarto vivia em constante desalinho, com roupas jogadas por todo lado, cheiro forte de cigarro e bebida, que freqüentemente era derramada no chão, calcinhas femininas de todos os modelos e por toda parte. É, ele era doido por calcinhas, e sempre que alguma convidada permitia, ou dava chance, ele acrescentava mais uma ao seu acervo, vamos chamar assim. Suas prediletas não tinham vida longa, pois muito o serviam de companheiras em seus devaneios sexuais solitários e acabavam imprestáveis.

Uma mesma música ora o acalmava, ora o excitava, pois a calma e a euforia conviviam em eterno conflito dentro dele. Mas as belas melodias e poesias eram uma presença constante em seus momentos, e por esse motivo uma boa aparelhagem de som ocupava lugar privilegiado em sua saleta.

Alguns diziam que era louco, desajustado; outros, depressivo, mas não havia quem não tivesse prazer em estar em sua companhia. Às vezes chegava no “bar de sempre” alegre, sorridente e falante; outras, sisudo e caladão. De uma forma ou de outra, Zé Baiano, garçom que o atendia, providenciava logo sua dose de costume, e, aos poucos, suas idéias e pensamentos geniais e irreverentes iam aflorando, fluindo naturalmente. Puro delírio e prazer para quem partilhava a mesa com ele.

O trabalho o aborrecia demais, talvez por isso não tenha agregado mais patrimônio ao que herdou da família, empenhando-se apenas em ter o suficiente para nunca precisar de favores, ou ter que se manter em certa atividade forçadamente. Assim sua rotina consistia em acordar tarde, lá pelas nove, comer qualquer coisa e sair para o trabalho, que considerava um simples meio de subsistência, sem nenhuma pretensão de obter melhoras, promoções e coisas do gênero. Entrava as dez e saída lá pelas quatro e tanto, dependendo do dia. Seu chefe fazia vista grossa para faltas e horários incertos, visto que dava conta do serviço até melhor que quem cumpria jornada normal de oito horas. E, na hora do sufoco, sempre enxergava soluções onde só se viam problemas. Ele sabia disso e tirava proveito próprio dessa sua vantagem convertendo-a em horas de folga e rotina mais amena.

Depois do trabalho (“Ah! Graças a Deus!”) dava uma passadinha no mencionado “bar de sempre”, trampolim para outros bares, outros porres, outras viagens. A noite chegava e ele bebia, fumava, sorria, filosofava e cantava até se exaurir, e então voltava ao seu estúdio para, quem sabe, ainda passar horas pensando e escrevendo mistérios, vez que nunca se soube de que esses escritos tratavam; se cartas de amor, ou poesias, ou lamentos, ou sonhos perdidos... Ninguém nunca soube. 

Em muitas ocasiões alguma amiga de mesa o acompanhava ao estúdio, e foram algumas delas que mencionaram aos outros os tais escritos, pois acontecia de acordarem no meio da madrugada com uma música suave ao fundo, uma luz fraca iluminando a escrivaninha, e nosso personagem a escrever páginas e páginas. Indagado sobre o que escrevia, desconversava, tomava mais um gole e jogava os papéis no lixo para dar atenção à amiga convidada... E, quem sabe, ao fim de tudo, ganhar mais uma calcinha para sua coleção.

Acontece que um dia o homem sumiu do “bar sempre” e dos outros bares que freqüentava de uma hora para outra. Passou-se um dia, dois, três, vários, até que se teve como certa sua ausência. Depois veio a notícia que ele havia morrido. Conta-se que ele morreu num dia qualquer, não se sabe bem ao certo quando nem de que, com uns quarenta e tantos anos, acreditam. Coração, cirrose, acidente, paixão... Quem sabe? Que diferença faz?

A família, sabendo do ocorrido, reclamou de imediato o corpo, e dele deu cabo às pressas. “Nem deram um passadinha no 'bar de sempre' com ele para se despedir da gente”, reclamaram os amigos de copo em tom de "Quincas Berro D'água". Mas no fim foi melhor assim, pois todo dia a turma fica imaginando ele chegar, roupa amarrotada, cabelos desgrenhados, cigarro aceso entre os dedos, e o Zé Baiano a correr para lhe servir uma dose da bebida habitual, na mesa de sempre, sempre no mesmo lugar, o qual ninguém nunca ousou usurpar.

