quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Náufrago


Abruptamente tombou na água gelada e agitada. O susto foi seguido de enorme pânico. Querendo permanecer à tona, agitava pescoço, braços e pernas em vão. Cada vez submergia mais naquele universo salgado.

Em pouco, somente via à sua volta um azul imenso e bolhas de ar. Muitas bolhas. O ruído que sua agitação provocava o ensurdecia. Perdeu a noção de onde estava a superfície e a que distância. Viu-se naufragando verdadeiramente, mas ainda lutava.

A essa altura de sua existência, naufragara de várias formas. Como profissional, pai e no convívio social. Esqueceu (ou não sabia) que para manter um relacionamento a dois é preciso bem mais que estar sempre pronto para o sexo. Naufragara como homem, porque a própria vida não poderia naufragar também?

Os movimentos frenéticos de braços e pernas exauriram suas forças rapidamente. Não havia mais ar nos pulmões e seu coração batia em disparada. Engoliu e aspirou água num primeiro instante de vulnerabilidade. Sentiu o gelado invadir seu corpo, que sucumbia em desespero.

Os instantes que se seguiram foram diferentes. Tudo parecia distante, frio, calmo. Braços e pernas moviam-se em câmara lenta. Não sentia mais necessidade de oxigênio. Olhando em certa direção viu um clarão. Pareceu-lhe que era a superfície. Tão perto, mas ele já não estava mais ali...


Pedro Altino Farias, em 24/08/2012

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2 comentários:


  1. Amigo Altino
    Parabéns pelo texto, bela inspiração.
    Um abração
    Messias - Rivelino.

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  2. Pedro,você mergulha de forma profunda em uma idéia e a transforma em um belo texto.

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