Um dia apareceu no “bar de sempre” uma irmã, prima, cunhada, ou coisa o valha, perguntando por certa pessoa, que era um dos melhores amigos dele. Em conversa entre os dois a mulher contou que fora ao estúdio do morto providenciar seu desmantelamento, dando fim às coisas e objetos que lá se encontravam. Como também ouvira falar de certos escritos, que ninguém sabia do que tratavam, pôs-se a vasculhar o ambiente à procura de algo, algum indicativo, alguma coisa que desse a saber, ou pelo menos imaginar, o que se passava em seus pensamentos íntimos e solitários. Nada encontrou escrito. Nada. Muitos livros de assuntos variados, revistas, variadas também, mas escritos pessoais, nada. Ah, sim, encontrou um pequeno pedaço de papel dobrado, na verdade um rabisco, em cima da escrivaninha, com uma frase escrita com sua letra. Uma frase antiga, já comum e até banal por ser muito dita, mas que talvez o traduzisse, por fim. Ela tirou o pedaço de papel dobrado da bolsa e o pôs na mão do amigo, presenteando-o com uma lembrança do que se fora. O amigo abriu o pedaço de papel devagar e carinhosamente, e nele estava escrito apenas: “Sonhos: acredite neles.” 

Altino Farias
altino.frs@gmail.com

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Loucos Somos Nós



  

Seu tempo não é medido em dias, horas, minutos ou segundos. Sua imaginação não tem limites. Seu pensamento não tem lugar aqui neste mundo.

O cuidado no vestir, a postura ao sentar, suas argumentações imaginárias, suas leituras... Louco?? Loucos somos nós, que vivemos correndo atrás do tempo, assistindo, inertes, a violência se espalhar pelo mundo, querendo mais e sempre acabando por poder menos.

Acredito que o poeta andarilho talvez tenha percebido a insensatez da vida como ela é, e tenha resolvido fazer as coisas do jeito dele. Será?? Quem sabe... Difícil dizer, mas tenho certeza que todo domingo, quando ele aparece no Flórida Bar, mesmo sem tempo para pensarmos em nós mesmos, paramos um pouco ao vê-lo e nos indagamos: Louco?? Será mesmo, ele?? Ou nós??


Pedro Altino Farias


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Vidas e Mortes




Vi horizontes, sóis e luas.
Vivi vidas e... Chorei mortes.
Algumas eram mortes repletas de vida;
Outras, vidas com jeito de morte.
E sigo assim, entre horizontes, sóis e luas;
Vidas e mortes.
Sigo porque é minha sina, e tenho que seguir.
E cada vida que faz parte da minha me ilumina mais e mais,
Mas ao partirem, me enchem de morte.
Morro por cada uma dessas vidas;
Revivo a cada morte!!



Altino Farias
altino.frs@gamil.com

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

WAR



Entrei na África atravessando o Estreito de Gibraltar, saindo da Espanha para a Argélia. Foi uma batalha na qual mobilizei 300 exércitos contra os Vermelhos, com muitas baixas de lado a lado, mas, enfim, venci. Neste continente vou me deparar com os Azuis, onde são maioria. Eles são maioria na Europa também, embora estejam longe de dominar tanto um quanto outro continente.

Tenho sob meu domínio a totalidade da Oceania e América do Sul. Esta situação me garante tranqüilidade para formar e treinar novos exércitos, fortalecendo mais ainda essas posições e permitindo tentar avançar, expandindo minhas fronteiras. Para a América do Norte, passando pela Central, está difícil avançar, pois os Pretos parecem bastante determinados a manter seus territórios no continente. Agora com minha entrada na África, talvez seja uma boa tentar entrar na Nigéria partindo do Brasil, mas isso tenho que ver com calma, pois Azuis e Brancos, que também têm posições na África, parecem agir em simbiose e acredito que para atingir seus objetivos um acabe beneficiando o outro sem querer. E aí seriam dois contra um.

Os Verdes, com exércitos isolados aqui e acolá no resto do mundo, dominam boa parte da Ásia. Conquistaram muitos territórios no continente claramente perseguindo os Vermelhos, donde se conclui que ou têm objetivos semelhantes, dada a resistência daqueles, ou desejam realmente extingui-los. Tenho posições a Ásia também. Poucas, é verdade, mas procuro manter Vladivostok e a Sibéria. Não por estratégia, apenas porque acho que ocupar a Sibéria, terra inóspita e associada a exílios e trabalhos forçados na época do comunismo, é uma demonstração de força e fibra. No caso de Vladivostok é só pelo nome, que acho super legal de pronunciar, diferentemente da Mongólia, que praticamente entreguei aos Brancos, que, com exércitos espalhados meio que aleatoriamente por todo o mundo, até agora não se mostraram combativos o suficiente para grandes conquistas.

Talvez eu resolva atravessar o estreito de Bering com meus exércitos Amarelos e entrar na América do Norte pelo Alasca, de onde os Pretos parecem não estar esperando um ataque. Mas para esta investida vou precisar de uns 400 exércitos!!

É, talvez com as próximas movimentações desses exércitos se defina o destino de planeta, e se inicie uma nova ordem política, social e econômica no mundo, mas... Ih, agora vamos ter que parar o jogo um pouco porque a mamãe já preparou o lanche e tá chamando todo mundo pra merendar. Bora, negada!!



Altino Farias


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Em Algum Dia do Passado

O dia amanheceu de sol, e uma música de “Os Incríveis” ressoava vindo de alguma radiola da vizinhança. Foi um dia comum, nada de espetacular. Despertei meio apressado, pois tinha que ir à “rua” resolver umas coisas de casa, mas logo no asseio matinal tive uma pequena chateação, pois a pasta de dentes que havia no banheiro era Signal, aquela de listras vermelhas, ao invés da habitual Kolynos, mas tudo bem, nada como um bom banho para começar bem o dia. E é sempre prazeroso abrir uma nova embalagem de sabonete Phebo, quando aquele delicioso e inconfundível aroma se espalha no ar. E foi o que aconteceu nessa manhã.

No café matinal, parti um bom pedaço do pão semolina, que estava novinho, o qual untei generosamente com manteiga Faisão. Tão simples quanto delicioso. Ao café misturei um pouco de leite Cila recém fervido, aliás, neste dia o leite não deu para todos em casa, pois uma das garrafas de vidro no qual ele vem envasado quebrou, e ficamos com apenas uma disponível.

Vesti rapidamente uma calça de tergal, combinada com uma camisa de “fio da Escócia” e caminhei rumo à esquina de minha casa, onde fica a parada do “13 de Maio”, linha de ônibus da Empresa São José de Ribamar. Paguei a passagem com “passe de estudante”, e fui organizando as tarefas que iria realizar durante o trajeto, apesar dos solavancos constantes devido ao calçamento de pedras toscas das ruas do bairro por onde o coletivo transitava.

Chato esse negócio de banco só abrir às nove da manhã, porque tinha que ir ao Banco Nacional (agência da Major Facundo) ver se havia chegado uma ordem de pagamento vinda de Recife, e o restante de minhas obrigações dependia de poder sacar esses “cruzeiros”. Mas eu estava otimista, pois a ordem havia sido enviada por telex, muito mais rápido que o meio convencional, e, se corresse, daria tempo de fazer tudo que estava programado.

Depois de uma certa espera no balcão de atendimento, enfim, veio a confirmação. Então me dirigi ao caixa com um cheque de minha mãe para efetuar o saque e já realizar uns pagamentos: Cotelce, Capemi e uma prestação da Domus. Tudo certo!!

E vamos às outras tarefas: passar na “Hora Certa” (Major Facundo c/ Guilherme Rocha) para deixar um relógio automático no conserto, passar no “Zás Traz” (Liberato Barroso) para apanhar uma bolsa da qual foram trocados uns ilhoses, ir na “Casa Rogério” (também na Liberato Barroso) comprar botões. fecho ecler e agulha para máquina de costura, tudo conforme amostras que minha mãe mandou. Depois fui cortar o cabelo no “Lord”. Claro que uma passadinha na Mesbla e Lobrás eram obrigatórias, assim como merendar um caldo de cana com pastel na “Leão do Sul”. Quando era menino e ia à “rua” com a mamãe, ela sempre passava na “Libonense” para lanchar e comprar alguma coisa gostosa para levar para casa, mas eu sempre preferi a “Leão do Sul”.

Terminadas as tarefas lá fui eu ao “Parque das Crianças” pegar o ônibus de volta, mas eis que um “13 de Maio” saiu quando eu ia chegando ao ponto. Como já estava meio tarde, e eu ainda iria à aula, resolvi pegar um “Pio XII”, mesmo descendo numa parada mais longe de casa um pouco. Enquanto conferia o troco das despesas no ônibus, ouvia o programa do Zé Lisboa, na Rádio Assunção, que repetia à exaustão o bordão “Relógio que atrasa não adianta, é roskof !!”, sempre que anunciava a hora certa.

Cheguei em casa, prestei contas com a mamãe, tomei um banho apressado e almocei. O almoço foi posta de cavala frita. A cavala estava fresquinha, pois foi comprada naquela mesma manhã, na porta de casa, como de hábito, a um senhor que vende pescado fresco pelas ruas do bairro.

Nem bem engoli o almoço, já peguei meus livros e fui para a parada do “Circular”. Durante o trajeto, com o estômago cheio, o calor e o sacolejado do ônibus, batia uma sonolência medonha, mas que logo passava quando minha parada de descida se aproximava, na Antônio Sales com Barão de Studart, próxima ao Romcy. De lá ia, a pé, até o Christus, onde, neste dia, assisti a aulas de matemática (Carlão), física (Zé Marques), literatura (Costinha) e Inglês (Valéria), fazendo o mesmo percurso de volta ao fim da tarde... Só que com o “Circular” lotadaço.

Depois do jantar, descansado, liguei para a namoradinha nova. Ela estava bem humorada e espirituosa, e disse que havia puxado a extensão do telefone da sala para o quarto, e estava deitada em sua cama com as pernas para cima, apoiadas num almofadão. Fiquei do lado de cá me deliciando, imaginando a cena enquanto conversávamos, e o papo foi se estendendo até que minha irmã veio reclamar da conversa demorada, pois estava precisando ligar também. Em nome da boa convivência no lar, me despedi e desliguei com um beijinho, liberando a linha telefônica.

Para terminar o dia me debrucei frente à TV para assistir à novela “Os Ossos do Barão”, que tem um interessante enredo sobre o sucesso de emigrantes italianos e a decadência das famílias paulistanas descendentes dos barões do café. Depois disso, dei comida ao Duque, meu vira-lata de estimação, fiz-lhe uns afagos e me recolhi. Não sem antes pedir “a benção, mamãe!!”. No meio da noite ainda tive que me levantar e fechar as venezianas da janela, pois corria um vento cortante e frio naquela noite de fins de julho...


Altino Farias

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pensamento Atualíssimo!!

Para refletir a respeito:

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar para alguém aquilo que tira de outro alguém.

Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.

É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."

Adrian Rogers, 1931

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Antigomobilismo: Uma Paixão Que Virou Moda





A paixão por caros clássicos é tão antiga quanto a existência do automóvel. No Brasil, até a bem pouco tempo, esse hobby era restrito a um pequeno número de admiradores, atividade que foi aos poucos ganhando espaço pela melhor condição de aquisição e venda de um antigo, e maior oferta de serviços e peças de reposição no mercado, o que facilita e barateia a manutenção sobremaneira.

Os colecionadores de raridades encabeçam a lista de aficionados, e, noutros tempos, uma pessoa de classe média que possuísse um antigo de qualidade era vista como louca, tanto pelo valor do bem, quanto pelo custo da manutenção e a pouca liquidez na hora da venda.

Atualmente o que vemos é um mercado florescente de antigos em todo o país, com preços referenciais estabelecidos, lojas de peças específicas, importadores e prestadores de serviços especializados, e uma infinidade de sites sobre o assunto, que informam dados técnicos, históricos, curiosidades, dispõe de cópias de manuais, fotos e o que mais se pensar.

Tornou-se comum que homens na faixa dos quarenta-cinquenta anos, apaixonados por carros e já estabilizados na vida (ou nem tanto), procurem resgatar lembranças da infância e adolescência adquirindo um veículo do modelo que lhes marcou essas épocas da vida. Anteriormente, na maioria das vezes, isso não passava de um sonho dados os altos custos para manter essa paixão.

Em nossa capital, Fortaleza, temos há muito o Museu do Automóvel, que congrega colecionadores e abriga seus veículos maravilhosos em suas alas. Estes colecionadores, além dos carros expostos no museu, mantêm o restante de seus acervos em garagens particulares. Outros pontos de convergência de antigomobilistas surgiram a algum tempo em forma de clubes. Clube do Opala, Clube da Puma, Clube do Fusca são alguns exemplos. Esses clubes organizam encontros regulares, passeios e troca de informações, sendo iniciativas mais populares e abrangentes que o museu.

Observem que tanto as atividades do museu, quanto as dos clubes, são restritivas, pois admitem a participação de apenas certos segmentos de antigomobilistas. Foi então que surgiram Neandro e César, dois entusiastas do assunto, promovendo o FLASHBAKERS, encontro mensal de caRros antigos que ocorre no primeiro sábado de cada mês. O evento, que é realizado há cinco anos, é aberto à participação de antigomobilistas apaixonados por todos os tipos de carros: antigões, importados, nacionais, hot's, militares, camionetes, enfim, até quem não tem um, mas tem essa paixão dentro de si, comparece ao evento e se sente bem com o alto astral da turma que participa. A meu ver o FLASHBACKERS é um divisor de águas no Ceará em termos de popularização dessa paixão, estimulando os apreciadores a tirar seus xodós de suas garagens e curtir uma agradável tarde de sábado em companhia de seus pares e simpatizantes... Todos loucos por carros antigos.


Altino Farias, antigomobilista graças a Deus

altino.farias@yahoo.com.br

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Internético




Hoje em dia, além do eternamente etílico, sou também um ser altamente internético, pois muito me utilizo da informática para meus trabalhos jornalísticos e besteirísticos. As enciclopédias e wikpédias, disponíveis na rede, me permitem ser mais enfático nas palavras e eclético nos assuntos, evitando que seja aleatório, enquanto que a maioria dos e-mails que recebo me tornam menos eclesiástico, por assim dizer.

Dicionários variados, e em todos os idiomas, dirimem dúvidas quanto aos vocábulos apropriados para cada situação, tornando mais fluente a dialética e, conseqüentemente, menos errática.

É emblemática a influência que sofro da fonética, fazendo com que os textos soem mais poéticos, ou, pelo menos, mais simpáticos. Frígidos, burocráticos, hepáticos ou anêmicos é que não podem ser, e, se forem, nem passam numa análise crítica depois de revisão enérgica.

Nessa hora, o fato de ser etílico me ajuda bastante a ser um pouco mais filosófico, se é que me entendem, pois cachaça, sentimentos e idéias, tudo junto, tem efeito em mim como um ácido lisérgico...

E para não ser mais prolixo, até porque o espaço aqui é exíguo, vou encerrando por aqui, já pensando num próximo colóquio.

Altino Farias

Cuba Envelheceu...


Fidel Castro envelheceu. É hoje um ancião. Cruel, é verdade, mas um ancião. E com ele Cuba toda envelheceu também. Suas belas praias com seus pescadores que retornam ao fim da tarde envelheceram. Seus bares e cafés envelheceram. Seus prédios, ruas e avenidas envelheceram. Seus automóveis e máquinas envelheceram. Os sorrisos e o “cuba libre” envelheceram. Todo um sistema envelheceu e se esclerosou. Triste destino para uma ilha tão simpática, plantada em lugar privilegiadíssimo do planeta, na qual habita um povo honesto, simples e alegre.

À idade cronológica de Fidel deve-se acrescentar outros tantos anos que foram roubados dos cubanos. Cinquenta anos de muitos, quarenta e tantos de outros muitos, trinta e muitos de mais outros... Até chegarmos aos recém nascidos de hoje. Assim considerando, Fidel é um ancião milenar! Mais ou menos, todos perderam. Todos foram roubados. Todos foram penalizados com o que se tem de mais precioso além da saúde: a liberdade e o tempo, que é inexorável.

Passaram-se cinquenta anos desde a revolução. São muitos anos. A lembrança real de outros tempos reside apenas na mente de quem tem uns cinquenta e cinco anos em diante. O restante da população só sabe de Cuba pré-revolução de ouvir contar. Pensem nisso. É uma nação inteira quase sem memória. É muito tempo... Uma geração inteira destituída da liberdade, do direito de ter de boas lembranças, convivências, conquistas, viagens, fracassos, amores, aventuras, oportunidades, idas e vindas. Para os cubanos só há um imenso vazio habitando esses cinquenta anos, os quais são alardeados com orgulho por Fidel e, agora, Raul, como um grande feito.

Em uma de suas canções, Chico Buarque fala de uma certa Carolina, uma moça de olhos tristes e fundos. A certa altura da poesia ele diz que “O mundo passou na janela e só Carolina não viu”. Pois é, o mundo desfilou frente aos nossos olhos a revolução sexual, a explosão pop, a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria, atentados ao Papa, o fim do apartheid na África do Sul, a união da Europa (sem guerras), o sucesso dos japoneses e dos Tigres Asiáticos, a consciência ecológica... Meus Deus, foram tantos fatos, tantos acontecimentos que mudaram as feições do mundo nestes cinquenta anos... E só Cuba não viu... É triste.

Talvez a maior punição imposta pelos Estados Unidos a Fidel tenha sido deixá-lo envelhecer como está acontecendo hoje. Deixá-lo exposto ao mundo assim: velho, demente, cruel... Ridículo. Muito melhor que fazê-lo morto e mártir. Pobres cubanos, obrigados a assistir a esse espetáculo macabro enquanto frequentam filas para comprar exemplares do jornal oficial do Partido... Que lhes servirão como papel higiênico. Mais uma vez citando Chico, “peço a Deus por essa gente, é gente humilde, que vontade de chorar”.


Altino Farias, abril 2010
altino.farias@yahoo.com.br